[Anthony Michael]

Chegamos ao acampamento quando já era noite, madrugada para ser mais exato. O acampamento dormia num sono profundo e tudo estava tão calmo que nem parecia que ali dormiam muitos heróis que sabia lutar e matar os mais diversificados monstros.

- Vou pro meu chalé, boa noite Anthony- Josh falou e andou em direção ao chalé dele.

- Boa noite cara.

Sentei na fonte que fica no meio dos chalés e fiquei ali, esperando por algo. Não sei exatamente o que, mas algo. Qualquer coisa.

- Vejo como está triste- Uma voz trovejante se anunciou as minhas costas.

- Acho que é por causa das peraltices de Afrodite não?- Meu pai, Zeus, o senhor supremo do Olimpo estava ali, em seu tamanho mortal para falar comigo.

- Pai!- Abracei meu pai e ele aceitou o abraço de bom grado.

- Então é isso que o aflige meu filho?- Meu pai perguntou sentando na fonte comigo.

- É sim. Afrodite roubou as lembranças que a Arin tinha comigo dela. Agora ela acha que Jeremias, o filho de Hermes que é o namorado dela. O problema é que ele gosta dela e eu tenho medo que ele fique com ela pra sempre- Desabafei com meu pai.

- Afrodite nunca faz o certo. Já reparou quantas pessoas sofrem por amor? Quantas pessoas “escolhem” a pessoa errada? Quantos corações partidos?

Afirmei com a cabeça.

- É porque Afrodite ama casais impossíveis e adora ficar juntando eles pelo mundo mortal o que resulta nisso que eu falei. Afrodite fez isso com vocês porque ela prefere a Arianna com o Jeremias, porque eles são o casal impossível.

Uma luz veio em minha cabeça.

- Então isso significa que eu e ela estamos destinados a ficarmos juntos?

- Não sou um oráculo filho, pode ser que sim e pode ser que não.

- Isso é uma injustiça muito grande pai. Herói eu posso ser. Eu posso matar monstros e tudo isso, mas ver que a Arin não lembra mais de mim é muito pra mim. É como se todos os anos que eu vivi fossem uma mentira.

- Sempre há um jeito de consertar tudo filho. Vá para o Olimpo e procure Afrodite, vão os três e falem pra ela da situação. Peçam para que ela desfaça isso. Não vai ser fácil, disso eu posso afirmar.

- Pai, você não poderia intervir? Falar pra ela devolver a memória e tal?

- Não posso filho. Os deuses não podem intervir nos assuntos dos outros deuses. Não das funções deles e isso se aplica até mesmo a mim.

Suspirei de frustração. Ser filho do deus dos deuses e não poder ter algumas regalias.

- Tudo bem então.

- Faça o que eu disse filho, ainda é tempo de mudar a sua história. Você já me orgulhou muito e eu sinto pela perda dos semideuses. Poseidon e eu nunca pensamos que chegaria a esse ponto, lamentamos muito- Zeus olhou para o céu e duas estrelas surgiram se destacando das demais.

- Foi uma mancada mesmo. Eles não mereciam morrer pelo egoísmo de vocês.

Fiquei tenso logo após que proferi as palavras, insultar um deus não é inteligente, mas um raio iluminou o céu, chamando Zeus.

- Tenho que ir agora. Faça o que eu disse e se cuide.

Zeus começou a brilhar em sua forma divina e eu desviei os olhos para não ser incinerado.

- Tchau pai.

Fiquei mais um tempo na fonte até que decidi ir até o Chalé de Ares. Por mais perigoso que isso pareça, você nunca saberá o quanto até tentar entrar furtivamente ali no meio da noite.

Fui em direção ao chalé mais bem armado do acampamento e primeiro olhei pelas janelas, mais precisamente fui em direção a terceira janela da lateral esquerda do chalé, onde a cama de Arin costumava ficar. Fui até lá e a encontrei enrolada num fino cobertor, de costas para mim.

Pensei em entrar lá dentro, mas tudo ali parecia uma má ideia. Entrar numa bomba atômica não é uma coisa muito inteligente de se fazer. Fiquei ali apenas olhando o sono de Arianna até que ela se virou para o meu lado e para minha surpresa ela não estava dormindo.

- Anthony!- Arianna falou surpresa.

- Arianna!

- O que Hades você está fazendo ai?- Ela cochichou abrindo a janela.

- Hummm... Vim ver se você estava dormindo.

Ela me olhou curiosa.

- Por...

- Porque eu queria falar com você.

- Sobre?

- Sobre isso.

Tirei minha fita vermelha de meu bolso e a entreguei para ela, que olhou para o tecido sem lembrar-se de nada dele.

- Hum, uma fita?

- Sim, dá sorte em batalhas. Fique com ela.

Dei meia volta e sai flutuando lentamente, a procura de alguma palavra de recordação dela.

- Anthony?

Virei-me rapidamente, ela havia lembrado!

- Obrigada pela fita. Vou guardar ela pra sempre. E nunca mais faça esse negócio de me espiar pela janela, um dia desses eu posso te metralhar no ímpeto de matar o invasor. Fica a dica- Arin piscou para mim e fechou a janela, incluindo uma cortina vermelho fogo.

- Tudo bem. Essa fita você me deu quando aconteceu a grande luta. Era pra me proteger e me dar sorte, nesse dia foi que você me beijou de verdade, com amor. Nesse dia eu me senti amado porque essa é a fita que você ganhou como símbolo de poder de seu pai depois de lutar contra Phopos. Achei que você fosse lembrar- Falei baixinho ao vento e fui para o chalé 1 em busca do conforto de minha cama depois que as palavras de Arin apenas me machucaram mais ainda.