Já era início da madrugada, por volta de 1 da manhã, quando começou o velório de Carly. A família e amigos estavam todos no cemitério. A mãe, triste demais, se manteve afastada, assim, foi o pai quem estava recebendo as pessoas.

  Annie sentia-se arrepiada com o fato de se aproximar do caixão. Ela não conseguia vencer aquilo. O simples fato de pensar na imagem da irmã ali, deitada completamente  sem vida naquela caixa de madeira, fazia a garota estremecer. Imaginar que aquela seria a última vez que veria Carly... Foi por isso que Annie não se atreveu a chegar perto do caixão. Mesmo quando a irmã não fosse um exemplo de garota e mesmo quando as duas tinham uma relação um tanto quanto conturbada, era aquela a imagem que Annie gostaria guardar de Carly: a garota rebelde e muito “dada”, mas a irmã que, ainda assim, Annie amava.

  Matt se atrasou uns minutos, mas quando chegou, Annie agarrou-se a ele e não o soltou mais pelo resto da noite. Kathy, Lizzie e Chris também ficaram juntos de Annie e Matt. Drew se aproximou do grupo, mas ficou o tempo inteiro encarando Matthew, dizendo com o olhar você é o culpado. Max não apareceu.

  O dia havia amanhecido fazia pouco tempo quando o enterro começou. Um padre citou alguns versos da Bíblia. Logo em seguida, o pai de Carly falou algumas palavras. A mãe apenas continuou quieta em seu canto, afogando-se em suas próprias lágrimas. Annie resolveu falar também.

 - Hoje, nós estamos aqui para nos despedir de Carly, minha irmã...

  Annie teve dificuldade para falar, mas não se deteve. Ela continuou forte. Aquela seria a última coisa que poderia fazer por Carly, e ela tinha que fazer direito, pensou.

 - Carly era uma garota linda e incrível. Nós podíamos ter nossas diferenças; podíamos ter nossas brigas. Mas, no fim do dia, éramos irmãs. Nós éramos e sempre seríamos irmãs, então, pra quê manter tal briga? Nós nos perdoávamos! O amor que sentíamos uma pela outra era maior que qualquer briguinha tola, fosse por garotos ou por roupas. E eu continuo amando a Carly e sempre continuarei. Eu só lamento que nunca mais poderemos ter essas discussões. Lamento que não poderei ver minha irmã caçula crescer. Eu só espero que ela possa estar em um lugar melhor agora. E é a imagem daquela garota alegre que eu guardarei dela. Sempre!

  As palavras de Annie quase foram engolidas por seu choro, mas ela conseguiu. Prestou sua última homenagem à irmã. Suas pernas balbuciaram quando Annie começou a caminhar e ela quase caiu, mas Matt a segurou. Ele deu-lhe um abraço apertado.

 - Foi lindo, Annie! Onde quer que Carly esteja, ela se orgulhou de você!

  Annie deitou a cabeça no ombro de Matt e começou a chorar ainda mais enquanto ele afagava seus cabelos.

  Quando o caixão começou a descer para dentro da terra, várias pessoas jogaram flores dentro da cova. Depois, o buraco foi fechado. E Carly fora apenas mais uma pessoa que estava voltando à terra...

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  Já era de manhã quando o padre saiu de sua casinha ao fundo da igreja. Ele abriu o grande santuário. Quando o velho senhor corcunda parou diante do altar para fazer suas preces diárias, reparou em algo. O padre voltou seu olhar para o corredor e ficou chocado ao ver um corpo caído. Correu na direção dele e, ao se aproximar, viu uma poça de sangue. Seus olhos quase saltaram para fora.

 - Que Deus tenha misericórdia! – exclamou aflito.