Jade M. E A Prisão Dos Deuses escrita por Sabidinharaiodesol


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Podem culpar a - Duda dessa vez. Aliás, ela não está postando hoje porque a internet dela está ruim. E tô triste, sem reviews ... Mas é a vida, né...



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Passamos alguns minutos em silêncio, sem ninguém arriscando puxar assunto. Vi Argos olhando, com todos os seus incontáveis globos oculares, pelo retrovisor algumas vezes, como se dissesse. "Estou me sentindo um tanto desconfortável aqui". Decidi que era a hora de falar alguma coisa.


– Para onde estamos indo? - Perguntei, afinal, essa questão ainda não havia sido discutida.


Haley me olhou como se eu tivesse acabado de perguntar se estávamos em Marte.


– Estamos indo para Leste.


– Não me diga. - Murmurei. - Só isso? Nenhum destino?


– Até aonde Argos puder nos levar. Ainda estamos esperando por um sinal de Dioniso ou algo do tipo. - Ele olhou de relance para Lunna, mas ela o fuzilou com seus brilhantes olhos dourados, e ele desviou, se virando para a paisagem.


A sensação de estar saindo do acampamento não era das melhores, ainda mais estando ciente do perigo que eu estava correndo. Recostei-me no banco de couro da van e fechei os olhos, só esperando que o tempo passasse mais rápido. Meu sono pareceu durar muito pouco, quando acordei com Lunna chacoalhando-me.


– Jade! Jade, acorde! - Ela dizia. - É hora de saltar.


Pisquei algumas vezes, tentando focar a paisagem lá fora, mas era difícil, pois havia muita luz, mesmo o sol ainda brilhando lá no alto. Quando olhei pela janela, tudo o que vi foram pessoas. Pessoas andando, carregando mochilas, sacolas, entrando e saindo de estabelecimentos, descendo de carros, e todas pareciam estar com muita pressa, o que era incomum para mim. Cresci num orfanato em Connecticut; nunca tinha tido a chance de conhecer outros lugares, nem a vida americana propriamente dita.


– Onde estamos? - Perguntei.


Lunna riu.


– Você é provavelmente a primeira cidadã americana que não reconhece New York City quando a visita.


Ofeguei, mais do que surpresa; menos de uma semana atrás, aquilo parecia um sonho impossível.


– Mas isso está errado. - Disse Fred, se virando para olhar para nós três. New York City não fica a leste do acampamento.


– Eu sei. - Disse Haley. - Mas ainda não temos nada pra fazer a leste. Precisamos de informações primeiro, por menores que sejam.


– E quer lugar melhor para conseguir informações do que New York City?


Descemos do carro, e por alguns minutos ficamos só apreciando aquela cidade espetacular.


Argos piscou com todos os seus olhos. Lunna já havia me falado sobre a névoa, que impede os humanos de enxergarem coisas do mundos dos semideuses como nós vemos. Fico imaginando como Argos aparenta ser aos olhos deles.


– Acho que ele quer dizer que está na hora de ir. - Lunna disse. - Vamos gente, tem um McDonald's logo ali.


Hesitei em me despedir de Argos. A partir de agora, seríamos só nós.


– Ade... Hã, até logo, Argos.


Ele esboçou um sorriso com os lábios selados e virou-se em direção à van, sem mais despedidas, como se já houvesse feito isso centenas de vezes. E provavelmente tinha feito.


– Não posso ser a única que acha isso um absurdo. "Leste" não quer dizer muita coisa pra mim. Estamos andando sem destino por New York City? - Falei, irritada e confusa.


– Não é sem destino; como meu pai é o deus dos viajantes, e Lunna é filha do deus das profecias, nós dois... Estávamos conversando no carro, enquanto vocês dormiam. - Falou Haley, enfiando as mãos nos bolsos de seu jeans rasgado e surrado, parecendo desconfortável. - Mas vamos até uma lanchonete, para conversar com calma.


– Estar em uma missão não é tão ruim assim. - Lembrou Fred, repetindo as palavras que me disse quando ganhei uma profecia. - Não quando há batatas fritas envolvidas.


***


– Pensamos assim - disse Haley, molhando uma batata frita no catchup. - Dioniso não tem um histórico ruim, quer dizer, bem, ele foi um deus muito recente. Já foi um semideus, e antes dele, Héstia tinha seu lugar entre os 12 Olimpianos; ou seja, não conseguimos imaginar ele criando problemas tão grandes. Embora isso não seja uma certeza, deuses são imprevisíveis.


– Mas acreditamos que haja um propósito maior por trás desse, hã, sequestro. - Completou Lunna.


– Essa profecia diz respeito a mim. - Falei, com certeza. - Mas não é a mim que ele, ou ela, quer. Que eu me lembre, ninguém quer se vingar de mim.


– Podem querer alguém relacionado a você. - Disse Lunna, firmemente. Todos nós viramos nossos olhares para ela. - Podem estar tentando atraí-la...


– Ou atingi-la! - Acrescentou Fred, arregalando seus olhos de sátiro. - Ou mesmo atingir outras pessoas.


Haley olhou frustrado para seu lanche e deu um soco na mesa.


– Não adianta, é impossível prever isso. E não é esse assunto que viemos discutir. Temos problemas mais diretos. Precisamos avançar, não viemos aqui para passear em New York City.


***


– Quem, afinal, neste lugar - perguntei, enquanto tentava acompanhar os passos rápidos de Haley e Lunna. Fred vinha logo atrás, segurando dois pacotes cheios de batata frita. - Teria informações a respeito dos deuses?

– Ora - disse Haley, continuando com seus passos largos. - Existem semideuses rodando por toda parte. Até deuses, de vez em quando.

Lunna parou de repente, fechando os olhos e encostando-se em uma vitrine de uma loja de cosméticos.


– Lunna - falei. - O que foi?


– Uma... - Ela disse. - Dor de cabeça...


Olhei para Haley, que deu de ombros. Atrás dele, uma figura alta, corcunda e corpulenta saiu de dentro da loja. Olhou para mim, com expressão séria, depois olhou para Lunna e tentou parecer gentil:


– Vocês podem entrar. - Ele disse. Sua voz era grossa e áspera. - Ela precisa tomar um copo d'água, um remédio...


Lunna nos olhou, desconfiada. Haley foi o primeiro a se manifestar.


– Seria bom, obrigado.


Fred e o cara musculoso ajudaram Lunna a entrar, e fui deixada para trás com Haley.


– Você está louco? - Perguntei. - Não sabemos quem é esse homem nem...


– Jade. - Ele disse. - Precisamos de informações. Venha logo.


Empurrei a porta de vidro; Fred ainda estava parado perto da porta, esperando por nós. Quando me posicionei perto dali, ele se inclinou e sussurrou.


– Sinto cheiro de monstro, e é MUITO forte. Com certeza... Com certeza há mais de um.


– Droga. - Falei. Uma mulher com um vestido vermelho que parecia um vestido de baile, andou até nós com um sorriso doce e perverso.


– Ah, clientes! O Danny, nosso guarda-costas, vai cuidar da sua amiga pra vocês. Vai levá-la lá pra dentro para... - Ela limpou a garganta. - Beber uma água, é claro. Ela não parece bem. Enquanto isso, que tal se eu lhe mostrar alguns produtos? - E deu um sorriso brilhante. - Alguns são das mãos da própria Circe.


Fred esfregou a calça com as palmas, como se estivesse nervoso.


– Já ouvi falar de Circe. Ela não é uma das filhas de...


– Sim, Fred! - Respondeu ela, embora eu não me lembrasse dele ter de apresentado. - E então? Vamos ou não?


Acho que nós três pensamos a mesma coisa; Lunna estava fora de vista agora, e incapacitada. Não poderíamos fugir sem ela.


– Claro! - Respondi, numa animação ensaiada.


A mulher foi à frente, fazendo sinal para que a seguíssemos. Seus cabelos loiros se estendiam até metade de suas costas, com mechas castanho-claro nas pontas. Ela nos guiou até um depósito com prateleiras cheias dos mais diversos produtos, desde cremes de rejuvenescimento até poções para emagrecer.


– Seu nome é...? - Perguntou Haley, tentando aparentar gentil. Teria de alertá-lo de algum modo, apesar de ter a impressão de que ele já sabia.


– Oh, desculpe. Esqueci de me apresentar. - Disse ela. - Sou Ravenna.


Olhei para Fred, que deu de ombros. O dito segurança da loja, Danny, adentrou a sala, e se posicionou ao lado de Ravenna.


– Onde está Lunna? - Perguntei, em tom áspero. Ravenna continuou agindo como se nada tivesse acontecido, ignorando minha pergunta.


– E então, crianças? - Ela perguntou, pegando uma das vasilhas da prateleira. - Quem quer experimentar primeiro? Jade?


Involuntariamente, meus dedos já se aproximavam do anel.


– Não vamos experimentar nada. - Falei, sem pensar. Ravenna fez biquinho, tentando se mostrar falsamente decepcionada.


– Mas você precisa, querida. - Disse, sorrindo. Continuei encarando-a, desconfiando de cada palavra que saía de sua boca. Só queria salvar Lunna e dar o fora daquele lugar.


Primeiramente achando ser minha imaginação, percebi a pele de Ravenna clareando em um instante. Porém, logo, ela já estava totalmente pálida, e seus olhos completamente vermelhos.

Ativei minha lança, e Haley logo empunhou sua espada.


– Não há mais para onde fugir, meio-sangues. Sua amiga já está morta. - Ela soltou uma gargalhada maléfica. Não pude evitar pensar que ela estava sendo ridícula, como uma daquelas madrastas do mal das Princesas, dos livros do orfanato para criancinhas dormirem. Quando terminou, Danny se pronunciou.


– Na verdade, ela não...


– QUIETO, seu imprestável. - Disse a mulher, com os olhos ardendo em chamas. - Entreguem-se, queridinhos, e talvez minha senhora tenha piedade e mate vocês rapidamente. Diferentemente da morte lenta e dolorosa que eu tinha planejado... - Ela lastimou. - Mas não tem problema. Minha senhora me prometeu mortes. Lanches. Comida...


Em um golpe, Fred chutou o ar e seu tênis saiu voando na direção do rosto de Danny. Como se tivesse vindo em câmera lenta, o 'segurança' estendeu a mão esquerda e riu.


– Bode babaca! - E lançou o tênis de volta para ele, que foi atingido na barriga e caiu para trás.


– Muito bom, Dan. Dois já foram, faltam dois.


Naquele momento, presas afiadas já pulavam para fora de sua boca. Ao seu lado, Danny havia crescido e alcançado mais de dois metros de altura; Seus braços peludos agora se mostravam muito mais fortes, e cheios de tatuagens patéticas, de sereias e corações.


– Não vamos nos entregar a você ! - Haley gritou, e avançou com sua espada em direção à Ravenna. Em impulso imediato, avancei para cima de Danny, que com um movimento rápido me mandou para o chão.


Aterrissei já me apoiando nas mãos, que arderam com o impacto, mas consegui me levantar e jogar minha longa trança preta (que a essa altura já estava quase desfeita) para trás do ombro, olhando para Danny com superioridade. Alguns metros dali, Fred gemeu no chão.


"Aguenta mais um pouco, cara." Pensei, e corri em direção ao segurança mais uma vez, que tentou me segurar com a mão. Previ que, dessa vez, não escaparia, até sentir uma mão no meu ombro esquerdo, me empurrando. Era Haley - não sabia como ele tinha chegado ali tão rápido, já que estava do outro lado da loja, lutando com Ravenna - que me empurrou para longe, fazendo com que minha lateral batesse contra uma prateleira, derrubando recipientes de cremes no chão.


"Os cremes... Não podem ser benignos." Eu só esperava que fossem potentes o suficiente para queimar a pele de um gigante canibal.


Estiquei a mão para pegar um deles, vendo, de relance, Haley lutando contra o gigante, que atirava potes vazios com toda a sua força.

Não tive nem tempo para perguntar-me onde estaria Ravenna, quando ela apareceu, em súbito, ao meu lado.


Seu vestido estava rasgado, e pude perceber as suas pernas monstruosas: uma peluda e com cascos no lugar dos pés, e outra reluzia em bronze.


Haley continuava a atacar Danny, sem notar a presença dela.


– Seu amiguinho achou que tinha me derrotado - ela disse. - Mas, tudo bem. Agora somos só nós duas.


Minha respiração estava ofegante. Não sabia o que fazer. Talvez, as pessoas do acampamento estivessem certas. Uma pessoa sem treinamento algum, como eu, jamais poderia sair em uma missão. Muito menos voltar viva dela.


Mas havia uma profecia para desmentir isso.


– Haley, pegue! - Gritei, jogando o frasco.


Vi ele se virar, e habilidosamente estender uma mão para agarrar o objeto enquanto lutava. A cabeça de Ravenna se virou, distraída, e eu não perdi tempo algum. Com a maior força que consegui, chutei sua perna de bronze, mas só consegui fazer com que ela se desequilibrasse e se virasse pra mim.


– Sua maldita... - Estendi a lança para atacar, mas ela foi mais rápida. E fez a última coisa que eu podia imaginar que faria. Correu. Para dentro da loja.


– Covarde... - Rosnei, e me virei pra ver como Haley estava se saindo.


Ele estava no chão, desviando-se de mais um forte soco do gigante. O frasco que eu o havia entregado havia caído de suas mãos, e ido parar embaixo de um estante. Sua espada havia sumido da minha visão. Haley olhou para mim, ofegante. "O frasco! Pode funcionar!" - mexi os lábios formulando a frase, torcendo para que ele tivesse entendido. Sua expressão mudou, e ele conseguiu se levantar, desviando-se de mais um soco e chutando Danny na barriga. Um golpe inútil e indolor.


Precisava distrair o gigante.


– Ei! Idiota! - Gritei. Ele olhou para mim por um instante, percebendo que agora ele estava em desvantagem. Ou não. Talvez só percebendo que poderia acabar com dois meio-sangues de uma só vez. Fred ainda gemia no chão. Havia me esquecido totalmente dele. - Todos da sua espécie são assim, lentinhos? Acabe logo com isso, seu inútil!


Danny rosnou, demonstrando toda a sua raiva, e correu em minha direção com seus enormes braços esticados.


Consegui me desviar e dar-lhe um choque em sua perna esquerda, mas isso só o fez perder o equilíbrio por uma fração de segundo. Tentei, em vão, golpea-lo com minha lança, mas com um rápido movimento ele a segurou e me jogou para o chão, apontando a lança para minha garganta e pronto para dar o golpe final.

Apertei os olhos com toda a força, e aqueles segundos pareceram séculos. Já teria de aceitar minha situação, e encarar a morte com toda a coragem que conseguisse reunir. Lunna, Haley e Fred teriam que terminar a missão sozinhos, e voltar para o acampamento com a notícia de que algo desmentiu a profecia.


Eu teria. Eles teriam.


Danny já afastava seu braço, pronto para rasgar a minha garganta, quando algo o fez mudar a expressão de raiva suprema para um rosto confuso e perplexo. Em questão de segundos, o gigante se dissipou em pó, e pude ver Haley por traz, incrédulo com o que acabara de fazer.

Me permiti sorrir para ele, e ele retribuiu. Porém não tivemos nem tempo para nos levantar, quando Ravenna adentrou a sala. Com Lunna. E uma faca. Com uma faca prestes a cortar a garganta de Lunna.


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Notas finais do capítulo

~~Bruna



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