Os Prazeres De Roderich escrita por kaori-senpai


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, meus queridos, mas bem... É não tenho desculpas a mão para usá-las com vocês~
Bem, sem mais delongas, o capítulo /o/



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– Do que você está falando, seu tolo? Por que tomou essa postura? Qual seu problema?!

Gilbert não estava mais prestando atenção nos meus gritos, ou fingia não estar, pois no mesmo momento que minha visão embaçou e minha voz vacilou, a última coisa que eu vi foi ele vindo em minha direção. Após isso, não me lembro de nada. Aliás, uma coisa que realmente me marcou naquela noite foi a angústia que senti ao ser ignorado por aquele idiota de olhos vermelhos. Sim, me incomodou mais do que eu gostaria e não conseguia entender porquê.

Quando acordei, estava em um quarto de hospital, com minha mãe adormecida na cadeira ao meu lado. De imediato constatei o que tinha acontecido e não pude deixar de sentir uma pitada de desespero ao saber que minha fuga teria um fim. Deixando-me levar pela emoção do momento, saí correndo ainda um pouco zonzo e no momento em que abri a porta dezenas de fotógrafos me cegaram com inúmeros flashs e gritos. Então minha mãe me puxou para o quarto e trancou a porta com uma expressão bem mais devastada que a minha.

– Ai, meu deus! O que eu vou fazer agora?! Como eu vou te livrar disso?!

– M-mãe… Tenha calma. – A cobri com meus braços por saber que isto sempre a apaziguava, mas pelo jeito ela não queria relaxar.

– Calma?! Como posso ter calma quando o mundo está caindo em cima de mim?! E por que você fez isso comigo?! Por que fugiu de casa, Roderich?!

– Eu precisava conhecer o mundo! Não podia mais viver preso daquele jeito!

– Era assim que você queria conhecer o mundo?! E como vai viver agora que ele te conhece?! Nunca vamos achar uma noiva! – Ao dizer a última frase ela caiu em prantos e não se conteve nem com a chegada de meu pai.

De fato, para ela, a única coisa que me separava de uma vida normal era minha aparência, só que de repente, nunca me senti tão incompleto e meu rosto não tinha nada a ver com isso. Onde Gilbert estaria naquele momento? Tinha plena certeza de que ele chamara uma ambulância e avisou aos meus pais onde estaria, mas por que não permaneceu ao meu lado? Ele era meu único amigo, que mal teria em ficar um pouco preocupado com minha saúde?

Como amizade nunca foi um assunto no qual tenho entendimento, constatei que meus desejos deveriam ser infantis e que Gilbert tinha mais o que fazer do que me esperar acordar. Afinal, ele deixou meus pais tomando conta de mim, não havia perigo algum. Fiquei deveras feliz com minha conclusão final, porém ainda queria saber onde aquele tolo se encontrava e não, de forma alguma sairia procurando por ele como da última vez. O senhor Gilbert poderia muito bem ir até minha casa caso esta fosse sua vontade. Só que não foi.

Passaram meses e não recebi notícia alguma dele. Em compensação, minha vida social ficou muito mais animada. Quase todos os dias éramos convidados para jantares beneficentes, festas e óperas e várias vezes me pediram para tocar piano. Eu acatava todos os pedidos me contendo para não demonstrar o quanto estava feliz por ter um público disposto a me ouvir. E aplaudiam muito satisfeitos, diga-se de passagem. Em várias ocasiões encontrei a senhorita Monika acompanhada de Feliciano, porém ela evitava falar do irmão e quando o citava, dava desculpas prontas como dele estar cansado pelo trabalho ou viajando. Não lembro quando parei de perguntar e procura-lo nas vezes que saia.

Em um jantar promovido pela minha família, conheci Elizaveta. Era uma moça simplesmente adorável e cheia de vida. Sua família era tradicional da Hungria e mantinha relações com o mundo todo. Conversamos horas a fio sem nos faltar assunto, pois ela já tinha viajado o mundo inteiro e eu não me cansava de ouvir suas aventuras que me deleitavam assim como o som de sua voz. E obviamente nessa altura do campeonato todos já estavam mais do que acostumados com minha... condição peculiar. Nessa noite, descobrimos vários interesses em comum, tal como desavenças. Ela não tinha a mínima aptidão para a culinária e amava a esgrima até o último fio de cabelo.

Não tinha muita intenção de manter contato até que minha mãe a convidou para o chá da tarde. Não tinha nada pronto, então fomos para cozinha preparar algo a altura da ocasião. Foi uma tarde divertida – tenho que admitir – e o fato da senhorita Elizaveta estar presente foi algo determinante para isso acontecer. Ela era despreocupada ao ponto de me fazer relaxar e aproveitar melhor o dia. Eram extremamente prazerosas as horas ao lado dela e nossos encontros passaram a acontecer com uma frequência bem maior. Víamos-nos cerca de três vezes por semana em diversos lugares. Íamos para parques, cinemas, bares… Todos esses lugares que ir sozinho não fazia sentido algum, mas ao lado da senhorita Elizaveta tinham um encanto fascinante.

E para essa minha querida nova amiga, me abri para falar sobre um assunto que eu julguei proibido, mas sentia-me seguro em compartilhar com ela. Gilbert.

– Um segundo, Roderich! Então quer dizer que este rapaz foi o motivo da sua fuga?

– Precisamente.

– Mas por que ele era tão importante?

– O Gilbert foi o primeiro amigo que eu tive em toda minha vida. Além de não saber como agir com um amigo, eu estava com medo de nunca mais poder falar com ele novamente.

– Então por sua inexperiência no contato com outras pessoas você nem ao menos tentou ligar para a casa dele?

– … Exato.

– Bom, talvez com essa atitude você tenha deixado a entender que não queria contato com ele. Quem sabe ele também não passou uma semana esperando uma ligação sua?

– Essa imagem não combina nem um pouco com Gilbert.

– E onde você o encontrou?

– Eu… - Por um momento pensei em falar do recital de piano, mas não. Aquilo não deveria ser ouvido nem mesmo pela senhorita Elizaveta. – fui a uma boate com o senhor Kirkland e o encontrei lá por acaso. Só que… Não fizemos as pazes.

– Brigaram de novo?

– Sim, mas eu prefiro dizer que tivemos um conflito de interesses.

– Roderich, por que você ainda não foi falar com ele? Você pode estar o afastando de novo! Como espera que ele saiba que pode manter contato com você? Talvez ele imagine que você guarde rancor depois dessas brigas!

– Eu tentei encontrá-lo, mas a senhorita Monika me falou que ele se mudou sem deixar o novo endereço.

– Roderich, sinceramente, acho que você deveria procurar seu amigo! É óbvio que vocês tem uma relação muito forte! Veja bem, ele é a única pessoa que você não trata por “senhor”.

Talvez o choque de realidade tenha vindo através da última frase de Elizaveta, só que ao contrário do que todos pensam, eu não fui correndo pela cidade procurá-lo. Simplesmente passei dias inteiros pensando o que tornava nossos laços tão fortes ao ponto de tratá-lo intimamente enquanto comia todos os doces disponíveis em minha casa. Após três semanas e quatro quilos a mais, voltei a minha rotina de pequenos encontros com a senhorita Elizaveta que não tocou mais no assunto de cabelos brancos. Tive a impressão de que ela ficou com medo de citá-lo e me induzir novamente a triste fase de me lamentar enquanto como doces.

E passamos mais um mês longe de preocupações e vivendo uma bela amizade, porém, tinha minha mãe no meio do caminho. E minha mãe não se importava muito em considerar os sentimentos de outras pessoas. Então, eis que esta bela mulher transformou o que deveria ser um jantar simples e casual em um inusitado pedido de casamento.

E a pobre Elizaveta, que não conseguia ver o sentido em tudo aquilo, aceitou sem muita opção. Fiquei indignado com a atitude de minha mãe, no entanto minhas reclamações não surtiram efeito algum em minha progenitora que continuava a procurar flores que combinassem com a toalha da mesa. Como alguém poderia propor um casamento de forma tão leviana quando sabe que isso mudará completamente o rumo da vida de duas pessoas? Eu não podia banalizar algo tão importante na vida de Elizaveta, não queria que ela se sentisse obrigada a casar-se comigo somente pela insistência de minha mãe. Sendo assim, fui até sua casa onde pudemos conversar no jardim.

– Sinto muito pela minha mãe, às vezes ela não percebe as consequências que as suas vontades podem causar. E como é uma amiga muito queria, gostaria que não se sentisse de forma alguma coagida a acatar o pedido de minha mãe.

– Na verdade eu não me incomodo com essa ideia Roderich. – Essa assertiva me deixou boquiaberto e desconcertado. Mesmo que meu contato com outras pessoas tenha sido escasso, eu ainda era perfeitamente apto para entender o que ela queria dizer com aquilo. – Eu quero livrar você da sua maldição.

Mesmo sabendo os sentimentos que ela tinha por mim, eu não era capaz de retribuí-los, no entanto também não era bondoso o suficiente para dizer isso. No fundo, fui tão egoísta quanto a minha mãe. Dei um beijo na testa dela e segurei sua mão até a porta principal. Não iria anunciar o casamento aos pais dela ainda, tinha que me preparar psicologicamente para tal.

Durante os preparativos, não pensei em Gilbert um só vez. Estava ocupado ajudando em tudo que fosse possível e me encarregaram de distribuir os convites. Era uma tarefa cansativa já que as duas mulheres que estavam comandando os preparativos me deram duas listas enormes das pessoas que poderiam ser chamadas e eu, deveria selecionar 300 convidados. Agora que paro para me lembrar, é curioso que a família Beilschmidt não tenha aparecido em nenhuma das listas.

Obviamente a minha função levou algum tempo, mas foi a primeira a ficar pronta para todos poderem comparecer ao que deveria ser o casamento do ano. Não havia ninguém que não comentasse, todos queriam ir para presenciar o nariz monstruoso deixar minha face no momento do “sim”. Todos queriam ver como ficaria meu rosto após essa transformação. Todos, exceto eu. Já tinha vivido tanto tempo com aquela aparência e justo agora que todos tinham se acostumado com ela, por que deveria mudá-la? No final de tudo, meu medo era que nada acontecesse e eu ficasse fadado a ter aquele rosto para sempre.

Porém, nem todo o medo do mundo teria me dado coragem de cancelar um casamento que já estava as vésperas de acontecer. E quando eu menos esperava, chegou o grande dia.

O casamento e a festa aconteceriam no jardim de minha casa e estava tudo impecável como tinha de ser. Milhares de flores cobriam todo o local e as mesas estavam bem dispostas sob a sombra de cinco tendas. Antes mesmo da cerimônia começar já havia comida e bebida circulando a vontade e minha função era a impossível missão de dar atenção a todos os convidados. Todas as pessoas que eu conhecia estavam lá e cerca de 280 estranhos. Arthur tinha levado Francis e passaram o dia brigando, me dando parabéns pela festa e comentando a beleza de minha noiva. De fato, ela é uma mulher extremamente bonita, e mesmo que não tenha aparecido antes de sua entrada triunfal, todas as pessoas na festa a elogiavam pela sua aparência.

E ali, no final do corredor ao lado do padre vendo Elizaveta ser conduzida pelo pai e minha mãe chorando na primeira fila, eu me sentia o ser mais miserável do mundo. Estava mesmo fazendo aquilo com minha amiga? Era certo condená-la a um futuro ao lado de alguém que não a ama? Ela merecia alguém muito melhor do que eu. Eu deveria seguir meus instintos ou continuar aquela farsa?

– Roderich Edelstein, você jura amar e ser fiel a sua esposa, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza, até que a morte os separe?

Continua...


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Notas finais do capítulo

Esse ficou menor do que os outros porque o cortei pela metade para parar justamente na parte da fala do padre ^-^
Podem me odiar~
O próximo capítulo sairá em breve
~Kissus~