A Bênção De Estige escrita por O Raposa


Capítulo 2
Um gato que fala é um gato insuportável.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo betado por mille. (http://fanfiction.com.br/u/199912/)
Espero que gostem.



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Anos, décadas e séculos se passaram. Nesse tempo muita coisa mudou. A floresta e o Império de Mira foram tomados por Zanyth, que o destruiu em questão de dias. As tropas de Mira começaram a lutar entre si almejando o poder, os poucos que não enlouqueceram por isso tiveram que fugir dali para não serem alvos de uma guerra suicida e sem motivos. Os quase inexistentes sobreviventes da guerra se refugiaram em aldeias humanas, muitas constituíram uma família ao longo dos anos e abandonaram a vida independente que levavam. Outras ficaram sem rumo, construíram aldeias solitárias, algumas foram povoadas ao passar do tempo, outras continuaram sozinhas até o fim da vida.

Em pouco tempo o mundo estava envolto em um grande caos. Humanos que se revoltaram contra nós, monstros, iniciaram uma guerra sangrenta e devastadora. Diferente dos humanos, nós éramos presunçosos e subestimar os humanos foi o que causou nossa queda, fomos quase extintos. As poucas raças que sobraram se esconderam, os que não puderam se misturar entre os humanos por sua forma inumana refugiaram-se em florestas e os com forma humana passaram a viver junto deles. Ao passar o tempo, os humanos nos esqueceram - o que facilitou muito mais nos ataques para saciar a fome ou, muitas vezes, por diversão – e passaram a desacreditar em nossa existência, contando para seus filhos e netos sobre nós como criaturas fictícias.

O manto que protegia a floresta de Mira caiu juntamente com sua morte, toda a magia que havia no lugar foi desaparecendo até quase não restar nada. O que antes fora uma grande imensidão verde foi devastada. O crescimento intelectual humano foi tirando espaço da natureza, matando animais, árvores e exalando poluição e destruição em todo canto que permanecessem e dando lugar a imensas estruturas de concreto. Terra e grama também foram substituídas por asfalto. Em algumas décadas a floresta se transformou em uma grande cidade desenvolvida.

Eu, obviamente, me sentia no direito de usufruir de qualquer luxo que o dinheiro humano podia pagar, afinal eu resido ali há muito mais tempo do que eles podem contar. Usando algumas de minhas habilidades me tornei o que os humanos chamam de Colega de quarto, ou casa, de um homem rico. Os anos se passavam para eles, eu o vi construir uma família, ter filhos e morrer antes de ver os netos. A fortuna da família ia passando para frente, mas nunca acabava, eu permanecia ali, usando do dinheiro deles como se nada tivesse mudado.

Katarina era a tataraneta do homem que eu conheci. Era uma garota muito bonita, loira e de pele clara com grandes olhos claros, vivia sozinha na casa que a cada geração ia ficando ainda maior e ainda mais moderna. Se eu não a tivesse hipnotizado, como fiz com os outros membros, provavelmente iria se questionar quem eu era e porque ainda não envelheci, mas a fiz acreditar que tínhamos um parentesco qualquer.

Com tanto tempo no meio humano acabei me apegando a alguns de seus costumes, a famosa “preguiça” foi um dos que eu me agarrava fielmente em seguir. Passava os dias deitado em um amontoado de travesseiros e cobertas, assistia programas fúteis e patéticos que passavam na televisão e, como eu podia pedir carne por telefone, raramente saía para caçar, apenas quando também me batia um sentimento que me foi passado pelos humanos, esse chamado “tédio”.

Estava deitado confortavelmente em um sofá que ficava no quarto onde eu adormecia, quarto que por sua vez era enorme, caberia ali confortavelmente quinhentas pessoas obesas. Apesar de não prestar atenção, meus olhos estavam fixados em um programa qualquer que passava na televisão até que uma voz se fez presente tirando qualquer “concentração” ou qualquer outro sentimento que eu podia estar sentindo no momento, não sabia definir ao certo.

– Tanto trabalho e poder gasto por uma criatura deste porte? – Olhei em direção a voz que agora soltava uma sonora risada aveludada em soberba. Não era um humano, era um gato. Um enorme gato preto que deveria ter o triplo do tamanho de um gato normal, facilmente poderia ser confundindo com um cão. Continuei olhando para ele fixamente – Além de tudo ainda não aprendeu bons modos? Não irá me convidar a entrar? - Ele disse lambendo a pata direita.

Ele não havia sequer dito duas falas direito, mas eu já estava começando a detestá-lo. Sua voz e até mesmo sua postura exalavam arrogância. Não o convidei a entrar, mas ele o fez assim mesmo. Antes estava na janela do quarto e em um pulo só pairou bem ao meu lado, em cima do colchão.

– Não te adestraram? Não é educado entrar na casa dos outros sem permissão. – Retruquei tentando usar o mesmo tom de soberba que ele usara comigo.

– Humpft! Deveria ficar agradecido. Veja bem, quando uma criatura tão magnífica quanto eu iria chegar perto desta espelunca? – Respondeu mantendo o mesmo tom e fazendo uma pequena pausa me fitando e continuando sua fala – E você ainda por cima fede. Não lhe culpo, afinal, não tens culpa de ter nascido como Raposa. Sempre carregará este cheiro.

Aquilo foi a gota d’agua para minha muita paciência. Tentei acertar-lhe com o punho, mas ele rapidamente pulou da cama para uma poltrona que ficava logo em frente.

– O que quer aqui? Quem é você? – Perguntei rude e impaciente. Quanto mais rápido me livrasse daquela criatura, seja lá o que ela fosse, menos tempo de aborrecimento eu teria.

– Ouvi dizer que raposas têm memórias infalíveis, que podem guardar seu alimento em vinte locais diferentes e lembrar-se de todos eles, mas ainda sim você se esquece de coisas tão importantes. Todos são assim ou é um defeito unicamente seu? – Ele disse me fitando com uma expressão de desaprovação, se ele não tivesse continuado a falar eu certamente o teria expulsado - As últimas palavras de um deus sempre se tornam profecias, lembra-se?

Naquele momento senti meu coração parar de bater e todos os músculos do meu corpo ficarem rígidos. O que ele queria dizer com isso? Ela havia voltado? Não, se isso tivesse acontecido, eu teria sentido sua presença. Em um instante minha mente foi bombardeada com tantas perguntas quanto alguém pode contar, até havia me esquecido do gato que estava ali, afinal, quem era aquele gato?

O gato pigarreou, chamando novamente minha atenção.

– Ela ainda não voltou, mas está prestes a acontecer. – Ele disse como se estivesse lendo meus pensamentos.

– Quem é você?

– Não é óbvio? – Perguntou me olhando como se a resposta estivesse na cara e, novamente, me olhou com uma expressão de reprovação. Senti meu sangue ferver e tentei respirar calmamente. – Sou um gato.

– Um gato? – Era tudo que ele tinha para me dizer? Que ele era um gato, não um rinoceronte ou uma girafa, mas um gato. Como eu iria descobrir isso sozinho? Não sabia se ele realmente estava falando sério ou se apenas estava a caçoar de mim.

– Sim, um gato. Um gato é um gato. É extraordinário por ser apenas um gato. Fim. – Balançou sua grande calda felpuda e voltou a lamber sua pata direita. Fiquei encarando-o por um momento, tentando assimilar as palavras ditas e procurando algum traço de seriedade nelas, acabei desistindo, tinha coisas mais importantes para perguntar.

– O que você quer dizer com Mira está prestes a voltar?

Ele continuou lambendo a pata, como se estivesse me ignorando, e depois começou a falar.

– A profecia está para se cumprir. Quando ela enfim retornar, você poderá acordar deste mundo fantasioso que tens vivido. É tudo tão perfeito que chega a me dar náusea.

Não dei muita importância para o tom de nojo que ele fez. Mundo fantasioso? O que ele queria dizer com isso? Novamente ignorei. Priorizei o que era mais urgente e importante no momento, Mira.

– Quando ela irá voltar? – Perguntei.

– Quando a lua cheia estiver refletindo no lago, isso é... – Ele fez uma pausa, como se estivesse pensando na resposta – Hoje. Ao anoitecer.

Engasguei-me com a própria saliva. Hoje? Na lua cheia? Eu não poderia aparecer na lua cheia. Não perto dela.

– Tem algum problema com isso, Raposa? - Ele me olhava desafiador, eu não sei como, mas ele provavelmente teria descoberto que eu não queria aparecer na lua cheia na frente de Mira. Ignorei-o, era a coisa mais sensata a se fazer no momento.

Levantei-me da cama retirando o pijama e pegando um traje qualquer do guarda-roupa que ficava do outro lado do cômodo. Calças jeans, blusa preta e um tênis azul desgastado. Fui ao banheiro. Voltei para o quarto e o gato continuava ali, deitado sobre a própria cauda no sofá. Estava começando a tomar uma antipatia por gatos, principalmente negros e de olhos verdes.

Ele se levantou e desceu do sofá indo para minhas pernas, quase me derrubando.

– Que bom que se arrumou, precisamos sair. – Ele disse autoritário.

– E você acha que pode me dizer o que fazer? – Perguntei debochado.

– Posso. Isso é, se você quiser ver a deusa novamente. – Grunhiu de raiva e podia jurar que ele ria baixo, vitorioso. Estava indo em direção à porta quando ele me chamou novamente, estava na janela. – Onde pensa que vai?

– Sair, como você disse. – Respondi seco.

Sua boca dobrou-se em um sorriso tão debochado quanto esnobe.

– Podes estar vestindo uma casca humana, mas eu sei que você ainda é um animal. Pule a janela, será mais rápido.

Animal? Fiquei perplexo. Não me importava o que ele era, que direito tinha de falar assim comigo? Eu era uma das criaturas mais rápidas que havia conseguido sobreviver à guerra contra os humanos. Abri a porta e em questão de segundos já estava do lado de fora, olhando para a janela, mas o gato não estava lá. Senti novamente algo passar bruscamente por entre minhas pernas, quase me derrubando, era ele. De costas virou apenas o rosto, fitando-me, e disse.

– Como eu disse, teria sido mais rápido pela janela - Disse virando o rosto para frente e voltando a caminhar. Senti vontade de apunhalá-lo pelas costas, mas minha vontade de ver Mira era maior e o gato exalava uma essência diferente e poderosa, não sabia o que ele era, mas era poderoso.

Caminhamos por metade da cidade sem trocar nenhuma palavra. O gato subia em telhados e sumia sem dar aviso e eu tinha que farejá-lo. Andamos por ruas na cidade que eu nem mesmo sabia que existiam. Enfim paramos em um tipo de loja.

Madame Anabeth e forças sobrenaturais, descobrimos seu futuro e vemos seu passado - Dizia no letreiro. Entramos, era uma loja escura e cheia de tralhas entulhadas, todo empoeirado. Havia vários símbolos estampados nas paredes e objetos estranhos, alguns eram de formatos realizados em rituais, outros eu nunca havia visto, mas não havia magia em nenhum deles. Tinha algo diferente naquela loja, sentia uma força de algum lugar, camuflada.

Na frente da loja estava sentada uma mulher com típicos trajes de cartomantes em frente a uma mesa com cartas de tarô e uma bola fajuta de cristal, não sei de onde aquela força vinha, mas não era daquela mulher. Ela nos ignorou, como se não estivéssemos ali. O gato passou direto para uma porta que ficava quase imperceptível ao lado de uma arca cheia de pratos e louças velhas empoeiradas.

Ele olhou para mim e depois para a porta, entendi que era para eu abri-la e assim fiz, entramos. Naquele lugar havia um pequeno jardim e uma casa simples, não deveria ter mais eu três cômodos ao todo. Em frente ao jardim estava uma floresta, uma pequena parte que eles não destruíram. Também havia uma mulher de costas, regando algumas flores, vestia um longo vestido amarelo, seus cabelos eram ruivos em um tom ferrugem e curtos. O gato foi até ela, roçando suas costas em suas pernas, ela abaixou e acariciou sua cabeça.

Novamente senti uma grande força, não havia dúvidas, estava exalando daquela mulher. Ela virou-se para mim e não pude deixar de me espantar, seus olhos estavam costurados por uma linha dourada. Era branca e seu rosto era enfeitado por sardas, seria uma mulher de grande beleza se não fosse por seus olhos que eram perturbadores.

Ela olhou para mim, ou pelo menos olhava em minha direção, e sorriu seguido de uma fala.

– Venha aqui. Posso ter este tipo de aparência, mas garanto que não faço mal. – Ela disse fazendo movimentos com as mãos para que eu chegasse mais perto. Caminhei cautelosamente até ficar a alguns centímetros dela. – Churi, não é? Ela perguntou meu nome. Assenti com a cabeça, mas então me lembrei de seu rosto e respondi.

– Sim, sou eu. – Respondi ainda hesitante.

Ela deu uma curta risada baixa.

– Posso não ter olhos no rosto, mas enxergo melhor que muita gente, meu jovem.

Não sabia se ficava constrangido, nem mesmo sabia como ela havia percebido que eu tinha acenado com a cabeça antes, na dúvida fiquei em silêncio, esperei ela se pronunciar novamente.

– Mas você não quer saber sobre isso, certo? Vieste aqui por respostas da mulher que está amaldiçoada a não poder amar. – Por um minuto fiquei espantado com o que ela disse, olhei para baixo e tudo fez sentido. Ela não era uma mulher normal, nas costas de sua mão direita estava desenhado um sol, nas costas de sua mão esquerda estava desenhada uma lua minguante. Sim, ela era um oráculo. Uma criatura amaldiçoada a prever o futuro dos outros, sem conseguir prever o que vai acontecer com ela mesma.

– Você é um Oráculo, não é? – Perguntei. Ela apenas dobrou os lábios em um meio sorriso. Abriu as palmas das mãos. Nelas estavam dois olhos de cor opaca, não eram desenhos, eram olhos vivos. Os Oráculos eram privados da visão, podiam apenas prever o futuro, assim, quando ainda bebes, se eles vierem com as marcas de um Oráculo, Sol e Lua desenhada nas costas das mãos, seus olhos são retirados do rosto e costurados nas mãos. Há quem diga que o dom é uma benção, outros que é uma desgraça que o acompanhará por toda vida. Oráculos também são grandes servos dos deuses.

– Coloque sua mão por cima. – Ela disse. Para um Oráculo ler seu futuro você tem que colocar suas palmas das mãos acima dos olhos. Assim o fiz, quase ao mesmo tempo senti minha visão embaçar e meu corpo ficar imóvel. A única função do meu corpo que me atendia era a audição. Ela então começou a narrar como um poema.


Uma maldição para um coração quebrado.

Uma maldição por sangue ter derramado.

Aquilo que mais prezava no final não salvará.

Perderás o que sempre protegeu, mas ainda não se arrependerá.

O pecado encarnado não é a resposta que procuram.

O que está contido no seu coração é o que eles tanto almejam.


Quando ela terminou de falar nossas mãos automaticamente se separaram. Primeiro me senti tonto e meu corpo ainda não me obedecia, demorou alguns minutos para que eu voltasse ao normal.

– O que isso tudo quer dizer? – Perguntei, nenhuma palavra havia feito sentido. Nada que estava acontecendo naquele dia estava fazendo sentido.

– Me desculpe, querido, eu digo o futuro, mas não o interpreto. O que isso significa terá que descobrir por você mesmo. Ela respondeu sorrindo.

– Bom, acho que está na hora de irmos. – O gato que estava passando até agora despercebido reapareceu, do nada. – Já está anoitecendo, logo será lua cheia.

– Obrigado - Disse a mulher a minha frente. Pensando nisso, deveria ter perguntado seu nome, não que isso faça diferença agora.

– Antes de irem. Havia uma coisa na visão, algo sombrio e antigo que nem mesmo eu consegui desvendar. – Ela disse, pausando para retomar forças, eu sabia que ver o futuro consumia muita energia – Tem algo que deveria saber – ela encostou a boca em minha orelha e sussurrou um último verso – Cuidado com o que sente, a ira poderá ser sua ruína.

Afastou-se, me deixando ainda mais confuso do que já estava.

– Tomem cuidado. Vocês ainda tem uma longa jornada pela frente. – Ela disse acariciando uma última vez o topo da cabeça do gato.

Ao sairmos da loja já estava escurecendo. A loja deveria ter algum tipo de feitiço porque lá dentro, nos fundos, ainda estava de dia e o sol batia forte.

– A lua logo irá chegar. Não tem problemas com isso, Raposa? – O gato perguntou. Desde o nosso primeiro encontro em casa eu não havia trocado nenhuma outra palavra com ele, não que isso tenha sido ruim.

– Eu não tenho problemas com a lua. Nunca tive. – Respondi seco e rapidamente mudei de assunto, não que eu tivesse algum problema com isso, mas eu não gostava de lembrar que no fundo eu ainda era um animal – Qual é seu nome?

– Nome? – O gato deu uma pequena risada – Gatos não tem nome, não precisamos de um nome. Somos céticos e espertos, sabemos quem somos e não precisamos de nada para lembrar-nos. Vocês, criaturas e humanos que vivem esquecendo-se de quem são. Sempre mudando e deixando-se levar por sentimentos triviais – ele ria debochado – isso chega a ser cômico.

Ignorei-o. Ao que parece, não importa o quanto tempo eu passasse com ele, gatos são gatos, esnobes, ignorantes e insuportáveis.

– Bobby – falei – irei chamar-te de Bobby.

– O que? – Ele pareceu se espantar – Eu já lhe disse, não preciso de um nome e mesmo que precisasse, Bobby não é um nome adequado para um gato.

– Eu não me importo, você pode não precisar de um nome, mas eu preciso lhe chamar de alguma coisa... – pausei – E Bobby é legal.

Ele pareceu que ia responder alguma coisa, mas chegamos ao lugar que precisávamos. Eu me lembrava daquele lugar, era o rio onde Mira havia caído, não tinha como esquecer. O rio estava limpo e refletia a Lua que já apontava no céu, não havia mais magia nele, portanto não sugaria ninguém para o fundo caso caísse lá.

Os primeiros sintomas da transformação começaram a aparecer, não que eu me importasse muito, mas Mira nunca havia me visto daquela forma – Se é que ela estava voltando, tinha minhas duvidas quanto a isso. Esperamos bastante tempo, minha cabeça doía ao ponto de explodir. A cada minuto exposto a lua aparecia algumas características da minha forma verdadeira.

Minhas unhas tornaram-se garras. Estavam grandes e pontiagudas, tinham cerca de oito centímetros e eram espessas, resistentes e totalmente brancas como um osso. Em minha cabeça também começaram a surgir sinais, havia nela apenas uma orelha peluda, ereta e também pontiaguda em uma cor vermelha ardente como fogo que parecia por reluzir e faiscar, breve outra iria surgir. Meu cabelo preto também começou a ganhar o mesmo tom vermelho.

Antes de minha forma estar completa algo aconteceu no lago, uma luz forte e ofuscante surgia na margem do lago fazendo com que eu fechasse os olhos – imagino que o gato também tenha fechado os dele – a luz foi diminuindo e eu fui abrindo meus olhos. Um tipo de bola de luz emergia da água, era brilhante e azulada e mesmo de longe eu conseguia sentir o calor e o poder que ela transmitia, eu já havia visto aquilo muitas vezes antes, era uma alma. Aquela bola foi tomando forma, devagar, até se tornar a silhueta de uma mulher que eu já conhecia muito bem, Mira.

Ela começou a caminhar, sua aparência ainda não tinha ganhado forma, ainda era apenas uma silhueta de um brilho azulado intenso. A cada passo que ela dava sobre a grama suas feições iam aparecendo e as minhas também, em minha cabeça, por entre meus cabelos já totalmente vermelhos já estavam duas orelhas pontiagudas da mesma cor. Meus olhos outrora verdes agora ganhavam uma forma prismática, felina, e uma coloração castanha.

Uma cauda também apareceu em mim, ficava em na região do cóccix, era uma cauda de raposa, também cintilava e faiscava como fogo. Diferente das crenças que ao longo dos anos contaram sobre a minha raça, apenas uma cauda era material. É verdade que eu possuo nove, mas oito delas são caudas espirituais, estas que também já começavam a aparecer.

Mira também já estava quase como eu me lembrava. Longos cabelos negros e uma pela pálida com olhos penetrantes, ela estava nua. Quando ela parou a minha frente já havia tomado um corpo totalmente humano, mas ainda dava para sentir o poder que emanava da sua alma. Eu também já havia completado minha transformação.

Agora, além da primeira cauda, havia oito outras caldas diferentes. Eram muito maiores e não estavam ligadas ao meu corpo, poucos centímetros antes de se encostarem em minha pele, onde a primeira calda estava, elas desapareciam. Elas tinham um contorno vermelho chama de uma cauda de raposa, seu interior era levemente transparente e muito quente. Aquelas eram caudas espirituais, caudas que se formavam a partir da minha alma. Ignorei tudo que estava ao meu redor. Olhava para os olhos de Mira, mas estava imóvel. Ela também apenas me olhava, sem mover nenhum músculo. Eu sabia que nosso futuro seria extremamente desastroso e devastadoramente doloroso, mas nada disso importava ou passava pela minha cabeça naquele momento. Ela estava de volta, realmente era ela, Mira.


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Notas finais do capítulo

Ola ^_^, sim, eu demorei um pouco para postar este capítulo, me desculpem. Parte foi por preguiça e parte foi por atolamento do deveres. (Porque sim, não sou um vagabundo completo, as vezes eu estudo. rs)
Bom, não vou desistir da fic, espero conseguir postar 1 cap a cada 2 semanas - Ênfase em [espero]
Dei o melhor de mim para escrever esse capítulo.
Leiam e comentem. Criticas construtivas são sempre bem aceitas.
Obrigado por ler. ¬(^V^)¬



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