"magnus" escrita por Lord Byron


Capítulo 1
"Prisioneiro"


Notas iniciais do capítulo

Trata-se de um conto "levemente" inspirado no universo de jogo da NC-Soft: Line Age II.



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Primeiro Tomo


“Prisioneiro"




A luz bruxuleante de uma tocha na parede foi à primeira coisa que viu ao despertar. Estava desconfortavelmente de pé com as costas de contra a rocha fria e fortes grilhões enferrujados atavam seus tornozelos e pulsos a parede. A dor era insuportável, fruto da postura e um imenso corte costurado abaixo de sua axila que lhe chegava até a virilha.


Vestia-se com trapos que cobriam pouco mais que suas vergonhas, totalmente molhados. Suas unhas estavam grandes, sua barba já chegara próxima do seu umbigo. Existiam marcas de ferro quente, chicote e toda sorte de instrumentos de tortura elaborados por uma mente insana em sua pele e estes ardiam intensamente em contato com a água do mar.


Onde estava? Esteve tanto tempo nesse inferno e não tinha total certeza de seu paradeiro. Podia ao menos usar seus olhos para aliados a fraca iluminação redescobrir-se no mesmo calabouço de inúmeros outros meses. Uma espécie de caverna, escavada na rocha, abaixo da linha do mar. Seu teto chegava a pouco mais que 3 metros de altura, uma porta com grades de ferro parcialmente enferrujadas. A pouco mais que 15 passos da parede de onde era possível enxergar um corredor longo e sinuoso. Oposto à porta, a caverna sofria um imenso declive, terminando em um buraco que dava para uma espécie de mar subterrâneo.


Devia ser noite, a maré começara a subir e o pesadelo tornar-se-ia pior. Descobriu a contra gosto que o ferimento fechado abaixo de sua axila, havia sido preenchido por vermes e costurado, causando-lhe um repúdio e horror imenso. Somado a isso o mar começava a preencher a caverna devido o período de cheia, deixando-o submerso até a altura do queixo. Desesperado com a possibilidade de um afogamento caso desacordasse, ele lutava. Mantinha-se acordado resistindo a fadiga e as privações. Sua luta noturna contra a loucura acabara de iniciar-se em um carrossel infinito de agonias. A morte lhe sussurrava os deleites de entregar-se e deixar todo aquele sofrimento, mas Magnus agarrava com mãos gananciosas cada pequeno resquício de vida, cada segundo de consciência, lutando com todo o seu ser... Até que por fim a luta de mais essa noite findou em uma vitória momentânea. Lentamente o mar recuou deixando-o entregue apenas a dor agonizante de seus ferimentos molhados pela água salgada. Fadigado, ele adormeceu.


Não teve pesadelos hoje, não foram trevas ou seres assombrados de um universo de dor que o visitaram nesse sonho. Sua mente talvez em uma tentativa de lhe confortar, o levara ao passado, em uma época em que sendo um rapaz, já era responsável por cuidar das terras de seu falecido pai. Trabalhava com vigor arando o solo durante o dia e ainda lhe restava fôlego para durante a noite treinar esgrima com Vasel, um membro da guarda da cidade. Via-se subir no telhado de algumas donzelas da região para escondido lhes furtar algum olhar junto à penteadeira ou já deitadas em seus leitos, uma época de risos e alegria...


Tal como uma luz que se apaga, o sonho terminara.

Acordou novamente com dor, mas a mesma em uma escala tão menor da que estava acostumado, que ele podia sentir uma espécie de alívio percorrer seu corpo.


“Agora a dor daria lugar ao ódio”.


Então ele se recordou das inúmeras vezes que sentira semelhante alívio. Abriu os olhos e constatou que estava deitado de costas para uma mesa fria de rocha coberta por um fino lençol branco. Como das outras vezes se viu limpo, com os ferimentos "raspados" das imundícies e uma fraqueza por todo corpo. Devia estar sobre efeito de algum veneno debilitante que associado há alguns dias sem se alimentar deixou-o um escravo débil e obediente.


Havia seres que o estudavam. Elfos Negros. Possuíam trajes elegantes e ao mesmo tempo vulgares, exibiam seus corpos esguios e sorrisos maliciosos. Nunca demorando mais que o suficiente para saber da "novidade acerca do cativo humano", o brinquedo que mais trouxera fama a Lâmia, uma escrava elfa branca prodígio na arte da tortura. Tal elfa possuía tantos privilégios que apenas uma coleira de couro em seu pescoço ainda simbolizava sua submissão aos seus senhores sombrios. Seu prazer em torturar e sua criatividade, pouco a pouco transformaram sua vida de cativa por completo. Hoje vestia trajes elegantes e jóias adornavam-na como a uma autêntica princesa da corte élfica. Um laboratório, com livros, equipamentos de pesquisa e até mesmo uma própria escrava anã para ajudá-la com a maioria de suas "ferramentas de trabalho" lhe foi ofertado como privilégio.

Não tardou para que os Elfos Negros deixassem a sala muito entusiasmados com os resultadose foi só então que Lâmia pode constatar que o prisioneiro retomara a consciência.


-Como esta você meu amor?


Ante essas palavras, Magnus em um esforço supremo conseguiu virar seu corpo, apenas para cair de bruços sobre o chão. Cibele, uma jovem e talentosa anã, serva pessoal de Lâmia, fez menção de ir até o prisioneiro, mas, foi detida pela mesma que agora dotada de um sorrizo cínico, aproximou-se do cativo.


Abaixou-se junto do prisioneiro e sem se dar conta, foi tomada por uma onda de excitação. Fora completamente absorvida pelo sofrimento dele e isso sempre lhe brindava raro prazer. Seus dedos tatearam as costas de Magnus como um artesão que constata a perfeição de sua obra. A boca dela aproximou-se do ouvido dele e sussurrou em tom sedutor:


-Você esta lindo...


E terminando de falar, incumbiu Cibele de cuidar do asseio pessoal do cativo, tal como cabelos, barba, unhas; enquanto ela por si mesma, fora procurar toda a sorte de ungüentos e bálsamos que usava juntamente de magia para sanar as feridas dele em uma atitude semelhante a um pintor que troca de tela para uma nova obra.


Magnus permitiu seus olhos fecharem novamente. Não adomerceu, mas pode sentir a forma zelosa em que seus cabelos eram cortados, o cuidado com suas unhas e barba. A dedicação por parte de Cibele, agora que a sós em um aposento paralelo, era tamanha, que Magnus teve à impressão de estar recebendo não cuidados, mas sim carícias por parte da pequenina.


Novamente abriu os olhos, mesmo sem produzir o menor ruído. A presença de Lâmia rapidamente infestou o ar com a sua maldade e fragrância agradável. Limpo e com um semblante menos atormentado, Magnus ousava olhar em tom desafiador para seu algoz, que ao entrar pediu a Cibele que deixasse o aposento.


Lâmia era uma elfa adulta, seus cabelos exaustivamente escovados por Cibele eram Loiros claros estes chegando até abaixo da cintura sempre soltos. Sua pele era branca como neve pura e seus olhos eram verdes como esmeraldas lapidadas. Usava frequentemente fragrâncias de seus primos sombrios e toda a sorte de jóias que destacavam sua beleza, sem abafar a mesma. Possuía um corpo esguio de elfa, belo como o de uma ninfa.


Lâmia aproximou-se dele, segura do torpor que ainda estava abatendo-se no corpo de seu cativo.


-Fui convidada para um banquete, longe desse lugar horroroso, e todos estão muito curiosos para verem o espécime humano que resistiu a longos três anos em um dos piores lugares que se tem notícia...


-Tolos, é tão óbvio que utilizei magia e ervas medicinais...


-Contudo...


-Raríssimos outros casos chegaram sequer há completar um ano em semelhantes condições...


Foi então que Lâmia prostrou-se ao lado dele e ternamente tomou seu rosto entre as mãos.


-Me diga, por que luta tanto assim por sua vida?


Ela ficara pensativa alguns segundos ainda com a cabeça do prisioneiro entre suas mãos, debilitado como estava, Magnus apenas encarava Lâmia com um ódio mortal.


-Será que é o desejo de um dia vingar-se de mim?


E terminando de falar, deliciando-se com o ódio que causava, beijou-o na boca demoradamente.


O sabor da derrota chegara amargo aos lábios dele. Incapaz de esboçar reação, Magnus chorou. Sua percepção seria incapaz de notar que oculta por uma porta entreaberta, um vulto deixara sua posição de onde tudo observava, para mesclar-se as trevas do laboratório de Lâmia.


Acordou novamente sobre a fria mesa de pedra, tendo o corpo quase que completamente envolto em bandagens limpas e uma sensação de bem estartamanha que tornou a dormir. Seus sonhos foram confusos e povoados de pesadelos. Acordou com braços e pernas imobilizados, uma venda manteve-o alheio de tudo que se passava. Podia apenas identificar que estava se locomovendo dentro do que ele acreditava ser uma carroça. Abriu um leve sorriso ao sentir novamente vigor em seus braços e pernas, suficientes para testar a resistência de suas amarras. Portanto, sem mais opções, aguardou seu destino.


Um forte cheiro de morte tomou conta de suas narinas, despertando-o para o fato de que já não se movia a carroça. Pode sentir a brisa noturna açoitar seu corpo, estava nu. Mãos pouco educadas o pegaram e colocaram-no deitado sobre algo rugoso que ele descobriu ser uma tora de madeira. Seus braços foram rudemente abertos e o tinir de um martelo sobre o metal seguido de uma dor imensa o fez notar que sua mão havia sido pregada.


A dor excruciante rapidamente percorreu seu corpo. A cena repitiu-se com sua outra mão e pés. Estava tentando recobrar-se da dor que sentia quando ergueram a cruz a qual havia sido pregado, fazendo com que seu próprio peso rasgasse ainda mais seus ferimentos...


Uma brisa fria soprava trazendo um cheiro nauseabundo de morte e decomposição até suas narinas, o que o fez deduzir que estava em um pântano. Sua venda estava bem atada impedindo qualquer detalhe desse lugar macabro, deixando-lhe por companhia apenas uma dor aguda nas mãos e pés.


Seres invisíveis discutiam quase que silenciosamente sobre seu destino enquanto um de seus agressores pacientemente se pôs a cobrir seu corpo com alguma substancia com uma espécie de pincel em uma atividade repetitiva e cuidadosa, quase que como atendendo aos quesitos de um ritual profano. Magnus não protestou, sequer abriu a boca. Na verdade, a vida em seu corpo só podia ser constatada pelo suave levantar e descer de seu peito.


Despertou de seu torpor com o som de várias criaturas se aproximando. Sua venda não estava mais presa em sua face permitindo-o olhar parcialmente toda uma comitiva ao seu redor, diversos trabalhadores, escravos ao que parece, estavam muito atarefados com tendas, estacas de madeira, uma verdadeira festa a céu aberto com mesas enormes e carroças mais abarrotadas de alimentos e víveres que uma cornucópia. Tudo era organizado e arrumado cuidadosamente por trabalhadores em sua maioria anões, elfos e humanos. Coleiras, grilhões e outros detalhes deixaram claro sua existência servil. Uma das pessoas, uma anã envolta em um capuz subira em uma escada que estava apoiada em sua cruz e serviu água em sua boca usando um odre. Magnus bebeu vagarosamente, seus olhos encaram a pequenina, era a mesma anã que vira outras vezes no laboratório de Lâmia, Cibele.


Reencontra-la não foi nenhuma surpresa para ele, tampouco se dar conta da presença de Lâmia abaixo da cruz, agora esticando a sua mão e tocando no ferimento de seus pés suavemente com um sorriso malicioso na face. Rapidamente a mesma trocou de lugar com Cibele, no topo das escadas e lhe tocou carinhosamente na face com a mão, acarinhando-o como uma dona o faria com seu animalzinho de estimação. A mente de Magnus ainda sadia pensou rapidamente, ao que em resposta a carícia ele meneou a cabeça de contra a mão de Lâmia aceitando o afago com um sorriso tímido nos lábios.


Lâmia sentiu-se confusa com tal atitude...


O que será que ele queria agindo assim? Teria por fim enlouquecido?


Decidiu pensar com maior cuidado sobre esse assunto depois, pois ainda tinha muito que fazer e pouquíssimo tempo. Olhou para Magnus analisando seu estado físico. Magnus era um homem bem constituído, media mais de 1.80m, possuía belos olhos azuis e seus cabelos eram dourados como os campos de trigo. Estava "preparado" para o evento. Seu corpo havia sido totalmente coberto por uma espécie de tinta branca a qual Lâmia, provida de uma lâmina finíssima, se pôs a desenhar runas e desenhos arcanos, sendo o sangue dele sua única tinta e sua pele branca uma tela viva. O poderoso sonífero colocado na água que lhe fora servida começou a fazer efeito, o cativo não reclamou em momento sequer a dor que Lâmia lhe proporcionava. Não tardou até que ele exausto adormeceu. Lâmia ainda permaneceu por algumas horas em sua arte findando-a apenas no raiar do dia seguinte. Em redor de Magnus que dormia tudo estava preparado para a grande noite do banquete.


Diversos nobres elfos negros apreciadores da arte de Lâmia vieram se deliciar com o espetáculo. Ao redor da cruz do cativo existiam tendas suntuosas onde aos convidados era ofertada toda a sorte de prazeres carnais que suas almas sombrias desejavam. Diversas bebidas e alimentos dos mais exóticos esparramavam-se por sobre mesas espalhadas na clareira em que fora montado o festejo. Magnus agora estava coberto por um lençol e acordou sobressaltado pela dor, o efeito entorpecente do sonífero terminara levando com ele sua paz de espírito.


Devia ser noite, o vento fazia o lençol que o cobria totalmente tremular. Existiam incisões espalhadas por todo seu corpo, centenas delas desenhadas com perfeição sobre sua carne. A festa havia se iniciado. Magnus escutava a balbúrdia dos convidados em verdadeiros frenesis de volúpia. Risos, música, palmas, sussurros. Sua mente já se distraíra quando o silencio repentino denunciou que era chegada sua hora. O lençol agora rubro de seu sangue fora puxado, exibindo a todos os convidados a "obra prima" de Lâmia. Completamente nu, pregado em uma cruz, com seu corpo completamente escarificado, sem poupar rosto, mãos ou pés. Lâmia brindava imenso triunfo ante os apreciadores de sua arte que se debruçavam e aproximam-se para ter uma melhor visão do cativo.


Estava sadio. As incisões, apesar de lhe causar uma horrível dor constante, não significavam nada comprometedor para seu vigor físico. Porque será então que não abria os olhos? Foi descido e analisado por curandeiros presentes, mas nem mesmo estes souberam explicar o motivo de sua morte. O fôlego da vida havia inexplicavelmente deixado seu corpo. Tentativas de reanimá-lo se mostraram falhas, até para os mais profundos conhecedores dos mistérios da vida e da morte, o caso parecia ser especial.


Magnus morreu naquela noite.

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