Natural Disaster escrita por Thaís C


Capítulo 16
Capítulo 16 - Você vai ter que me ouvir.


Notas iniciais do capítulo

Comentemmmmmmmmmmmmmmm se gostaram e se não gostaram, o que acham que pode melhorar e etc.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/374017/chapter/16

Como havia aprendido com seu pai, Derick sabia desde cedo que quase qualquer pessoa no mundo tinha um preço. E foi assim que o garoto conseguiu agüentar alguns dias em casa, o que para ele era uma espécie de cativeiro. Havia pago uma boa quantia em dinheiro para que alguns dos seguranças o acobertassem e ele recebesse suas encomendas. Usava as mesmas substâncias de sempre, porém em pequena quantidade e trancado em seu quarto durante as madrugadas.
A justiça já havia sido informada e estava de acordo de que programa educativo fosse substituído pela reabilitação, já que a família tinha plenas condições de pagar por esse tratamento. Derick se afastara de todos os amigos, ainda podia usar o celular, mas simplesmente perdera a vontade de falar com qualquer um que fosse, apenas se sentia gravemente deprimido.

Por não estar frequentando à universidade e tendo pouco contato com o mundo exterior à sua casa, Derick havia praticamente abandonado seu projeto. Era óbvio que o garoto sentia falta, e, mesmo que tivesse de encarar Catherine, o faria, se pudesse. Ralf não se importava com nada disso na realidade, apenas gostava de exibir a inteligência de seu filho em tantas áreas do conhecimento, amaciando assim seu ego.
Na véspera do dia em que iria se internar, Derick recebeu uma mensagem em seu celular. Por pouco não deixou de olha-la, afinal, seus amigos viviam mandando mensagens e querendo saber como estava, se poderia sair e isso o estava incomodando, ele não se sentia nem um pouco disposto a fazer alguma coisa, além de estar de castigo. Entretanto, por sorte, ou azar, ele se atreveu a olhar e recebeu uma mensagem a qual nunca esperara receber.
“Olá, o professor Andrew me pediu para procurar você e saber o que aconteceu para ter abandonado o projeto. Dê notícias, você é o idealizador.” – Catherine Bellini.
O coração do garoto apertou apenas em ler aquelas duas frases, ficou por meia-hora pensando se valeria à pena responder. O que diria? Diria a verdade? O machucava pensar naquela garota, mas precisava prestar contas ao professor Andrew. Pensou, mas não conseguia chegar a nenhuma conclusão. Agora que estava fadado à clínica de reabilitação e à faculdade de Direito em Berlim, não teria como dar continuidade às suas pesquisas. Acabou então por não responder a mensagem, e começou a arrumar suas malas.
Apesar de amar o marido, Lilian sabia que a faculdade de Direito seria um destino infeliz para seu filho. Assim, intercedeu por Derick, peitando Ralf. Jamais deixaria o filho ir morar em outro país sozinho no estado em que se encontrava, ainda mais para estudar um curso que, notavelmente ele não gostava.
Os pais já haviam discutido sobre isso diversas vezes, entretanto os filhos nunca ficaram sabendo. Ambos eram discretos, para manter a ordem em casa, afinal, se eles não se entendessem, os filhos tenderiam a desrespeitar suas ordens.
Entraram por final em um acordo, Derick terminaria o 6º período de Medicina em Bergenthal, e, depois, nas férias, iria para a clínica de reabilitação. Caso o filho permanecesse sendo irresponsável, Ralf estaria liberado para educá-lo da maneira que achasse melhor, mandá-lo para Berlim e para a faculdade de Direito. Caso o filho se regenerasse após esse tempo, tornando-se responsável, teria o direito de formar-se médico e mais para o futuro conversariam novamente sobre os negócios da família.
Lilian estava convencida de que não havia necessidade de obrigar o filho a fazer Direito, pois, se ele tomasse consciência de suas responsabilidades com a família , veria a necessidade de aprender advocacia, para, pelo menos, manter a fortuna da família. Além disso, para ela, a felicidade do filho era mil vezes mais importante do que manter a empresa, quando ele se tornasse um homem de verdade, se desejasse vendê-la e investir o dinheiro em outras áreas, ele não iria se opor.
Guardaram segredo sobre o acordo até esse dia, e Derick já havia feito suas malas. Por incrível que pareça, quem decidiu dar a notícia foi Ralf, exatamente às 10 horas da manhã, antes de ir para o trabalho. O filho ficou surpreso e abriu um sorriso, o que há muito tempo não fazia, a felicidade era tanta que ele se achou no direito de abraçar o pai:
– Obrigado, é serio! – Derick não pôde deixar de se emocionar.
– Você não merece, mas eu confio na sua mãe. – O garoto soltou o pai, que não desfazia a pose de homem serio. Derick se perguntava o porquê do pai ser tão frio com ele, por que não conseguia dar uma chance para que eles se aproximassem.
O garoto se sentia menos pior, pois no dia seguinte voltaria à Universidade e retomaria as atividades normais. Resolveu dar uma olhada em suas redes sociais, coisa que não fazia há tempos. Havia muitas mensagens e atualizações, todos queriam saber o que ocorrera com ele. A essas alturas, todos da Universidade já sabiam o que ocorrera naquele fatídico dia na casa de Rui e especulavam sobre o sumiço de Derick.
Ele ria da quantidade de absurdos que diziam, as versões eram variadas, a mais bizarra alegava que o garoto fugira de casa e do país. Por mais raiva que tivesse de Cath, morria de saudades, só que isso o fazia sentir feito um bobo, afinal, levara o primeiro fora de sua vida, mas o sentimento que cultivara por ela não acabava nem pelo menos diminuía.

Derick passou o dia relativamente calmo, se dedicando a algo que não fazia há tempos: ficar com os irmãos. Peter e Bárbara nem acreditaram quando o irmão os chamou para passar o dia na piscina com ele. O garoto por si só preparou um almoço para os mais novos, dispensando as cozinheiras do serviço. Preparou churrasco, uma comida a qual os irmãos adoravam, mas poucas vezes tinham o prazer de comê-la, visto que as cozinheiras lhes preparavam pratos mais refinados.
Apesar do comportamento destrutivo que apresentava muitas vezes, Derick também era capaz de se dedicar à família. Vendo isso, Lilian se emocionou e olhou para Ralf como quem dissesse: “Ele vai conseguir! Ele só precisa de uma chance!”. O marido evitou demonstrar, porém por dentro sinceramente se sentia feliz em ver o filho interagindo com os mais novos.

O resto do dia, o garoto passou lendo e pensando em estratégias para se restabelecer. Para ele não era tarefa difícil pensar em idéias para seus estudos, melodias para suas canções, mulheres com as quais se aventurar...Queria de qualquer forma dar a volta por cima. Acontece que, tudo, absolutamente TUDO lembrava Catherine, então como se recuperaria? Antes de dormir, decidiu procurar na biblioteca de sua casa algum livro o qual não pudesse relacionar à garota. Procurou inutilmente, conseguia relacioná-la com livros de todas as categorias. Até mesmo em dicionários conseguia vê-la. Angustiado, tratou de tomar um sonífero, pois só assim apagaria aqueles pensamentos de sua mente.

Como um Becker, jamais deixaria transparecer suas fraquezas e seu sentimento de derrota perante todos. Antes de ir para a faculdade, se arrumou melhor do que costumava, se perfumou, fez a barba e pronto, estava realmente lindo. Ninguém precisava vê-lo destruído. Derick gostava que pensassem que era ele quem ditava as regras de sua própria vida. Não iria de skate nem de taxi, afinal, deveria voltar por cima a fim de silenciar os que disseram que ele estava arruinado. Então, entrou em um dos carros da família, um Porsche prateado e conversível e fez sinal para que o motorista o levasse.

Ao chegar em Bergenthal, todos os olhares se direcionavam para ele e para seu carro, havia um multidão de pessoas com os olhos arregalados e de queixo caído. Quando se está emocionalmente arrasado, nada melhor do que ter seu ego amaciado. Derick foi andando e a multidão o acompanhava com os olhos. Estava feito, o garoto conseguiu não só parecer que estava bem, mas parecer que estava melhor do que qualquer dia já havia sido. Andando pela universidade, olhou discretamente para o corredor da sala de Catherine, não a viu. Lamentou que ela não estivesse lá para ver o quanto ele estava bem.
Derick assistiu suas aulas normalmente e todos demonstraram ter sentido a falta dele, os professores inclusive. No final da aula decidiu que iria no laboratório do professor Andrew para se inteirar sobre seu projeto. Colocou o jaleco e o óculos de proteção e entrou ansioso. Deu de cara com Catherine, que o olhou de uma forma estranha, parecia magoada, mas ele preferiu ignorar. Deu um “Boa tarde” geral, os monitores e Andrew então perceberam que ele estava lá. O professor lhe deu um abraço apertado.
– Finalmente! Rapaz, por onde andou? – Ele não parecia irritado pela ausência de Derick, mas sim preocupado e aliviado pelo garoto estar de volta.
– Muitos problemas professor, me perdoe pela ausência. Eu prometo voltar com ótimas ideias e estou muito animado. Senti muita falta disso aqui.
Os dois ficaram conversando e Derick pôde se inteirar sobre a quantas andava o seu projeto. Era como o filho pródigo voltando para casa, o professor parecia comemorar a sua volta, ao invés de censurá-lo. Catherine fingia mexer em qualquer coisa na bancada, mas, na verdade estava com os ouvidos atentos para o assunto dos dois. Aquela situação toda a irritava. Como assim Derick poderia aprontar o que fosse que todos no final continuariam o bajulando?

– Que ridículo. Não vou compactuar com essa palhaçada! – Ela deixou escapar enquanto saía do Laboratório irritada e quase esbarrando em todas as vidrarias da bancada.
Tanto Derick quanto o professor ouviram. Andrew pareceu ficar sem graça, mas o garoto simplesmente já estava esgotado da forma com que Cath o menosprezava. Aquela fora a gota d’água e isso não iria ficar assim. O garoto então a seguiu bravamente.
– Volta aqui. – Ele disse enquanto ela apertava o passo pelo cumprido corredor.
– Você está pensando que eu sou igual a esse povo que lambe o chão que você pisa!? Faça-me o favor! – Catherine andava cada vez mais rápido e o garoto a seguia enquanto resmungava mais algumas coisas.
– Você está pensando que é quem para falar assim comigo? – Derick disse furioso.
Ela parou de fugir, se apoiou em uma janela e respondeu seriamente:
– Alguém muito melhor do que você. Você é um imbecil. – Cath ficou ali parada de braços cruzados e Derick a alcançou. O garoto a segurou firmemente e falou quase que gritando:
– Acabou, ok!? Agora você vai me ouvir! Você se acha melhor do que todos, não é!? – Derick parecia transtornado e Cath, se surpreendeu com aquela reação. Ficou parada completamente em choque.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O capítulo 17 já está quase saindo do forno também!