Vampire escrita por Emma Patterson


Capítulo 10
Capítulo 10 – Amigos, verdade.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, mas este capítulo esta enorme. Boa leitura.



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Capítulo 10 – Amigos, verdade.

Zenna

Qual a foi a última vez que senti o desespero me dominar e meus olhos se derramarem incansavelmente em lágrimas e medo e agonia? Nunca.

_ Por favor... – sussurrei encurralada. Olhava para cada um daqueles rostos pálidos e ferozes. – Por favor...

Eu repetia sem parar aquelas palavras de piedade e misericórdia. Meu coração era como uma hélice de helicóptero. Os vampiros apenas me olhavam com desprezo e uma satisfação que chegava a fazer todo o meu corpo tremer.

_ O que querem de mim? O que fiz para vocês? Por que me perseguem? – desabei a perguntar tudo o que me intrigava em todos esses os meus dez anos de fuga constante.

A vampira que estava na casa onde eu me escondia me olhou com escárnio.

_ Acha que é mesmo assim que você é tão importante? Valiosa sim, mas não a esse ponto. É apenas o nosso trabalho, caçamos aberrações como você. - Cuspiu as palavras como se eu fosse um monte de merda gigante.

_ POR QUÊ?! – gritei com todas as minhas forças e recebendo inesperadamente um forte tapa na cara, na versão de um vampiro, mas fraco o suficiente para não arrancar a minha cabeça.

Encarei pasma a vampira morena e alta, a Megan. Seus olhos faiscaram de prazer.

_ Já tem o que precisa, se é que precisa de alguma coisa, híbrida. – rosnou. – Cala a boca e aceite o obvio: você não é nada, apenas uma aberração que tem que ser contida, abaixe sua cabeça e não questione os mais fortes.

Seus olhos eram como o sangue mais ralo e fino, mas a crueldade os nutria para um brilho enegrecido e assassino. E se eu não calasse a boca, mesmo que me capturar viva fosse a missão deles, me matar não seria problema. Eles podiam capturar outro mestiço.

Solucei novamente, meus ombros tombaram flácidos e meu coração se apertou agoniado.

_ Por favor... – sussurrei novamente olhando para o chão da floresta coberto de folhas secas e apodrecidas.

Senti mãos frias de aço me segurarem pelos braços e me puxarem pra frente com violência. Se não fosse resistente o suficiente e eles não tivessem fazendo o possível para me manter viva, eu teria perdido meus braços como o resto do meu corpo.

_ Deixem-me livre, deixem-me em paz. – solucei e encarei o vampiro que antes estava ao lado da morena. Ele era alto, musculoso e tinha os traços rústicos e cabelos de um loiro escuro, quase castanho. Seus olhos eram frios como um iceberg gigantesco.

Ele me encarou e virou meu corpo, o virando para que eu ficasse na sua frente, acabei me chocando com seu peitoral duro como mármore. Minha costela protestou dolorida. Meus olhos estavam arregalados e sentia o pavor crescer ainda mais em mim.

_ Vocês não merecem liberdade ou paz. São aberrações que só servem para nosso poder e grandiosidade, apenas. – disse cada palavra, lenta e ameaçadoramente.

Solucei novamente e por fim desisti, me deixei ser levada por aqueles sanguessugas abomináveis. Eu perdi, eu fui fraca e ridícula achando que escaparia. Eu falhei miseravelmente.

****

Encarava eles se afastarem rapidamente. Mas isso não me impedia ou me prejudicava em usar meu dom. Ele já estava mondado o suficiente para tanta distância. Sorri satisfeita vendo aqueles estúpidos vampiros se afastarem achando que estavam levando a mim com eles, que me capturaram. Ergui o queixo confiante.

_ Tolos. – sussurrei com malicia.

Ninguém era páreo para o meu dom de ilusão. Eu os fiz acreditar que me pegaram, que foram rápidos, que estavam entendendo minha rota de fuga e meu dom “frágil”. Eu não tinha nenhum problema em controlá-lo, mas era incrivelmente prazeroso vê-los ver o que mais queriam ver. Era inebriante.

Eu os acompanhei todos esses anos para achar resposta para o que eu procurava e, hoje foi o ultimo dia de sonda.

_ Esta cada vez mais forte, não? – perguntou a pequena vampira ao meu lado. Ela não respirou em nenhum momento desde que comecei a ilusão final. Seus olhos de recém-criada, que nunca lhe deixaram, acompanhava todos os movimentos dos vampiros e meus, seus olhos eram como lasers, ferozes e em busca de um mira ou varias, analisando a tudo.

Sorri de lado.

_ Com toda certeza. – respondi satisfeita. – Você aprende rápido. Já lhe disse como admiro isso? – virei meu rosto a olhando.

Ela me olhou e sorriu.

_ Sim, desde o dia em que me salvou.

Ri alegre. Ter salvado Bree foi uma das minhas melhores ações desde que nasci. Achei que ela se irritaria pois queria se encontrar com o parceiro, já que viver num mundo sem ele não era nada, mas ela aceitou bem, na verdade Diego não era seu verdadeiro parceiro, apenas um próximo, era comum para muitos vampiros se esbarrarem com outros vampiros e acharem que foram feitos um para o outro, ainda mais quando se é um recém-criado que ainda esta desorientado e com sangue humano correndo em suas veias. É por isso que os induzi-los a obedecer ou acreditar que são parceiros dos lideres é tão fácil, serem manipulados.

_ Vamos mesmo nos juntar aos seus amigos? – perguntou mudando sua expressão. Agora ela estava séria.

_ Sim, vão ser atingidos de qualquer forma, nada mais justo que prepará-los. – falei com pesar.

_ Você transformou algum deles? – perguntou pulando da arvore em que estávamos e correndo para Oeste, eu a segui tranquilamente. Os vampiros caçadores já tinham desaparecido dos meus sentidos achando que tinham me capturado, mas meu dom ainda agiria por duas semanas os fazendo parecer ainda mais idiotas diante de seu mestre, seja lá quem fosse.

_ Não. Todos foram transformados por uma vampira sádica na época do rei da França, Francis. Ela criava recém-criados e pretendia tomar a França, mas claro, os Volturi a impediram, mas por sorte esses meus amigos fugiram antes de o bando chamar atenção dos italianos. Graças ao dom de Susana. Vocês vão se dar bem, seus dons são bem parecidos, Bree.

_ Sabe, fico pensando quando você vai parar de agir e falar tão superficialmente. Porque na sua ilusão você demonstrou boa parte do que você realmente é, digo, não no medo, mas... Natural. – Bree questionou curiosa e preocupada, ela era minha melhor amiga. Tínhamos a aparência eterna dos dezesseis anos, apesar de ela ter sido transformada aos quinze.

Não respondi por um tempo.

_ É necessário, Bree. O importante é você e os outros me conhecerem. Nada mais. De resto eu sou apenas uma ilusão, uma camuflagem da cultura antiga. – falei calma.

_ E você é realmente antiga. – zombou rindo.

Não contive o riso e a acompanhei.

_ Totalmente. – brinquei rolando os olhos. Eu não era antiga, não mesmo.

Seguimos entre brincadeiras e piadas até o Oeste dos EUA. Iríamos para Nevada.

****

Era um local quente, uma cidade cercada pelo deserto. Estávamos em Las Vegas, à cidade dos jogos e mafiosos.

Observava de cima de um hotel enorme, as luzes dos hotéis, lojas, carros e lâmpadas, era um dos locais mais coloridos que já tinha visto, mas totalmente obvio para vampiros. Não entendia porque meus amigos escolheram viver aqui.

_ Minha mãe casou aqui. – comentou Bree, inserta e com os olhos semicerrados. – Lembro-me de uma foto perdida no armário da minha casa quando eu era humana, minha mãe... Não consigo ver seu rosto, é muito embaçado e se eu forço, acaba me irritando... Enfim, ela parecia feliz...

_ Ela foi Bree. Tenho certeza disso. – a reconfortei.

Ela havia me contado, do pouco que se lembrava da vida humana, que sua mãe se casou jovem e fugiu com o pai de Bree, mas sua vida foi difícil e seu pai não era o bom homem que tanto demonstrava, ela engravidou, mas como eram pobres não teve condições de fazer o pré-natal, tendo complicações na gravidez e morrendo minutos antes de Bree nascer. Seu pai a culpava pela morte da esposa e então nunca cuidou dela e sempre a maltratou. Bree começou a usar drogas e dormir nas ruas, até que um dia fugiu de vez, começou a passar fome e estava preste a começar a se prostituir para conseguir comida, quando então Riley, um vampiro que estava sendo manipulado para criar um exercito de recém-criados, a transformou.

Sorri tentando lhe passar compreensão. Ela retribuiu, mas o sorriso não alcançou seus olhos.

_ Vamos encontrá-los logo. – mudou o assunto e se posicionou para saltar em um beco próximo.

Apenas assenti e a segui, passando na sua frente e procurando o rastro de meus amigos. Não foi difícil, eu já os havia visitado antes e sabia mais ou menos aonde gostavam de ficar.

****

A música era suave, e as pessoas dançavam inebriadas pelo álcool e drogas. Pessoas se agarravam aos cantos da boate, alguns até transavam em meio às pessoas, sem se importarem de serem notados. Senti meu rosto se contorcer de nojo. Bree estava ao meu lado, com o queixo levantado e um olhar superior. Podia imaginar o que ela pensava, em como ela conseguiu sair desta vida humana de jovens conturbados e perdidos.

Avistei um dos vampiros que procurava. Ele era alto, levemente musculoso, cabelos de um castanho escuro e liso, mas levemente ondulado nas pontas. Seu olhos vermelhos observavam as pessoas procurando uma presa, mas ele já devia ter sentido a minha presença. Sorri no momento que seus olhos focaram em mim. Edmundo retribuiu.

_ Quanto tempo. – falou me olhando de cima a baixo, mas não era malicioso ou sacana, ele fazia isso com a maioria das pessoas.

O abracei feliz e me virei para Bree.

_ Este é Edmundo, Edmundo, esta é Bree. Uma vampira que salvei e hoje é minha amiga. – contei colocando os braços atrás do meu corpo, descontraída.

Bree sorriu gentil e estendeu a mão para cumprimentá-lo envergonhada. Se fosse humana estaria ruborizada agora. Edmundo rolou os olhos e a puxou, dando-lhe um abraço apertado.

_ Sem formalidades, por favor, amiga de Zenna é amiga minha. – gargalhou.

Bree sorriu ainda mais sem graça e abaixou a cabeça envergonhada. Edmundo a soltou e olhou em volta.

_ Pedro e Susana estão lá dentro. Eu já entro, preciso saciar minha sede. – piscou mais fez uma careta referente ao incomodo da ardência na garganta. Eu nunca saberia o que era isso, a menos que ficasse sem sangue por meses.

Sorri cúmplice e dei um passo para o lado de Bree dando passagem para ele, Edmundo voou da minha vista. Desaparecendo como uma fuça e se camuflando aos humanos. Ninguém reparou, nem poderiam.

Olhei para a porta no fundo do salão e puxei Bree. Ela apenas olhava para trás observando Edmundo arrastar suavemente um humana drogada até o canto mais escuro da balada. Nenhum gritou ou protesto foi ouvido de tanto álcool e droga que se impregnava nas veias da garota. Seu coração parou de bater em dois segundos.

Abri a porta e entrei em uma sala estilo escritório onde uma vampira alta e de corpo escultural estava sentada na mesa com as pernas expostas pelo vestido preto que ia até o meio de suas coxas, dobradas elegantemente. Seu olhos eram cinza gélidos e me encaravam sagazmente. Seus longos cabelos castanhos escuros levemente ondulados caiam sobre seus ombros e costas. Um sorriso malicioso surgiu sobre seus lábios carnudos e vermelhos. Susana sempre foi sedutora desde que era humana. Segundo ela, ficar trancada em casa era sua única chance de não ser estrupada ou cortejada desesperadamente pelos homens da cidade na época humana.

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_ Não muda nada, não é garota. – falei rindo e rolando os olhos com a piada ridícula. Escutei passos descendo as escadas que davam para um apartamento aonde os irmãos, Edmundo, Pedro e Susana viviam juntos.

Pedro apareceu com um sorriso de orelha a orelha, contagiante e caloroso. Seus olhos vermelho vinho, calmos e carinhosos, me olhavam aliviados.

_ Hey, estou bem. Juro. – falei indo lhe abraçar e depois abraçando Susana que já tinha descido da mesa e estava posta graciosamente encostada na mesma. Pedro me acompanhava, procurando algum sinal de ferimento ou algo de errado. Rolei os olhos frustrada. Ele era mais alto do que Edmundo e o corpo ainda mais definido que o do irmão mais novo. Cabelos louros e lisos, que estavam sem pentear, naturais o deixando ainda mais sedutor. – Estou bem, juro. Já consegui o que queria e achei que estava na hora de visitá-los. – falei tranquila. – esta é Bree, devem ter ouvido enquanto eu falava com Edmundo. Bree, estes são Susana e Pedro.

Bree encarava Susana confusa, os olhos analíticos não desviavam dos gélidos olhos de Susana.

_ Os olhos dela... – começou a falar confusa.

_ Sim, são diferentes. Podem ficar com a cor ainda mais realçada de quando eu era humana. Não sei por que são assim, mas são. – falou Susana sem se incomodar com a confusão e curiosidade da jovem garota. Não ligava em explicar isso, na verdade ela até gostava. Ser diferente lhe fascinava.

Bree assentiu e voltou a olhar pra mim.

_ Mas voltando, simplesmente vir nos ver é o real motivo? – questionou Susana ficando ao lado do irmão que a abraçou pelos ombros carinhosamente. Era lindo o amor familiar de todos eles. Edmundo era ainda mais protetor que o irmão em relação à Susana, apesar de ela não precisar.

Andei pela sala observando as estantes abarrotadas de livros e comecei a falar.

_ Não, vim para convidá-los a se juntar a mim na missão de recrutar híbridos e parar um bando de vampiros que esta nos caçando a séculos, nos usando como objetos e para experimentos e por fim nos matando depois de tirar tudo de nós. Na verdade, isso cai em vocês por conta da história da mãe de vocês. Digam-me, ela os abandonou por quê? Proteção ela havia dito, não? – perguntei me virando e os encarando, Susana olhava para mim intensamente e Pedro me olhava tristonho. Como queria abraçá-lo e dizer que tudo estava bem. Contive-me fortemente.

_ Ela deixou uma carta ao amanhecer do aniversário de Edmundo, contando que não poderia ficar conosco porque assim correríamos perigo e se ela não fugisse e nos deixasse, não contou de quem ou quantas pessoas a seguia, sofreríamos como jamais imaginávamos. Disse que ela estava bem, que não ficaria sozinha, nós não éramos os únicos que ela precisava proteger. Ela também mencionou que Edmundo e Pedro me manteriam a salva, mas que outra pessoa somente ela poderia proteger. Não sabemos o que ela quis dizer com isso, mas dali em diante fomos só nós três. Como já éramos um pouco crescidos, quase adolescentes, ficamos em nossa casa até a comida acabar, depois que os moradores perceberam que estávamos sozinhos, alguns homens tentaram me pegar, Edmundo e Pedro fugiram comigo para a floresta, vivemos lá até termos a idade que fomos transformados, Jeane nos achou, nos transformou para seu exercito ridículo. O resto você já sabe perfeitamente. – contou a sua história mais detalhada e baixou o olhar para o chão, como se os desenhos no tapete fossem incrivelmente interessantes. – Mas o que isso tem haver com o que descobriu?

Pedro caminhou até mim e sussurrou apenas para eu ouvir.

_ O que você descobriu? – perguntou com a voz angustiada, tanto pelos irmãos quanto por mim. Suas mãos seguraram minha cintura à procura de apoio. Pedro teve que se transformar no homem da família cedo de mais, mas por dentro era frágil e precisava de alguém para reconfortá-lo, estar sempre ao seu lado. Já havíamos ficado juntos antes, mas o deixei antes que isso ficasse permanente, mas não importava o quanto eu fugisse, sempre que nos víamos uma corrente de fogo nos puxava para ficarmos juntos novamente. Um calor reconfortante e aconchegante, que só seus braços podiam me proporcionar. Suspirei pesadamente.

_ Sua mãe teve uma filha, mas ela não é sua irmã, vocês não são filhos dela, ela fugiu com vocês e os criou para salvá-los de alguém, alguém que caça os híbridos, os mesmo que eu sondava, o mesmo que me persegue. Não são apenas os híbridos que estão sendo usados por vampiros. Seja o que for que querem, sua mãe tinha algo que eles desejavam bastante. – falei com pesar e para todos os outros presentes ouvirem. Nessa hora Edmundo já havia entrado na sala e estava ao lado da irmã, a segurando pelo ombro. Pedro me apertava desesperado contra seu corpo, Susana tremia como se estivesse soluçando e chorando, mas lágrimas nunca mais sairiam de seus belos olhos. – Consegui apenas isso, nem o coviu deles ou consegui achar, não sei o que aconteceu a sua mãe e nem a sua filha, mas a garota esta viva e eles a procuram, ela é poderosa, ela é imortal. Uma vampira.

Os irmãos Penvensie estavam estáticos em seus lugares. Olhos vidrados e quase vazios. Bree estava encostada no canto da sala, em sinal de privacidade. A cabeça baixa e os cabelos quase lhe cobrindo todo o rosto.

Pedro colocou a sua cabeça na curvatura do meu pescoço e ali ele repousou abatido. Finalmente o abracei demonstrando o quanto sentia muito, tanto pela notícia e pelo sofrimento. Sentia-me culpada por ter descoberto isso, mas não foi intencional, apenas aconteceu. Em uma busca de informações acabei descobrindo sobre a mãe deles. Pedro entendeu minha linha de pensamento e me apertou mais contra si.

_ Não foi sua culpa, não se sinta culpada. Se não fosse por você viveríamos essa mentira eternamente. – e beijou minha testa carinhosamente. Senti todo meu corpo relaxar e o apertei mais contra mim. Estava cansada de fugir, de abandoná-lo, ela não merecia isso, eu merecia ser feliz com o meu verdadeiro parceiro eterno. Meu amor.

Peguei seu rosto, o envolvi em minhas pequenas mãos e o encarei, seus olhos vinho me olhavam tristes, esperando que eu o deixasse novamente. Só que isso nunca mais aconteceria. O beijei e demonstrei todo o meu amor.

_ Desculpe-me por largá-lo tantas vez e obrigado por me esperar e ter tanta paciência comigo. – falei apenas para ele ouvir quando nos separamos, eu estava arfante. Meu coração era uma locomotiva a todo vapor.

Apesar de toda tensão na sala e da notícia devastadora, ele sorriu, o sorriso mais lindo que ele já havia dado em todos esse anos que nos conhecíamos. Um sorriso que fez todo o meu corpo se sentir uma paz quase eterna.

_ Eu te amo. – falou só pra mim. Estávamos em uma bolha. Nossa bolha.

_ Eu te amo. – sussurrei de volta sentindo um milhão de toneladas sendo tiradas de mim, senti meu coração se encher de alegria e meus olhos arderem pelas lágrimas. Pedro as secou com seus dedos delicadamente e beijou minha testa me abraçando.

Olhei para seus irmão que ainda estavam estáticos, meu momento com Pedro havia durado cinco segundos. Soltei-me dele e andei até Susana e Edmundo. Os abracei.

_ Sinto muito. De verdade. – falei e me desculpei com o olhar. Pedro já estava ao meu lado e agora puxava Susana contra seu peito e a abraçou protetor, passando conforto para ela. Como sempre, agindo como o mais forte, pelos irmãos.

Edmundo me olhou sem saber o que falar ou expressar, apenas foi até Susana, depositou um beijo em sua testa. Deu um tapa nas costas do irmão e olhou para mim acenando com a cabeça.

_ Preciso de ar. – falou com a voz rouca e saiu subindo as escadas e o escutei saltar da janela do apartamento e desaparecer na noite.

_ Ele vai ficar bem...? – perguntei apreensiva. Edmundo às vezes era compulsivo de mais.

Susana assentiu e sussurrou:

_ Sim, ele só precisa pensar, de espaço. Ele fica melhor sozinho nessas momentos. – falou desolada e se afastando de Pedro. – Que bom que se entenderam. Vou... Tomar um banho. – falou apontando para mim e Pedro então subiu as escadas em velocidade vampirica. Ela não precisava de banho, mas um coisa que aprendi, era que alguns imortais adquirirem os hábitos humanos na tentativa de escapar nem que seja por um segundo da imortalidade e da dor continua.

Olhei para Bree que estava em um silêncio tão profundo que achei que não estava mais lá, se não fosse seu cheiro eu realmente teria achado que ela havia saído há muito tempo.

_ Vou andar pela cidade, está de noite e não vão saber o que sou. Preciso caçar também. – falou sem emoção na voz e saiu pela porta e andando pela balada e sumindo Las Vegas adentro.

Pedro se colocou ao meu lado e segurou suavemente meu braço até alcançar minha mão. A apertei o mais forte que pude.

_ Esqueça minha proposta por um tempo. Posso esperar e ficar aqui com vocês. Todos precisamos de descanso. – falei encostando minha cabeça em seu ombro.

_ Obrigado. – falou com a voz suave. – Obrigado por existir.

E me beijou. Um beijo casto e cheio de paixão. Mas não passou disso, não estávamos no clima para algo mais quente. E isso foi bom. Também não era o momento certo. Susana precisava da gente. Então subimos e passamos a noite na minha cama que sempre esteve aqui desde que eles mudaram pra cá. A única cama do apartamento em um quarto feito só pra mim. Tomei um banho e coloquei um pijama leve por conta do calor de Las Vegas, não que me incomodasse muito, me deitei na cama e depois que Pedro conversou a sós com a irmã, ele veio para o meu quarto quando eu estava quase dormindo. Deitou ao meu lado e me embalou em seus braços, me ninando e acariciando meus cabelos ruivos. Dormi rapidamente. E apesar dos problemas e noticias ruins, me senti um pouco mais leve. Estar nos braços de Pedro me tranquilizava.

****

Acordei cedo, quando o céu começou a clarear. Bree voltara enquanto eu dormia e ficou no escritório lendo livros por toda a madrugada dando privacidade aos irmãos. Pedro não saiu do meu lado um minuto se quer e até fechou os olhos fingindo dormir para que quando eu acordasse não me sentisse desconfortável por ser a única que podia dormir. Ele não precisava fazer aquilo e eu já o havia avisado, mas ele insistia, então deixei quieto. Edmundo não havia voltado e não sabíamos quando voltaria. Mesmo que em Las Vegas fosse ensolarado, Edmundo sabia se esconder e se cuidar. Mas ainda me preocupava, ele era como um irmão mais velho pra mim.

Tomei café com comida humana. Bree preparou pra mim.

_ Cozinhar? Ok Bree, o que mais você sabe fazer e eu não sei? – perguntei encostada na bancada da cozinha. Já tinha trocado de roupa e estava vestida para viajar apesar de não o fazer, não agora.

Bree deu uma risada contagiante que há tempos não dava. Depois que a salvei ela começou a se libertar, ser quem ela realmente era.

_ Eu tinha que me virar quando estava com o meu pai. Ele não preparava nada pra mim. Tive que aprender quase tudo sozinha. – contou tranquila, mas seus olhos estavam distantes.

_ Bem, meus parabéns, vai ter que me ensinar a cozinhar. – pisquei e fui pegar um prato para colocar as panquecas que ela fazia.

_ Tudo bem, você vai precisar mesmo, nem sempre estarei por perto. - Falou sorrindo. A encarei sabendo do que ela falava, mas não questionei sua decisão. Ela era livre para fazer o que queria. Eu a salvei, mas não a obriguei a ficar. Ela me seguia por conta própria, desde o começo.

_ Verdade. – falei tranquila fingindo não se lembrar de suas escolhas. Ela entendeu e também não tocou no assunto.

_ Esse cheiro é repugnante pra mim. – falou Susana entrando na cozinha no momento que eu pegava algumas panquecas e as cobrias com calda de caramelo. – Como pode isso ser possível? – falou olhando pra mim, seu nariz se contorcendo em repulsa. – Sem ofensa Bree, mas pra nós você sabe que pode ser a melhor comida do mundo, mas não faz mais parte de mim essa coisa. – gesticulou para meu prato, no qual eu devorava rapidamente e feliz.

_ Faz parte. – concordou Bree com Susana e logo as duas estavam conversando sobre quais era as suas comidas da época humana.

Para minha surpresa, Bree não estava mais traumatizada, agora ela aceitava o que aconteceu na sua vida humana e conversava tranquila sobre isso. Susana não era diferente já que teve os irmão para lhe reconfortar. Ela agia como se a notícia de ontem não tivesse acontecido, mas via em seus olhos que ainda estava triste.

_ Eu amava vinho. Edmundo roubava sempre pra mim um pouco. Não era uma alcoólatra, mas é que o gosto suave e delicado me inebriava, hoje apenas vejo como uma poça de uma cor envelhecida. – rolou os olhos e olhou pra mim e sorriu. – Mas mudando de assunto, tem algum dom Bree? – perguntou empolgada e curiosa.

Bree se sentiu envergonhada e eu rolei os olhos.

_ Sim, Zenna disse que nossos poderes eram parecidos e por isso nos entenderíamos. – falou envergonhada e colocando uma mecha dos seus longos cabelos castanhos atrás da orelha.

_ Entendo, eu posso acertar qualquer coisa e definir sua trajetória. Posso ver as correntes de ar e água, isso se amplia para vampiros, me transformando tanto em uma rastreadora como em um arco e flecha tamanho gigante. De alguma forma, qualquer coisa que eu lanço ou que esta em minha mira, fica sob meu controle e faz tudo que eu quero, tudo com a vontade dos meus olhos, por isso são tão penetrantes. Eu vejo as coisas como um alvo, não importa o momento e eu sempre acerto em cheio. – sorriu satisfeita. – Quando humana, eu praticava arco e flecha porque eu conseguia treinar meus reflexos, Pedro e ma... Mamãe diziam que meus olhos se moviam como os de uma águia pronta para caçar e agarrar sua presa.

Desviei o olhar para Bree no momento que Susana ia dizer sobre sua mãe.

_ Mas e o seu Bree? - Perguntou empolgada novamente.

_ Eu analiso as coisas. Eu já fazia isso antes, mas não me concentrava ou ligava, mas depois que quase fui executada pelos Volturi – Bree pronunciou seu nome com repulsa -, comecei a perceber como meus pensamentos e olhos eram mais rápidos que o normal, quando Zenna me salvou eu comecei a treinar essa habilidade muito antes de confirmá-lo como dom, usava na caça, observa tudo e analisava, quando treinava luta com Zenna foi ai que as coisas realmente evoluíram, eu consegui prever seus movimentos quando seus músculos estavam pra retesar e ela ainda estava pensando no que fazer, eu consegui analisar tão precisamente que a barrei. Comecei a vê-la como um alvo, mas este se movia mais rápido e tentava me incapacitar com ilusões. – ela olhou pra mim e sorriu – eu perdi, mas não sem antes conseguir localizá-la antes da perda de noção e socar a barriga dela. Desculpa. – disse olhando pra mim.

_ Já disse que não tem que se desculpar. Estávamos treinando, você tinha que fazer aquilo. – revirei os olhos e ri. – Relaxa Bree.

_ Essa é das minhas. – disse Edmundo entrando pela janela que deva de frente para um beco escuro. Mesmo tendo o escutado, entrar de supetão era um hábito irritante dele. Pedro entrou na cozinha olhando preocupado comigo e eu gargalhei.

_ Isso é incrível. Quer dizer que ainda o esta mondando e o descobrindo. Isso é ótimo! Posso te ajudar, tenho muito mais experiência que a Zenna sobre esse tipo de dom. Você não chega a ser uma rastreadora, chega mais para... – Susana pousou a mão teatralmente sobre o queixo. – Vigia? Eu sei, é um nome idiota, mas sou péssima para nomear qualquer coisa. – resmungou. Edmundo sorriu.

_ Achamos uma classificação depois. Zenna já terminou, então podemos partir, certo? – desatou a falar e se postou ao lado de Bree que o olhava sem expressão alguma.

Pedro, Susana e eu o olhamos sem reação.

_ O que? Qual é, temos que achar a filha da Anise. – pronunciou o nome da sua mãe. Nunca o vi fazê-lo, apenas Susana e Pedro. E pelo olhar e expressão de Edmundo ele a chamaria assim agora. Ele não a via mais como sua mãe. Isso fez meu coração apertar de culpa e os irmãos recuarem sutilmente incômodos.

_ Ed... – sussurrou Susana.

_ Temos que ir, cada minuto que demoramos é mais perto que ela esta de ser pega. Entendo Anise pelo que fez, mas pelo visto ela falhou para a garota estar sendo caçada, talvez nem ela saiba que esta sendo perseguida, esteja salva por pura sorte todos esse anos, e mantê-la a salvo e protegê-la é nossa divida e forma de agradecer Anise por tudo que fez a nó, de vingá-la, porque com toda certeza ela morreu por causa deles. Ela foi nossa mãe e teve uma filha, ela nos protegeu e essa garota precisa ser protegida. Precisamos achá-la, talvez ela também saiba sobre Anise, porque dela ter fugido com a gente. – falou cheio de esperança. Isso fez os irmão Penvensie aceitarem sua decisão.

_ Tudo bem. – falou Pedro. – Quando partimos, Zenna? – perguntou se virando pra mim. Seus olhos pedindo para eu não dar para trás. Sorri e assenti.

_ Hoje à noite. É melhor prevenir sobre o sol. Não sabemos em quem podemos esbarrar. Bree, você vem conosco? – perguntei. Eu esperava que sim. Ainda a queria por perto e queria que ela aprendesse com Susana.

_ Não precisa perguntar. – piscou.

Olhei para os quatro imortais a minha frente e sorri. Era oficial, estávamos entrando em um caminho sem volta e apenas Bree podia sair dele sem sofrer danos, para os mais fortes ela estava morta. A faria partir antes do caminho se fechar. Pedro e os outros não tinha como, Pedro estava comigo sempre e eu não podia recuar, Susana seguiria o irmão e Edmundo seguiria os dois.

_ Me desculpem caso tudo isso nos mate. – sussurrei sabendo que ouviriam.

****

No final da tarde já estávamos prontos e esperávamos o sol baixar mais um pouco. Não levaríamos roupas para não deixar nada para trás mesmo que eu fosse um bom tapete para esconder as coisas. Precaução era tudo. Roubaríamos roupas e destruiríamos as “velhas” em seguida. Pararíamos três vezes na semana para eu descansar, dias intercalados para eu não cansar muito caso esbarrássemos em inimigos.

Segurei a mão de Pedro enquanto olhávamos a cidade pela janela do meu quarto. Ele me abraçou pela cintura e beijou o topo da minha cabeça.

_ Estarei sempre com você. Você é meu mundo. – falou. Juras de amor que talvez seriam nosso alento final caso perdêssemos.

_ Te peço perdão gora caso eu acabe matando a todos e me prometa que fará com que Edmundo e Susana saiam vivos, ou pelo menos tente, pois eu farei o possível para que sim. Eles não precisam serem condenados. Nós já estamos unidos como um. – falei o encarando com os olhos cheios de lagrimas e depositando um beijo em seus lábios frios. Sabia que os dois ouviram, mas nada disseram, continuaram a fazer o que estavam fazendo pelo apartamento.

Pedro olhou no fundo dos meus olhos e disse com a mais pura verdade:

_ Eu prometo. – e me beijou castamente.

_ Vamos? – perguntou Bree. A escutei na beira da escada, pronta para descer.

Sorri agradecida. Sem ela eu desistiria e ficaria para sempre nesse apartamento, com meus amigos e meu amor. Mas sabia que isso nunca seria possível, me achariam e um dia eu sucumbiria. Suspirei.

_ Vamos. – falei me soltando de Pedro e sentindo a confiança me dominar.

Olhei para o por do sol e senti a mascara se formar novamente em meu rosto, meus olhos arderam, mas não pelas lagrimas, mas de raiva, dor, sede de vingança e paz. Eu ia ajudar a terminar tudo isso, estava cansada de um mundo que estava inundado por uma droga de ciclo vicioso de maldade, busca imparável por poder a qualquer custo, perdas e sofrimento. Merecíamos paz e felicidade eterna. Se não morreríamos e estávamos privados de ir ao paraíso, então tínhamos que construir um e não deixar que a imortalidade fosse uma maldição.

Isso é só o começo”. Pensei e sai do quarto sendo seguida pelos irmão Penvensie e ficando ao lado de Bree que olhou para mim e sorriu me passando reconforto e demonstrando que estaria sempre ao meu lado. Mas ela não estaria e eu faria o possível para que ela ficasse a salvo antes que todos soubessem sobre nós. Mas por hora, ela é meu braço direito.

_ Juntas. – falei.

_ Juntas. – confirmou com um poder na voz que talvez ela nunca tivesse a chance de descobri-lo e usá-lo. Seus cabelos presos em um rabo de cavalo alto e firme.

Descemos as escadas. A boate estava fechada – e ficaria por um bom tempo. Corremos para fora da cidade iluminada e entramos no deserto, seguindo para o Norte. Depois iríamos para a Europa e visitaríamos a França. Onde tudo começou para os Penvensie, onde Anise os deixou quando estava grávida. Eu sabia que tinha outra pista, mas às vezes refazer os passos era muito mais eficaz. Mas caso não encontrássemos nada, partiríamos para a Inglaterra, encontrar um antigo orfanato. Era a única coisa que eu e os caçadores sabíamos até a garota desaparecer do mapa.


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Notas finais do capítulo

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