Bem, os almoços de domingo acabavam sempre com os quatro amigos andando de skate pelos quarteirões vizinhos da vila dos Löhnhoff's. E é claro que em uma dessas não poderia faltar a passadinha pela mansão adorada de Thom. Mesmo com os amigos, ele nunca deixava de passar bem devagar por ali. Olhou pra janela. Ela não estava, e a cortina mais uma vez estava fechada. 

- Acho que não deu sorte, meu caro. - Nicholas debochou, sorrindo do mesmo jeito. Amanda fez uma cara de pena com aqueles olhos claros e deu um tapa no ombro do namorado. 

Depois de não ter encontrado Sophie, os 4 foram correndo para a praça que costumavam ir. Pararam um pouco lá, tomaram um sorvete, conversaram idiotices da vida e fizeram algumas manobras numa rampa que tinha ali, nada mais. Thomas se decepcionava quando não via a garota porque tinha que confessar que às vezes, o objetivo de suas saídinhas de skate eram apenas encontrá-la. Não que ele não gostasse de skate, mas às vezes dava uma preguicinha. 

Na volta, os quatro decidiram voltar correndo de skate, apostando corrida. Amanda estava ganhando, bem na frente dos três. Corriam os quatro feito loucos, não podiam deixar que uma garota ganhasse. Ah, puro machismo! Amanda não poderia deixar essa oportunidade ir embora também, tinha que mostrar que as mulheres eram sim capazes de serem mais rápidas que os homens no skate. Sem prestar atenção em mais nada, os quatro tiveram que parar bruscamente quando quase esbarraram em uma garota saindo da mansão. Não. Não era apenas uma garota. Era a garota. Ela.

Os olhos de Thomas encontraram Sophie, que ao sentir que quase bateram nela, parou assustada em frente ao portão da mansão e os olhou, com aqueles olhos arregalados. Os olhos ficaram ainda mais arregalados quando ela encontrou o futuro médico filho da manicure. Estavam ali então, Sophie e Thomas, olho a olho. E Caleb, Nick e Amanda apenas olhando para menina assustada. Como? Como que Thom não tinha se dado conta por onde estava passando? Fácil, a velocidade estava tão grande com o skate que nem prestar atenção a um palmo a frente do seu nariz ele prestou, que bom que não passavam muitos carros pela cidadezinha, porque se passasse... ser atropelado não seria muito difícil naquela hora. Olhar nos olhos dela era quase hipnotizante. Uma vez que alguém olhasse, para parar era complicado. Isso devido ao simples fato de que eram olhos belíssimos. Verdes, extramamente verdes. Lindos. Porém, Thomas via uma tristeza ali sem tamanho. Tinham tantas perguntas que ele queria fazer a ela... 

- Continua com a blusa suicida. - Sophie foi a primeira a dizer, abaixando o olhar dos olhos dele para a blusa trinta vezes maior que seu corpo, era a mesma que ele estava pela manhã, quando foi agradecê-la pelos livros. Fez uma expressão quase simpática, se era um sorriso ou não Thomas não sabia, mas ele tinha gostado daquilo. Sophie cruzou os braços e olhou para o resto do grupo, dos pés a cabeça, da cabeça aos pés. Olhou nos olhos de Thomas outra vez, para seu desespero. - Além de tudo anda em bando. - Ela afirmou, e depois sorriu, claramente. De um jeito debochado.

Thomas devolveu o sorriso pra ela, mas de uma forma mais amigável. 

- São meus amigos, gostamos de andar por aqui pra tomar um ar. É perto de casa, sabe? - Nicholas começou a rir, ai ai ai Thomas, tomar um ar? Agora esse era um novo nome pro ato de dar uma espiada na vizinha? Thom olhou para Nick, fazendo discretamente uma cara feia. Sophie parecia não ter reparado. 

- Desculpe, mas não me lembro de ter perguntado quem são. - Ela respondeu, erguendo uma de suas sobrancelhas. Parabéns pra ela, aquele gesto era difícil de ser feito. Thomas arregalou os olhos.

Amanda, Caleb e Nicholas se entreolharam, surpreendidos com tamanha arrogância da menina. Como podia ser tão bonita e tão... metida? 

- Bem... Nós já estamos de saída. - Thomas falou, sorrindo sem graça e bagunçando o cabelo, desajeitado. Sophie mordeu os lábios e acabou sorrindo, dessa vez, de um jeito bem natural. Deus, aquela com certeza poderia entrar pra listas das cenas mais sexys que ele tinha presenciado. 

- Boa noite. - Ela falou, simpática. - Boa noite também, bando. - Ela completou, olhando para os amigos de Thomas. 

Os quatro saíram de lá andando de skate, não era mais uma corrida, andavam no mesmo ritmo, aproveitando para conversarem um pouco. 

- Coitados dos Montini's, uma sofria de distúrbios alimentares e a outra sofre de bipolaridade. - Caleb foi o primeiro a falar, estava completamente assustado com as cenas completamente opostas que tinha visto a menos de dois minutos atrás com um intervalo entre elas menor do que um minuto. 

- Bipolaridade? Aquela menina não é bipolar, ela é completamente louca! - Nicholas exclamou. 

- Ela estava de sacanagem, não é possível que uma pessoa seja assim. - Amanda opinou, achando a cena completamente estranha. 

- Na verdade não me admiro muito, pensando agora. Minha mãe disse que quando fez a unha dela ela não se interessava muito pelos assuntos que ela falava, mas que em momento nenhum foi grossa. Se não foi com a minha mãe foi porque ela tem respeito, já que minha mãe é mais velha que ela. Nós já somos mais ou menos da idade dela, então pode ser que ela não veja problema em falar tudo na lata. Que ela tenha esse jeito, de ser sincera. Ou ela só estava brincando mesmo, como Amanda disse. Ela não faltou com respeito hora nenhuma. Quando fui falar com ela hoje pela manhã ela deu uma de esnobe várias vezes, ignorei apenas. No final, estranhamente, já a achei simpática, só que do jeito dela. - Thomas falou, começando a tentar desvendar a misteriosa filha dos Montini's. 

- Não, não tem essa de ser simpática do jeito dela, pelo amor de Deus! Ser simpática é ser simpática. E isso aquela menina estava longe de ser. - Caleb falou, balançando a cabeça negativamente.

A discussão sobre o mistério de Sophie prevaleceu até o fim do caminho a vila de Thomas. Foi inútil, os quatro continuaram com as mesmas opiniões. Nicholas achava que a garota era louca, Caleb apostava na bipolaridade dela, Amanda jurava que Sophie estava apenas brincando, já Thomas simplesmente achava que era o jeito dela, a forma de defesa contra os desconhecidos, talvez.