A Exclusão dentro da Inclusão escrita por Laris Neal


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Na verdade, não é propriamente uma história, mais alguns pensamentos e coisas para se refletir, mas espero que gostem e comentem sobre o que acharam ^^



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A Exclusão dentro da Inclusão, ou Vice e Versa

Acho que nunca tinha pensado direito em exclusão e inclusão, talvez porque, sempre pensei que fosse uma pessoa livre de preconceitos, mas acabei refletindo um pouco sobre isso. Após ler vários artigos e comentários de um grande amigo meu, percebo o quanto nós acabamos por excluir ao querer incluir, não importando sobre o quê.

Olhando agora ao meu lado na cama, vejo minha namorada dormindo tranquilamente, e lembro-me de tudo o que passamos até chegar onde estamos. Quanto preconceito e receios, medos, coragem, amor, amizade... Tanta coisa! Eu sempre me achei a dona da verdade, lutando por uma grande causa: a de que todos nós somos humanos e iguais! Querendo direitos iguais! Lutando ao lado de mulheres que assim como eu, levantam a bandeira colorida e vão a bares gays, que participam de sites e organizações com conteúdo lésbico. Lia e escrevia histórias lésbicas, na grande maioria das vezes. Tudo isso por quê? Bem, porque não há outro lugar para nós. Refletindo sobre o que esse meu amigo pensa... Ele disse que quando criamos essas barreiras como bares, bandeiras e lugares exclusivos para nós, não estamos tentando incluir os gays á sociedade, e sim, excluindo os outros de dentro do nosso próprio mundo. Okay, concordo um pouco com ele, mas também discordo ao mesmo tempo. Precisamos desse espaço só nosso, pois é onde podemos ser livres. Para dizer o que quisermos, pensamos ou sentimos. Porque enquanto as colegas de escola comentam sobre o novo professor gato da escola, temos que nos limitar a sorrir e concordar, sem nada dizer. E invejar os meninos que estão de olho na nova professora loira da escola, sem nada poder dizer. Não compartilhamos do mesmo entusiasmo que as nossas amigas, acabamos nos sentindo excluídas do grupo pelo simples fato de não achar o professor um gato, talvez um pouco simpático e até bonito, mas não um deus grego.

Porque é diferente, as pessoas podem te escutar falar sobre a Ana Carolina gostosa, que canta eu comi a Madonna, que você gostaria de estar lá para cantar junto, ouvir que você baba na nova estagiária e que acha a Angelina Jolie uma deusa. Mas aí está o x da questão: eles apenas escutam. Não compartilham a alegria do show da Ana, nem quando você conseguiu um pôster enorme da Angelina para colocar na parede do seu quarto. O máximo que podem falar sobre sua nova paixão pela estagiária é: “tomara que dê certo, torço por você”. E então, logo mudam de assunto e falam sobre outras coisas mais importantes ou até banais, não importa. Dali a dez minutos, surge o assunto sobre o casal fofo e o Edward de Crepúsculo, aí todas as garotas ficam histéricas por que ele é tudo de bom, e você nem gosta do livro/filme! Mas acaba entrando na delas e até comenta, brinca e diz que ele é feio, e todas levam na brincadeira. Você escuta o que os outros têm a dizer, mas ninguém quer escutar o que você têm a dizer. Já se você estiver conversando com alguém que também é lésbica, gay ou simpatizante, é certeza que vão começar a gritar de felicidade quando você contar que ficou perto da Ana Carolina, ou que está gamada na professora de Geografia, pelo simples fato delas saberem como é não achar um lugar no mundo. Não é que excluímos os outros de propósito, mas isso é conseqüência da Inclusão dentro da exclusão.

Se há um grupo de lésbicas e um menino resolve contar as amigas que é hétero, ou que está gamado em uma garota, dificilmente alguma delas vai dizer: “tudo bem, só não dando em cima de mim...”, Como acontece quando é uma menina que se diz lésbica.

Está bem, até agora eu só fiz discordar dele e continuar achando-me a dona da verdade, bom, vamos concordar então. Eu concordo que, ao andar por algumas comunidades para lésbicas, ás vezes vejo que quando são meninas que pedem ajuda em um relacionamento homoafetivo, todas dão a maior força, por saberem como é difícil essas situações, mas quando é uma menina que vem pedir ajuda sobre o menino de quem gosta, as integrantes da comunidade respondem que ali é uma comunidade lésbica, para ela procurar ajuda em outra, e etc. Isso na verdade, é exclusão. Estão fazendo o mesmo processo que o resto da sociedade: excluindo o resto das pessoas héteros do nosso próprio mundo, e não é assim que tem que ser feito. Temos que ter sim, amigos de qualquer estilo, qualquer raça, cor e ‘orientação sexual’. Se você o respeita sendo heterossexual, e o apóia nas decisões sobre quem ele gosta do sexo oposto, muito provavelmente seu amigo irá te respeitar e apoiar nas suas relações do mesmo sexo, pois ele conseguirá perceber que você o ajudou quando ele precisou, o que custa ele fazer um pequeno esforço, mesmo não compreendendo direito, e tentar te ajudar? Nada, não custa nada.

Portanto, depois de passar a madrugada toda refletindo, e agora com o amanhecer do sol, percebo que temos que saber ser nós mesmos, sem nos esconder ou expor. Por que como meu amigo disse, o preconceito vai existir, e se nos decidirmos por sair do armário completamente, saberemos que iremos enfrentar muitas dificuldades, infelizmente. Mas também não digo para se esconder, é o saber se preservar. Não é porque comento das mulheres gostosas com minhas amigas que tenho que sair pela escola gritando que elas são gostosas, nem porque eu estou namorando que vou sair pelas praças a beijar minha namorada. Ainda irá chegar o dia que isso seja possível, mas enquanto não o é, o melhor é não se expor. E se quiser se expor, enfrentar as conseqüências disso.

Minha namorada começa a acordar aos poucos, espreguiçando-se no lençol e eu fico feliz, a sorrir por aí. Foi a primeira vez que me senti confortável a falar sobre um assunto, sem brigar ou discutir, conversar com ele acabou me fazendo refletir nas coisas que penso e que defendo. Quem sabe isso não irá render mais conversas nossas, conversas produtivas? Com certeza sim!

Agora dá a licença que preciso fazer companhia a minha namorada! Guardo minhas anotações na gaveta e eu sorrio feliz por ser mulher, gostar de mulher e ter a cabeça sempre aberta ás novas possibilidades, novas idéias, novos conceitos, e pelo menos tentar não pertencer ao grupo de pessoas que, de tanto quererem incluir uns aos outros á sociedade, acabam excluindo os outros, de uma maneira ou de outra.


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