Jack estava preso. Tentou ajudar uma garota que conhecera no mesmo dia e por causa disso acabou sendo preso.

Em uma masmorra cor de rosa.

O garoto olhou ao redor mais uma vez. O mármore rosado cintilava pelas paredes da pequena sala, mas ele não conseguia achar aquilo bonito.

Imagens passavam por sua mente, sobretudo a cena de quando Norte ordenara que Fada o prendesse no castelo:

"Você nos traiu, Jack" dissera ele. "Agora, será prisioneiro. Como a elfa seria se não a tivesse ajudado!"

Jack fechou os olhos.

Sentado no chão, o garoto se sentia mais sozinho do que jamais estivera. Pelo menos, antes as pessoas realmente não o enxergavam; agora, o estavam ignorando.

Mesmo que algumas dessas pessoas fossem seus amigos Guardiões.

O que tinha acontecido com eles? Jack suspeitava que aquele não era o Norte que conheciam... Parecia cruel, vingativo.

E tudo começou com a destruição da fábrica. Em meio a chamas negras.

O fato de suspeitarem de Skylla... Ele não podia acreditar. Não conseguia. Ela fora tão... Tão legal com ele!

"Confia nela tanto assim? Ou ela apenas está usando você?" as palavras de Norte ressoavam nos pensamentos de Jack.

Ele balançou a cabeça. Não, ela era inocente. Tinha que ser. Jack tinha que achar um jeito de provar que Skylla Hilt era uma Guardiã escolhida pelo legítimo Homem da Lua.

O que Jack e Skylla descobriram nas montanhas e o incêndio na fábrica foram esclarecedores. Pitch estava fazendo algo, tinha um plano. Pitch estava retornando.

Jack encostou-se na parede, apoiando uma mão no chão e suspirando lentamente.

Estava difícil de respirar. A cada inspiração de Jack uma dor insuportável cruzava suas costas, e isso graças aos golpes de Norte.

O garoto imaginou o que os Guardiões estariam fazendo naquele momento. Talvez estivessem apenas conversando...Talvez estivessem procurando por Skylla dentro do castelo, nas torres flutuantes, no depósito dos dentes, ou então...

Espere! Dentes?!

Jack deu um salto. Com uma lembrança viva, verificou os bolsos. Sim, lá estava. O tubo com os dentes de leite de Skylla.

–Isso..! -sussurrou ele, dando um pequeno sorriso.

Com toda confusão que tinha acontecido, ele se esquecera de dar uma olhadinha nas lembranças de Skylla.

A luz da pequena lua no céu entrava pela janela retangular. Pelas contas de Jack devia ser umas duas da madrugada.

Não que ele se importasse, claro. Não conseguiria dormir de qualquer jeito.

Jack procurou seu cajado até se lembrar de que Norte o havia confiscado "para a segurança de todos".

Ótimo. Ele estava preso numa sala cor de rosa, sem armas e sendo acusado de traição por ter ajudado uma Guardiã que também havia sido acusada de traição.

Resolveu descobrir quem Skylla fora enquanto ainda era humana.

Olhou a foto do rosto de Skylla que aparecia no tubo.

"Ela é muito bonita... Muito mesmo." pensou Jack, mas se repreendeu. Deveria ficar focado. E o foco era: descobrir quem era Skylla Hilt antes de morrer.

Jack olhou para os lados, para se certificar de que ninguém estava vendo.

E abriu o tubo.

Rapidamente uma imensa luz inundou a sala, e Jack piscou para se acostumar com a claridade.

Porém, quando olhou ao redor, estava em uma clareira na floresta, perto de uma aldeia.

–Mas o que... -sussurrou ele, atordoado. Mas ao notar que segurava o tubo com os dentes de leite de Skylla, teve certeza de que o cenário que via era uma das lembranças dela.

Mas como ele podia estar dentro das lembranças? Ele sentia o vento, ouvia os pássaros, as pessoas conversando. Era como se ele realmente estivesse lá... Incrível.

De repente, uma garota apareceu no campo de visão de Jack. Cabelos loiros até a cintura, olhos castanhos, um sorriso alegre. Usava roupas de couro marrom e botas de cano longo.

"Skylla!" pensou Jack, observando a garota que passava caminhando em direção à aldeia. Nessa época, ela ainda não era uma elfa, obviamente, e suas orelhas eram perfeitamente contornadas, como as dos humanos. Tinha na cintura a mesma adaga que usava atualmente.

Jack a acompanhou com o olhar.

Uns 17 anos... Isso, devia ser essa a idade de Skylla nessa lembrança. A garota segurava uma cesta rústica com algumas frutas avermelhadas.

Na aldeia, logo à frente, havia muitas pessoas conversando, sentadas perto de restos de fogueiras que deviam ter sido acesas na noite anterior.

Crianças brincavam e corriam perto das cabanas de couro e palha, onde Jack via idosos descansando.

Skylla entrou na aldeia. Quando ela apareceu, sorrindo, as crianças que estavam por ali riram e se aproximaram dela, abraçando-a. Skylla largou a cesta e sentou-se em um tronco. As crianças posicionaram-se ao seu redor, sorrindo.

Jack ouvia que Skylla estava contando histórias. Ele não entendia, pois com certeza a língua falada pela aldeia de Skylla não era a mesma de Jack.

Mas as crianças pareciam adorar. Muitas riam, outras apenas sorriam. Mas sempre felizes.

Uma mulher saiu de dentro de uma cabana e se aproximou de Skylla e das crianças, com um tipo de tigela nas mãos.

A mulher sorriu e chamou um nome, que Jack entendeu por:

–Stella...!

E a imagem de Skylla se virou, sorrindo. Se despediu das crianças e andou até a cabana ao lado da mulher. Sua mãe, pelo jeito.

Jack arregalou os olhos.

"Stella?! Skylla Hilt se chamava Stella?" pensou Jack, se aproximando da cabana nas lembranças de Skylla.

A cabana estava fechada por um pano de couro, e Jack não queria entrar. Skylla e sua família deviam estar almoçando, pois o sol estava alto no céu.

Mas, de repente, Jack escutou um grito assustador vindo da floresta.

O garoto se virou e, junto com todas as outras pessoas da aldeia, viu uma mulher correndo na direção deles.

Ela estava ferida. Seu rosto estava arranhado e um lado de sua cintura estava manchada de sangue.

As pessoas correram para ajudá-la e Jack entendeu que estavam perguntando o que tinha acontecido.

Um movimento atrás de Jack o fez virar novamente para a cabana. Skylla e seus pais saíram lá de dentro, correndo também na direção da aldeã.

A mulher começou a falar na língua típica deles (parecia celta) e Jack notou o temor na expressão de todas as pessoas.

E, de repente, todos (inclusive Jack) escutam um uivo vindo da floresta.

No segundo seguinte, pelo menos vinte lobos já estavam invadindo a aldeia, rosnando e uivando.

Os homens correram e se armaram com grandes espadas prateadas e afiadas, enquanto as mulheres corriam com as crianças para dentro das cabanas.

Das mulheres, apenas as mais jovens ficaram para lutar. E uma delas era Skylla.

Uns três lobos uivaram novamente e correram na direção dos aldeões, arranhando, mordendo e rosnando.

A luta tinha começado. Os homens avançavam e feriam os lobos com as lâminas, enquanto as jovens corriam tentando distrair o restante dos lobos.

Todos lutavam contra a alcateia com grande coragem.

Aos poucos, o número de vinte lobos diminuiu para oito ou nove.

Eles estavam conseguindo. A adaga de Skylla já estava manchada de sangue e ela desferia golpes contra os lobos restantes.

Porém, quando os lobos estavam indo embora, um garotinho de uns cinco anos aparece do lado de fora de uma tenda, curioso.

Parecia que ele apenas queria ver a luta, mas um lobo o percebeu.

O garotinho gritou quando o animal rosnou e avançou na sua direção.

Algumas pessoas se viraram a tempo de ver o garotinho e mais quatro lobos correndo floresta adentro.

Skylla era a única que não estava lutando na hora.

Ela olhou ao redor e viu todos ocupados tentando salvar a aldeia.

Olhou para frente e começou a correr atrás do garotinho e dos lobos.

Jack gritou para ela não fazer isso, mas seu grito se perdeu no tempo.

Quando ele ia seguir Skylla, o cenário mudou novamente. Ele se viu na floresta.

–Onde ela está, onde ela está? -resmungou Jack, procurando por Skylla.

De repente, o garotinho e os quatro lobos aparecem na floresta, atrás de Jack.

Jack desvia, apesar de saber que não podia ser atingido. Aquilo não era real. Não mais.

Jack viu o garoto e os lobos desaparecem por entre as árvores novamente, depois de passaram por Jack.

E mais passos são ouvidos.

Jack olhou para trás e lá vinha ela.

Skylla estava correndo atrás do garotinho o mais rápido que podia, pulando pedras e troncos que dificultariam a sua passagem.

Assim que ela passou, Jack começou a correr também, para não perder a visão da lembrança.

Skylla estava cada vez mais perto.

E por sorte os lobos não a tinham percebido. Ainda.

Skylla conseguiu passar pelos lobos, que rosnaram e uivaram ainda mais quando a notaram.

O garotinho começou a chorar e, no exato momento em que os lobos o iam alcançar, Skylla o segura e o joga rapidamente para cima de um galho de uma árvore próxima.

O garotinho consegue se segurar e fica lá, apenas chorando.

Mas Skylla agora é quem está sendo perseguida.

Jack ofegou, ainda correndo.

–Não... -sussurrou ele, prevendo o que iria acontecer. -Skylla, não...

A garota e os lobos continuavam correndo e nenhum deles parecia cansado. O chão estava se inclinando aos poucos, em uma subida. As árvores foram desaparecendo e a floresta deu lugar a um planalto.

Eles estavam em uma montanha se aproximando de um penhasco.

Mas Skylla continuava fugindo, não havia o que fazer.

Na cena, a garota pegou a adaga e tentou enfrentar os lobos, mas eles lhe derrubaram a adaga das mãos.

Skylla gritou e continuou correndo. Na direção do penhasco.

–Não! Skylla! Pare! -gritou Jack, mas ela não o podia ouvir.

Ela estava a menos de dois metros do penhasco.

Skylla olhou para os lados, tentando achar um jeito de fugir, mas os quatro lobos a cercaram. Ela não tinha como fugir.

Jack estava perto, quase onde a garota estava. Tentou chutar um lobo para longe, mas seu pé atravessou o corpo do animal. Ele era uma imagem, aquilo tudo era apenas uma imagem.

Skylla desferiu um soco na direção de um lobo, mas o lobo a empurrou com a pata.

E ela se desequilibrou.

Com um grito angustiante, Skylla derrapou da ponta do penhasco e começou a cair montanha abaixo.

Cena: http://www.oclubedasminx.blogspot.com.br/p/as-novas-princesas-de-ooo.html  Olhar a última imagem da página!

–Skylla!! -berrou Jack, correndo para a borda pedregosa do penhasco.

Ela estava tentando se segurar nas rochas, mas suas mãos e pés deslizavam.

Jack esticou as mãos para ajudá-la, mas aquilo já tinha acontecido. Estava em algum lugar do passado. Skylla Hilt iria morrer. E ele não poderia mudar isso.

E finalmente, na cena, a garota de cabelos loiros desiste de tentar se segurar e cai rapidamente, batendo em inúmeras rochas.

–Nããão! -urrou Jack, vendo o corpo de Skylla ainda sumindo na neblina.

E a lembrança acaba.

Jack olhou para os lados, ofegando, com o coração batendo forte no peito.

Ele estava de novo na sala do castelo de Fada, segurando o tubo com os dentes de leite de Skylla.

Jack percebeu que tinha lágrimas nos olhos e rapidamente as secou. Suas mãos estavam trêmulas e ele sentia como se realmente tivesse estado lá na floresta com Skylla, no dia em que ela morreu.

Suspirou e fechou o tubo dourado.

Ele tinha visto as lembranças de Skylla, pelo menos uma parte delas.

Era aquilo que tinha acontecido... Ela morrera ao salvar um garotinho de lobos.

Ela caíra de um penhasco, o mesmo penhasco em que estiveram quando procuravam por pistas.

–Puxa... -ele suspirou. -Ela foi muito corajosa. Muito mesmo.

Largou o tubo e se sentou no chão, encostado na parede. Essa era a melhor posição para amenizar a dor que sentia nas costas.

Quando ela caiu, na lembrança que ele vira, Jack sentiu uma profunda tristeza e angústia por ela ter morrido daquele jeito.

"Se eu a perdesse agora... Juro que desejaria morrer de novo..." pensou ele, com um aperto no peito.

Olhou para a lua do lado de fora da janela.

–Amigo Homem da Lua... por que ela faz eu me sentir tão bem? Por que eu a quero proteger, ajudar? -sussurrou ele, olhando para a pequena bola de luz azulada.

Nenhuma resposta, como sempre.

Mas Jack teve uma certeza, apenas uma certeza, e soube o que devia fazer naquele momento.

–Eu vou mostrar as lembranças dela para os Guardiões. -ele falou para a Lua. -Assim, eles saberão que ela é digna, e muito, de ser uma Guardiã.

A lua pareceu brilhar mais.

–Eles vão ver que uma garota tão boa e corajosa não iria de jeito nenhum se juntar a Pitch. -continuou Jack. -E vão parar com as ideias malucas de que ela é uma traidora. Eu sei disso.

Jack se levantou e com uma nova energia, inspirou.

–Eu vou te ajudar, Skylla. Eu prometo. -falou ele, sorrindo.

Continua...