Norte ficou sem expressão.

De repente, parecia que seus olhos haviam perdido toda a vida que tinham segundos antes.

–Essa não...! -sussurrou Fada, encarando Norte.

Skylla e Jack se entreolharam, incapazes de acreditar.

Norte se recuperou e foi o primeiro a falar novamente.

–Vamos para lá. Agora! -exclamou o homem, pegando o globo de neve que havia guardado. Seus olhos pareciam explodir em chamas quando encarou os outros Guardiões.

Todos concordaram, sem hesitação. A ideia de ver a fábrica do Papai Noel destruída era aterrorizante.

Em alguns segundos, todos já haviam passado pelo portal em direção ao Polo Norte.
 

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A cena era tão terrível que Jack ficou sem reação.

Chamas. Chamas consumindo a cada minuto mais uma parte da grande fábrica. Havia renas correndo aleatoriamente pela neve, e Jack teve que desviar de uma delas, que veio correndo na sua direção.

Norte não conseguia avançar.

Via duendes derretendo blocos de gelo e colocando a água em grandes baldes, para tentar apagar as chamas.

Os yetis corriam freneticamente com os baldes e os jogavam no fogo, mas as chamas não apagavam.

Logo acima da fábrica, estava Sandman. O Guardião estava tentando abafar as chamas com uma grande toalha de partículas douradas.

A entrada não podia mais ser vista. A madeira característica da fábrica era presa fácil para que o fogo logo consumisse tudo ao redor.
Skylla olhou para todos, em choque. Os Guardiões estavam parados, sem saber o que fazer diante de tal destruição.

–Vamos lá! Vamos ajudar os yetis! -gritou Skylla, puxando Jack pela mão. Os dois correram até o local em que os yetis pegavam os grandes baldes e começaram a ajudá-los.

Uma coluna ameaçadora de poeira negra se erguia acima de todos, e naquele momento ninguém sabia se era apenas fumaça ou alguma aparição de Pitch.

Mas também não importava.

Fada e Coelhão correram atrás de Skylla e Jack, mas Norte não saiu do lugar. Parecia estar em um tipo de transe.

O homem olhou para sua amada fábrica sendo devastada pelo fogo. Tudo o que construíra havia séculos estava sendo destruída em minutos.

Norte caiu de joelhos.

Sentiu sua força vital sendo sugada para fora de si.

Seus olhos estavam sem brilho. Semi fechados. Seu cerne... Não. Não podia estar acontecendo. Seu cerne para sempre permaneceria com ele, não?

Ao redor da fábrica, alguns pontos de terra podiam ser vistas, por causa do calor das chamas que derretia o gelo denso do Polo Norte.

–Continuem! -berrou Jack, ofegando. O garoto estava tentando congelar as chamas, mas não estava funcionando. Jack tossiu.

A fumaça estava aumentando rapidamente, assim como as chamas. Como podiam estar aumentando? Eles não haviam parado de jogar quantidades enormes de água no fogo!

Jack olhou para Skylla. A elfa estava perto dos yetis, ajudando a derreter mais um imenso bloco de gelo.

Fada voou até Sandman e o ajudava a abafar as chamas. E Coelhão estava junto de Jack, tentando apagar as chamas.

Jack estava suando. Mau sinal. Se o garoto ficasse com muito calor, se desidratasse, se suasse muito... Bom, melhor manter distância de fontes de calor.

Norte continuava parado. Ele sabia que não seria útil para ajudar a apagar as chamas, e mesmo que fosse, não conseguiria ir até lá. Se sentia exausto.

"Os brinquedos... Os brinquedos...!" pensou ele, tentando gritar para chamar a atenção dos Guardiões, mas nenhum som saiu de sua boca.

Jack notou que Norte estava tentando se comunicar e se aproximou do russo, que conseguiu sussurrar:

–Tire... Os brinquedos... De lá! -falou Norte, suplicante.

O garoto gelado olhou rapidamente para a fábrica. A grande janela com a abertura para a Lua ainda estava segura. Sem chamas. Ele podia voar até lá.

Jack voou o mais rápido que podia até a janela, entrando rapidamente na sala por entre uma nuvem de fumaça.

Skylla, que estava junto a alguns duendes, viu Jack adentrando a fábrica.

–Não... -falou ela, largando rapidamente o que estava fazendo.

Os outros Guardiões não notaram que Jack havia entrado, e ela se obrigou a fazer algo.

–Jack, o que está fazendo...? Você vai sufocar! -gritou Skylla. Mas se Jack ouviu não lhe deu atenção.

A elfa correu até ficar logo abaixo da janela. Se concentrou e pulou.

Quando chegou na sala do globo dourado, tentou avistar Jack. Mas não podia ver nada, a fumaça negra embaçava a visão.

–Jack! -gritou ela, procurando o garoto. Tossindo, avançou para dentro da fábrica.

E quando fez isso, sentiu um nó na garganta.

Mais da metade da fábrica não passava de um borrão alaranjado de chamas. E, na parte onde ficavam os brinquedos, no fundo da imensa fábrica, estava Jack.

–Jack! Sai daí! -gritou Skylla, correndo na direção do Guardião.

Jack se virou, com o rosto vermelho de tanto calor.

–Skylla?! Eu já vou! Vai embora! -disse ele, tentando colocar uma dúzia de brinquedos em uma caixa de papelão.

A elfa tossiu e se aproximou mais. Olhou ao redor. A madeira da fábrica estava cedendo. Daqui a alguns minutos o teto iria desabar.

–Temos que sair daqui! -falou Skylla, puxando Jack.

O garoto a encarou, em pânico.

–Norte falou para eu tirar os brinquedos daqui! Tenho que fazer isso! -disse Frost, voltando a encaixotar alguns brinquedos.

O teto rangeu acima deles. O fogo estava se expandindo e pelo jeito os outros Guardiões e os ajudantes de Norte não estavam conseguindo apagá-lo.

–Temos que sair. Agora! -gritou Skylla, nervosa ao extremo.
Jack a ignorou, mas tossiu. Seu rosto estava tão vermelho que Skylla teve certeza que o garoto não estava bem.

De repente, uma grande viga de madeira do teto se desprendeu e caiu a alguns metros dos dois Guardiões.

Jack, num impulso de se afastar da viga em chamas, aspirou mais fumaça, e começou a tossir seriamente. O garoto estava suando.

Então, quando mais chamas surgiram e esquentaram ainda mais o local, Jack pareceu ficar tonto e cambaleou, com os olhos vermelhos por ficar tanto tempo em contato com a fumaça negra.

Skylla decidiu. "Está na hora de eu te salvar, Jack."

A elfa agarrou o garoto pela cintura, que, quase desmaiando, não protestou.

Skylla correu como o vento até a sala do globo, levando Jack consigo. A elfa correu na direção da janela bem na hora em que o fogo invadiu a sala. As chamas, como se fossem guiadas, começaram a queimar o grande globo dourado com facilidade.

Os olhos de Skylla se arregalaram.

Agora não havia mais o que fazer além de pular a janela.

Com Jack semiconsciente em seus braços, a elfa pulou para fora bem a tempo de sentir o calor do fogo se aproximando atrás de si. Skylla caiu no chão, mas conseguiu ficar em pé. Apoiou Jack e o levou até os duendes, deitando-o no chão.

–Ajudem! Ele tem que esfriar! -ordenou ela aos duendes, que rapidamente jogaram um balde de água gelada no garoto.

Jack tossiu e abriu os olhos lentamente. As pupilas se dilataram e ele piscou para se acostumar com a claridade.

–Não... Os brinquedos... -gemeu ele, tentando se levantar. Quando ficou de pé, cambaleou novamente.

Skylla o impediu de caminhar.

–Jack! O que pensa que está fazendo?! -disse Skylla, furiosa. -Você quase morreu lá dentro! Tem que descansar!

Os duendes, ao verem que Jack estava bem, correram até seus postos e recomeçaram a encher baldes de água.

–Norte... Onde ele está? -perguntou de repente Jack, olhando ao redor.

–Ele não está bem, você sabe! -disse Skylla, apontando para o grande homem que estava ajoelhado na neve.

Jack quis correr até ele, mas novamente Skylla o impediu.

–Deixe-o em paz. Ele perdeu tudo o que achava importante para ele, a fábrica! -falou a elfa.

Jack a encarou.

–Como assim, "perdeu"? Ainda não está acabado! -protestou ele.

Skylla o encarou com olhos determinados.

–Não vamos conseguir apagar o fogo, Jack. Você sabe disso. -falou ela.

Jack olhou para a fábrica.

O fogo tinha se espalhado ainda mais, e nada que Sandman, Fada, Coelhão e os ajudantes de Norte faziam adiantava.
As chamas avançavam ameaçadoras, e algumas partes da fábrica já tinham desmoronado em brasas.

A pergunta era: como uma fábrica tão fantástica como aquela pegaria fogo tão facilmente no meio do Polo Norte? Não era normal, com certeza.

Jack suspirou.

–Isso não pode estar acontecendo... -sussurrou ele, com os punhos fechados.

Skylla tocou em seu braço.

–Mas está. E agora o que importa é sabermos como isso aconteceu. -disse ela, lançando um olhar à fábrica.

Fada chegou voando até eles. Seus olhos exibiam um brilho apavorado.

–Não estamos conseguindo apagar o fogo! E a maior parte da fábrica já está caindo aos pedaços! -falou ela, atordoada.

Coelhão pulou para perto dos três. Seu pêlo estava chamuscado, e o australiano parecia exausto.

–Não dá. Acabou. Já era. -ofegou ele, apontando para a fábrica. -Não conseguimos.

Fada abaixou a cabeça tristemente.

Um sentimento de raiva surgiu em Jack.

–Desistiram?! Não podem! Tem que haver um jeito! -exclamou ele, um pouco revoltado.

Fada levantou a cabeça.

–Não tem jeito! -disse ela, seus pés quase tocando o chão.
Jack segurou fortemente o cajado, já com suas forças voltando ao normal.

–Pois eu não vou desistir! -disse ele, começando a voar na direção da fábrica.

Nesse momento, as chamas que encobriam a fábrica aumentaram. E ao invés de alaranjadas, foram se tornando negras. Chamas negras.

Jack parou rapidamente, recuando.

Os Guardiões sussurraram exclamações e Fada gritou.

–O... O que é isso?! -murmurou a fada beija-flor, voando para perto de Jack.

Skylla a seguiu, assustada.

–As chamas estão sendo controladas. Tenho certeza. -falou a elfa, enquanto via os yetis e os duendes correrem para longe da fábrica, onde as chamas continuaram avançando.

Jack fechou os punhos.

–Pitch. -resmungou ele.

Coelhão e Sandman se aproximaram dos três. O homenzinho dourado estava sujo com piche negro.

–Sandman não consegue nenhum resultado, pessoal. -disse Coelhão. Depois, virando para Jack, disse: -Temos que ir embora, Frost. Estamos em perigo aqui. E olhe para Norte!

Jack virou o rosto até encontrar a figura de Norte. Com o rosto enterrado entre as mãos, o homem não se mexia.

–Temos que deixar a fábrica para trás. Ou o que sobrou dela. -terminou Coelhão.

Jack suspirou, se sentindo inútil.

–Ahr, tudo bem! -grunhiu ele, abaixando a cabeça, um pouco irritado.

A fábrica já não podia ser vista. Apenas as chamas negras, a fumaça e o círculo de neve derretida podiam ser vistos.
O fogo estava aumentando, e havia um estranho chiado no ar. Os Guardiões tinham a estranha sensação de que dali a pouco tempo a fábrica explodiria, envolta em chamas.

Fada, Coelhão, Sandman e Jack foram ajudar Norte. Skylla parou para ver a cena.

Tristeza.

Era a única coisa que se sentia naquele momento.

A elfa estava tremendo, de tanto frio que sentia. Podia haver fogo, mas o Polo Norte sempre seria insuportavelmente frio. E para ela, ficar ali fora por mais de uma hora era terrível.

–Skylla, vamos. Os outros já estão voltando e... -Jack tocou no braço da elfa, e rapidamente tirou a mão. -Puxa, você está gelada! Tudo bem?

A uns metros deles, Coelhão pisou forte no chão e um buraco enorme se abriu.

A elfa concordou e começou a caminhar na direção do buraco.

–Você fica mal no calor e eu fico mal no frio... -disse ela, cruzando os braços de frio.

Jack caminhou a seu lado.

–Eu juro que se eu vir Pitch novamente, vou fazê-lo pagar por tudo o que fez... Eu prometo! -resmungou ele.

Skylla olhou profundamente para ele, com um brilho indecifrável nos olhos castanhos.

–E eu quero estar junto de você nesse momento. Com certeza. -disse ela, com uma expressão sombria.

Jack concordou e pulou dentro do buraco. Ao seu redor, vários duendes e yetis também escorregavam para se salvar.

Skylla sentou-se na borda do buraco na neve e olhou a fábrica. Uma mancha negra no meio da neve.

A elfa suspirou e pulou no buraco. Uma grande explosão foi ouvida enquanto os Guardiões escorregavam buraco abaixo.

E Skylla soube que tinha sido a fábrica.

Ou melhor...

Que tinha sido aquilo que um foi a incrível fábrica de brinquedos do Papai Noel.

     Continua...