-Nããão! -berrou Skylla, enquanto tentava se soltar dos braços de Jack que a impediam de correr até a hidra.

O pégaso estava sumindo em luz dourada e apenas o que restava era o fogo queimando a grama onde o animal estivera.

-Skylla! Temos que sair daqui! -falou Jack, puxando-a para longe da hidra. -Esse monstro é muito grande pra nós!

A elfa estava com o rosto vermelho, um misto de tristeza e raiva.

-Não, essa coisa tem que pagar pelo que fez! -gritou ela, se debatendo nos braços de Jack.

O garoto a segurou pelos ombros e olhou profundamente em seus olhos castanhos.

-Skylla, pare. Se a atacarmos, vamos acabar morrendo. E eu juro que me mataria se você morresse. Então, por favor, me escute. Vamos embora enquanto ainda podemos. Por favor. -disse calmamente Jack.

Skylla abriu a boca para falar algo, mas olhando nos olhos do garoto gelado, não conseguiu discordar dele.

-Tudo bem. -respondeu a elfa, com os punhos cerrados. 

Jack olhou para a hidra ao longe. Estava se aproximando cada vez mais. Suas sete cabeças sibilavam enquanto o monstro andava lentamente.

-Temos que ir. Agora! -disse ele, puxando o braço de Skylla e começando a correr.

-Jack, vamos voar! -sugeriu nervosamente a garota, olhando para trás a cada segundo. 

O garoto concordou. Deu um impulso e, segurando a mão de Skylla, começaram a voar para longe da hidra.

-Vamos conseguir! -disse Skylla, já flutuando sozinha.

-Vamos sim! Eu disse que...

VUSH! 

Nesse momento, Jack grita e começa a cair rapidamente.

-Jack! -gritou Skylla ao perceber que outra bola de fogo havia sido cuspida na direção deles no céu... E atingido Jack. Tinha sido de raspão, mas ainda assim, havia deixado um rasgo nas roupas do garoto.

Skylla se deixou cair para aumentar a velocidade. A elfa olhou para Jack um pouco abaixo dela... Seu moletom estava em chamas e seus olhos fechados.

-Não... -sussurrou ela, finalmente alcançando o garoto. A garota o segurou e tentou voar, mas com o moletom de Jack pegando fogo a seu lado, era impossível.

Os dois caíram de forma suave, pelo menos, na grama de onde tinham estado. 

A hidra estava mais longe ainda do que antes, mas se quisesse poderia cuspir mais bolas de fogo e acabar atingindo-os.

Skylla largou Jack no chão e observou o fogo aumentando à medida que consumia o moletom do rapaz. 

-O que eu faço... -sussurrou a garota, vendo Jack gemer inconsciente quando o fogo atravessou suas roupas e começou a queimar seu peito.

Skylla teria que dar um jeito.

Rapidamente rasgou o que sobrara do moletom e o tirou de Jack, jogando a peça em chamas para longe.

O peito de Jack estava vermelho e extremamente quente, o que era muito ruim para ele, que era feito dos elementos frios do inverno!
Quando tentou se mexer, Jack deu um grito de dor por causa do peito queimado.

"Os ventos de outono são frios onde eu moro..." raciocinou a elfa.
Então Skylla se inclinou sobre Jack e assoprou.

Assoprou no local avermelhado do peito do garoto, assoprou com toda a força. Um vento gelado e suave que aos poucos fez a cor pálida de Jack voltar ao normal.

Ainda estava um pouquinho vermelho, mas o aspecto de queimado havia sumido.

-Isso...! -murmurou ela, ainda assoprando o peito do rapaz.

Jack se mexeu assim que a temperatura havia voltado ao normal.

Abriu os olhos e viu Skylla inclinada sobre ele no chão; Jack não pôde deixar de sorrir.

Skylla parou de assoprar.

Rapidamente voltou à posição inicial, saindo de muito perto de Jack. 

-Ai, deuses, você está bem?! -falou ela, ajudando-o a se sentar.

Jack contraiu um pouco o peito dolorido e fez que sim com a cabeça, sorrindo.

-Temos que voar de novo; olhe! -a garota apontou para a hidra já bem perto deles.

-Certo. Segure-se em mim de novo! -disse Jack, e assim que Skylla o segurou, o garoto começou a voar.

A hidra cuspiu outra bola de fogo que passou perto dos cabelos de Skylla, os deixando um pouco chamuscados nas pontas.

-Rápido, Jack! -exclamou a garota, tentando reunir forças para invocar os ventos do outono.

-Estou tentando! -respondeu ele, voando o mais rápido que podia. 

Skylla olhou para baixo e viu a hidra parar de cuspir fogo. Logo depois, estourou em fumaça negra.

-Jack...! Ela... A hidra... -gaguejou a elfa, cutucando o garoto e fazendo-o apenas flutuar.

Jack olhou para a fumaça negra que sumia abaixo deles.

-Ela se desfez em fumaça negra -sussurrou ele, segurando Skylla, que rapidamente deu um jeito de invocar os ventos do outono para que Jack não a precisasse segurar. -Parece que Pitch...

-Era isso que eu queria te contar. -disse a garota, encarando os olhos azuis de Jack. -Pitch tentou fazer com que os mitos do mal se juntassem a ele! 

Jack franziu o cenho.

-Como assim? Como sabe disso? -perguntou ele, sem saber de nada.

Skylla fez um sinal para que descessem. Agora que a hidra já tinha ido embora, podiam conversar no solo.

Quando chegaram novamente no chão, Skylla se sentou, suspirando. Tentou não olhar para Jack, que continuava apenas com sua calça.

-Assim que eu fugi, ordenei aos ventos que me levassem a um lugar seguro e fui parar na Grécia. -começou ela.

Jack se sentou a seu lado.

-No meio da noite, uma harpia apareceu e começou a falar sem parar; ela sabia sobre a gente, Jack. -continuou. -Consegui fazer com que ela me contasse tudo o que sabia.

Jack se remexeu.

-Uma harpia? De verdade? Mas ela não é um mit... -Jack se interrompeu ao pensar a mesma coisa que Skylla havia pensado: os Guardiões também eram mitos.

Skylla concordou.

-Nós também somos, então qualquer mito é, na verdade, real. -falou. -Esses mitos do mal não tinham se juntado a Pitch quando falei com a harpia. Mas já que a hidra nos atacou daquele modo... 

Jack a encarou novamente.

-Pelo jeito não são confiáveis.

-E ainda por cima a harpia me ameaçou, dizendo que poderia ter me matado se quisesse. -relatou a elfa. -Na hora eu não acreditei muito, mas estou começando a acreditar nisso.

Jack se levantou.

-Temos que nos esconder. Se Pitch dominou os outros Guardiões somos os últimos que restaram. E ele vai vir atrás, de novo. -disse o garoto.

Skylla levantou-se, com a ajuda de Jack, e o observou.

-Onde está o seu cajado, floco de neve? -disse ela ironicamente, mas sem conseguir esconder a preocupação.

Jack sorriu.

-Sempre bem humorada, não é, orelhuda? -retrucou ele. -Norte o pegou. Não pude fazer nada e não posso fazer muito sem meu cajado.
Skylla riu.

-Pode sim! Você congelou uma torre inteira sem a sua bengala. -disse a garota.

Jack deu um empurrãozinho em Skylla.

-Não é uma bengala! -riu ele, mas logo sua expressão mudou. -E eu só consigo congelar as coisas quando... Eu... Penso em algo de que gosto muito...

-Ótimo, do que você gosta? -interrompeu Skylla.

-...ou de alguém de quem gosto muito. -terminou ele, olhando para a elfa.

Skylla sorriu.

-E de quem você gosta muito, Jack? -falou ela, provocante. Aproximou-se um pouco do garoto com os olhos entreabertos. Parou a uns cinco centímetros do rosto dele.

Jack arregalou os olhos.

-Eu... Eu... Enfim, preciso da minha bengala. Quer dizer, cajado, e-eu preciso d-do... -gaguejou ele, visivelmente nervoso. 

Skylla se afastou rindo.

-Tudo bem, Jack, eu entendi! Estava só brincando! -disse ela, virando-se de costas. -Você ainda tem a espada que eu te dei, não é? Pode usar para se defender. Onde podemos nos esconder?

Jack suspirou, sem saber se estava aliviado ou decepcionado pelo fato de Skylla ter se afastado.

-Tenho sim a espada... Bom, eu estava pensando na gente se esconder em um lugar movimentado, com muita gente. Mesmo que sejamos invisíveis para a maioria das pessoas, podemos nos esconder no meio delas. -concluiu Jack.

Skylla concordou, virando-se para ele. 

-Nova York. É pra lá que vamos. Movimentado e cheio de gente que não vai nem achar estranho se vir um garoto congelado e uma elfa no meio deles. -disse ela ironicamente.

Jack riu.

-Boa ideia! Já é quase meio dia e não comemos nada. -falou o garoto. -Se bem que agora é que notei que não como a mais de um dia e nem estou com fome... 

-Essa é uma vantagem de ser uma lenda! Não sentimos fome quase nunca! -disse Skylla. -Vamos viajar agora e parar por lá mesmo. Estou cansada de ficar mudando de um lugar pra outro, está ficando chato.

Jack concordou.

-Você pode usar os seus poderes agora? -pediu ele, visivelmente cansado.

Skylla o observou. Não se sentia mais mal por observá-lo sem camisa ou moletom. Era uma bela visão...

-Claro. Vamos, não podemos perder tempo. -disse ela, suspirando. Fechou os olhos para reunir forças e uma brisa suave começou a soprar. Um vento ora quente, ora mais frio, típico do outono.

-Jack, segure a minha mão. -falou ela, estendendo a mão na direção do garoto, que a segurou.

Os dois começaram a flutuar e Skylla murmurou algumas coisas ao vento, comandos talvez, que Jack não entendeu. 

-Pode se deitar ou sentar, fique à vontade. -disse ela. -O vento vai nos levar até Nova York e obviamente não vamos cair.

O chão já estava longe e o sol alto no céu; Skylla se reclinou no ar, com uma fina camada de pó amarelado abaixo dela. Esse era o único aspecto que se notava dos poderes da elfa.

Jack olhou para baixo e apreciou a visão de oceano e mais oceano. Água era só o que ele via. Deviam estar no meio dos continentes.

Olhou para a elfa de olhos fechados a seu lado e deitou-se na nuvem de pó dourado, que os impedia de cair enquanto eram levados pelo vento em uma velocidade extremamente alta.

Deitado de lado, Jack podia ficar observando apenas o rosto de Skylla, mas ele não se importou.

Ficou olhando para a elfa por quase todo o caminho. O tempo pareceu passar rápido, pois o sol já havia baixado bastante. De repente, Skylla abriu os olhos e viu Jack a observando; o garoto corou e virou o rosto.

A elfa sorriu, virando-se na direção do garoto.

-Tudo bem, Jack... Não tem problema em me olhar... -ela sussurrou, tocando no rosto de Jack, que a olhou novamente. 

E ficaram assim por mais uns quinze minutos. Apenas se olhando. E o olhar de Skylla e Jack podia dizer muito mais do que as palavras...

-Chegamos! -Skylla deu um pulo de repente ao ouvir a voz do vento em sua mente. 

Jack se levantou e olhou para baixo. Prédios, centenas deles. 
-Como não percebemos que estávamos chegando? -exclamou a elfa, ordenando ao vento que fosse os abaixando lentamente.

Jack riu.

-Tenho um palpite! -disse ele, e Skylla lhe deu um cutucão.
Abaixaram ainda mais até pararem em uma calçada movimentada, e várias pessoas passaram através deles como se eles não existissem. E pra essas pessoas, não existiam mesmo!

-Puxa, não acredito... Ninguém nos conhece! -exclamou Jack, sorrindo.

-É mesmo...! -disse Skylla quando um homem a atravessou.

Uma senhora com duas crianças, provavelmente seus filhos, passou por eles, mas as crianças olharam na direção de Jack e o viram. À medida que reconheciam o tal Jack Frost, arregalavam ainda mais os olhos e sorriam.

Skylla se afastou um pouco.

-Mãe! -gritou um dos garotos, apontando para onde Jack estava. -É o Jack Frost! 

Jack sorriu para o outro garoto e lhe sussurrou:

-Como vai, garotinho? 

O garoto riu sem parar, empolgado.

A mãe olhou para Jack mas não o viu. Mesmo assim, fingiu para os filhos que o tinha visto.

-Sim, filhos, é mesmo o Jack Frost! -disse ela, sorrindo e recomeçando a andar.

Jack se aproximou dos garotos.

-Vão, meninos. Sua mãe espera! -disse Jack.

Os garotos concordaram; a elfa deu uma risadinha, gostando do que Jack estava falando.

-Tchau, Jack! -gritou um dos meninos, correndo na direção da mãe.

O garoto que ainda estava ali sorriu para Jack e saiu correndo na direção da mãe. Skylla estava parada exatamente ali, e assim que o garoto correu naquela direção, atravessou Skylla.

O sorriso da elfa sumiu. Ela olhou para o garoto correndo para longe dela sem vê-la e abaixou a cabeça.

Jack olhou para ela e soube que tinha feito uma coisa errada.
-Ninguém me vê. Nunca. -Skylla deu um sorriso triste. -Já deveria estar acostumada.

Jack se aproximou.

-Skylla, eu... -tentou falar algo, mas não sabia o que dizer. O que a elfa disse ERA verdade. Ninguém nunca a via mesmo, o que ele poderia dizer?

Skylla suspirou, tentando manter o sorriso.

-Não, tudo bem. Sério. -disse ela. -Vamos, temos que achar um lugar pra gente se esconder.

E saiu andando pela calçada movimentada. Jack a ficou observando antes de segui-la. Todas as pessoas e crianças que passavam apenas a atravessavam.

O rapaz suspirou e caminhou atrás dela.

 

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-Aqui está bom? -perguntou Skylla.

-Acho que sim, não está? -respondeu Jack, satisfeito com o lugar que ele tinha encontrado.

Os dois estavam diante de um prédio abandonado, totalmente velho e destruído.

-É, a estética poderia ser melhor, mas tudo bem... -respondeu Skylla, sorrindo. -Será que ninguém mora aqui?

Jack riu.

-Aposto que não mora ninguém! Vamos entrar -sugeriu o garoto, voando até uma janela quebrada e solta. -Você vem?

Skylla ordenou aos ventos que a fizessem flutuar.

-É claro! -disse ela, voando até onde Jack estava e entrando no prédio.

"Uou!" Foi tudo o que a elfa conseguiu pensar quando avistou o interior daquele lugar.

Móveis quebrados, vidro estilhaçado no chão, uns dois sofás velhos e mais um monte de objetos completamente destruídos se amontoavam pelos cantos do prédio.

-Nossa... Realmente não é a melhor visão, mas... Vai ter que servir. -Jack sorriu e virou-se para Skylla.

Ela lhe sorriu de volta e sussurrou:

-Depois de tudo o que passamos merecíamos um hotel cinco estrelas, mas isso aqui serve. -brincou ela, sentando-se em um sofá esburacado. Ao ver um tipo de besouro sair de dentro do sofá por um buraco, deu um pulo e se aproximou de Jack.

O garoto riu.

-Você tem medo de besouros e não de harpias? 

-Não tenho medo, é só que insetos são nojentos. -resmungou ela, sem saber onde sentar.

Jack olhou para um canto onde não havia nenhum tipo de móveis ou objetos, apenas a parede.

-Vamos nos sentar no chão mesmo. Olhe -ele apontou- ali está bom? -perguntou.

Skylla concordou.

Os dois andaram até o canto e se sentaram, um do lado do outro.

Skylla suspirou. Ela não sabia o que fariam a seguir. Não sabia para onde eles iriam depois, o que fazer em relação a Pitch, também não sabia como lidar com os outros Guardiões. 

Estava tudo tão confuso que Skylla passou um tempo apenas pensando... E quando se deu por conta estava com a cabeça encostada no ombro de Jack.

"Oh meus deuses, ele ainda está sem camisa!" pensou Skylla alarmada, desencostando-se rapidamente.

Jack sorriu.

Não sabia muito bem por que, mas queria fazer algo há muito tempo e não tinha tido nem a oportunidade e nem a coragem necessária para isso.

Mas agora tinha. E tinha que ser agora. O futuro era incerto; Pitch mandara monstros atrás deles e os próprios Guardiões tinham sido dominados. Talvez Jack nunca mais tivesse chance.

Skylla olhou para o garoto, que estava envolto em pensamentos.
-Eu estou perdida, Jack. -sussurrou ela, abaixando a cabeça. -Não sei o que fazer, não sei mesmo. Que tipo de Guardiã eu sou?

Uma lágrima rolou por seu rosto.

"Agora" pensou Jack.

-Skylla... Você pode não notar, mas você é incrível. Não se preocupe, eu também estou perdido e isso é ruim, eu sei, mas vamos encontrar uma solução. Juntos. -disse ele, se aproximando.

Skylla respirou fundo.

-Juntos? 

Jack sorriu, acariciando o rosto da elfa.

-Juntos.

E a beijou. Skylla arregalou os olhos, sentindo Jack tão próximo de si, misturando-se com aquela sensação tão boa que a invadia.

Skylla fechou os olhos, deixando-se envolver pelo beijo. Tocou o peito de Jack, sentindo a pele fria e macia.

Jack não queria que aquilo terminasse. Tudo era tão perfeito naquele momento, sensações tão boas...

Jack terminou o beijo e encarou Skylla, que estava sorrindo.
Ela apenas o olhou por alguns segundos e logo depois deitou a cabeça no ombro do garoto.

Com os olhos fechados, a garota murmurou:

-Jack... Eu gosto muito de você. Muito mesmo. -disse ela, e Jack a abraçou.

-Eu também, Skylla. -disse ele.

Mas repentinamente, o corpo de Skylla deu um solavanco e a garota arregalou os olhos, tocando em seu próprio rosto.

Jack a encarou e resmungou algo, nervoso. Mas continuou a abraçando.

-Essa não...

Na bochecha direita de Skylla um tipo de camada de gelo estava se formando. Logo depois a elfa gritou quando outra camada de gelo começou a surgir em seu braço. O gelo mobilizou o braço da garota e correu para o ombro, fazendo a elfa gritar. O gelo estava se espalhando rapidamente.

-Jack, o que está acontecendo?! -exclamou Skylla.

-Eu não sei, eu... Espere -Jack se interrompeu. Raciocinou algo e se afastou de Skylla.

Na mesma hora o gelo que estava cobrindo a garota derreteu.
Jack se sentiu desmoronar de frustração.

Skylla se encostou na parede, ofegante e molhada. Olhou para Jack e sua expressão de tristeza mostrou que ela pensava o mesmo que ele.

-Skylla, eu... -começou Jack, com receio de tocar na elfa. -Eu acho que... -o garoto não podia falar as dolorosas palavras.

Skylla tocou em seu rosto, com outra lágrima escorrendo pelo rosto.

-Jack... Eu sei... Você congela as coisas quando é tocado com emoções fortes de alguém que você gosta. E você gosta de mim. -sussurrou ela, querendo agarrar-se em Jack, mas sabendo que não podia. Não queria ser congelada viva.

O garoto piscou os olhos marejados.

-Se eu tocar muito em você de novo... Vou acabar t-te congelando, Skylla. -gaguejou Jack, se recusando a acreditar no que dizia.

Skylla fechou os olhos.

-Não pode ser isso. Você pode simplesmente congelar outra coisa qualquer, não pode? Não precisa ser eu, né? -disse ela.

Jack engoliu em seco, tentando encontrar a saliva.

-Vamos... Tentar? De novo? -continuou Skylla.

Jack concordou.

Skylla o abraçou e escondeu o rosto entre o pescoço e o ombro de Jack, que a envolveu com os braços.

No início nada aconteceu, dando aos dois uma ponta de esperança. Mas depois de alguns segundos, o pescoço de Skylla começou a ser coberto com uma grossa camada de gelo.

Os dois se afastaram rapidamente e o gelo aos poucos foi derretendo, molhando novamente as roupas da elfa. Mas ela nem se importou.

Skylla soluçou.

-Não podemos nos tocar, Jack! -exclamou, sem saber o que fazer. -Pelo menos não com emoção!

O rapaz fechou os olhos, tentando não olhar para a garota. Não iria chorar na frente dela. Não mesmo.

-Desculpe. Isso é minha culpa. -ele murmurou, com as mãos na cabeça.

Skylla, diante daquele Jack tão triste e desesperado, quis beijá-lo de novo, mas se conteve.

-Não é culpa sua. É culpa NOSSA, entendeu? Pense assim... Você é o gelo e eu sou o fogo. É impossível os dois ficarem juntos, entende? De um jeito ou de outro, é impossível. -disse ela, tentando manter a calma.

Jack a encarou.

-Não é impossível. Não pode ser. -ele murmurou. -Eu me recuso a aceitar. Vamos dar um jeito!

Skylla segurou a mão dele. Nada aconteceu. Uma coisa boa, pelo menos: toques pequenos não causavam nenhum mal. 

-Quem sabe... -suspirou ela, xingando mentalmente os outros Guardiões, Pitch, o gelo, a mãe e os dois garotinhos, a hidra e talvez os sofás com besouros. 

Não sabia o porquê de estar xingando todo mundo, apenas precisava xingar algo. Simples assim.

Skylla deixou escapar um xingamento em celta, mas como ninguém entendia mesmo ela não se importou.

Jack e Skylla continuaram sentados lado a lado de mãos dadas, mas com uns cinquenta centímetros os separando.

Se Jack transformasse a elfa num picolé, ele nunca mais se perdoaria.

Devia ser umas cinco da tarde, o sol entrava pelas janelas quebradas e iluminava as partículas brancas de poeira que flutuavam por ali.

Os dois estavam de olhos fechados, apenas ouvindo o som do centro de Nova York.

De repente, eles escutam um barulho, vindo da entrada do assustador prédio abandonado.

-Ei, você ouviu isso? -sussurrou Skylla, abrindo os olhos e olhando ao redor em alerta.

Jack se levantou.

-Sim... Parecia o som de algo arrombando a porta, eu sei lá... -disse ele, pegando a espada que Skylla tinha dado a ele.

Skylla olhou para o lado e notou um rato negro vasculhando algumas caixas de madeira que tinha em um canto da sala.

-Ei, veja, acho que era um rato. -falou Skylla, suspirando e cutucando Jack.

O garoto observou o rato roendo algo dentro da caixa, ao longe. Seus olhinhos vermelhos pareceram encarar Jack por um momento.

-Ratos não arrombam portas, Skylla. -disse ele, desconfiado.

-Deixa pra lá, deve ter sido outra coisa. -murmurou ela, sentindo muito frio. Que foi, ela tinha sido meio congelada, isso conta?

Jack suspirou, guardando a espada. 

-Tudo bem... 

Os dois se sentaram novamente. Mas logo se levantaram quando outro barulhinho os alertou.

Jack pegou a espada e instintivamente olhou para onde o rato estava.

Nada de rato. O bicho tinha sumido. 

-Onde ele está? -perguntou Jack.

-Onde está quem? -Skylla estava começando a ficar receosa. Pegou a adaga da cintura e ficou preparada para qualquer coisa.

-O rato... Ele sumiu! -exclamou Jack, obcecado pelo rato.

Skylla fechou os olhos. Abriu-os. Sentiu sua visão "dar um zoom" e olhou ao redor, procurando pelo rato. Esse era um de seus poderes: enxergar como uma águia quando queria.

Olhou para todos os cantos e quando passou seu olhar por uma estante velha, achou o rato negro os observando lá do alto.

Skylla tremeu.

-Jack, lá em cima! O rato! -exclamou.

Jack olhou para a criaturinha peluda e assustadora que os observava com os olhos negros.

-Isso não é normal, não é. -disse ele, sem saber se se aproximava ou se recuava.

E naquele exato momento, o rato começou a aumentar de tamanho. 

Ficando do tamanho de um esquilo, de um gato e logo depois de um cachorro de grande porte, o rato continuava observando-os.

-Droga! -gritou Skylla, armada somente de sua adaga. 

E, para completar, o rato mudou de forma. Em poucos segundos, o rato negro havia tomado a forma de... Sandman?!

-Não... Sand! -exclamou Jack. -Você foi dominado!

Sandman sorriu maldosamente. Um Sandman completamente negro, com os olhos vermelhos e com nuvens de poeira negra flutuando raivosamente a sua volta.

E enquanto Jack e Skylla continuavam parados, sem saber o que fazer, o Sandman negro avançou contra os dois.

       Continua...