Before Leaving' escrita por Codinome Clarisse


Capítulo 3
After one night.


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpa pelos erros, caso encontrem algum. E realmente espero que gostem. Boa leitura...

"Now that it's over, I just wanna hold her. I'd give up all the world to see that little piece of heaven looking back at me. Now that it's over, I just wanna hold her. I've gotta live with the choices i made and I can't live with myself today ♫"



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Lucy. Outra vez ela invadira meus sonhos fazendo com que eu acordasse no meio da madrugada mais uma vez.

Sua risada ecoava no piso de baixo, tão alta e clara. Era uma daquelas fitas caseiras, já gasta por ser rebobinada tantas vezes, sempre repetindo uma cena em questão. Sentei-me na cama, meio zonzo, tentando fazer com que as lembranças se dispersassem.

Levantei-me e fui até a varanda. A brisa noturna fazia meu corpo estremecer.


Não muito tempo depois um barulho metálico soou pela rua vazia, como se um portão fosse batido com força, não muito longe dali. Inclinei-me sobre o parapeito e meus olhos curiosos percorreram a rua, a fim de encontrar algo interessante por ali. Não demorou muito para avistarem uma silhueta, que ia se aproximando a passos lentos.


Quanto mais perto chegava, mais eu ia reconhecendo os detalhes. Ao passar por baixo de um poste a luz trêmula fez seu cabelo vermelho cintilar. E eu consegui vê-la melhor.

Sua maquiagem estava meio borrada, e seus passos lentos mostravam o quão seus pés estavam cansados daqueles saltos. Seus braços abraçavam a si mesma, como se pudessem a proteger do frio que fazia, pois suas roupas provocantes não a ajudavam nada nessa situação.

O que ela estava fazendo por aqui? Nunca a tinha visto por essas bandas, e tenho certeza de que ela não morava nem perto daqui.


– Garota do três mudo? – Minha voz ecoou pela rua. Ela olhou em volta, procurando por alguém ali. Deixei escapar um risinho bobo.

– Aqui em cima... – Seus olhos por fim me encontraram, e então aquele sorriso exibido brotou em seus lábios. Acenei para ela.

– Ah, oi garoto suicida. – Ela riu baixinho, como se não fosse certo rir.

– Está muito tarde para você estar na rua, não?

Ela deu de ombros.

– Para onde está indo?

– Qualquer lugar. Não sei ainda... Por quê?

– Espera um minuto. Não sai daí! – Sai às pressas da varanda e entrei novamente no quarto. Abri o guarda-roupa e procurei por uma blusa de frio ali, se é que ainda havia alguma.

Por sorte achei. Desci correndo as escadas, tropeçando vez ou outra nas tralhas dali. Passei pela porta da sala, e meu pai nem sequer desviou os olhos da TV como sempre.

Abri a porta da frente, e lá estava ela. Sorri que nem bobo.

– Então...? – Ela me olhou meio confusa. Os braços ainda cruzados sobre o peito. Mostrei a blusa para ela. E ela deu aquele sorriso exibido e foi se aproximando. Joguei-lhe a blusa, e ela logo a vestiu, sentando-se em seguida em um dos degraus que dava para a varanda em frente a casa.

– Eu não mordo... – Ela deixou um risinho bobo escapar ao terminar a frase.

Dei alguns passos e me sentei ao seu lado. Não me atrevi a dizer nada...

A garota ruiva abraçava os joelhos junto ao corpo, e se prestasse bem atenção era possível vê-la tremer.

– Não está tão frio assim, está? – Inclinei-me um pouquinho para vê-la melhor. Em poucos segundos seus olhos fitavam os meus, suas pupilas dilatadas pareciam ver através de mim. E ela simplesmente deu de ombros e soltou um riso debochado.

– Então... O que está fazendo por aqui? Nunca te vi por essas bandas... – Tentei controlar minha boca, mas as palavras insistiam em sair de qualquer jeito.

– Eu estava com o... o... – Ela gaguejou por alguns segundos, parecia que as palavras lhe estavam escapando. – Ah, estava com um cara... Não que isso seja da sua conta, não é?

Seus olhos me fitavam sem dó, enquanto eu me perdia naquela imensidão esverdeada, pisquei algumas vezes com o intuito de me livrar daquele transe. Quase em vão.

– Está tudo bem, garoto suicida? – Seus olhos se estreitaram, como se assim pudesse me enxergar melhor, mesmo eu estando a poucos centímetros dela. Fiz que sim com a cabeça e então ela desviou o olhar mais uma vez.

Estava ficando cada vez mais frio, e meu corpo tremia em resposta. Olhei para ela, e se prestasse bem atenção, quase era possível ouvir o bater dos dentes.

– Pode passar a noite se quiser...

– Hãn? – Seus imensos olhos verdes se voltaram para mim novamente. As pupilas ainda dilatadas.

– Está frio e tarde... E, hum, não seria muito seguro sair por aí sozinha. – Dei de ombros.

– E quem me garante que seria mais seguro eu ficar aqui com você? – Ela deu um sorriso debochado.

– Não posso te dar garantia nenhuma, er.

– Talvez eu queira correr esse risco, só talvez... – Ela deu um sorriso de canto e passou a encarar a rua vazia à nossa frente.

– Ah! Tem uma condição... Tem que prometer que não irá reparar na bagunça, certo? – Ela riu e me encarou com uma das sobrancelhas arqueada.

– Isso é sério?

Fiz que sim com a cabeça, enquanto me levantava.

– Acredite, é muito sério...

Abri a porta e me desloquei para dentro da casa, tateando a parede até esbarrar os dedos no interruptor e iluminar o hall. Fiz um gesto para que ela entrasse logo.

A garota ruiva foi entrando com passos cautelosos como se estivesse numa casa mal assombrada ou como se eu fosse um maníaco sexual e fosse a atacar a qualquer instante. Eu ri ao pensar nisso. Puxando-me de volta a realidade, ela deu um empurrão de leve no meu braço e com um maneio de cabeça em direção à sala, perguntou-me quem era o senhor em frente a TV. Fiz um gesto para que ela passasse direto e subisse as escadas, e respondi logo em seguida:

– É apenas meu pai... – Fui guiando seus passos escadaria acima – Não precisa se preocupar, não é nenhum psicopata da serra elétrica e tal.

Ela riu baixinho enquanto parava no minúsculo corredor que dava para os quartos. Seus imensos olhos me encaravam, como se pedisse permissão para entrar em qualquer uma das portas.

– Hum, e tem mais alguém aqui?

Fiz que não com a cabeça, e fui até a porta mais próxima da escada. Adentrei a mesma e logo acendi a luz, clareando o cenário pós-apocalíptico, mais conhecido como meu quarto.

Ela parou um pouco antes do batente da porta e seus olhos se arregalaram, e no mesmo instante uma gargalhada ecoou pelo cômodo. Fiquei encarando-a até que sua risada cessasse – o que demorou alguns instantes. Alexis foi tentando retomar o fôlego, tendo uma leve recaída vez ou outra à medida que alentava seus pulmões com ar.

– A escada até dava para ignorar, mas isso? – ela gesticulou incluindo todo o quarto – O que? Passou um furacão por aqui?

Ri sem querer e fiz uma careta, como se ela estivesse exagerando.

– Imagine se você visse a cozinha então.

Ela riu de novo.

– Sério que irei dormir aqui? – Seus olhos ficaram fixos em mim por uns instantes, e em seguida fitaram o quarto zoneado.

Ela foi recuando, fazendo menção de ir embora. Dei alguns passos e a segurei pelo braço. Seus olhos novamente estavam em mim, e em poucos segundos me perdi naquela imensidão cor de esmeralda.

– Calma... – Por algum motivo, que eu não sabia ainda qual era, eu não queria que ela fosse embora.

Dei alguns passos para fora do quarto, passando por ela. Com certo receio abri a porta ao lado da minha e sorri sem querer ao ver o quarto lilás se iluminar. Suas coisas ainda estavam nos devidos lugares, ninguém tivera coragem de tirar nada dali. O cheiro do seu perfume de lavanda ainda pairava no ar. E se você parasse um pouco, e prestasse atenção, era possível sentir ela ali. Em cada canto do pequeno cômodo. Lucy...

– Era dela? – Só me dei conta de que Alexis estava dentro do quarto quando escutei sua voz. Ela dedilhava os cd’s empilhados sobre a mesa do computador, em seguida os livros sobre as prateleiras espalhadas pelo quarto.

– O quarto e tal... – Ela se virara para mim, chamando minha atenção novamente.

Respirei fundo e dei-lhe meu melhor sorriso:

É sim.

Alexis sorriu também, mas nem sequer se deu o trabalho de fingir um falso entusiasmo.

– Posso perguntar o que aconteceu? – Ela se sentou na beirada da cama, cogitando se poderia mesmo se sentar ali. – As pessoas falam. Falam muito, mas não acho que tudo o que dizem seja verdade, certo?

Fiz que sim com a cabeça e sentei-me ao seu lado.

– Para falar a verdade não sei ao certo o que houve... – Deitei as costas contra o colchão e passei a fitar o teto.

– Era seu aniversário e ela ia sair com as amigas, chegou a me convidar para ir junto, mas eu não fui... – Pude sentir aquele sentimento familiar me invadir outra vez, a raiva fervia dentro de mim ao pensar que tudo era minha culpa. Eu não estava lá com ela. Senti um nó na garganta e a cabeça girar.

– O Brandon ia dar uma festa, do “time”. E era o meu time... – Alexis me olhou meio na dúvida, e eu fiz que sim com a cabeça. – Sim, eu fazia parte do time, era o capitão metido a besta e essas baboseiras todas. Mas não fui a tal festa, ao contrário de Lucy e as amigas.

– E o que aconteceu lá? – Os cachos ruivos se agitaram e Alexis agora me encarava, seus olhos verdes me fitavam quase me hipnotizando.

– Tinha esse cara, o Túlio, ele havia entrado na escola há pouco tempo, e no time também. Ele estava tentando ficar com a Lucy, mas ela nunca chegou a dar moral para ele. Túlio insistia em ficar com ela, não importava quantos foras levasse. E na festa não foi diferente, lá estava ele em cima dela outra vez. Em um certo momento, segundo as amigas dela, ela cedeu e saiu com ele... Foi então que se afastaram do pessoal e entraram na clareira que ficava praticamente encostada na casa do Brandon. Ficaram lá por algumas horas, até que Lizza foi procurar por Lucy para irem embora. E quando finalmente a encontrou, desejou não tê-la encontrado, não daquele jeito... – Senti meus olhos arderem quando as lágrimas começaram a escorrer por eles.

– Rapidamente os policiais chegaram ao local, isolando a área, tentando afastar os curiosos dali. Lizza me ligou aos berros e eu não acreditei no que ela estava me dizendo... Não demorou muito para eu e meus pais chegarmos lá. Quando me deparei com a cena... – Engoli em seco.

– Não precisa dizer mais nada... – Ela me encarava agora e seus olhos demonstravam pena. Fiz que não com a cabeça, eu queria lhe contar.

– Ela estava abandonada no meio do terreno mal cuidado. Seu vestido curto estava rasgado ao lado do corpo. Lucy tinha alguns arranhões pelo corpo pálido... – Respirei fundo. – Os policiais interrogaram quem estava na festa, fizeram autopsia e essas coisas, por fim concluíram que ela tinha uma quantidade alta demais de álcool no sangue, e alguns vestígios de drogas também. Porém Lucy nunca foi de ficar bêbada, tampouco usava drogas. Mais alguns dias e novos interrogatórios. Alguém deixou escapar algo sobre o Túlio estar fornecendo drogas aquela noite. Outra pessoa disse ver Túlio empurrando bebidas a ela... No final das contas meus pais e os oficiais da policia decidiram não me contar a verdade nua e crua, apenas disseram que Túlio fora o responsável por tudo e ele acabara confessando o mal feito e logo pagaria por aquilo...

– Mas ele não pagou... – Seus olhos estavam distantes e mal pareciam me enxergar em sua frente.

– Não... Ele é rico e seus pais têm grandes influências nesse processo todo. O máximo que ele pegou foi um regime semiaberto ou alguma coisa do tipo... – Minha voz falhou.

– Mas soube que você lhe dera uma bela lição... – Ela deu um sorriso de canto, com traços de metidez.

– Deixei que a raiva me impulsionasse...

– Me contaram que ele foi parar no hospital... – Ela deu um sorriso exibido, como se estivesse satisfeita com aquilo. Mas ela não me conhecia, nem mesmo conhecera Lucy.

– Foram alguns pontos e uns dias em observação... Menos que o mínimo que ele merecia.

– Eu sinto muito... – Sua voz saiu meio rouca. E eu apenas dei um sorriso fraco.

Fui me levantando da cama, tentando me recompor. Fiquei em pé de frente a ela.

– Vou te deixar dormir, ta? Se quiser trocar de roupa, tem algumas da Lucy dentro do guarda-roupa. E se precisar de outro edredom, também vai achar algum dentro do guarda-roupa.

Ela fez que sim com a cabeça e ficou me olhando até eu sair totalmente do quarto.

Os raios de sol insistiam em entrar pelas frestas das cortinas na janela. Vez ou outra batiam em meu rosto, fazendo com que eu rolasse pela cama.

Na medida em que eu ia despertando, vagando entre o real e o imaginário, fragmentos de lembranças e sonhos se misturavam em minha memória. Sorri antes mesmo de abrir os olhos. “Ela realmente esteve aqui noite passada ou fora apenas um sonho?” pensei comigo mesmo.

Enquanto eu ia tentando distinguir o que era sonho e o que era lembrança, ouvi alguns passos subindo as escadas. Poucos segundos depois um grito grave ecoou pela casa, seguido por um grito mais fino em reposta. Ambos rasgando o silêncio do recinto. Levantei-me o mais rápido possível e poucos passos depois dei de cara com meu pai em frente ao quarto de Lucy, com uma mão sobre o peito, tentando normalizar a respiração. E em frente a ele, saindo do quarto a passos lentos, receosos talvez, estava Alexis.

A garota ruiva estava vestindo um short de pijama preto, um pouco curto demais, uma camiseta velha de basquete que um dia foi minha. Roupas as quais Lucy costumava usar. Seu cabelo ruivo estava um pouco revoltado, seus cachos confusos não sabiam em qual posição ficar, deixando algumas mechas finas lhe caírem sobre o rosto.

Seus olhos me encontraram, confusos sobre o que estava acontecendo. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa meu pai tomou a vez:

– Mas que diabos!

– Bom dia sogrão! – Alexis logo cuspiu as palavras com um sorriso debochado nos lábios.

Olhei para ela, que agora estava ao meu lado, com os olhos arregalados. E olhei de volta para meu pai:

– O que? Não!

Ela riu ao me ver sem jeito.

– Pai... Essa é a Alexis. Uma amiga da escola...

– Alexis Sobieski. – Ela estendeu a mão para cumprimentá-lo.

– Robert Johnson. – Disse ele, enquanto apertava sua mão e a examinava de cima a baixo com os olhos. – Prazer Sra. Sobieski.

Existiam dois do meu pai. Um pai antes do que acontecera com Lucy, e um pai depois do que acontecera. E ali, naquele instante, era possível ver lampejos do que ele já fora um dia, em seus olhos. Ele estava diante de uma garota que vestia as roupas de sua filha, tinha mais ou menos a mesma idade, altura e trejeitos. Sim, eu podia entender o seu lado.

Ele se virou e fora para o quarto, fechando a porta atrás de si.


– Bonjour, garçon suicide! – Ela se virou para mim, com aquele seu sorriso exibido perfeito.


– Hãn?



– Bom dia, menino suicida! – Alexis deu as costas para mim e voltou para o quarto lilás, aumentando a voz à medida que se afastava. – É francês e tal... Fica mais bonito.



Sorri abobalhado quando ela terminou a pequena explicação.


Dei alguns passos e parei no batente da porta, encostando-me ao mesmo.

– Vamos sair para tomar café?

– Não tem comida aqui? – Ela falou enquanto recolhia suas roupas do chão.

– Acho que se entrarmos na cozinha... Hum, jamais sairemos vivos de lá. Acredite.

Ela riu.

– Depois de ter visto seu quarto não duvido de mais nada, acredite. – Ela fez uma careta. – Posso tomar um banho antes?

– Claro... Tem algumas toalhas dentro do guarda roupa. E o banheiro fica no final do corredor.

Ela passou por mim me empurrando de leve contra o batente da porta, apenas por implicância. Ri baixinho do seu jeito abusado.

Meus olhos foram seguindo a garota de estatura baixa que ia desfilando até o final do corredor. Seu emaranhado ruivo sendo jogando de um lado para o outro, seguindo a cadência de seus quadris.

Senti o peito esquentar, e um arrepio correr pelo meu corpo. Em poucos segundos meu coração havia disparado, batendo violentamente contra meu peito, como se eu tivesse corrido uma maratona inteira e a única coisa que consegui pensar foi “fudeu”.


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Notas finais do capítulo

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