Wojownikiem escrita por liljer


Capítulo 6
— Følg Livet


Notas iniciais do capítulo

RELOU! o
Voltei pra luz -sqnó.
Antes de tudo, queria agradecer a Roberta, pela recomendação. ~ shorey, ok?! u.u e também, que me desculpar pela demora. Não vamos contar quantos dias demorei pra postar... É maldade... u.u -q
Bem, sejam bem vindos, novos leitores, que a luz dos Sete estejam com vocês! ~ culpa do Martin isso u.u
Boa leitura, e inté a próxima!
Se cuidem.



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 O pequeno pingente de madeira, que outrora pertencera à Mason, dançava entre os dedos grossos de Dimitri. Ele não sabia ao certo o que fazia ali, parado, encarando uma macieira, porém... Aquilo parecia calmo. Assistir ao fruto proibido ser devorado pelos pássaros, enquanto estes cantarolavam, parecia algum tipo de terapia.

 Sentindo a brisa bater em seu rosto, tão hipnotizado.

O fruto proibido. Muitos dos cristãos daquela região tinham derrubado estas árvores de seus quintais, numa tentativa falha de seguir os conselhos divinos, de padres, como quando estes contavam sobre a história de Adão e Eva. E Dimitri tinha que admitir que soava quase que estúpido culpar uma árvore que provavelmente em algum tempo nem mais existiria, se continuasse sendo derrubada, tudo por um erro humano, pela curiosidade e desobediência.

Suspirando, este aproximou-se da árvore e arrancou desta uma maçã vermelha e suculenta e guardou-a em seu bolso, sob o casaco. A brisa fraca daquela tarde acertou-lhe o rosto, trazendo algumas mexas consigo para sobre o rosto do homem. Este tirou-as, enquanto caminhava de volta para o pequeno casebre onde dormia, juntamente a Gerhard, o padre daquele vilarejo.

Não era como se fosse ruim, porque Gerhard tratava-lhe tão bem quanto um pai poderia, porém, ainda não se sentia a vontade ali. Parecia estranho e errado depois de todo esse tempo estar numa igreja, em solo sagrado após tudo o que fez. Todas as vidas que tirou.

Por fim, concluiu que não havia sido uma boa ideia, apenas não conseguia arranjar um jeito para sair dali. Não queria fazer tal desfeita ao padre que lhe acolhera, mas adoraria ter ido para uma pousada qualquer, num lugar sujo de Milzis.

Adentrou ao casebre, sendo recebido pelo calor da lareira. Padre Gerhard estava debruçado sobre alguns livros, traduzindo-os.

– Porque esta cara, filho? – perguntou-lhe o velho padre, sem nem ao menos olhar o jovem. Este matinha uma ruga em sua testa.

Dimitri ponderou conversar com o velho padre, tentar tirar algo daquilo como ensinamento. Sentou-se de frente ao homem, apanhando um velho livro de páginas amarelas, lendo este em idioma antigo. Nunca havia sido homem de mentiras. Não conseguia conectá-las a ele. E, agora, parecia tão errado mentir para alguém tão bondoso como Gerhard fora para com ele.

– Eu não sei como dizer isso, mas... Eu acredito que está na hora de eu procurar outros rumos de minha vida, Gerhard – murmurou, encarando ao velho homem, que apenas permanecia examinando as páginas. Este sorriu debilmente, logo, levantou seu rosto, fitando-o.

– Quais rumos, filho? Como ter uma família? – perguntou, recebendo um aceno do jovem. Não era como se não tivesse pensado em casar-se e ter filhos. Principalmente, depois de tanto sangue em suas mãos. Parecia certo descansar por fim. – Sabe... Deus nos dá tempo certo para todas as coisas. Há um plano para cada um, assim como a maçã que não comeste, e que agora está em seu bolso. Ela tem um futuro pela frente. Seja pelo bico de um pássaro ou pela semente jogada ao chão. São coisas pequenas, porém, sei que trará grandes coisas em sua vida.

O jovem encarou-o, assombradamente encantado. Não compreendia como o velho conseguia saber daquilo. Mas existiam coisas sobre a vida que nem mesmo ele queria aprender ou desvendá-las. Olhou para baixo, para seu casaco, sabendo que o velho não teria visto apanhar a fruta, assim como não dava para ver esta ali, em seu bolso. Sorriu. Sua avó, certa vez, contou-lhe sobre um homem que conseguia fazer aquilo, e que este era tocado por Deus. De repente, Dimitri soube que Gerhard também era, como poucos ali.

O velho deu-lhe um tapinha sobre o ombro, ao notar que o jovem o observava, sorrindo de volta para este. Por fim, o velho levantou-se, caminhando até uma pequena cômoda, puxando de dentro da mesma, um saquinho cinzento. Levou-o e colocou-o à frente de Dimitri, que não compreendeu.

– Eu sempre soube que esse momento chegaria... – disse o velho, sorridente. – Eu espero que faça a coisa certa, filho. Homens não conseguem manter suas palavras por muito tempo sem que algo realmente ruim lhes aconteça, mas eu tenho certeza que você conseguirá.

– Eu não sei... – admitiu o jovem, sua expressão de repente parecia derrotada. Havia segurado-se tanto tempo com guerras internas que nem ao menos se permitira pensar no que aconteceria futuramente com a garota que seu amigo Mason engravidara e com a família do mesmo. Nem ao menos, havia se dado ao trabalho de visitá-los. E aquilo pareceu ruim de sua parte. Pareceu como se não tivesse cumprido uma promessa. Proteger aquelas pessoas era tudo o que Mason queria. Era tudo o que ele almejava na vida, ao lado de Jillian e filhos. Suspirou, passando os dedos entre seu cabelo, colocando os fios para trás. Sua boca numa linha reta.

            – Quando eu era mais jovem... Bem, eu tive alguém por quem lutar, filho. Porém... Este... – apontou ao redor, para o casebre e a batina longa. – Este foi meu destino. Servir aos mais necessitados. Servir a algo maior do que eu mesmo ou todo o amor que eu senti por esta jovem... Este não é o seu destino. Seu destino é proteger filhos, ter ovelhas em seu quintal e ser feliz. Poder descansar em paz à noite. Esquecer-se de todos os pesadelos que tivera ao longo das noites frias.

– Como tem certeza disso? – questionou Dimitri, sua voz não passando de um lamurio.

– Porque Deus me disse – o velho deu de ombros, sorrindo para o mais jovem. – Eu posso ver isso em você. Eu posso ver tudo o que está trancado em você...

Um longo instante em silêncio se passou. Dimitri se perguntou se não estaria louco por seguir as ordens e escutar aquele velho homem.

            Mas o que eu ganho com tudo isso se continuar?, perguntou-se internamente, encarando as páginas amareladas. Nada, concluiu. Aquele não era seu lugar. E ele sabia disso. Por agora, tudo o que precisava era de um tempo em paz. De paz.

– Se não for agora, se atrasará – disse o velho, dando-lhe as costas enquanto caminhava até uma mesa, colocando alguns livros ali, de forma organizada.

Assentindo, Dimitri se levantou, caminhando até a cama que lhe servia bem e colocou suas poucas coisas na sacola de couro, assim como alguns livros. O saquinho de moedas de prata foi posto por último.

Caminhou até o velho padre, abraçando-o com ternura. Dando-lhe leves tapinhas nas costas.

– Obrigado por tudo o que fez por mim, Gerhard. Eu nunca poderei agradecê-lo pelo o que fez por mim... – disse o mais novo. Sorrindo, Gerhard afastou-se, tirando de seu próprio pescoço um cordão de prata, depositando este na palma da mão do moreno. Este abriu a boca, para protestar, mas logo, calou-se.

– Para caso de necessidade – explicou o padre. – Eu não tenho muito, mas eu sei que será um começo para você, meu jovem.

Outra vez, o moreno abraçou ao velho homem, agradecendo-o em seu idioma original e recebendo um sorriso do velho. E assim, este apanhou sua sacola de couro, colocando-a sobre o ombro, caminhando para fora do casebre, alcançando seu cavalo cinzento que soltou um leve bufar em contentamento por encontrar seu dono. Acariciando a cabeça do animal, Dimitri montou-o. Logo, não podia mais ser visto do pequeno casebre do velho padre.

           

[...]

Ao longe, podia-se ver a mulher lavar as roupas, cantarolando alguma canção de sua terra natal. A canção holandesa que costumava ninar aos seus filhos antes de dormir, agora, era como uma recordação do filho mais velho.

– Ela parece melhor... – comentou Ibrahim, enquanto observava a mulher.

– Eu não vejo isso – discordou Rose, de forma amarga.

– É como se ela tivesse desligado toda a dor, eu já vi isso acontecer muitas vezes – a filha assentiu com as palavras do pai. Começava a sentir a cabeça doer. O velho homem colocou o braço sobre os ombros magros desta, puxando-a em um meio abraço. Rose sabia que se continuasse assim, começaria a chorar em muitíssimo breve.

Para que seu pai não presenciasse as lágrimas, afastou-se, alegando ir pegar água no poço. Correu para longe. Para o mais longe que pôde. As imagens do corpo do irmão não haviam saído de sua mente, embora tivesse feito o seu melhor para tirá-las de lá.

Sentou-se debaixo de um carvalho, juntando seus joelhos e apoiando sua cabeça nos mesmos, escondendo o rosto enquanto chorava compulsivamente, como costumava fazer nos últimos dias, desde que vira o corpo do irmão.

Rosemarie não sabia quanto tempo havia passado desde que estivera ali, chorando estranguladamente, como se assim, pudesse arrancar a dor do peito — impossível. Embora o tempo mais a cima lhe dissesse com todas as letras que estava tarde. O sol não mais estava no alto do céu.

Não compreendia porque não conseguia simplesmente seguir em frente. Tinha sido uma maldita péssima ideia insistir para que fosse até o corpo de Mason. Se não o tivesse visto, não teria tantos problemas para dormir. Não pareceria mais velha, como se de repente, todo o mundo tivesse perdido a graça e a magia de antes.

Não conseguia não pensar em como teria adorado que Dimitri nunca tivesse aparecido e trazido consigo toda a dor. O que era estúpido culpá-lo, embora fosse a melhor forma de não se sentir pior com tudo aquilo.

– Rose? – alguém chamou, e, ao virar, deu-se de cara com Dimitri, com uma expressão convertida em pura preocupação. Eis ali o grande problema para Rose naquele momento: Dimitri.

Ela pulou sobre seus calcanhares, dando longas pernadas em direção ao homem, empurrando-o com as duas mãos, sem muito resultado.

– Deixe-nos em paz! Você já foi porta dor e desgraças demais! Vá embora! – rosnou, batendo seus punhos fechados contra o peito do homem, que não se mexeu nenhum centímetro. Maldito, pensou ela.

Estático, Dimitri não soube o que dizer.

Ele sabia, melhor do que ninguém, o quão havia destruído aquela família, que Rose não passava de uma criança inocente que vira algo que jamais esqueceria. Ele ouvira Mason contar histórias a seu respeito. Sobre como ela havia sido difícil e tudo mais, mas ali, após enfim encontrá-la, ele via o quão inocente ela era. Ele podia ver o quanto ela não sabia sobre guerras, sobre as consequências. E quando jurara protegê-la à Mason, não se dera conta daquilo. Protegê-la significava ir embora, proteger sua inocência. E ele o faria, mesmo que isso o levasse a partir. Mais uma vez.

Ele assentiu, voltando a se afastar. Mas lembrava-se que aquela não era a hora para aquilo... Havia algo mais importante a ser resolvido do que a situação estranha em que se encontrava, e que aquela família se encontrava.

– Precisamos conversar primeiro. – ele disse, sua voz era gelo. O que fez por um instante Rose fraquejar. Ela o encarou, dando alguns passos para trás. Estava preocupada.

– O que você quer? – não podia deixar de ser rude. Não com aquele homem. – Não temos nada para conversar. Nenhum assunto que não seja meu irmão, que por sinal, está morto.

Dimitri travou seus dentes, não tinha nenhuma vontade de continuar ali, no entanto, precisava. Não queria discutir com uma criança. Mas tinha certeza que discutir aquilo com os pais de Mason não seria de valia alguma, principalmente quando os conhecia tão menos quanto à Rose. 

– É sobre Jillian – disse o nome com certo temor. Rose revirou os olhos — algo que definitivamente ele não esperava. Esta cruzou os braços, desafiadoramente.

– Jillian está melhor do que nós todos – bufou ela. Dessa vez, Dimitri se sentiu um tanto que impaciente.

– Não. Não está... Ela está grávida. – não era como se ser cuidadoso com as palavras fosse muito seu forte, principalmente quando precisava ser rápido, como agora. Rose estacou. Embora viesse a acreditar que Jillian não merecesse tal preocupação, tinha que admitir que não era algo fácil aquilo. Engravidar sem ao menos ter se casado. Mas quando alguma coisa estalou em sua mente, sentiu a raiva subir-lhe mais ainda. Era obvio que ela estava grávida... De Eddie.

– Ela vai se casar com o pai dessa criança. Eddie não é tão estúpido quanto aparenta. Ainda mais, sendo ele o pai. Por isso eles quiseram adiantar o casório... Para que escondesse a gravidez... Aquela... – espremeu os punhos, torceu os lábios enquanto rosnava.

– Não é ele o pai – Dimitri a cortou do xingamento que viria. Ela estacou.

– Ora! Eu quem não sou! – debochou. Então o silêncio se estalou. Os dois se encararam por um instante, para enfim, ela compreender o que ele queria dizer. Não era sobre Eddie ser o pai. Era sobre Mason ser. A boca da garota se abriu, em puro desacreditar. – Oh, meu Deus... Mason? Não... É impossível... O tempo que...

Fez a conta mentalmente. Não era como se Mason tivesse voltado para casa há muitos anos atrás. Apenas há poucas luas. Talvez duas ou três. Quatro, concluiu.

– Como ele pôde... – estalou incrédula.

– Hey! – a voz alta soou, ambos pularam pelo susto. Obviamente, não esperavam interrupções. Dimitri e Rosemarie se viraram para ver ali em pé, de braços cruzados, Ibrahim. Ele não mantinha uma expressão muito boa, mas é claro que não era para menos.

– Senhor... – disse Dimitri, respeitosamente, dando-lhe um aceno igualmente respeitoso. Ibrahim o estudou, dos pés à cabeça, para em seguida, estudar sua filha que corara instantaneamente devido a raiva e vergonha.

– O que faz aqui? – indagou Ibrahim, numa voz dura.

– Vim ver como estavam. Após aquela noite, eu fiquei receoso de como sua esposa estava. Ela não me pareceu muito bem. – disse o mais jovem. O homem turco o estudou, assentindo por fim. Muito lembrava uma cobra, pronta para o bote.

– Ela está bem... Você sabe. Não é como se ela fosse acender fogueiras e cantarolar. Ela apenas está aguentando bem. – Dimitri assentiu, deixando seus lábios em uma fina linha.

– Bem – disse. – De qualquer forma, eu já estou partindo. Tenho que encontrar uma estalaria, antes que anoiteça. Foi bom encontrá-la, senhorita. – acenou em direção à Rose, que acenou de volta, como se em momento algum tivesse tido algum tipo de rixa para com o homem em sua frente. – Meu senhor...

Caminhou para longe, antes de ser chamado novamente. Ibrahim o fizera.

– Espere! Venha... Eu tenho certeza que os bosques daqui não são seguros. Fique e jante com minha família. Tenho certeza que Janine irá adorar recebê-lo, ainda mais, sendo amigo de Mason.

Dimitri ponderou, embora não tivesse olhado para o rosto pedinte de Rosemarie para que ele fosse embora. Ele tinha que admitir que estava realmente tarde para andar por ali. Sempre havia ladrões e assassinos pelos caminhos desertos até a parte principal do vilarejo. E, de repente, parecia que uma noite não lhe mataria ou a qualquer um naquela casa.

– Obrigado – disse ele, numa voz polida. – Eu realmente agradeço, senhor...

Ibrahim sacudiu sua mão no ar, em um sinal para Dimitri deixá-lo para lá, enquanto seguia ao homem para dentro de um casebre de grossas toras de madeira.

O cheiro que atingiu seu nariz ao adentrar pela porta fina fez com que seu estômago roncasse alto. Na cozinha, logo ali, se encontrava uma mulher de cabelos ruivos, trançados até a cintura. Alguns fios cintilavam em um louro, fios estes que davam-lhe a certeza que aquela era a mãe de Mason, Janine.

Esta virou-se sem compreender.

– Janie... – começou Ibrahim. – Eu não sei se você se lembra, mas... Este era o amigo de Mason, o de noites passadas.

– Oh – ela exclamou levemente, compreendendo. Aproximou-se, limpando suas mãos no vestido velho e cinzento. Sorriu para o jovem. – Perdoe-me, senhor... Eu não estive em estado para lembrá-lo. Eu realmente sinto muito...

Dimitri acenou, deixando uma mecha de cabelo cair sobre o rosto.

– Sou Dimitri Belikov – disse, beijando o peito da mão da mulher, respeitosamente. Janine sorriu, enquanto a filha revirava os olhos.

– Bem, Dimitri... Espero que esteja com fome – disse a mulher, puxando uma cadeira para o homem assim que afastou-se do mesmo. Dimitri assentiu, sorrindo levemente.

– Sim... Estou morrendo – admitiu embaraçado.

– Então acomode-se, filho. Aposto que nos acampamentos não cozinhavam tão bem assim... – disse Ibrahim, puxando a cadeira da cabeceira da mesa. Dimitri soltou uma leve gargalhada ao concordar com o homem. – Rose? Pegue um prato para Dimitri...

Ultraje passou pelo rosto da garota, mas logo notou a expressão da mãe. Esta parecia feliz. Parecia contente... Não sabia ao certo se pelo fato de conversar com alguém que havia conhecido Mason tão bem, ou se pelo fato de não ter que cuidar de muito mais. Fosse qual fosse, sentiu-se abençoada por ver sua mãe sorrir.

Rose depositou o prato e os talheres na frente do homem, sentando-se em seguida. A travessa de carneiro com batatas estava lá. Era o tipo de prato que sua família nunca se cansava de comer. Talvez, porque fosse o prato que Mason tanto amara. Após sua mãe servir o prato do marido, serviu o prato do homem. Dimitri agradeceu-lhe tão atenciosamente, ajudando-a com a travessa de madeira com pão.

– Então, soldado... Você tem onde dormir? – perguntou Ibrahim, após a refeição, enquanto todos permaneciam sentados. Este apoiou seus cotovelos sobre a mesa de madeira, coçando sua barba. Após todos estarem satisfeitos.

Dimitri, por sua vez, bebericou um pouco de seu vinho, antes de responder.

– Eu estava ficando numa instalação da igreja, senhor. Mas estou para arrumar um quarto na hospedaria no centro do vilarejo e um emprego – respondeu. Poucas foram as vezes em que ele esteve tão acanhado quanto uma coisa. Havia uma confusão sobrehumana nele, não sabia nem ao certo o que fazer após ter saído da igreja. Qual o rumo que realmente tomaria. Tudo não passava de runas incertas.

– Oh... Bem, não seria de todo ruim se ficasse conosco. Por um tempo... Estamos procurando por alguém que possa ajudar Ibrahim na plantação. Você sabe, quem costumava ajudá-lo era Mason, mas após sua ida para a guerra não tivemos muita ajuda e sem contar que o inverno está chegando – Janine tagarelou, recebendo acenos do marido em concordância.

Dimitri assentiu, deixando seu vinho de lado. Abriu a boca para responder, mas antes que o fizesse, a voz de Rosemarie interrompeu:

– Talvez não seja uma boa ideia. O senhor Belikov tem uma vida pela frente. Irá querer vivê-la, do que ficar soterrado nas plantações, colhendo, plantando e caçando.

Janine ponderou, torcendo o nariz, mas fora Ibrahim quem estudara a filha, de forma profunda. Tinha um olhar tão profundo que era capaz de enxergar dentro da alma de qualquer pessoa, principalmente, da filha mais nova.

– Eu não tenho nada para viver que não possa esperar – retrucou o moreno, embora não de forma venenosa, tal como Rose havia deduzido. Seus olhos pousaram um instante sobre a garota, para em seguida, voltar para o casal mais velho. – Vocês são boa gente, e eu dei minha palavra à Mason que os ajudaria no que fosse preciso. Eu acredito que esta seja à hora. Não há nada na vida que eu não tenha vivido, ou que não possa esperar um pouco mais...

Os olhos astutos de Ibrahim permaneceram sobre o jovem. Não era de seu feitio aceitar pessoas em sua casa, sob seu teto... Principalmente, após o que acontecera na última vez que o fizera. Ainda podia-se lembrar do quão devastados saíram da Turquia.  

– Qual pessoa aceitaria passar boa parte da vida sob o sol forte? Colhendo para pessoas que não têm tanto para lhe pagar, que nem ao menos podem contratá-lo de verdade. Pessoas que nunca viu antes...  – tornou a replicar Rose.  E aquilo havia atraído à atenção de todos na mesa. Sua implicância para com o homem. 

– Qual o problema? – indagou Dimitri. Agora, sua expressão não passava de fria máscara. Embora fizesse seu melhor para ignorar toda a hostilidade da garota, não conseguia fazer clara sua indiferença quanto esta.

– Eu não acho uma boa ideia trazer um estranho para casa – disse, de forma arrogante. Janine, por sua vez, engasgou-se. – Que Mason me perdoe, mas não temos certeza sobre você realmente ter sido amigo dele... Desde que chegou, tudo o que fez foi fazer pessoas chorarem. Não ache que eu vou aceitar tal coisa calada.

Com isso, a garota levantou-se da mesa, caminhando a longos passos para o corredor, em direção ao seu pequeno quarto. Jogou-se na cama de palha, sentindo as lágrimas de mais cedo voltarem aos olhos.

Ouviu passos, e tão logo, algumas batidas sobre a madeira. Tão logo, notou seu pai ali, de braços cruzados e uma expressão realmente séria.

– Eu não acho que aquele tenha sido o comportamento que sua mãe e eu e tenhamos desejado de você, Rose – disse ele. Logo, aproximou-se da cama, sentando-se na ponta. Rose voltou a se encolher nos lençóis em resposta.

– Eu não posso fingir que me sinto a vontade com ele aqui – respondeu ao pai, levantando seu rosto de olhos marejados para fitá-lo. – Tudo o que vejo ao olhar para ele é Mason... Mason morto.

Ibrahim deu-lhe um leve tapinha sobre a perna, um sorriso tristonho.

– Precisamos superar isso, querida. E afastá-lo não ajudará em nada. Um dia, quando você tiver minha idade, entenderá que a vida te obriga a superar tudo. Por bem ou mal.

– É diferente superar de lembrar, baba.

– Você acha? – sorriu ele. – Apenas dê uma oportunidade ao rapaz. E, como ele mesmo disse: não ficará muito. Ele é jovem... Uns dias na lavoura irão fazê-lo repensar seguir em frente.

Rose duvidava muito. Não se tratava dos rapazes do vilarejo. Havia algo em Dimitri que o diferenciava de qualquer outro que a garota conhecera. Ela sabia que ele era diferente. Apenas não sabia por quê.

– Irá dar uma chance a ele? – perguntou o pai, levantando-se com um punhado de esforço. Rose sorriu levemente.

– Sim – respondeu. – Apenas por você...

Ibrahim virou-se, sorrindo torto.

– Não por mim, querida... Mas por você.                                   

[...]

Ibrahim caminhou de volta para a sala, perguntando-se porque diabos sua filha havia tido esse tipo de comportamento, embora houvesse algum tipo de encaixe em sua mente, que alertava-lhe sobre o que deveria ter acontecido para ela ter estado daquela forma, ter se comportado daquela forma. Apertou seus dedos nas têmporas quando sentou-se à mesa, Dimitri permaneceu ali, embora estivesse ajudando Janine a tirar os pratos e travessas desta. O que era algo que o velho homem jamais teria esperado.

– Belikov... – chamou. O jovem virou-se prontamente em direção a Ibrahim. – Venha comigo...

Janine fitou ao marido, tentando compreender o que se passava ali. Em vão. Embora conhecesse seu marido tão profundamente, o conhecia bem demais para saber que havia algo bom e ao mesmo tempo ruim passando em sua mente.

Abe e Dimitri seguiram para o lado de fora do casebre, sendo acolhidos pela brisa fria. Abe se pegou respirando o ar com intensidade, tal como Dimitri.

– Eu não sou o tipo de homem que acolhe outro homem em sua casa – disse. Sua voz não passava de uma pedra. – Eu preciso de ajuda com a plantação e estou ficando velho. Logo, minhas costas irão doer como o inferno... Mas você sabe disso – viu o mais jovem assentir em concordância. – E ainda tem Rose... Ela não é a melhor pessoa com relação a ser gentil, mas... Bem, eu não posso simplesmente confiar em você. Porque eu não confio. E nem pretendo...

– Eu entendo senhor – interrompeu Dimitri, sua voz impassível. – Eu entendo que ela seja difícil e que, principalmente, eu sendo homem, poderia ser um perigo...

– Ela poderia ficar mal falada... Principalmente quando ela já passou da idade de casamento e então aparece um rapaz do nada, em nossa casa...

Dimitri sentiu sua mandíbula endurecer. Ele fechou os olhos, focando todo seu autocontrole. Aquilo era ridículo, mas, no entanto, ele entendia aonde Ibrahim queria chegar.

– Senhor... Eu nunca... Jamais... Machucaria alguém como Rose. Eu passei tanto tempo com Mason que praticamente a tenho como irmã. Eu tenho três irmãs na Rússia. Eu compreendo como isso funciona. Uma até mesmo tem quase a mesma idade de Rose... Eu não sou esse tipo de homem, senhor.

Abe o estudou por alguns instantes, em pleno silêncio. Tudo o que zunia entre eles era o som das cigarras do lado de fora, dentre outros animais. Assentiu por fim.

– Estou lhe dando um voto, Belikov. Se sua honra for tão grande quanto demonstra, eu vou acreditar... Mas que Deus me ajude se me arrepender – disse por fim o mais velho. Seu rosto sombrio. Era difícil para ele confiar em alguém. Principalmente, alguém que acabara de chegar do nada em sua vida, principalmente, depois de tudo. Suspirou. – Anda... Vamos entrar. Tenho certeza que está cansado. Amanhã será um longo dia.

– Sim... – concordou Belikov, seguindo o homem para dentro do casebre. Encontraram Janine lá, ainda remexendo em algumas panelas.

– Janie... – chamou Abe, ela virou-se prontamente. Quase que esperando que ele lhe desse a notícia que Belikov não iria ficar com eles. Mas lá estava o mais novo, de braços cruzados, pensativo e acanhado. Ela sorriu levemente, confirmando o que havia pensado mais cedo.

– Seja bem vindo, Dimitri... Eu vou preparar um quarto para você.

[...]

Embora estivesse se sentindo terrivelmente confortável, Dimitri não conseguia pregar seus olhos. A conversa que havia tido com Ibrahim mais cedo ainda vagueava em sua mente. Levantou-se, sentando na cama que outrora fora de Mason.

Pressionando as têmporas com as pontas dos dedos, ele sentiu que iria sufocar a qualquer momento. Olhando para o lado, onde sua bolsa de couro havia sido colocada, avistou o pequeno livro de letras douradas. Embora amasse a leitura, aquele não era o melhor momento para leitura. Estava se sentindo perdido, bem... Boa parte de si estava se sentindo perdida. Não sabia o que fazer com relação à garota de Mason que carregava seu filho. Suspirou.

Apanhou sua camisa de pano fino, vestindo-a enquanto caminhava pelo corredor do pequeno casebre. Podia escutar o som da respiração de Ibrahim soar pesada atrás da porta fina.

Quando alcançou a pequena cozinha, pegou um copo de argila, enchendo este com água direto da bica. Bebeu um longo gole, para então perceber que sua garganta estava realmente seca. Tornou a beber.

– Deveria estar dormindo... Amanhã será um longo dia... – uma voz soou. Dimitri quase pulou com o susto — não era de seu feitio ser pego de surpresa por ninguém. Rosemarie tinha os braços cruzados, uma expressão séria e os cabelos emaranhados. Ela não passava de uma bagunça agradável.

– Estava com sede... – murmurou ele, levantando o copo de argila, mostrando-o para ela. Esta assentiu, aproximando-se do homem e encostando-se na mesa de madeira.

– Eu não estou contente por estar aqui – disse ela, numa voz fina. Dimitri tornou de seus lábios uma linha fina. – No entanto... Eu não sei. Minha mãe gosta de você. Meu pai também, embora ele não vá admitir – sorriu levemente. – Mas eu não vou te dar as boas vindas, Belikov. Assim como não retiro o que eu disse mais cedo.

– Você ainda me vê como o mensageiro da morte? – perguntou ele, seu tom leve. Rose assentiu veementemente e aquilo surpreendeu ao homem.

– Eu não quero ter de associá-lo com algo ruim, mas o que está feito está feito – disse a garota. – Desde que chegou tudo o que venho escutando são más notícias, e coisas realmente difíceis, tais como a notícia de Jillian.

Dimitri parou — numa distância segura da garota — cruzando seus braços sobre o peito, observando-a de cima.

– Eu não sei o que fazer sobre ela – admitiu ele, sua voz era quase miserável. – Eu não faço a mínima ideia do que irá acontecer quando todos descobrirem que ela está esperando um filho do antigo noivo... Todos a colocarão como meretriz à pior.

– Eu sei... – assentiu a morena. – Eu vivo entre este povo, lembra-se? Jillian irá encarar algo realmente difícil, mas não é como se Mason a tivesse obrigado a se deitar com ele. Ele nunca faria algo assim.

Dimitri a fitou, procurando por qualquer sinal de incerteza. Não havia nenhum. E, novamente, pensou em como a garota à sua frente era inocente. Cegamente inocente.

– O que te faz ter certeza disso? – indagou ele, numa voz profundamente baixa. Rose sorriu sem humor.

– Eu não sei quanto a você, Belikov... Mas acima de qualquer coisa, meu irmão tinha honra. Ele pode ter se precipitado com relação a deitar-se com Jillian, mas ele tinha honra, assim como certeza que voltaria para casa e casaria com ela.

Dimitri sabia que seu amigo tinha honra, assim como não tinha certeza sobre total inocência de Mason. Mas, de repente, não parecia certo dizer isso a Rose. Ela era nova, inocente demais para saber que a vida não era como costumava imaginar.

Houve um tempo em que eu era jovem

Um rapaz com ambições ousadas

Houve um tempo em que eu podia

Distinguir o desonesto do demônio

Havia uma canção que alguém cantava

Um hit de reconhecimento

Houve um tempo em que eu te conhecia

Bem o bastante para saber que você não vai sumir

Houve um tempo em que eu tinha respeito

Um nome de reputação

Houve um tempo em que eu podia

Cuidar de mim mesmo sem ser desonrado


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