Wojownikiem escrita por liljer


Capítulo 15
— Sorg Og Tilgivelse


Notas iniciais do capítulo

Hey moçada... Rapidex, para pedir desculpas pela demora e desejar-lhes boa leitura. ;3



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O luto costuma ser tão terrivelmente impiedoso para aqueles que ficam. Aqueles que se vêm presos num mundo de sofrimento, longe daqueles que perderam. E parecia que o luto havia atingido muito mais além do que a alma das duas mulheres ali. Mulheres ditas como fortes, mas que perderam todas as suas estruturas ao perder o pilar de uma família.

Aquela era a segunda vez em que Rosemarie e sua mãe perdiam alguém de seu centro familiar. Ibrahim tinha seus milhares defeitos, sua postura dura quando irritado, mas ele era bom... Ele poderia ter toda a fama que tinha, mas no fundo, ambas sabiam o quão bom ele era. O quanto ele as amava.

– Você não tem que ficar aí – Janine repreendeu a filha, sentada em uma cadeira — a preferida de seu pai; a mesma que esse costumava se mexer, assistindo o tempo passar durante todos os anos em que se encontravam em Milzis.

Janine sentou-se ao lado da filha, segurando próximo ao corpo duas canecas de chá quente, de camomila. Ela passou um para a filha, tornando a beber do seu, enquanto assistiam o vento sobre a plantação de trigo congelada pelo inverno.

– O que vamos fazer com essa terra? – Rose perguntou por fim, não fitando sua mãe. Um longo silêncio se alastrou entre elas, Janine procurando por alguma resposta, enquanto Rose simplesmente não conseguia dizer nada. Desde que chegara nos braços de Dimitri, não conseguira formular muitas palavras desde então. O que era espantoso para sua mãe ouvi-la formular uma frase agora. Mas, simplesmente, Janine não sabia o que responder.

– Eu não sei – por fim admitiu.

– Não temos dinheiro para mantê-la, nem para contratarmos empregados... Não podemos fazer isso sozinhas – a morena disse, por fim, encarando sua mãe. Esta a fitou, seus olhos azuis astutos, estudando-a.

– O que tens em mente?

– Vendê-la e partirmos para longe – disse de forma direta. – Milzis está acabada. Bárbaros logo virão para cá e destruirá tudo o que resta... Só restará miséria e doença.

– Você se livraria de todo seu passado assim? Tudo o que seu pai construiu? – Janine perguntou, um pouco assombrada.

– Sim – a garota deu de ombros, tornando a beber de seu chá. – Não sejamos mentirosas, mãe... As coisas aconteceram por precisarem acontecer. Papai e Mason estão mortos e somos só nós duas agora, e eu não tenho intenção de continuar em miséria apenas por causa de lembranças. Milzis não é mais meu lar desde que Mason morreu.

Sua mãe se levantou, caminhando até uma pilastra de madeira ali, encostou-se a esta, observando o horizonte.

– Você não tem que ficar comigo, Rose... Eu posso viver sozinha aqui, mas não sairei. Não deixarei tudo o que conquistei aqui – disse, sua voz era dura e fria, como a neve que cobria o chão ali. Rose fitou-a, seus olhos frios.

Janine lembrou-se das vezes em que insistira para Ibrahim e sua família partirem dali, por não haver futuro ali. Era realmente engraçado como o universo costumava ter um senso de humor doentio. Agora, era ela quem não queria abandonar aquele maldito e pútrido pedaço de chão.

– Você precisa ir visitá-lo – ela soltou e embora não fizesse referência a qualquer nome, era óbvio para ambas que tratava-se de Belikov. Não era mentira para Rose que sentira sua falta — sentira falta de seu abraço enquanto se via inerte em uma cama fria, chorando pela morte de seu pai. Mas havia algo que gritava-lhe para não ir atrás dele, no entanto, ela não sabia dizer de onde aquilo vinha.

– Eu sei – ela respondeu a mãe, sua voz fria. – Mas eu não vou.

– Não seja assim – Janine repreendeu duramente. – Você lutou como o inferno para tê-lo, você fugiu e assistiu seu pai morrer para não procurá-lo? Seu pai estaria furioso agora.

– Eu não posso – admitiu, sua voz falha. – Porque há coisas que precisamos resolver e eu não quero. Eu não posso... Eu não posso simplesmente bater em sua porta e pedir para que ele me ame depois de tudo o que se passou. Eu nem mesmo sei se o amo...

Janine deu meia volta, parando ao lado da garota, seu peito subindo e descendo, enraivecida.

– Não seja estúpida! Olhe para mim, Rosemarie... – exclamou. A garota se negou a olhá-la, mas após alguns instantes, o fez. A dor que encontrou no rosto de sua mãe era pura. – Nunca... Jamais... Desista de alguém porque é covarde demais para lutar por ele em momentos difíceis. Esta pode ser a sua maldita última chance de tê-lo e você o deixará ir?

As lembranças de como havia simplesmente desistido de seu marido ao deixá-lo ir invadiram sua mente. E se tivesse lutado um pouco mais para fazê-lo ficar? Ele provavelmente ainda a estaria atazanando sobre como Rose era estúpida, mas estaria sentando-se na mesma cadeira que a garota se encontrava agora, esperando que a filha surgisse no horizonte... Nem que fosse casada com aquele maldito russo. Nem que fosse chorando, notando que havia errado. Ela sentia-se inútil por não ter lutado para fazê-lo enxergar o quão cego pelo ódio ele esteve. O ódio, o amor e a covardia... Bem, esses faziam muitos perderem toda a esperança e jogarem-se em algo sujo, em um mundo talvez sem volta. E seu primeiro amor havia feito isso... Havia se jogado em um ódio sem fim, um abismo sem volta. Pela segunda vez, todavia, ela não conseguira remediar como fizera na primeira, ao convencê-lo de que matar seu próprio pai era estupidez sem tamanho.

Ela se perguntava agora como seu próprio pai diria ao notar aquilo.

– Não é sua história – Rose soltou, de forma dura. – Eu não me casarei com ele ou coisa do tipo. Eu não farei a mesma coisa que você e papai fizeram... Eu não...

– Você já está fazendo! – sua mãe exclamou. – Você está fazendo a maldita mesma coisa. E sabe como acabará no próximo inverno, caso continue aqui? Acabará sozinha, porque, eu não aguentarei muito mais, Rose... Eu não consigo mais continuar lutando por você ou por quem mais e vê-los morrendo. Então vá. Vá antes que acabe perdendo-o também.

– Está falando bobagens – a morena se levantou, enrolando melhor seu xale grosso ao seu redor, caminhando à passos largos para dentro do casebre, onde a luz da lareira iluminava fracamente, mas o suficiente ali.

– Sabes que não – retrucou a mãe. – Seu cavalo está lá atrás, a propósito.

– Eu não conseguiria encontrá-lo, nem que quisesse – disse Rose. Janine sorriu-lhe, como o seu velho marido turco costumava sorrir.

– Não seja tola. Ele está esperando por você. Ele sempre está – disse, por fim, acrescentou. – Mas não por muito tempo.

[...]

Rose se sentia estúpida por estar fugindo novamente, embora que dessa vez fosse diferente. Dessa vez, havia o consentimento de sua mãe. E todas as palavras ditas por sua mãe apenas a fazia chegar à conclusão de que se fosse para ter um final ou história como a de seus pais, preferiria incluir a parte feliz em que sua família sempre tivera.

E sim, ela realmente sabia onde encontrar o homem. Com a luz de uma vela acesa na janela do quarto da pousada no qual se encontraram pela última vez, no lugar onde ela havia se entregado a ele completamente e havia o recebido de volta, completamente entregue e amando-a. Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios... Aquilo parecia agora ter sido há tanto tempo, como se a lembrança dos corpos juntos, se chocando um contra o outro, tivesse sido carregada pelo vento frio daquele inverno.

Ela desceu do cavalo, caminhando a passos rápidos, a medida que a neve a deixasse ir, correndo para dentro da pequena e suja recepção.

– Deseja alguma coisa? – uma mulher de cabelos negros e pele pálida como a neve perguntou, seu tom arrogante.

– Sim – ponderou Rosemarie, aproximando-se. – Preciso que me informe se um homem se hospedou aqui...

– Nós não damos este tipo de informação – retrucou a mulher, seu ar arrogante aumentando ainda mais.

– Yeah... Eu compreendo – sorriu friamente, puxando do bolso de sua longa capa cinza uma moeda de prata. A mulher fitou-a, uma sobrancelha erguida. Em seguida, puxou outra. – Ele é alto, bem alto... Cabelo até seu ombro, tem um sotaque de fora... Usa uma longa capa de couro... Tem um ar meio de nobre, embora pareça mercenário. Forasteiro...

A mulher ponderou por algum tempo, e então assentiu, arqueando a cabeça um pouco para trás, a procura de alguém que pudesse escutá-las. Não havia ninguém exceto um gato cinzento e gordo que as encarava com uma expressão entediada. Rose não era fã de gatos.

– Há alguém assim... Mas deixe-me dizer... – a mulher tomou um fôlego. – Ele não está só... Então, se for para...

– Quem está com ele? – a morena quase gralhou. A mulher se encolheu um pouco.

– Eu não sei bem... Sei que é uma mulher. Mas não pude ver seu rosto – deu de ombros.

– Obrigada... – Rose disse com lentidão, perguntando-se quem poderia ser esta que se encontrava no mesmo quarto que Dimitri. Ela não tinha uma boa sensação sobre isso. Puxou outra moeda de prata e entregou a mulher na recepção, seguindo as escadas após esta lhe dar-lhe a informação de qual quarto se encontrava o russo.

Após alguns lances de escada, ela se encontrava de frente a porta em que estiveram antes. Agora, ela se sentia estranha sobre entrar lá. E se Dimitri realmente estivesse dormindo com outra? E se a tivesse esquecido devido ao tempo em que ela estivera mastigando seu luto pela morte de seu pai. O que ela faria caso o encontrasse na cama com outra mulher?

Mas ela precisava saber, certo? Havia uma boa chance de ser apenas engano da mulher na recepção. Havia uma boa chance de não ter sido nada demais... E se tivesse sido um caso de uma noite... Bem, ela poderia passar por isso, certo? Não!, pensou. Não conseguiria.

Levou seu punho até a porta, socando-a ferozmente. Uma, duas vezes. Na terceira, esta se abriu e o queixo de Rose quase caiu no chão com a cena que vira.

Ali, parada em sua frente estava Jillian, com uma expressão tão estranha quanto a de Rose. Seus olhos verdes como duas jades a fitavam com um ódio terrível.

– Mas o que diabos... – foi Rose quem disse, empurrando a garota e entrando no quarto rapidamente, à procura de Dimitri. Este se encontrava vestindo uma camisa limpa. Seus olhos se encontraram por um instante, e então, esteve explicito nos olhos da garota o quão decepcionada ela estava.

– Isso não é...

– O que estou pensando? E o que eu estou pensando, Belikov? – ela rosnou. – Eu sabia que era pra te encontrar... Só não sabia que era pra encontrar nos braços da primeira que lhe oferecesse algum auxílio... Isso se ela realmente foi a primeira.

– Rose! – ele exclamou. Ela então se virou para Jillian. Esta tinha uma expressão mortificada, além de extremamente corada. Rose sentiu vontade de deixá-la novamente pálida com alguns bons tapas. – Deixe-me explicar...

– E me dizer que não estavam fazendo nada? Você é doente, Dimitri... Olhe para a barriga dela! Grávida e pronta para parir a qualquer momento!

– Nós não fizemos nada! – Jillian agora se manifestou, sua expressão arrogante. – Belikov me ajudou... Eu... Eu... Ele me encontrou num navio... Meu navio fora atacado por bárbaros... Ele me ajudou.

Rose parou por um instante, medindo-a dos pés a cabeça, arrogantemente. Logo, virou-se para Dimitri, medindo-o também. Agora, Jillian parecia anos mais velha, não mais uma criança quase desengonçada como antes fora. Agora, tinha aquela expressão de que sofrera demais. E de alguma forma, Rose sabia que a maldita Dragomir falava a verdade.

– Onde está Adrian? – perguntou. Jillian não olhou para ela, apenas fitou seus pés, com a resposta mais explicita possível. Rose soltou o ar com força depois de algum instante.

Adrian estava morto. E a ideia parecia ruim. Principalmente, quando havia sido ele quem jurara proteger sua prima mais nova, defendê-la dos males do mundo... Inutilmente, pensou. Ele havia sido sua promessa de casamento desde nova, desde que seu pai começara a negociar com a família dele... Quando ainda era amiga de Lissa, antes desta se casar com Christian e desistir de toda e qualquer amizade que não agradasse seu marido.

– Eu sinto muito – Rose murmurou, e realmente sentia. – Você... Hm... Deixa-me à sós com Dimitri?

Jill abriu sua boca para protestar, mas procurou por Dimitri, que assentiu para que esta saísse. E então ela o fez, batendo a porta atrás de si com certa petulância. Algumas pessoas nunca mudam, pensou Rose revirando os olhos.

– O que pensa que está fazendo? – ela perguntou, indignada.

– O que acha que eu estou fazendo? – Dimitri retrucou, incrédulo. – Eu estou ajudando-a! Ela veio até mim na noite em que eu deixei você em casa... Ela estava desesperada e coberta de sangue... Por um momento, eu até tinha acreditado que algo havia acontecido com a criança.

– A história do navio é verdade?

– Sim... Eu soube depois... E tudo indica que alguém próximo a ela mandou isso... O navio não tinha como ser descoberto assim... Era um de carga de madeira... Ia para Portugal... Não havia algo realmente grande para ser roubado... Sacas de trigo e madeira não são o suficiente, são? – ele a fitou, sentando-se na ponta da cama agora, seus olhos a estudando minuciosamente. Parecia que agora, ele se dera conta de que ela realmente estava ali, na sua frente... Com ele.

Ela parecia tão cansada. Realmente parecia estar em luto, sofrendo. E isso fez uma sensação agridoce crescer em seu peito. Ele queria protegê-la, mas depois do que acontecera, tudo o que conseguia pensar era que jamais conseguiria proteger a mulher que amava quando tinha tanto sangue em mãos, quando desejava a morte de outras pessoas para a proteção dela. Ela — Rosemarie Mazur, ardente e quase profana, de olhos astutos e língua afiada — era a sua salvação e ruína. Eram duas metades que caminhavam de mãos dadas, prontas para abocanhar-lhe a qualquer momento.

– Sobre o que aconteceu... Eu sinto muito – a abrupta mudança de assunto pegou-a de surpresa, fazendo a dor que ela escondia sob toda aquela camada retornar. Eles se encararam por alguns instantes. – Como você está?

Ela queria dizer que não era de sua conta, como diria para qualquer outra pessoa que perguntasse tal coisa. Mas era Dimitri perguntando... Era ele quem penetrou a armadura tão profundamente. Ele quem conseguia enxergar a dor nela claramente.

– Eu estou bem – ela disse, na defensiva. – Eu... Eu estou bem.

– Sua mãe não está... Bem, na última vez em que conversei com ela, havia uma... – ele procurou pela palavras, mas logo desistiu. – Eu não sei... Estava partida...

– Ela perdeu o marido... Sem realmente ter podido dizer que o amava... Eles brigaram na última vez em que estiveram juntos... E bem... Você sabe qual a pior parte? – ela perguntou, mas sem interesse pela resposta. – Eles brigaram por minha causa... E eu estou viva agora... Não é justo...

– Rose... – ele se levantou, aproximando-se dela, pondo uma mão em cada ombro, apertando-os levemente. – Não vamos falar sobre justiça... Não há nada honroso nisso tudo. Não há nada justo em perder seu pai. E não... Não foi sua culpa... Não foi você quem o matou... Ibrahim machucou pessoas... Depois de tudo, alguém acabaria acertando-o. Ou acertando-a.

– Isso não ajuda em nada... Isso só...

– Piora? – ele soou exasperado. – Bem, deixe-me dizer uma coisa: não foi você quem matou seu pai. Não foi você quem quis matá-lo no momento em que o viu se aproximar através daquele fogo para te pegar. Eu não sabia se você realmente iria viver, se ele a mataria ou o que... Mas eu jamais o deixaria tocar um dedo em você novamente... Desde... Desde a noite em que ele nos pegou debaixo daquela árvore... Deus... Eu quis matá-lo por tocar em você. Eu jamais aceitaria que alguém a machucasse... Mas a pior parte é que eu teria machucado você... Porque eu o teria matado sem pestanejar ou medir as consequências de tais atos. Então, deixe-me ser honesto sobre uma coisa...

Ela sabia o que ele diria em seguida. Ela podia ver explicitamente ali, escrito em seu rosto duro, enfurecido. E embora soubesse daquilo, não conseguia ouvi-lo admitir tal coisa.

– Por favor, Dimitri... Não seja – ela pediu, sentindo as lágrimas escorrerem por sua face. E a parte mais incrível naquilo era perceber que ainda conseguia chorar depois de tudo. Ainda havia lágrimas para serem derramadas.

Mas ele foi.

– Eu agradeço a Deus todos os dias por Masha tê-lo matado... Porque, eu juro por Deus, Rose... Eu jamais teria me perdoado ou permitiria que você o fizesse se eu o tivesse matado.

– Eu não o perdoaria – ela indagou.

– Eu sei... – ele murmurou. – E eu não espero que você o faça...

– Então por que me chamou para vir aqui se não esperava que eu o perdoasse?

– Porque... No fundo... – ele suspirou, acariciando agora o rosto dela com seu polegar. Sua pele macia e levemente avermelhada pelo frio. Seus lábios rachados e convidativos.

– Esperava que eu o fizesse... – ela completou e ele assentiu. – O que espera que eu faça, Belikov? O que espera que eu faça já que cada vez que acertamos alguma coisa no nosso caminho, outras milhares no derrubam? Como eu poderia confiar em alguém que mataria alguém que eu amo cegamente apenas para me proteger... Por egoísmo? Você não conseguiria me deixar partir...

Ele então se afastou, fazendo-a sentir falta de seu calor, de seu corpo próximo ao seu... Agora, ele caminhou até a janela, onde uma vela queimava, iluminando um pequeno pedaço do quarto. Seu rosto sombrio, iluminado pelo fogo.

– Quando eu era mais novo... Eu tinha um pai, Rose... Ele costumava ir para casa depois de suas longas viagens de batalhas... Ele tinha tantos demônios... Como eu... E ele exagerava na cidra e batia na minha mãe. Ele costumava bater em minhas irmãs e eu quando tentávamos impedir – seus punhos fechados com força. – Um dia, eu perguntei a minha mãe o porquê dela nunca conseguir escapar dele... De ela deixar que ele a machucasse tanto. E ela me disse que o amava demais para que ele fosse embora, independente de todos os seus erros, porém... Pedia todas as noites para que ele fosse para a guerra e nunca voltasse, mas Deus nunca a escutava. Um dia, ele a estuprou na nossa frente e prometeu que quando terminasse... Bem, faria o mesmo com minhas irmãs. Então eu decidi que se Deus não nos ajudasse, eu faria algo. E eu peguei um espeto de ferro, que ficava junto à porta e o matei. Eu assisti seu corpo cair por sobre minha mãe. E então... Ela gritou comigo, me chamou de assassino... Jamais me perdoou. Ninguém naquele lugar o fez, exceto Masha.

– Ela foi a única pessoa que me estendeu uma mão, disse que compreendia o que eu tinha feito... E que teria feito a mesma coisa por mim – ele continuou, sua voz cada vez mais profunda. Completamente perdido em suas próprias lembranças. – Nós crescemos juntos, até que conheci o Bispo Ygor... Masha e eu decidimos que nos casaríamos. Seu pai ficou contente com aquilo, mas... Bem... Eu não conseguia esquecer o que eu tinha feito. Nem ninguém ali... E então eu a deixei para seguir Ygor... Ele, como eu tinha lhe contado antes, ensinou-me a ser alguém, ajudou-me a reprimir todas essas coisas ruins em mim...

Ele então saiu de seu próprio transe, fitando-a tremer ao ouvir tudo aquilo. Nunca havia chegado tão longe na história dele. Sabia sobre ter se juntado à Guerra Santa... Sabia que havia matado pessoas próximas, mas nunca tão longe. O que a fez se perguntar se escutaria tal coisa dele se não estivessem naquele tipo de situação. Mas aquilo não a fazia querer perdoá-lo... Não conseguiria perdoar alguém simplesmente por ter sofrido e feito coisas... Ou perdoar Masha pelo simples fato de que ela o havia amparado tanto antes. Não era uma justificativa.

– Às vezes, pessoas boas fazem coisas ruins – ela disse. Aquela era a mesma frase que seu pai havia usado para com ela no passado. – Você só dirá isso? – ele perguntou-lhe, agora com um sorriso pequeno, quase exasperado.

– E o que eu deveria dizer? – perguntou ela. – O que está feito está feito, Belikov. Infelizmente, eu não vou deixar de chorar pela perda do meu pai... Mas eu estou feliz que não tenha sido você quem o matou. Mas não espere que eu o perdoe. Porque eu não vou... Talvez um dia, mas... Não hoje. Não nesse momento.

– Não estou pedindo que me perdoe – ele retrucou, soando mais grosseiro do que realmente queria soar.

– Ótimo – ela cuspiu lentamente.

– Mas Rose... – ele se aproximou, em passos largos. Segurou seu rosto delicadamente, forçando-a olhá-lo. Ele se aproximou. – Não há um dia no qual eu não queira mudar quem eu sou por você.

– Não mude... – ela sussurrou, entorpecida pelo calor dele. – Eu ainda o amarei... Porque eu jamais conseguiria apagar isso...

– É por isso que veio? – ele sussurrou, seus rostos tão próximos que compartilhavam a mesma respiração. Rose sentia seu corpo tremer, agora por conta do calor.

– Porque não houve um dia sequer que não desejei que invadisse minha casa e dissesse que estava comigo. Que me amava...

– Eu não preciso invadir lugares para você saber disso... Para estar com você... Para amar você... – ele umedeceu seus lábios, os olhos castanhos dela acompanhando sua língua que corria levemente e inconscientemente os lábios finos dele. – Mas me perdoe por não ter ido... Eu pensei...

– Pensou errado... – ela ronronou.

– Eu sempre o faço, Roza... – e então ela o beijou, segurando-se nele com tanta força que parecia que a qualquer momento, poderia cair caso ele a largasse. E Deus a ajude, pois ela iria. Seu coração batia tão rápido que poderia parar a qualquer momento, todavia, não parou. Não até que este a tivesse a deitado contra o colchão vagabundo daquela pensão, beijando-a tão intensamente quanto conseguia, quanto sua saudade o deixava.

Seus dedos suspendendo a saia de seu vestido, permitindo que ele a tocasse mais a fundo. Permitindo que fossem um só, corpo contra corpo. Alma contra alma.

[...]

O som de batidas na porta puxou-os completamente das carícias suaves que trocavam. O fogo crepitava não muito longe na lareira de pedra ali, o quarto cheirava agora a sexo e carvão.

– Por Deus! Abram essa maldita porta! – a voz de Jillian soou estridente do outro lado da porta. Dimitri levantou-se rapidamente, temendo pela garota e em poucos instantes, abriu a porta. Rose estava logo em seu encalço.

– O que aconteceu? – ele exigiu, ao abrir a porta e a garota escapulir rapidamente para dentro do quarto.

– Vocês estão bem? – Rose perguntou.

Jillian tomou algum fôlego, apoiando sua mão sobre o ventre inchado. Seus olhos encontraram o de Rose, e o que a morena viu ali quase a assustou.

– Milzis... Ela está sendo atacada... Colocaram fogo em todas as casas e... Oh, meu Deus! – ela começou a soluçar. – Eles estão vindo para cá...

– Quem está vindo? – perguntou Dimitri.

– Saqueadores... Bárbaros?! Eu não sei o que são... Mas eles nos matarão e...

– Minha mãe! – Rose exclamou, correndo em direção a porta.

– Espere! – Dimitri agarrou-lhe o braço. – Vamos todos juntos.

Ela não esperou por mais atitude deste, correu para a porta, com Jillian e ele em seu encalço, correndo em direção ao estábulo. Rose montou em seu cavalo, enquanto Dimitri e Jill dividiam outro.

Não sentiu-se preocupada pelo fato de que ela o abraçava apertado enquanto cavalgavam, ou qualquer outra coisa. Tudo o que a preocupava naquele momento era sua mãe e não conseguir chegar a tempo em casa.


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