Agonia era o sentimento prevalecente em todos os tributos desse ano.

O clima era de despedidas no centro de treinamento, representantes chorando ao ter que deixar os tributos partirem, dizendo que foi um enorme prazer poder passar esse tempo com eles, com exceção de Isla, é óbvio. Os mentores davam os últimos conselhos, os tributos que formariam alianças discutiam uma última vez suas estratégias, e os outros apenas limitavam-se a dar um aceno de cabeça em sinal de despedida, afinal, agora era cada um por si.

Os tributos foram levados por seus estilistas até seus respectivos aerodeslizadores, uma vez que um transportaria apenas as garotas, e o outro transportaria apenas os garotos.

Rastreadores foram injetados nos braços de ambos, assim, os Idealizadores poderiam localizá-los em qualquer lugar da arena.

Assim que foram largados em seus “currais”, lugares que costumavam chamar onde os tributos ficavam antes de serem enviados para a arena, foram servidos de um delicioso café da manhã, com tudo o que tinham direito, além de terem tido direito ao seu provável último banho, seu provável último penteado descente, e a última vez de vestir uma roupa limpa.

A roupa desse ano era uma calça larga e bege de tecido pesado, uma camiseta branca, para surpresa de todos os tributos, os calçados desse ano não eram botas, mas sim tênis, tênis da cor cinza escuro que facilitavam a escalada, usavam também jaquetas pretas, uma roupa extremamente confortável na realidade.

Depois de receberem palavras encorajadoras por parte dos estilistas, os tributos foram colocados em seus respectivos tubos, até que a contagem de trinta segundos fosse efetuada, depois disso, a escuridão os abraçou.

Apertaram fortemente os olhos ante a luz forte que os atingiu de supetão, mas esse não foi nem de longe o maior desespero dos 24 jovens, o maior desespero foi sem resquício de dúvidas, a grande dificuldade de respirar.

Nem um resquício da cornucópia, ótimo, os carreiristas haviam acabado de perder uma grande vantagem sobre os outros tributos.

70, 69, 68...

A contagem começava, os tributos estavam se desesperando, sem cornucópia, sem armas, sem comida, como os Idealizadores esperavam que eles lutassem dessa forma?

Foi então que perceberam, estavam em uma montanha.

45, 44, 43...

Uma montanha muito alta por sinal, e mais a frente, puderam notar um brilho dourado, era o chifre dourado, era a cornucópia, que se encontrava abaixo, abaixo de toda a montanha, de toda essa quantidade de terra e rochas, eles estavam no pico, a cornucópia encontrava-se no solo.

10, 9, 8...

Pronto, estava na hora, mas alguns segundos e estariam lutando pela própria vida.

5, 4, 3, 2, 1.

—Está aberta a 46ª Edição dos Jogos Vorazes!— a voz de Claudius Templesmith ecoou pela arena.

Mais do que em disparada os tributos saíram correndo, procurando por algum sinal de fôlego.

Tayler e Miley foram pelo lado oposto à cornucópia, desceram de mãos dadas para não se perderem, não se preocuparam com armas os suprimentos, apenas em salvar suas vidas.

O restante dos tributos seguiu em direção à cornucópia.

O grupo dos carreiristas era extremamente rápido e ágil, chegaram lá a tempo de selecionarem suas armas e os tributos a serem mortos.

Zöe não perdeu tempo em correr em direção a cornucópia para pegar uma arma, mas quando chegou ao seu objetivo, foi impedida pelo machado de Hanna, que atingiu a boca de seu estômago.

Tossindo sangue, a garota caiu ajoelhada aos pés do tributo que havia tomado seu lugar na aliança.

—Vá pro inferno— Hanna cuspiu enquanto afastava-se da garota.

John corria um pouco perdido, distraiu-se enquanto observava Trina pegar uma mochila e sair correndo rapidamente para um lugar afastado do banho de sangue, mal percebeu quando uma espada atravessou seu coração.

Abraham sorriu triunfante enquanto afastava-se de sua vítima, mas não antes de vê-lo soltar quantidades generosas de sangue pela boca e pelas narinas, para depois cair imóvel no chão.

Annie por seu lado não perdeu tempo em lançar uma flecha no alvo mais fácil, Juliano, que morreu na hora devido à flecha ter acertado sua cabeça.

Jihad por sua vez, ainda continuava em um lugar um tanto alto, estava incerto se corria para a cornucópia ou ia para o outro lado.

Decidiu por fim que iria lutar, afinal, esse havia sido o seu plano afinal, lutar, não é mesmo?

Correu para a cornucópia e avistou um machado, que estava nas mãos de Hanna, que varria o local com os olhos a procura da próxima vítima.

Percebeu que o machado já se encontrava ensanguentado, e sentiu-se furioso, quem aquela garota impertinente pensava que era afinal? Utilizando a sua arma para matar, não aquilo não ficaria daquele modo.

Foi tirado de seus devaneios quando sentiu uma dor aguda em sua nuca, olhou para trás para se deparar com Bonnie segurando um canivete com um pouco de sangue na ponta, provavelmente algo que ela conseguiu na beirada da cornucópia.

—Desgraçada!— exclamou enquanto levava os dedos para o pescoço da mesma.

Ela se debatia, mas de nada adiantava, já estava sentindo a visão ficar turva quando ouviu um grito de dor.

O grito vinha de Jihad, que tinha uma lança encravada em seu peito nesse momento.

Bonnie sentiu respingos quentes em seu rosto, e só depois foi notar ser o sangue que Jihad cuspia.

Tentou se levantar, mas foi em vão quando sentiu a mesma lança que havia sido encravada, segundos atrás, no peito de Jihad, ser encravada em sua panturrilha.

Soltou um grito de horror ao observar o sorriso presunçoso que Ramon lançava em sua direção.

Tentou rastejar para longe, mas foi impedida quando esbarrou em algo.

—Indo a algum lugar?— Hanna perguntou ironicamente.

Não houve tempo para súplicas, não houve tempo para gritos e nem para choros, apenas tempo para a lâmina do machado atravessar a garganta da menina.

Britney observou de longe Matheus se esconder em um lugar parcialmente próximo da cornucópia, provavelmente esperando o banho de sangue acabar para colocar seu plano em ação.

A garota ainda estava um tanto indecisa sobre para onde ir, só saiu de seus devaneios quando sentiu o peso de um corpo praticamente amassar o seu contra o chão.

Desesperada, a garota tentou se soltar, mas não conseguiu, o garoto que ela rapidamente conheceu por ser do Distrito 7 era consideravelmente maior e mais forte do que ela.

Ele não tardou em levar ambas as mãos para o pescoço da garota e apertá-lo com força, fazendo com que primeiramente a garota tivesse vontade de colocar todo o café da manhã para fora, para depois sentir o ar faltar em seus pulmões, porém, dessa vez a falta de ar veio dez vezes pior do que todos os 24 tributos sentiam quando estavam no pico da montanha.

De início Britney tentou resistir, se debater, mas a medida que o tempo passava, percebeu que tudo era em vão, havia chegado sua hora, ela não voltaria para casa, não reveria mais sua família, estava tudo perdido.

Sua visão estava embaçada, ela sentia que estava indo, mas foi quando o alívio de ter o ar de volta a seus pulmões a preencheu por completo que ela se atreveu a sentar-se e olhar o ambiente a sua volta.

Seu coração disparou ao perceber que Matheus estava por cima de Sam com uma faca apontada na direção de seu coração.

Sam cuspiu na cara do garoto, fazendo com que ele recuasse alguns centímetros, o que foi suficiente para que o mesmo desse um soco no rosto de Matheus.

Cansado de fazer cerimônia, Matheus tratou de logo cravar a faca no peito de Sam, dando aquela briga por encerrada.

Britney, que até então tentava recuperar o fôlego, ficou estática ao ver a frieza e a impiedade que Matheus teve ao acabar com uma vida.

—O que está esperando? Corre! — Matheus exclamou fazendo com que a garota desse um pulo de susto — anda Britney, corre, corre! — gritou puxando a garota pelo braço e empurrando-a na direção oposta ao banho de sangue.

A garota, sem ter tempo para pensar, acabou acatando a ordem dele e saiu correndo em disparada em direção à floresta, sem mesmo preocupando-se em pegar uma mochila, ela queria apenas correr o mais rápido que podia.

Trina não perdeu tempo em pegar a primeira mochila que encontrou na cornucópia e sair correndo em direção à floresta, corria com toda a velocidade que conseguia, até que percebeu que mais alguém seguia o mesmo caminho que o seu, não teve tempo de raciocinar antes que as duas se trombassem.

O choque no rosto de Milla foi indescritível, afinal, se Trina resolvesse correr atrás dela, os Idealizadores provavelmente facilitariam a morte de Milla.

Porém, para sua sorte, Trina correu para o lado oposto, fazendo com que ela ficasse desnorteada por um tempo, mas logo se pusesse a correr também.

Hunter e Jenna pegaram as coisas mais fáceis que encontraram na cornucópia e saíram correndo para o outro lado da montanha.

—Jenna, você não está entendendo, sem armas não vamos conseguir— Hunter resmungou para a garota que o puxava pelo braço desesperadamente.

—Esqueça as armas, o importante agora é salvar nossas vidas— disse em meio a um ofego, estava desesperada demais para pensar na possibilidade de ter que matar alguém.

Nathan e Lily não precisavam de uma estratégia, apenas pegaram suas mochilas e saíram correndo em direção à floresta, assim como a maioria dos tributos, mas não importava, eles só queriam se ver livres do cheiro de sangue que estava impregnado no ar.

Millie e Harry não sabiam ao certo para onde iam, visualizaram duas mochilas grandes, que pareciam conter todo o material de sobrevivência que eles precisavam, só havia um problema, elas estavam perigosamente próximas da cornucópia.

—Eu vou sozinho — Harry disse decidido.

—Nem pensar! Eu vou com você! — Millie exclamou indignada — como você vai trazer as duas mochilas? Eu sou bem capaz de ir até lá com você, nós vamos juntos!

Sem tempo nem condições de negar, o garoto acabou concordando, e os dois seguiram correndo em direção à “zona proibida”.

Annie, ao perceber os dois filhos de uma mãe que estavam provavelmente tentando desafiar a superioridade dos carreiristas, não perdeu tempo em apontar sua flecha na direção da garota, que nem ao menos percebeu o ato da loira.

—Millie, cuidado! — Harry exclamou pulando na frente do objeto cortante prestes a acertar a garota.

Millie soltou um grito estrangulado ao observar a flecha atravessando o estômago de Harry, olhou espantada para a Annie, que preparava mais uma flecha.

Sem perder mais tempo, pegou uma das mochilas e saiu correndo o mais rápido que conseguiu, atrevendo-se a olhar para trás somente no momento em que estava longe o suficiente da cornucópia.

Com a garganta fechada e lágrimas nos olhos, adentrou a floresta, tendo como uma última visão do banho de sangue o corpo caído de Harry, junto de uma flecha cravada em seu abdômen.

Acabava-se então o banho de sangue.