— Merda! — Annie exclamou assim que sua tentativa de acertar o crânio de Millie falhou.

— Acalme-se garota — Hanna pediu enquanto encostava-se na superfície de metal da cornucópia — ela é uma franguinha, a gente apaga ela em menos de um minuto.

Annie bufou enquanto se dirigia para o lugar onde o corpo caído de Millie deveria se encontrar e pegou a flecha que utilizou para tentar matar a garota.

— Pelo menos esse aí você conseguiu matar! — Abraham exclamou apontando para o corpo caído e ensanguentado de Harry.

Ela sorriu satisfeita ao observar sua última vítima.

Clary encontrava-se sentada no gramado, observando a montanha à sua frente.

— Eu vi dois deles correndo para o outro lado — Thomas sussurrou ao seu lado dando-lhe um susto.

— Eu também vi, eles foram bem espertos — murmurou desviando seu olhar para seus pés, ainda não tinha coragem de encarar Thomas depois da última noite.

— Sim, eles foram — o garoto disse de um modo um tanto distante.

A verdade é que ambos haviam sido impulsivos na última noite, fizeram algo irreversível, agora um dos dois iria morrer, e quem sabe não os dois? E por mais que não estivessem perdidamente apaixonados, existia algum sentimento especial após terem ficado íntimos da forma que haviam ficado ontem.

— Isso tudo foi para se mostrar superior? — Abraham sussurrou contra o pescoço de Hanna, fazendo a garota dar um pulo e colocar a mão contra o peito devido ao susto — matou Zöe apenas para provar que ela nunca deveria ter negado a aliança?

— Não seja ridículo Abraham — a garota proferiu dando um passo a frente — e eu quero que você mantenha uma distância segura de mim.

— Medo do que? Não resistir? — provocou enlaçando a cintura da garota e puxando-a para trás, fazendo com que os corpos se chocassem — não finja que não gostou do beijo Hanna, você sabe que queria muito mais — sussurrou com a voz rouca, fazendo a garota morder o lábio inferior e reprimir um gemido.

— Me larga — rosnou tentando inutilmente se ver livre do aperto do garoto.

Ele bufou irritado e se afastou vagarosamente, roçando suas mãos propositalmente nas curvas da garota.

—Talvez devamos montar o acampamento para descansarmos um pouco — Ramon sugeriu tirando os cabelos loiros dos olhos — afinal, temos que estar dispostos para a caçada de hoje à noite.

— Ramon tem razão! — Annie exclamou voltando a se aproximar do grupo — eu mal posso esperar para botar minhas mãos naquela uma do nove.

—E eu mal posso esperar para acabar lenta e dolorosamente com a vida de cada um daqueles nojentos do onze — e do quatro completou em seu pensamento, nem se dando ao trabalho de perceber que havia se esquecido completamente que deveria estar querendo ver o sangue de Abraham derramado tanto como queria ver o de Clary, Thomas, Hunter e Jenna.

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Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete.

Esses foram o número de tiros de canhão que ecoaram pela arena assim que começava a escurecer.

— Sete — Miley murmurou mais para si mesma do que para Tayler.

— E nós sobrevivemos — o garoto sussurrou sem deixar de dar um sorriso mínimo.

Sua vontade era de poder ir para sua casa somente para esfregar na cara de seu pai que ainda estava vivo, mas obviamente, isso é impossível.

— Quem tanto você acha que morreu? — a garota perguntou claramente tentando puxar assunto.

— Não sei — Tayler admitiu suspirando — mas estou feliz que ainda estejamos vivos.

— Eu também — Miley murmurou corando levemente, o beijo que eles haviam trocado no dia anterior ainda permanecia em sua cabeça.

Eles correram por um bom tempo depois de descerem da montanha, mas como não são feitos de ferro se cansaram, passando a andar, e, aliás, como já haviam se afastado bastante do banho de sangue não havia mas a necessidade de correr.

— Precisamos montar acampamento — Tayler pronunciou-se fazendo Miley dirigir seu olhar para ele.

— Aqui no chão? — perguntou um pouco amedrontada — tem certeza de que não é arriscado?

— Não vamos acampar no chão — falou como se fosse óbvio — vamos acampar em uma dessas árvores.

— O que? — Miley vociferou recebendo um olhar reprovativo de Tayler devido ao aumento do seu tom de voz — não está mesmo pensando que eu vou subir nisso aí, está?

— Você vai subir — o garoto rebateu — é como você mesma disse, é arriscado montar acampamento aqui em baixo.

— Mas podemos procurar tipo, sei lá, uma gruta — insistiu dando um sorriso torto.

— Está escurecendo Miley — retorquiu — quer passar a noite procurando um abrigo? Lembre-se que a qualquer momento algum outro tributo pode aparecer e...

— Tudo bem — resmungou — nós passamos a noite em uma árvore.

Ele sorriu vitorioso enquanto selecionava uma das árvores, escolhendo uma bem alta e com uma copa cheia, que provavelmente os esconderia bem.

— Eu vou subir na frente, copie exatamente meus passos Miles — pediu chamando-a carinhosamente pelo apelido que havia dado para ela alguns dias atrás.

Ela apenas assentiu e fez exatamente o que ele mandou, copiando cada passo que ele dava, surpreendendo-se por ainda estar viva ao atingir seu objetivo, tendo escorregado apenas uma vez, tendo sorte de conseguir se agarrar a um galho próximo a ela, e tendo também a sorte de ter Tayler para ajudá-la a se recuperar do susto e voltar a escalar.

No fim das contas, ela havia acabado apenas com um corte na sua mão direita.

— Meu Deus — murmurou arregalando os olhos ao observar a mão ensanguentada.

— Acalme-se — sussurrou pegando a mão da garota para analisar melhor o ferimento — o corte não foi fundo, provavelmente vai cicatrizar rápido, só temos que tomar cuidado para não infeccionar — tranquilizou-a puxando a barra da camiseta para limpar o sangue e um pouco da sujeira do tronco da árvore que se encontrava ali.

— Obrigada — murmurou sorrindo timidamente, observando como o garoto parecia concentrado em realizar aquela simples tarefa.

Só então foram notar algo, seus estômagos roncavam e suas línguas estavam secas.

— Não pegamos nada na cornucópia — Miley choramingou deixando a cabeça tombar para o lado, estava realmente cansada.

— Tudo bem Miley, creio que possamos aguentar até amanhã — suspirou fechando os olhos e respirando fundo — agora durma, parece cansada.

— E você, não vai dormir? — indagou franzindo o cenho.

— Estou bem.

— Tay, você precisa descansar.

— Miley, eu tenho que ficar de guarda, e se alguém aparecer? — justificou-se.

— Achei que tivéssemos escolhido a árvore justamente pelo fato de que estaríamos protegidos — rebateu.

— Temos que garantir.

— Tudo bem — murmurou dando-se por vencida — só me prometa que vai me acordar quando estiver cansado.

— Eu prometo — garantiu enquanto tentava achar uma posição confortável — pode se encostar a mim se quiser.

Ela pareceu ponderar por um minuto, aquilo parecia um tanto errado, não é como se ela fosse fazer algo a mais do que dormir, mas aquilo não a deixava completamente confortável.

“Você já tem quinze anos Miley, pare de agir como uma garotinha de dez” uma voz martelou em seu subconsciente, fazendo-a assentir e encostar sua cabeça no ombro de Tayler, enquanto o mesmo passava os braços ao redor de seus ombros.

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Millie encontrava-se chorando compulsivamente.

Ainda não conseguia acreditar no que havia acontecido, em um segundo Harry estava correndo perfeitamente bem ao seu lado, e no outro, estava caído no chão, com uma lança atravessada em seu corpo.

Queria gritar, extravasar toda sua raiva e frustração, mas não podia, afinal, havia outros dezesseis tributos que poderiam matá-la rapidamente no estado de choque em que ela se encontrava.

O som de seu choro foi abafado pelo hino da Capital, fazendo com que ela voltasse sua atenção ao céu.

O símbolo da capital apareceu, e logo depois os rostos dos tributos que haviam morrido na cornucópia.

Zöe White – Distrito 2

Juliano Stanford – Distrito 6

Sam DeCray – Distrito 7

Bonnie Alerman – Distrito 8

John Macovesk – Distrito 8

Harry Macornigt – Distrito 9

Jihad Galloway – Distrito 10

O hino tocou novamente, e as luzes que se encontravam no céu sumiram, fazendo com que a única iluminação fosse as luzes das estrelas.

Mordeu o lábio inferior tentando conter o choro, afinal, ela ainda estava nesse jogo, e ainda queria voltar para casa, portanto, tinha que ser forte.

Decidiu ver o que tinha dentro da mochila que conseguiu na cornucópia, e suspirou de alívio ao perceber que havia comida ali.

Um pacote de biscoitos, um pacote de frutas desidratadas, uma garrafa de água (embora essa estivesse vazia), um saco de dormir e um kit de primeiros socorros.

— Pelo menos alguma coisa boa em ter ido até a beirada da cornucópia — murmurou inaudivelmente com a voz chorosa.

Ao menos por enquanto ela poderia sobreviver.