O Lado Cinzento escrita por Karinchan


Capítulo 16
Surpresas




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15.Surpresas

“Bastará nunca sermos injustos para estarmos sempre inocentes?”

Jean Jacques Rousseau

- Não pode ser.

A frase dita com extremo choque foi ignorada pelas pessoas à volta porque estas estavam ocupadas a apontar e a olhar para a pessoa que a tinha deixado completamente estupefacta.

O Harry Potter.

Ou Harry Green como o tinha conhecido. Ou até como Harry Smith, como sabia que ele era chamado depois de ter sido adotado.

O Harry, o seu Harry, era o Harry Potter?

Aquela criança, simpática, justa, calada e que parecia ser demasiado sábia para a idade, era o Harry Potter? O herói que fez todos os bruxos chorarem quando morreu e que agora estava a deixar a população bruxa maluca porque queriam saber o que aconteceu naquele intervalo de tempo?

Eles achavam mesmo que ele tinha sido criado por um bruxo das trevas e ia ser o sucessor? Ou que era o próximo Merlim e esteve escondido este tempo todo em treino, para proteger a população bruxa quando precisasse?

Se os seus olhos não a enganavam ele era realmente corajoso, forte e justo mas a sua infância não tinha passado por nada disso. Ele nem devia de saber como era a magia. Realmente, o seu Harry não sabia o que era magia.

Os seus olhos estavam a enganá-la!

Eles tinham que estar porque apesar do seu Harry ter cabelo preto rebelde, uma cicatriz em forma de raio na testa, a personalidade que o levaria a querer salvar os estudantes, ele não sabia o que era magia, nem conseguia fazer as coisas que ela conseguia fazer e lhe tinha dito em segredo.

Ou será que isto tudo tinha sido um plano e ele simplesmente não confiava nela para contar a verdade? Afinal, ele não confiava em ninguém…

Não, ele tinha estado num orfanato, disso ela tinha a certeza e depois tinha sido adoptado por uma família e a partir dai, eles nunca mais comunicaram. No entanto, não fazia mal porque ela sabia que ele estava bem e isso era o importante.

Ela fechou os olhos tentando concentrar-se e pensar com mais clareza.

O Harry Green estava num orfanato e tinha sido adoptado mas não sabia nada de magia.

O Harry Potter, pelo que o Ron e o Neville contavam sabia fazer magia espetacular, tinha ficado chocado depois da luta e tinha uma cicatriz na testa em forma de raio, como o outro Harry.

Seria possível que fossem o mesmo? A dúvida instalou-se na sua mente quando os ouviu falar sobre o Harry Potter e sentiu o seu coração bater esperançoso, pensado que ia recuperar o seu amigo de infância, a única pessoa de quem sentia falta, relativamente aquela escola. No entanto, isso era impossível porque o seu Harry, que era o irmão que nunca teve, não era o Harry Potter.

Não podia ser! Porque se fosse então tinha acontecido alguma coisa para fazer o Harry ir para o orfanato e todos os bruxos pensaram que ele estava morto. Se fosse então não havia motivo para ele ter sofrido o que sofreu por estar no orfanato. Se fosse então além de todo o azar que teve na sua vida ainda precisava de viver para as expectativas dos bruxos e a paz, que ela esperava sinceramente que ele tivesse agora, na nova família ia desaparecer.

Sentiu uma vontade de se aproximar dele, para confirmar se ele era realmente o Harry Green mas essa ideia desapareceu mal veio porque mesmo que fosse, o Harry nunca se iria lembrar dela… Ela tinha sido só uma amiga da infância que desapareceu quando mudou de sítio e foi viver com a nova família.

- Hermione, anda sentar-te. – Ouviu a voz do Ron chamar.

Ela suspirou e seguiu-o. Aqueles eram os seus amigos, que a tinham salvo de um Troll no primeiro ano. O Harry Green estava no seu passado e apesar de ela ainda gostar dele como um irmão perdido, ela sabia que ele nunca voltaria ao seu presente e, por isso, calou os seus pensamentos, honrando a memória do menino que morreu naquele fatídico dia.

---OLC---

Quando eu finalmente cheguei a casa, sentei-me na mesa da cozinha, com o Sirius, o James e a Lily, para lanchar. A Rose e o Charles tinham saído com a Serena e o Remus para a vizinhança Muggle para se distraírem e eu aproveitei esta oportunidade para os questionar.

- O que é que o Ministro queria dizer com a homenagem?

Eu vi a troca de olhares entre eles e só isso deu-me a resposta que eu queria. Eles não queriam que eu soubesse!

- Harry, tu não podes ligar ao que ele diz.

Eu estreitei os olhos para o Sirius. Ele não me ia fazer de parvo!

- Ele queria que eu fosse homenageado pelo que fiz, não era?

O James suspirou e eu vi a Lily desviar o olhar para a porta enquanto bebia da sua chávena. Só o Sirius continuava a olhar para mim numa cara sem expressão.

- Não é bem isso, ele…

- Pode contar-lhe a verdade Sirius. Ele aguenta. – Murmurou o James finalmente olhando para mim com pesar.

Eu suspirei com alívio, notando que havia alguém ali que achava que eu já era crescidinho o suficiente para pararem de me esconder coisas.

- Sim, Harry, ele queria. – Disse o Sirius olhando para mim cansado. – Mas nós sabemos o que tu sentes sobre o acontecimento e nunca te iriamos fazer passar por essa homenagem.

Eu assenti, aliviado por eles pelo menos não quererem que eu fosse uma marionete para eles usarem na imprensa.

- Mas porque é que ele queria tanto que isso acontecesse? – Eu insisti não percebendo porque é que eu é que tinha que ser homenageado. Os estudantes também sofreram e quem salvou o dia foi o James, não fui eu...

Vi outra troca de olhares entre os três adultos e só quando o James assentiu para os outros dois é que, desta vez a Lily, falou.

- Harry, tu… - ela molhou os lábios com a língua, aparentemente, insegura. – Tu – ela voltou a insistir, tentando arranjar as palavras – tens que perceber que és uma coisa nova para o mundo bruxo. Tu fizeste o que ninguém acreditava ser possível, sobreviver à maldição da morte e…

- Como é que sabem que eu sobrevivi? Vocês não estavam lá para ver e, segundo vocês, só eu ou o Voldemort é que assistimos a tudo. Eu não me lembro como é normal – disse, decidindo ignorar os estranhos sonhos que andei a ter – e não me parece que o Voldemort tenha andado a dizer.

- Existe mais uma pessoa que sabe tudo, o Peter. – O James disse, interrompendo a Lily, com raiva. Eu olhei para ele espantando por demonstrar tanta emoção, tanta que ele só continuou depois de suspirar e remexer no cabelo, acalmando-se. – Mas nós sabemos isto porque a maldição da morte é facilmente detetada e nós tínhamos várias proteções em ti. Nós sentimos quando tu foste atacado e esse foi outro motivo para não acreditarmos que tinhas sobrevivido.

Eu desviei o olhar dele, não aguentando ver a dor nos olhos dele. Dor e culpa.

- Mas mesmo assim, o que é que então me fez especial para sobreviver quando nunca ninguém sobreviveu?

Algo estava muito errado porque a Lily, que antes tinha os seus olhos fixos em mim, desviou o olhar rapidamente e começou a observar a caneca como se a sua vida depende disso.

- Não se sabe muito bem. – Disse James olhando de lado para o Sirius. – Afinal, tu és o único caso conhecido.

Eu enruguei a testa, percebendo que estava alguma informação a fugir de mim. Eu não era especial e se eles estavam a pensar que me ia acreditar nisso, como queriam dar a entender, então eram mesmo idiotas e não me conheciam minimamente.

- Teve que acontecer alguma coisa. – Eu insisti. – E vocês sabem o que foi. – Eu disse e a cara de culpados deles, deu-me a confirmação que eu precisava. – O que foi?

Houve um silêncio desconfortável, onde eu vi a Lily apertar cada vez mais a caneca, o Sirius olhar para as mãos, sem vontade de falar e o James era o único que parecia corajoso o suficiente para olhar para mim.

- Nós não sabemos… - O James começou a dizer, olhando de uma forma que parecia que estava a implorar para eu parar mas calou-se quando a Lily levantou-se brusca e saiu da cozinha.

Eu pisquei os olhos, não esperando vê-la levantar-se, quase a correr. Observei em silêncio enquanto vi o Sirius olhar para a porta, por onde ela saiu, suspirar e levantar-se também, atrás dela.

Eu olhei para o James, o único que tinha ficado comigo e fiquei espantando ao ver a expressão que ele tinha na face, olhando para a porta por onde o Sirius e a Lily saíram…

Dor.

Uma dor tão grande que o fazia parecer mais velho, mostrando todas as suas rugas de expressão e ficar sem o brilho normal dos seus olhos.

O que é que eles tinham feito?

- O que é que vocês fizeram? – Eu perguntei, mostrando o meu medo real da possível resposta dele.

O James fechou os olhos com dor e quando os voltou a abrir, para olhar para mim, estavam outra vez sem força.

- Eu não fiz nada, Harry mas a noite do teu desaparecimento é um assunto sensível para a tua mãe. O Sirius só foi acalmá-la.

Ele esperava mesmo que eu me acreditasse naquilo?

- Tu disseste que me podiam contar tudo.

Ele teve a audácia de fazer a coisa que eu mais odiava que me fizessem, sorriu para mim, num dos sorrisos mais fingidos que eu já o tinha visto fazer e mais uma vez tentou mentir-me.

- E contamos mas não existe nada aqui para te dizer. Acredita-te em mim, Harry.

Eu mordi a parte de dentro da bochecha, tentando controlar a minha vontade de lhe responder. O que é que eles fizeram que tinham tanta vergonha para contar? Tinham morto alguém? Chantageado?

- Se vocês querem que eu confie em vocês não é me escondendo coisas que vão conseguir. – Eu murmurei, levantando-me e saindo para a rua irritado, não ouvindo por isso o sussurro do James.

- E também não é contando os nossos demónios pessoais.

---OLC---

- Ele é tão estranho. – O Billy murmurou com divertimento e um sentimento de superioridade tão grande que eu só o queria estrangular com as minhas próprias mãos.

Eu continuei a observar a cobra enrolar-se, parecendo em paz. Ela era a minha única amiga. Todos os outros sentiam-se sempre superiores e só me queriam prejudicar porque para eles eu era fraco visto que estava isolado. Mas esse era o erro deles.

Não era o número de pessoas que nos apoiavam que contava, era o poder e eu era mais poderoso do que eles todos juntos! Eles iriam ver, a minha vingança ia ser lenta e dolorosa e no final eu iria ter muito prazer em vê-los enrolados no chão, a chorarem, como eles queriam que eu fizesse todos os dias. Mas eu não fazia…

Porque eu era forte!

- Madre, está ali a cobra! Ela vai fazer-nos mal, mate-a. – Murmurou o mesmo menino, gorducho e com uns olhos castanhos brilhantes que brilhavam com prazer ao ver a minha face de pânico para a Madre que vinha ofegante, provavelmente, por causa do menino que vinha à atrás dela, com um sorriso arrogante para mim.

Ela não podia morrer!

- Foge. – Eu sibilei para ela e vi-a levantar a cabeça na minha direção, ouvindo.

Ouvi os passos e olhei para trás a tempo de ver a Madre com uma pá pronta para matá-la. Eles tinham planeado aquilo porque sabiam que eu gostava dela. Não era por coincidência que a Madre estava com uma pá na mão pronta a matá-la, como se me fosse salvar da cobra, da minha cobra.

- Foge. – Repeti para ela que estava só a observar-me. – Eles vão-te matar. FOGE! – Sibilei mais forte, no entanto, não foi a tempo porque a Madre estava num segundo ao pé de mim, tirando-me do caminho com uma mão enquanto com a outra cortava a cobra a meio.

A minha única amiga morta pelas mãos daqueles insignificantes.

- Ela era minha. – Eu sibilei, levantando-me com tanto ódio que vi os olhos da Madre ficarem com medo. Isso era bom, ela tinha que perceber que quem mandava ali era eu!

- Animais não são permitidos aqui Tom. – Ela murmurou. – É proibido e ainda por cima se forem cobras. Desculpa, mas era necessário.

Era necessário matar assim os animais? Para mostrar que se era superior?

Eu estreitei os olhos ameaçadoramente e andei de volta ao orfanato. No caminho olhei para o menino e vi o sorriso arrogante dele na minha direcção. Eles eram todos iguais, umas moscas que precisavam de ser esmagadas e eu senti um sorriso frio formar-se na minha cara quanto um plano se formou. Ele também tinha um animal escondido…

- Harry, Harry, ver as memórias dos outros pode ser considerado falta de educação.

Eu pisquei os olhos tentando-os ajustar aquela sala escura, comparativamente com o dia ensolarado que estava no meu sonho. Olhei em volta e espantei-me quando reparei que estava numa biblioteca, com prateleiras cheias de livro, uma lareira, com sofás à volta dela e de uma mesa e num canto estava uma secretária.

Olhei para o dono da voz, que estava sentado numa poltrona luxuosa e apesar de não o reconhecer, eu senti que o conhecia. Ele tinha olhos vermelhos que pareciam ler a minha alma, cabelos pretos, num penteado bem arranjado e uma textura pálida de pele. Ele era bonito, parecia ser uma pessoa carismática mas o meu corpo não me indicava isso. A sensação de falta de segurança, os meus pêlos todos se eriçarem e o meu coração bater como se não houvesse amanhã só me faziam ter uma certeza.

Eu estava em perigo.

- Acalma-te. – Ele disse com uma voz calma, quase hipnotizante. – Eu não te vou fazer mal. – Ele abriu um sorriso que era para ser caloroso mas só me fez lembrar um leão a observar a presa.

- Onde é que eu estou? – Perguntei, pensando como é que eu tinha ido parar no meio daquela biblioteca mesmo à frente daquele homem. – E quem és tu?

Ele abriu ainda mais o sorriso mostrando-me todos os seus dentes e eu fiquei paralisado ao ouvi-lo.

- Eu chamo-me Tom Riddle – disse inclinando a cabeça para o lado, estudando-me e rindo-se quando viu o meu choque.

Eu engoli em seco, tentando despertar da minha paralisia. Tom Riddle??? Ele era o… não podia… como é que eu tinha ido parar ali mesmo à frente do…

- Voldemort?

- Eu mesmo. – Ele murmurou levantando-se. – É um grande prazer, Harry Potter.


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