O Lado Cinzento escrita por Karinchan


Capítulo 15
Não é um adeus é um até já




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14. Não é um adeus é um até já

“Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito.”

William Shakespeare

– Tens a certeza de que queres fazer isto?

Eu suspirei, não precisando de me virar para saber que o James tinha uma cara preocupada. O seu tom de voz demonstrava claramente isso…

– Harry, eles vão-te reconhecer e…

– E eu sei disso tudo! – Eu disse, virando-me finalmente para ele e vi-o contrair-se, pelo meu tom mais duro. – Eu sei que o mundo mágico está maluco a querer saber informações minhas, eu sei que o Ministro da Magia está atrás de mim, para me interrogar, eu sei que todas as pessoas me vão reconhecer e sei que pode ser uma coisa perigosa mas eu tenho que ir! Eu devo-lhe pelo menos isso.

Ele fechou os olhos e apertou o nariz, tentando acalmar-se. As férias do Natal da Natalie tinham acabado e ela ia retornar a Hogwarts hoje. Ela, os outros alunos e todas as pessoas que quisessem homenagear o Creevey, o menino que morreu por minha causa…

– Harry, - ele disse mais vagarosamente, tentando controlar os nervos – tu não te podes sentir culpado disso. Não é culpa tua.

Eu ri pelo nariz, sem achar graça nenhuma.

– E é de quem?

– Do Voldemort! Ou então se queres culpar alguém, culpa-me a mim mas nunca a ti! – Ele disse agarrando-me pelos ombros, forçando-me a olhar para os olhos castanhos dele, iguais aos do Charles.

– Porquê? Por seres pai do culpado? – Eu respondi-lhe, falando cada vez mais alto e provavelmente chamando a atenção do resto dos moradores para o meu quarto, onde ele me tinha seguido, só para eu não ir à homenagem.

– Por eu ser o culpado! – Ele disse e para meu espanto não me conseguiu encarar e olhou para o chão com culpa…

Culpa?

Ele, o James Potter, Auror Chefe, que salvou o dia, culpava-se?

Com uma culpa tão grande que estava a olhar para o chão, não aguentando ver a minha reação porque esperava que eu estivesse chocado a olhar para ele?

Oh, eu estava chocado mas não era por isso… era por ele ser tão idiota!

De repente, todo o comportamento estranho dele fez sentido. Ele não conseguir estar muito tempo na minha presença, andar a evitar os outros habitantes, passar cada vez mais tempo no trabalho. Eu pensei que fosse normal, que ele fosse um pai mais ausente mas pelos vistos não era por isso. Era culpa! Culpa! Por uma coisa que eu tinha feito…

– Não és o culpado. – Eu disse tão suavemente que o vi levantar a cabeça por reflexo. – Fizeste o possível e conseguiste salvar todos os alunos quando eu desmaiei. Se não fosses tu teríamos morrido todos.

Eu disse, pela primeira vez pensando com clareza sobre aquele dia. Ele tinha-me salvado… pela segunda vez. Uma do Louis e outra dos Devoradores da Morte.

O meu pai tinha-me salvo, arriscando a sua própria vida.

É claro que isso era o trabalho dele mas mesmo assim uma pessoa tinha-se arriscado, para me salvar. A mim! Um zé-ninguém, ou o menino-que-sobreviveu se o relance que eu vi do jornal, naquela manhã, sobre mim, queria dizer alguma coisa…

– Mas aquilo nunca devia ter acontecido. – Ele murmurou entre dentes com tanta dor que até eu senti. – Tu nunca devias ter desaparecido, o Charles nunca devia ter sido raptado, o ataque a Hogwarts não poderia ter acontecido. É tudo culpa minha, não tua! – Ele murmurou e para meu espanto largou-me os ombros e ficou com os braços ao lado do torso, com as mãos fechadas, com tanta força que eu via os nós dos dedos esbranquiçarem.

Ele estava a sofrer.

Pelo mesmo motivo que eu ainda tinha pesadelos à noite.

Por não conseguir salvar todos…

Ódio por si próprio.

Raiva pelo mundo.

Culpa.

Estes eram os sentimentos que ele tinha e eu sabia disto porque nós eramos iguais. Não só de aparência física mas também na parte psicológica. Nós os dois estávamos a sofrer e grande parte do sofrimento dele era por minha causa.

O meu ódio, a minha raiva e a minha culpa estavam noutra pessoa por minha causa.

Mordi o lábio tentando controlar as minhas emoções e devo ter passado uma impressão errada porque o James virou as costas para mim, completamente desfeito.

Ódio, raiva, culpa… Eu só conseguia pensar naqueles sentimentos enquanto o via andar em direção à porta.

Ódio…

– Porquê? – Eu murmurei entre soluços, agarrando ainda mais as minhas pernas contra o meu peito.

Porque não me defendiam? Porque não me tentavam ajudar? Porque não faziam nada?? Eles não eram a minha família? Então porque é que o Louis me espancava? Porque é que a Serena não me defendia? PORQUÊ?

Raiva…

– Vocês só são uns órfãos. – Ouvi a voz desdenhosa da criança à minha frente, de braços cruzados. – Festejem terem ganho este joguinho porque é a única coisa que podem festejar. Afinal, nós temos os nossos pais ali à espera que nós vamos ter com eles para nos abraçarem e o que é que vocês têm? Pessoas pagas para fingirem que gostam de vocês.

Culpa…

– Avada Kevadra. – Ouvi-a dizer e como que hipnotizado por aquele nome olhei para a janela para ver uma visão que nunca mais me ia esquecer. Aquele rapaz, de cabelos castanhos, com a idade aproximada da Rose, ser acertado por um feitiço verde e cair no chão sem vida.

Ódio, raiva e culpa… os sentimentos mortais para terem contra si próprio.

– Harry? – Ouvi a voz infantil perguntar, entrando sem tentar fazer barulho. – Harry! – Ela meio gritou correndo até mim e para meu espanto, deitou-se ao meu lado e abraçou-me por trás. – Está tudo bem… está tudo bem. – Ele foi murmurando no meu ouvido.

Aquela voz, ainda infantil, murmurando como se fosse uma cantiga para dormir, sem perguntas, sem más intenções, só me tentando ajudar fez-me esquecer da minha dor e adormecer.

A Rose tinha-me salvo anos atrás daqueles sentimentos, do pior daqueles sentimentos e eu só percebi naquele instante que a única pessoa que podia fazer isso pelo James era eu.

Eu podia estar ressentido com ele. Eu podia ainda não o tratar como pai mas ele era humano e precisava de ajuda. Eu nunca não ajudava uma pessoa e ele não iria ser o primeiro.

– Jame-não, pai. – Eu chamei e vi-o congelar na porta, de costas para mim. – Sim, pai. – Eu murmurei mais uma vez, sentido aquelas palavras saírem da minha boca tão naturalmente, sem cinismos. Era estranho… - Pai. – Eu chamei com mais determinação e vi-o olhar para trás, com a boca ligeiramente entreaberta e os olhos arregalados e eu simplesmente sorri.

– S-sim? – Ele perguntou, claramente sem saber como agir o que me fez aumentar ainda mais o sorriso.

– Pai, - eu disse, saboreando a palavra enquanto andava na direção dele. – não te culpes. A culpa não é tua. – Eu disse parando ao lado dele e olhando directamente para os olhos castanhos dele que me observavam como se fosse um fantasma. – A culpa é do Voldemort e eu estou-te tremendamente agradecido pelo teu salvamento, tanto na casa do Louis como em Hogwarts. Tu salvaste-me… – Eu murmurei sorrindo ainda mais. – Pai.

Eu não sei o que me deu para fazer aquilo… quer dizer, sei. Os pesadelos, a emoção de ter que ir ao funeral, o hábito de estar com eles todos, fizeram-me dizer aquilo só para o ver sorrir e magicamente, resultou.

Ele sorriu e para meu espanto tinha inclusive lágrimas nos olhos.

– Filho. – Ele murmurou e para meu completo espanto abraçou-me, apertando-me com força.

Eu senti-me encolher, por reflexo mas lembrei-me dos sentimentos que ele tinha.

Ódio, raiva e culpa. Ele não podia sentir aquilo, ninguém merecia sentir aquilo e foi isso que me levou a abraçá-lo de volta, sentindo-o relaxar no abraço.

– Harry, obrigado.

Eu senti o meu sorriso alargar-se ainda mais e fechei os olhos sem pensar, só sentindo aquele abraço, de um pai para um filho e de um filho para um pai.

–--OLC---

Eu mordi o lábio, nervoso, pensando se tinha tomado a decisão correta. Mal tinha chegado a Hogwarts com o James, a Lily, o Sirius e a Natalie e todos os presentes pararam e olharam para mim como se a minha chegada tivesse sido anunciada por um apresentador.

Eu apertei o nariz, tentando acalmar o meu coração e senti uma mão apertar o meu braço. Vi espantado a Lily ficar ao meu lado, mandando-me um sorriso bondoso. Como se fossem só um, a multidão pareceu despertar ao ver esse gesto e de repente, todo o espaço ficou cheio de sussurros enquanto eles falavam entre si e alguns apontavam, inclusive, para mim.

Eu fechei os olhos e tentei meter a minha melhor poker face abrindo os olhos e deparando-me com a mesma realidade que tinha assistido segundos antes.

Sussurros…

Dedos apontados para mim…

Eu era o centro de atenção, não era aquela pequena saliência que tinha um pano branco a tapar. Senti todo o meu corpo enrijecer, fazendo de tudo para não demonstrar as minhas emoções. A Lily deve ter sentido a minha mudança porque sussurrou logo:

– Tem calma.

Eu assenti e finalmente despertei daquela atenção toda por um rapaz loiro, estranhamente familiar, que acenou para a Natalie e ela despediu-se rapidamente do Sirius e foi ter com ele.

– Malfoy… - Ouvi o Sirius sussurrar com aparente ódio, estreitando os olhos ameaçadoramente para ele.

Eu tive uma estranha simpatia pelo futuro namorado da Natalie se aquela reação dele queria dizer alguma coisa… No entanto, este pequeno drama fez-me despertar e eu apanhei-me mais uma vez a observar o castelo.

Ele era realmente magnífico, digno de um conto de cavaleiros.

À minha volta encontravam-se as pessoas mais variadas, os alunos vestidos com o traje de Hogwarts, os adultos variando entre roupas totalmente pretas ou brancas. Eu vesti branco, símbolo de paz e os outros também acabaram por escolher a mesma cor. No entanto, vendo que o branco ressaltava ainda mais as pessoas que o vestiam arrependi-me de não ter escolhido preto.

Havia bancos espalhados pelo jardim onde muitas pessoas estavam sentadas e à frente encontrava-se uma pequena saliência tapada por um pano branco. Através de um inquérito feito por mim ao Sirius consegui descobrir que era uma estátua pequena de uma câmara fotográfica e uma fotografia dele ao lado, a sorrir. Por baixo dizia: Em honra a Dennis Creevey, um amigo energético, um estudante admirável, um filho perfeito. Não é um adeus é um até já.

Senti a minha garganta apertar, ao lembrar-me do olhar assombrado do Sirius quando me disse aquelas palavras e só despertei porque ouvi a voz chateada do James.

– Agora não, Ministro.

Olhei para o homem corpulento, com cabelo cinzento, vestido completamente de preto que tinha parado à minha frente. Ele não ligou ao James, focando os seus olhos em mim e o sorriso que me deu, frio, fez-me ter um arrepio.

– Finalmente, consigo conhecer o famoso Harry Potter. – Ele disse, parecendo cada vez mais um gato a olhar para a sua presa. – Cornelius Fudge. – Ele apresentou-se, empurrando o James sem cerimónia e estendendo a sua mão para mim.

Eu pisquei os olhos e, por um momento, desejei não aceitar a mão, só para o ver perder aquele olhar ganancioso, como se eu fosse um objeto mas sabia que isso só me daria problemas e por isso, aceitei a mão.

– Harry Potter.

Houve um silêncio de um segundo, onde eu apertei as mãos com ele, no entanto, mal larguei a mão do ministro o James falou:

– Ministro, já conheceu o meu filho. Acho que podemos prosseguir com a cerimónia. – Ele disse, querendo pôr-se no meio.

O Ministro simplesmente olhou para ele como se fosse uma mosca.

– Potter, eu estou a ter uma conversa inocente com o teu filho. Não é como se estivesse a fazer alguma coisa de mal.

O Sirius, que tinha ficado à minha frente do outro lado, fez um som muito parecido com um grunhido, o que me fez ter a certeza que ter visto a sua filha a falar com um rapaz mexeu com a sua capacidade intelectual. A Lily, como que em sintonia puxou-me um passo para trás, pelo braço e eu vi-me completamente rodeado.

A Lily ao meu lado, o James e o Sirius mais à frente, de cada lado do ministro e este mesmo à minha frente, desta vez mais afastado.

– Eu não lhe vou fazer mal. – Ele disse, olhando para o Sirius e o James como se eles fossem malucos.

– Então deixe o meu filho assistir à cerimónia em paz.

– Ele devia de ser homenageado! Ainda não percebi porque não aceitam. Se vocês vissem o número de cartas que recebi a pedir para ele ser...

– Não! – O James cortou-o com um olhar tão duro que até eu tive vontade de me afastar dele.

Homenageado?

Eu? Que fui o culpado? Só porque para eles eu era algum tipo estranho de herói?

– Ministro. – Ouvi uma voz chamar casualmente e senti o meu corpo descontrair automaticamente ao ver o Dumbledore chegar, com um sorriso amigável apesar de não estar com o seu habitual brilho no olhar ou as suas roupas extravagantes. Estava como eu, vestido num simples fato branco. – Acho que chegou a hora de começarmos. – Ele olhou de relance para mim e acenou-me, agarrando suavemente o braço do ministro e levando-o para os bancos da frente.

– Vamos procurar um lugar para nos sentar. – Disse a Lily, levando-me para um dos bancos mais afastados e eu percebi que eles não iam falar da homenagem que o ministro tinha mencionado…

O ambiente mudou rapidamente, para um mais sóbrio quando o Dumbledore foi para o pé do pano branco e começou a falar. Falou de liberdade, de igualdade, de justiça e eu dei por mim a escutar cada palavra dele como se fosse uma verdade universal.

Igualdade para os nascidos Muggles.

Respeito por todos os seres.

Paz para todos.

União para combatermos o Voldemort.

Ele sabia falar e a aura de poder, simpatia e tristeza fizeram com que todo o seu discurso tivesse mais sentido. Ele antes de acabar olhou amavelmente para o branco da frente onde estava o que eu presumi ser a família do menino, o pai, a mãe e uma criança.

Eu mal tinha acabado de chegar ao mundo mágico já tinha trazido tristeza para uma família. Por minha culpa.

Eu fechei os olhos, parando os sentimentos de culpa que me andavam a querer consumir. Eu não podia, as pessoas precisavam de me ver forte e foi por isso que abri os olhos a tempo de ver o Dumbledore levantar o pano e como o Sirius me tinha dito, apareceu uma pequena estátua de uma máquina fotográfica e ao lado, apesar de não conseguir ver com precisão, uma fotografia.

Os sentimentos que queria matar mostraram-se outra vez e eu tive uma estranha vontade de chorar, vendo o sofrimento das pessoas ao meu lado.

Fechei os olhos e inspirei calmamente, tentando acalmar-se e espantei-me quando senti uma mão apertar a minha. Abri os olhos, assustado e vi com espanto a Lily agarrar-me a mão ainda com mais força e sorrir para mim com lágrimas nos olhos.

Eu fechei mais uma vez os olhos e engoli em seco.

Eu não queria estar ali.

Eu não queria sentir.

Eu não queria confiar nas pessoas. Só queria enrolar-me e ficar no meu canto, sem pensar, apenas a olhar para o nada. Isso parecia tão tentador em comparação com estar ali, ao pé de pessoas tristes, chorosas e onde se via sofrimento por todo o lado.

Por tua causa.

Eu fechei ainda mais os olhos tentando calar aquela voz. A culpa não era só minha, uma parte racional da minha mente dizia-me isso e eu sabia que era verdade mas eu não conseguia pensar que se eu não tivesse vivido, se tivesse realmente morrido quando era bebé nada disto tinha acontecido.

A Rose tinha ficado com os seus pais.

Aquela criança tinha vivido.

Não havia este perigo que todas as pessoas que andavam comigo sofriam.

Era tudo tão mas tão mais fácil.

E o caminho mais fácil é o melhor?

Eu cerrei ainda mais o maxilar, querendo calar aquela voz, querendo calar a minha mente. Eu não queria pensar naquilo, eu não queria pensar em nada. Era assim tão difícil ter paz? Ir vivendo sem pensar em nada, pôr estas coisas todas numa caixinha e não pensar mais nelas? Eu tinha conseguido pôr todo o meu passado lá porque é que não conseguia acrescentar mais isto?

E essa é a forma saudável de lidar com as coisas?

Raios, alguém que calasse aquela voz. Eu não queria lidar com aquilo, não ali, nem em outro lugar. Só queria esquecer. Eu precisava de ser forte para todos.

– Harry está tudo bem. – Ouvi a voz suave da Lily e senti a mão dela largar-me e ela abraçar-me.

Eu encostei a minha cabeça ao ombro dela e senti as minhas emoções explodirem. Eu não queria sentir aquilo mas já não conseguia fugir desses sentimentos e, por isso, usei o cabelo ruivo dela para me esconder enquanto chorava. Chorei pelo Creevey, chorei pela Rose, pelo James e por todos, que tiveram a sua vida destruída por mim e por aquele psicopata do Voldemort.

E chorei por mim.

Por não saber lidar com aquela emoção, por não querer ter que ser forte, por ainda desejar o que sempre fingi não querer: uma família normal, inteira e feliz. Um irmão mais novo e chato que me fizesse ter vontade de lhe bater, um pai que conseguia ser brincalhão e sério e uma mãe amorosa que conseguia ser rígida. Eu sempre quis aquilo mesmo tendo mentindo para mim, dizendo que era forte e não queria. A verdade era mais dura do que eu queria acreditar.

Eu não era forte!

Eu era uma pessoa, com defeitos e virtudes que queria ser amada e era, por isso, que eu chorava, esquecendo-me que eu ali não passaria despercebido e esquecendo-me de toda a minha insegurança em relação a eles. Era tão bom ser abraçado, era tão bom ouvir palavras reconfortantes ao ouvido, era tão bom saber que se estava protegido por pessoas que nos amavam. Eu tinha fraquejado quando a Serena me pediu desculpas e mais uma vez fraquejei, não aguentando a carga emocional que aquela homenagem me estava a causar.

O braço da minha mãe nas minhas costas foi-me acalmando e felizmente eu consegui afastar-me dela, provavelmente com os olhos inchados e vi espantando que ela tinha também estado a chorar.

– Harry, nunca tenhas medo de demonstrar os teus sentimentos.

Oh, se ela soubesse o quão complicado para mim era demonstrar os meus sentimentos, ela nunca diria aquilo mas mesmo assim sorri, sem energia, sem brilho, um sorriso triste mas mesmo assim um sorriso.

Senti uma mão no meu ombro e olhei para o lado, vendo o James, mandar-me um sorriso encorajador, fazendo o meu estômago revirar-se e eu sentir-me apoiado pela primeira vez em muito tempo, por mais alguém que não fosse a Rose.

– É melhor irmos. – Ouvi a voz do Sirius e olhei para ele, paralisando ao ver o olhar ameaçador que ele estava a mandar para o rapaz que estava ao lado da Natalie, que se tinha sentado com os outros estudantes.

– Sim. – Disse o James rapidamente, levantando-se. – Vamos para casa.

O meu estômago deu outra volta ao ouvir a palavra casa, finalmente, percebendo o sentimento por trás dessa palavra. Casa, o sítio onde se estava com família. A minha família.

Eu assenti, não tendo energia nem força para falar e levantei-me.

O James agarrou no meu braço e encaminhou-me lentamente para a saída, passando despercebido pelas pessoas que nem pareciam nos notar. Atrás de mim vinha a Lily sendo que o Sirius tinha-se ido despedir da filha e se calhar assassinar um adolescente…

– Potter. – Ouvi uma voz chamar e vi o meu pai parar espantando e olhar para trás, vendo o Cedric que vinha a correr e parou à nossa frente.

– Sim? – O James perguntou e eu vi o Cedric olhar para ele espantado, como se só o visse pela primeira vez.

– Eu posso falar com o Harry? – Ele perguntou, perdendo automaticamente a sua aura confiante e parecendo ligeiramente perdido.

Se ele queria falar comigo porque é que estava a pedir autorização ao James? Eu não era um bebé.

– Podes. – Eu respondi por ele mandando um olhar desafiador para o James, como que a perguntar se ele tinha a coragem de me desafiar.

O Cedric coçou a cabeça e olhou da Lily para o James, parecendo tímido.

– Responde-me uma coisa, - perguntou o James para meu espanto. Ele ia-me mesmo desafiar? – como é que nos viste?

O Cedric olhou para ele confuso.

– Como assim?

– Eu tinha feito um feitiço para não repararem em nós quando nos sentamos.

Ah, então foi por isso que nos pararam de chatear.

– Eu estive a observa-vos porque queria falar com o Harry. Se calhar foi disso? – Ele disse mais questionando do que afirmando.

– É possível. – O James murmurou. – Mas mesmo assim deves de ser um mago poderoso. – Ele disse, acenando-lhe com a cabeça, num elogio não-verbal. – Foi um prazer. – Ele murmurou e afastou-se com a minha mãe que só mandou um sorriso doce para o Diggory na forma de cumprimento.

Eu olhei para ele, vendo que os meus pais ficaram a 5 passos de mim mas mesmo assim, tendo em consideração que estavam tantas pessoas à nossa volta, ele não podia pedir mais privacidade.

– Eu, hum, - ele coçou a cabeça outra vez, parecendo realmente constrangido – só queria agradecer mais uma vez pelo que fizeste.

Eu expirei, sentido as minhas forças desaparecerem. Ele estava a elogiar-me só para ficar no meu lado bom. Eu devia de ser realmente famoso. Apertei o nariz com força, ganhando forças para lhe responder decentemente e não o mandar só passear. Pelo bem ou pelo mal, ele também tinha passado por aquela situação e foi torturado. Ele também sofreu por minha causa.

– Eu só fiz o que qualquer um faria. – Eu murmurei e espantei-me quando o vi arregalar os olhos, pelas minhas palavras.

– O que qualquer um faria?- Ele perguntou, parecendo incrédulo.

– Sim.

Para meu espanto ele riu-se.

– Tu sabes bem o que fizeste?

Eu senti a minha velha amiga, raiva aparecer dentro de mim.

– Sei. Fiz uma pessoa ser morta porque não me entreguei.

Pelo menos o riso estúpido dele parou.

– Tu não percebes pois não?

– O quê? – Ele devia ter batido com a cabeça em algum lugar porque não fazia sentido nenhum.

– Que o que tu fizeste não é normal. Uma pessoa normal fugia e deixava o assunto para o Dumbledore resolver. Tu nem tiveste uma educação no mundo mágico e sem te saberes defender, simplesmente Apareceste, disposto a entregares-te pelo nosso bem. Muitas poucas pessoas fariam isso.

– Eles só cá estiveram por minha causa, a culpa é minha! Eu não sou um maldito herói! – Eu sibilei e vi-o sorrir. Um sorriso sem mostrar os dentes, triste mas mesmo assim sorrir quando eu estava a dizer uma coisa séria.

– Tu não percebes mesmo. – Ele murmurou incrédulo. – Este ataque já estava planeado à mais tempo. – Ele suspirou ao ver que eu não fiquei comovido com essa informação. - Espero um dia voltar a encontrar-te. – Ele murmurou observando-me com o que parecia ser admiração. – Tu és realmente uma pessoa interessante. – Murmurou sorrindo e olhou para trás de mim, onde estavam os meus pais. – Obrigado pelo tempo que me deixaram falar com ele. – Ele disse dando-lhes um sorriso e virou-se outra vez para mim. - Foi um prazer e acredita, a tua atitude só prova que és um herói. – Disse, fixando os seus olhos amigáveis em mim. – Um herói nunca pensa que é um herói porque não consegue perceber que o que fez é extraordinário. Ajudar as pessoas em perigo é realmente nobre mas infelizmente a maioria não faz isso. Pensa nisto. – Ele murmurou e virou-me as costas indo-se embora.

Eu vi confuso e incrédulo, ele sair e ir ter com um homem que eu presumi ser o seu pai. As pessoas às vezes eram mesmo estranhas….


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