Polly segurava forte minha mão enquanto eu digeria a notícia de que o cara que eu amava tinha câncer. Ela me contara que apenas um rim dele estava funcionando e o outro já estava em condições precárias e quase não funcionava.

-Ele devia ter falado comigo. - falei.

-Ele estava te protegendo. Se quer saber, eu não devia te dizer isso mas ele está em uma seção de drenagem no hospital. Quando ele acabar, pode falar com ele. Quem sabe você entende melhor os motivos dele.

-Me leva até lá, Polly. - pedi.

**

Eu geralmente não frequentava hospitais, porque eu odiava aquele ambiente. Cheirava a luvas de borracha e soro fisiológico, e eu não gostava.

Corri para o balcão onde uma recepcionista com cabelos oleosos e não muito feliz por estar ali, digitava alguma coisa no computador. Pigarreei esperando com que ela olhasse pra mim. Me apoiei no mármore acinzentado da mureta e pigarreei mais alto e desta vez ela se virou.

-Posso ajudar? - ela me olhou com cara de peixe morto e mascou o chiclete que parecia estar duro como látex vencido.

-Quero falar com Collin Wayves, ele está, ou estava em uma seção de drenagem dos rins. 

Ela checou algo no computador e balançou a cabeça negativamente logo depois direcionou o olhar fosco para mim.

-Sinto muito. - falou como se ligasse para o que eu sentia - Ele ainda está na seção.

-Eu espero. - falei.

-Ele pediu para não ser incomodado depois, ele quer descansar. 

-Eu não ligo! - bati com as mãos no balcão enquanto tentava reprimir lágrimas vorazes.

-Senhora, - ela falou sem mudar a expressão - sinto muito não poder ajudar na sua busca amorosa ou sei lá o que, mas a vida não é assim.Temos regras a seguir, e além disso, não ligamos pro que você quer ou não fazer, não abrimos brechas para garotinhas desesperadas por amor.

-Olha aqui, coisa estranha, não é só porque você não transa à meses que eu não vou entrar lá e ver meu namorado! - ignorei as caras assustadas de todos na sala de espera, inclusive da moça do balcão e adentrei os corredores brancos do hospital.

Sem pensar nas consequências comecei a correr pelo chão  escorregadio em busca da sala de drenagem. Quase gritei o nome do Collin mas ia me arrastar de lá, se já não estivessem atrás de mim por jogar verdades na cara da recepcionista que não lava o cabelo. 

Diminuí o ritmo, já estava ficando sem ar. Eu já estava desistindo de procurar, estava quase virando as costas e indo enfrentar um processo por danos morais que me aguardava na recepção, quando vi a mãe do Collin na porta de um quarto.

-Senhora Wayves! - falei e ela olhou para mim.

-Tiffani, - ela estava assustada com a minha presença - o que faz aqui?

-Eu, vim falar com o Collin. 

-Ele ainda não acabou a seção, mas será que podemos conversar enquanto isso, querida?

Olhei por cima do ombro dela e lá atrás, dentro da sala, deitado em uma cama, estava Collin. Fraco e debilitado, coberto por fios que entravam e saíam do seu corpo por todos os lados. Eu não podia vê-lo daquele jeito, logo as lágrimas tomaram meus olhos e escorreram indomáveis pelo meu rosto. A Senhora Wayves percebeu e logo fechou a porta. 

Naquele momento, não consegui pensar em nada, e uma pergunta me veio à tona : "Por que as lágrimas são tão salgadas quando são dolorosas?"

-Claro, vamos conversar. - respondi tentando esquecer a cena que vira.