Rose havia se secado em seu quarto e estava com outra roupa agora, batinha amarela clara e calça em meia malha preta. Ela desceu ate a sala encontrando ele no sofá murmurando, enquanto passava os canais rapidamente sem realmente focar em nenhum.

— ...final trágico... sem graça... nojento... já vi esse... - parou em um canal onde um garoto se declarava para uma garota loira e a beijava apaixonadamente. Ele não conseguiu evitar pensar em Rose e no seu beijo. – Ah Rose... - disse a meia voz.

— O que? – ele virou a cabeça para trás, dando de cara com o rosto de Rose muito perto do seu. Ela estava debruçada no sofá com o rosto apoiado nos braços cruzados, seus olhos estavam calmos e ela parecia serena. Quando ela chegou? Ela entendeu o que ele havia falado?

— O que faz ai? – perguntou enquanto desviava a cabeça tentando esconder o rosto corado. O único coração que ele tinha parecia querer sair pela garganta, mudou rapidamente o canal com a mesma velocidade de antes.

— Nada...- Ela estava confusa com sua reação, ela olhava suas roupas, ainda as mesmas. Calça e paletó azul, com uma camiseta vinho por baixo. Ele precisava de roupas. – Doutor, você quer sair comigo um instante?

— Hum? Ok – disse sorrindo pra ela como se fosse a pessoa mais linda do mundo.

Não demorou muito para que Rose voltasse com uma bolsa preta e uma jaqueta vermelha. Eles pegaram o ônibus, o Doutor sentado ao lado de Rose que olhava a janela, atenta as paradas.

— Vai demorar muito? – ele perguntava isso a cada 5 minutos, “não” ela respondia - Pra que serve esse botão? – mas ele já havia apertado, o ônibus parou e todos olharam para trás para ver quem iria descer. Mas ninguém desceu e Rose olhava pela janela tentando não gargalhar. Ele por outro lado cruzou os braços e olhou para trás também, fingindo cara feia para a parada não intencional de “alguém”. Mas ao olhar para Rose, murmurou baixo – desculpe – fazendo-a rir baixo.

“Uma criança, é isso que ele é” pensava Rose. O resto do caminho foi silencioso, ate eles pararem em frente ao shopping, o Doutor olhava em todas as direções, admirado.

—Lojas. Adoro lojinhas, são adoráveis – falava enquanto corria para todos os lados, olhando as vitrines, sorrindo alegremente, só parou para puxar a mão de Rose e saiu em disparada, descendo e subindo escadas, desviando dos transeuntes, nunca parando, Rose não conseguia deixar de rir, e ele amava o som de sua risada, assim como ela amava ser arrastada por ele.

Meia hora depois de bisbilhotar quase todo o prédio de três andares sempre correndo, Rose finalmente o puxou para uma loja de roupas masculinas, na ala das camisetas e shorts básicos. O Doutor experimentou algumas roupas enquanto Rose segurava um walk tok, uma lanterna, goma de mascar e uma pequena antena de TV. “Pra que ele precisa desse lixo?” se perguntou, lembrando dele pedindo “você precisa comprar isso, é brilhante”, “um walk tok Doutor?” Rose perguntou, “yeah, é como um celular, mas com restrição de chamada”.

Ela virou-se, olhando as roupas ao redor, quando ele saiu usando um calção azul de tactel e uma camisa branca com desenho de uma banana – não – disse Rose, ele parecia uma criança gigante.

— Definitivamente não – falou ela entregando-lhe outro conjunto de roupas, com um ar mais serio.

— Mas são bananas, Rose – pedia ele apontando o desenho da camisa – bananas são legais.

— Eu sei que você gosta de banan...

— Eu amo bananas – interrompeu ele, como se fosse obvio.

— Tudo bem, mas experimenta essas aqui primeiro ok? – ele finalmente pegou as roupas e se dirigiu ao provador, afinal ele não sabia dizer não a Rose. Após algum tempo ele saiu trajando calça preta e camisa preta com cordões na gola.

— Humm. Ficou bom – disse ela dando um sorriso com a língua entre os dentes. Ahhh, como ele amava esse sorriso. Ele voltou a experimentar mais algumas peças de roupa enquanto Rose passeava pela loja, parando de frente as cuecas. “Ele vai precisar disso também...” pensou ela analisando o tamanho de algumas. “P ou M?” ela foi ao provador, com uma cueca Box P azul, e uma M preta. – Doutor? – chamou seu nome, ele saiu e a encarou.

— O que? – disse ele.

— Humm... você... que tamanho... que você veste? – disse com a voz quase sumindo.

— O que? – perguntou confuso, ela percebeu que ele estava sem camisa e a calça que experimentava estava desabotoada. Sem pensar, Rose entrou no provador.

— Você pode virar-se um instante? – disse com o olhar baixo.

O que? – ela passou as mãos as costas dele, puxando a etiqueta da cueca para fora, revelando uma sigla incomum.

— Doutor, o que isso significa? – ela ainda estava de cabeça baixa analisando – Doutor? – ao olhar para cima, através do reflexo, ele sorria largamente para ela, “tarado” pensou Rose.

— Mas é você que esta com as mãos ai em baixo, não eu. – disse ele como se ecoasse seus pensamentos.

— Eu só quero saber o tamanho, para comprar, só isso. – defendeu-se.

— 37 em alguns planetas do norte, 2/3 em Racilion, C no submundo dos Gelfs e na Terra, M. – disse por fim com um largo sorriso. “Ele ainda me mata” pensou Rose. Ela estava prestes a dar uma nova desculpa quando seu celular tocou.

— Alô?... o que?... não, não estamos em casa... ok... estamos indo – desligou o telefone e olhou seriamente para o Doutor – temos problemas.