Cold Sun-Faberry escrita por jeanfeelings


Capítulo 9
Somewhere only we know


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas, sim, eu sei, muito tempo. Tenho algumas explicações para dar e vou tentar ser bem categórica. Sumi por três longos meses, por vários motivos:
1- Minha faculdade se tornou o CAOS. Era estudar dia e noite, com medo de alguma coisa dar errado. Escrever foi impossível.
2- As postagens são feitas depois de algumas revisões (pelo menos duas) se eu não tinha tempo para escrever, imaginem para fazer a correção?
3- Quando entrei de férias, foi um UFA muito grande, daqueles que dá para sambar na Sapucaí antes do carnaval, então não escrevi COLD SUN durante esse meio tempo.
Ok, minhas sinceras desculpas leitores, por tudo isso, e ter deixado quem gosta da história no escuro por tanto tempo, vou me organizar esse semestre, para tentar postar com a frenquência de antes. Obrigada a quem continua recomendando minhas histórias.



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A culpa da decoração celeste na sala principal recaiu sobre Brittany e suas invenções corriqueiras. Por um lado, era a mais pura verdade, já que a pequena alquimista havia realmente aprontado tudo, mas os motivos eram outros.

Russel nunca chegaria a saber.

No dia seguinte o céu estava bordado por um complexo de dourado encorpado por rosa. O sol cantava no horizonte, acordando as montanhas. Quinn correu com a mochila nas costas e um sorriso em posição.

Não conseguiu tirá-lo desde a sua chegada.

Parou a poucos metros do córrego que contornava o casebre e sentiu uma pressão titubeando em nos ouvidos, como tambores. E de repente soube de onde vinha. Colocou a mão sobre o peito tentando acalentar a ansiedade.

"Por que estou nervosa? Não tem motivo."

Sabia estar mentindo para si mesma, mas não podia conter a emoção espalhando cada pedaço da sua alma no espaço.

"Quinn!" Rachel acenou da margem do rio.

Isso bastou. Foi um baque mudo. Que correu por ela, invadindo cada parte mais profunda dos seus próprios segredos. Era amor? O não saber necessário? Como podia estar desmanchando pelas mãos e trêmula daquela distância?

Talvez fosse isso.

Se tivesse que defini-lo.

O amor é um leque de perguntas sem resposta.

"Oi." Não sabia por onde começar. Colocou a mochila de lado e sentou-se numa pedra deixando os olhos livres para encontrar a judia carregando roupas surradas e lavando-as com os pés submersos.

"Como passou a noite?"

Agradeceu mentalmente por Rachel ter começado um diálogo.

"Ótima." Ditou olhando para o chão. "Não consegui dormir."

"E como pode ter sido boa?" Torceu um casaco fino vendo as gotas de chuva caírem.

"Sem pesadelos."

Quinn realmente havia ficado acordada e muito corada, deveria estar exausta, mas de alguma forma se viu inundada por vida.

"Entendi."

"Quer ajuda?" Quinn questionou dobrando as mangas.

"Claro."

Foi entrando delicadamente na transparência fina. Estava fria apesar do sol. Aproximou-se dela com cuidado, tentando esconder as turbulência que encareciam sua própria sanidade, mas quando abaixou para alcançar a roupa foi atinginda no ombro por um fio de água congelada.

"Rachel!" Exclamou vendo a outra cobrir o riso com as mãos. "Está achando engraçado?" Interrogou com as sobrancelhas no ar. "Tome isso."

Quinn chutou a água que voou sobre o riso de Rachel, mas ela conseguiu ser mais rápida e não foi atingida. Deu língua para a alemã e desafio-a numa corrida.

Desafio aceito.

Correram pelas árvores da floresta de macieiras. Rachel na vanguarda e Quinn em seus calcanhares. Os risos podiam ser ouvidos de muito longe. Estavam misturados ao sabor adocicado da natureza.

Dobraram a esquina perto do rio Main.

Quinn literalmente se jogou e abraçou o calcanhar de Rachel fazendo-a cair dentro do rio. Ponto para ela.

"Venci."

"Mesmo?" Rachel interrompeu e a puxou para dentro da água.

De repente começou uma guerra, mas não daquelas que acabam com sangue e gritos. Apenas uma palma de mão carregada de água que tentava acertar outra semelhante. E sempre era carimbada por sorrisos.

No final, a judia ficou próxima e puxou os membros pálidos desequilibrando a outra.

Caíram na encosta.

Totalmente exaustas.

Rachel ficou com os braços esticados ao redor de Quinn. E verificou depois de um tempo que seus olhos estavam no mesmo nível de distância. Ficou parada apenas deixando as gotas do próprio rosto correrem até o dela.

Uma mão a puxou calmamente.

E teve os lábios tomados.

Foi outro beijo extremamente calmo, com a luz vermelha do sol correndo pelo meio de suas peles, e as pálidas mãos suaves caindo pelos seus ombros. O mundo parou. Elas agradeceram mentalmente por isso.

Podiam ter um segundo de tempo roubado.

Onde nada mais importava.

"Quer conversar?" Rachel questionou com a testa colada a dela.

"Não." Colocou um ponto final, enrolando uma mexa de cabelo negro. "Quero apenas... viver isso. E você?"

"Aprovo sua ideia."

Compartilharam um olhar carinhoso, sem pressa, como se tentassem ler o pensamento uma da outra, mas esse momento, como todos, teve um fim. Uma pena que não fosse um feliz. Alguém as observava de cima da ponta com a testa cravada e um olho roxo.

"Não." Quinn olhou para a intrometida e seu coração parou.

Separou-se de Rachel e ficou ao lado dela esperando uma reação da espiã. Foi um erro, pois a menina colocou-se em movimento na direção oposta. Quinn olhou para Rachel pedindo um sinal mudo de ajuda.

"Vá."

Assentiu e correu como se a vida dependesse disso.

Basicamente, dependia.

Não a dela, mas de Rachel.

Foi com o coração na garganta que acelerou nas costas dos cabelos esvoaçantes de Marley Rose.

–oooooooooo-

Quinn dobrou as casas sem calefação da rua de tinta cinza, tropeçando em seus próprios pés na tentativa de aumentar a velocidade atrás da sua presa. Marley permanecia na dianteira, com as pernas finas dando impulsos, cada vez mais empenhada em prosseguir.

Rose! Gritou acertando uma lata de lixo e diluindo alguns centímetros de equilíbrio. Não faça isso.

Não houve uma resposta. Apenas mais correria.

Os próximos quinze minutos foram atravessando a cidade e esbarrando em pessoas de testas fincadas e línguas afiadas de impropérios. Marley parou numa esquina e virou lentamente, conferindo se Quinn ainda estava a uma boa distância.

Não chegue perto!

Estacou onde estava.

Marley estava a uma rua da escola. E a menina pálida sabia exatamente o que ela tinha em mente.

Eu sabia que você estava estranha, mas não podia imaginar algo assim. Jogou as palavras com força, como um insulto pessoal. Como pôde ser tão hipócrita em me denunciar com relação à Kitty se estava envolvida em algo muito mais delicado?

Não fui eu quem delatou vocês.

Mentira! Marley transbordou pelos olhos líquidos. É só isso que vocês Fabrays fazem, roubam o que não lhes pertence e querem sair por cima, mas não dessa vez. É o fim da linha para você. Aposto que a diretora Silvester vai adorar saber onde tem ido toda tarde.

Marley esticou um sorriso negro triunfante e girou para atravessar a rua. Quinn gritou e veio logo atrás, mas antes que pudesse alcançá-la ou fazer qualquer coisa para impedi-la, o destino resolveu tomar ar as rédeas da situação.

Um carro desgovernado.

Uma colisão.

E sangue misturado ao frio.

Meu Deus!Quinn sentiu o coração bombear pesado ao ver Marley sendo arremessada no ar e girar desgovernada até encontrar o chão maciço. O ar se esvaiu ao ver o corpo inerte e o mundo foi ficando escuro das laterais para o centro. Viu cabelos vermelhos dançando ao seu redor e no segundo seguinte apagou.

–ooooooooooo-

A neve caia intransponível, onde quer que os olhos corressem, não havia um ponto no chão que fugisse ao branco. Quinn caminhou com os pés pequenos e pouco úteis, rasgou o novelo de água sólida que estava no caminho aos risos, até que tropeçou em algo muito peculiar.

Cabelos loiros enterrados na branquidão.

Deu um passo assustado para trás e esbarrou num grito agoniado. Seu pai tinha os punhos fechados e os pulmões em chama enquanto abaixa, aparava algo do chão e proferia ameaças ao vento, jorrando ódio como ela nunca imaginara presenciar.

''Mãe!'' Chamou caindo de joelhos.

''Quinn!'' Ouviu uma voz, distante, quase palpável, conhecida, mas que não pertencia a sua mãe. ''Querida acorde, acorde.''

Ela rolou para fora da cama, e caiu no chão de concreto com o queixo estalando no impacto. Foi amparada por braços firmes e apoiada na maca. Emma analisou seu lábio inchado e conferiu a integridade dos dentes.

''O que aconteceu?'' Perguntou no meio da alienação.

''Acho que você pode me responder essa pergunta.''

Emma não tinha calor na voz. Olhava com um quê de interrogação sufocante. Quinn forçou a mente e todas as lembranças voltaram como um trovão cortando nuvens. Marley. O carro. Sangue escorrendo na rua.

''Rose? Está morta?'' Foi uma falta muito grande de tato perguntar isso, mas o desespero superou a cortesia.

''Não, mas está desacordada desde o acidente.'' Emma segurou-a pelos ombros. ''Vocês estavam discutindo e de repente ela estava voando pelos ares, tem pessoas alegando que você a empurrou na frente do carro, Quinn.'' A enfermeira tinha um pesar na voz. ''Diga que é mentira.''

''Eu não faria uma coisa dessas.''

''Nem mesmo em um ataque de fúria?''

Quinn sentiu um martelo descendo na garganta.

''Acha que eu fiz aquilo?'' Mal conseguia acreditar nas próprias palavras, pareciam não fazer sentindo aos seus ouvidos. ''Se você não acredita em mim, quem irá?''

Emma não teve tempo de responder ou protestar, Quinn juntou o que lhe restava de energia e saiu tropeçando porta a fora. O zelador Will estava na entrada, ela acabou esbarrando nele antes de fugir para qualquer lugar em que o mundo voltasse a fazer sentido.

–oooooooooo-

Quinn correu e achou surpreendente o fato de ainda não ter apagado. A respiração era o maior descontrole que carregava no corpo e mal conseguia visualizar a ponte sobre o rio Main quando passou voando por ela, apoiando-se nas árvores durante todo percurso até o casebre.

Rachel estava na varanda quando a avistou.

A judia saiu correndo ao seu encontro, deixando o cobertor que a protegia no meio do caminho. Quinn caiu antes que ela chegasse e sentiu o suor envolver-lhe a consciência embaçando o restante do mundo.

''Quinn! Quinn!'' Fale comigo. ''O que aconteceu?''

''Não fui eu, você precisa acreditar em mim.''

''Para, não diga nada, apenas me ouça.''

Oh ain't she nice,
well look her over once or twice.
Yes I ask you very confidentially:
ain't she nice?

Batimentos apaziguados. Respiração voltando ao normal. Alma restaurada. Rachel Berry sabia que música era o melhor remédio quando se tratava de tempos difíceis, pois foi assim que sobreviveu e concomitantemente estava ajudando a pessoa com que passava mais tempo a aliviar as consequências de um estresse pós-traumático.

''Vamos para dentro, farei chá quente para nós duas.''

Quinn apoiou-se nela e assim foi feito.

Depois de meia hora de silêncio, interrompido pelo tilintar de xícaras lascadas ela finalmente sentou ao lado de Quinn no sofá e perguntou se já podiam conversar. Demorou um longo tempo para a alemã conseguir colocar tudo para fora, mas ela fez, sem titubear.

''Como ela está?''

''Não sei dizer.''

''Acha que ela irá nos entregar?''

''Se já não acordou e o fez.'' Quinn quase sufocou com a certeza. ''Este lugar não é mais seguro para você, precisa ir... embora. Não quero que a capturem. Se Sue descobrir, irá mandá-la para o Campo de concentração mais próximo.''

Rachel estremeceu.

Não podia voltar para um lugar daqueles.

Nunca mais.

''Tem algo que quero lhe mostrar.'' Rachel correu até a caixa de papelão descansando do chão e puxou um longo papel do seu interior, estava meio surrado e difícil de identificar, mas ela esticou o melhor que pode. ''Lembra-se do local o qual aquele judeu que salvamos na ponte falou?''

''Schwandorf?''

''Exato.'' Rachel apontou um ponto cego no mapa. ''Antes de me separar dos meus pais era para lá que estávamos indo. Era o nosso destino. Há um acampamento judeu modesto nessa área, mas que ninguém além de meu povo sabe.'' Explicou aproximando a vela do papel.'' Não lhe contei antes, porque não confiávamos uma na outra, mas isso é passado. Estava esperando que a guerra tivesse fim para ir até lá.''

Quinn segurou o mapa nas mãos e analisou com atenção. Seria um caminho tortuoso, à céu aberto em muitos momentos, devido a pouco quantidade de florestas que povoavam a estrada, rios congelados corriam por várias partes, e a distância estimada de 200 km descartou a possibilidade de irem andando.

''Teremos de apanhar um trem.'' Quinn concluiu passando os dedos pelo caminho mais palpável.'' Pelo menos até chegarmos à Nürnberg, depois pegaremos outro até Kitzingen e andaremos o restante do percurso até Schwandorf.''

''Espera.'' Rachel ponderou assustada. ''Nós?''

''Claro.'' Ela ditou guardando o mapa ao pé da cama.'' Como você espera comprar passagens sem ser pega? Eu comprarei os tickets. Nosso problema será apenas na hora do embarque.''

''Quinn.'' Estava sem fala, mas aquilo era loucura e ela estava ciente disso.'' Vai ser muito perigoso, se nos apanharem, não posso imaginar o que fariam com...''

Convencê-la talvez fosse um problema terrível, mas Quinn já estava farta de falar, tomou o rosto de Rachel e a silenciou com a boca, deixou ser levada pelo calor que exalava delas, como se fosse ser eternamente consumida por todo aquele conforto.

''Pare de imaginar, Berry.'' Ditou na quebra. ''Nós vamos fazer isso. Vou te entregar aos seus pais.''

–oooooooooo-

Um combinado foi estabelecido, Quinn iria para casa com o coração na mão, temendo que Marley acordasse no meio da noite e contasse tudo, rezando internamente pelo contrário. Arrumaria mantimentos na mochila e roupas quentes o suficiente para as duas.

Saiu do casebre, esbarrando naquele número pregado a soleira da porta. Rachel lhe contou uma breve história sobre aquela escritura numérica. 190649. Uma lembrança, do seu pai, caso houvesse algum incidente e ele ficasse irreconhecível.

O reconheceria pelo braço.

Passou pelas ruas com a cabeça baixa para se proteger do frio que descia.

Com aquela proximidade de Novembro, logo começaria a nevar.

''Quinn!''

Levou um susto que a desarmou, só conseguiu se recompor quando percebeu que a pessoa que a interrompia era Kitty, correndo com os óculos de tartaruga tortos no rosto distorcido.

A menina menor se jogou ao redor de Quinn num abraço mudo.

Ela ainda está desacordada. Falou com a voz embargada. ''Eu sei que não foi você. Mas o que aconteceu para ela ficar desnorteada daquela maneira?''

Sentaram num degrau sujo de lama e musgo, Quinn soltou que não podia dizer exatamente o que havia ocorrido, mas confirmou não ter nada haver com história de jogar Marley na frente do carro.

O tempo correu.

E elas permaneceram paradas.

''Sinto tanta falta dela.'' Kitty sibilou baixinho, como uma canção de ninar.'' Se eu tivesse um lugar para encontrá-la sem que ninguém soubesse, poderia ser o nosso segredo. Ficaríamos juntas.''

Quinn pensou um pouco. Foi estranho uma ideia como aquela lhe abater. Marley estava destruindo a sua felicidade e como que por ironia faria exatamente o oposto.

''Talvez eu possa ajudar.''

–ooooooooooo-

A casa dos Fabray estava na penumbra da noite fria. Russel estava ao telefone quando a porta da cozinha foi aberta, ele bateu continência e recolocou-o no gancho. Puxou uma maço de cigarros gasto e levou um aos lábios quebrados, saboreando o gosto da fumaça que fazia cócegas em sua garganta.

''Pai?''

''Temos que conversar.'' Indicou a cadeira mais próxima. O assunto, Quinn já imaginava. Mais um pouco de Marley e carros desgovernados. Ela contou exatamente o que tinha acontecido.

''Certo.'' Tragou uma ponta da nicótica e expeliu depois de um tempo. ''Irei amanhã até a escola, aquelas crianças não tem provas de que jogou a menina na frente do carro, são somente alegações sem fundamento. Não terei problemas em me entender com a Diretora Silvéster.''

Quinn sabia que parte da patente do pai seria responsável por livrar sua cara.

E agradeceu silenciosamente por isso.

''Mas uma coisa...'' .Dessa vez a conversa teve um tema mais sério. Quinn sentiu vontade de gritar, mas escutou tudo calada, as únicas palavras que sua mente conseguiu reter foram: Problemas, partir e amanhã. Seu pai estava sendo requisitado em algum canto gelado.

E ela não podia fazer nada a respeito.

–oooooooooo-

''Hey, acorde pequena cientista.'' Quinn beliscou o nariz cansado da irmã menor que ronronava a sono solto. ''Temos que conversar.''

Brittany sentou na cama, soltando um bocejo feroz enquanto Quinn a acompanhava. Explicou parte dos acontecimentos para ela, de uma maneira que entendesse e ao mesmo tempo não soubesse de tudo.

''Quando você vai voltar?'' Brittany exigiu saber.

''Assim que eu cumprir a minha promessa.''

A irmã menor saltou da cama. Foi até o armário forrado por aço e revistou alguns cantos, fazendo um barulho infernal no percurso. Apanhou algo e carreou de volta. Estendeu-o a Quinn e anotou algo nas costas do papel.

''Para que isso?''

''Uma foto minha, com o nosso endereço.'' Brittany rabiscou com vontade a parte de trás. ''Caso você seja atingida por algo que a faça perder a memória, e da maneira que é, muito provavelmente esquecerá o caminho de casa sem sofrer atentado algum.''

Quinn sorriu com a provocação e aceitou o abraço que se seguiu.

''Obedeça Emma enquanto eu estiver fora.'' Brandiu, sentindo um aperto cheio. ''Se ouvir o cuco no rádio não esqueça de correr para o porão. Imediatamente. Entendeu?''

''Sim.''

Houve mais algumas trocas e palavras. O céu já estava mudando de cor quando Quinn resolveu abandonar o quarto, carregada de sono, sabendo que não conseguiria dormir. Antes de ir, Britanny alertou-a.

''Traga minha foto de volta. ''

Quinn sorriu à porta e a fechou com delicadeza.

–oooooooooo-

Estava tudo pronto.

Mochila carregada com roupas, mantimentos e todo dinheiro que Quinn economizara durante o último ano. Calculou que bastaria para sobreviverem por pelo menos uma semana, que seria o necessário para atravessar todo caminho de trem até Schwandorf.

Rachel insistiu que ela fosse até a escola durante o período da manhã. E o fato de que seu pai estaria lá, e que precisava entregar algo a Kitty serviram para aguçar sua presença matinal no colégio.

Depois teria uma tarde, noite e manhã até perceberem que tinha desaparecido. Sem dúvidas era bem melhor do que só ter a parte da manhã, caso ela resolvesse faltar naquele dia.

''Kitty.'' A garota estava no corredor, arrumando e derrubando uma pilha de livros que eram maiores que ela.'' Vamos até o ginásio?''

Debaixo das arquibancadas congeladas, Quinn entregou uma folha de papel dobrada e pediu à Kitty que abrisse somente na manhã do dia seguinte, alertou que era muito importante, mas que não podia dar mais detalhes.

“Tudo bem.” A garota sorriu grande e alargou os olhos ao se lembrar de um fato muito importante. “Marley acordou hoje de manhã.”

Quinn sentiu o mundo girar e uma terrível vontade de vomitar.

–oooooooooo-

Marley saiu de um pesadelo que pareceu durar dias, acordou alienada sobre uma cama bem acolchoada, com a enfermeira da escola fazendo algumas perguntas sobre: Que dia era? Ou se lembrava dos últimos acontecimentos?

Ela se lembrava.

Perfeitamente.

"Quero falar com a diretora Silvéster. Imediatamente." Ditou, como se fosse um assunto mais urgente que sua saúde ou os exames que certamente teria de ser submetida antes de receber alta.

Sue Silvéster não estava acostumada a receber ordem dos seus subordinados, foi até a enfermaria e enxotou todos os presentes, deixando-a sozinha com a única enferma da vez. Marley tinha um sorriso de satisfação muito característico, escorrendo pelos cantos da boca.

"Diretora."

"Olá, Rose." Sue parecia estranhamente calma, o que podia significar que alguma tempestade estava à espreita. "Como se sente?"

"Minha pernas doem um pouco, mas tirando isso, estou bem."

"Que sorte." Ditou sentando ao lado da maca. "O que me leva a pergunta que não quer calar." Sue fez uma pausa, sentindo a confusão crescer nos olhos de gelo de Marley. "Porque estava fugindo de Quinn Fabray no dia em que foi atropelada?"

Finalmente a verdade sairia de sua boca.

Quinn Fabray e seja lá quem ela gostasse estariam perdidas.

Para sempre.

Quem enterrou algo como o que tinha com Kitty, merecia ter uma cova apropriada, e Marley entregaria a Quinn, sem mais delongas.

"Eu estava..."

"Deixe-me adivinhar." Sue a interrompeu, para desagrado da menina. "Você estava com aquela quatro-olhos de roupas sujas e Quinn as flagrou? Essa foi à única explicação que encontrei para você correr tão desesperadamente dela."

Marley entrou em combustão.

"A senhora entendeu errado, eu..."

"Será?" Sue jogou todo o veneno contra ela. "Assim como foi quando sua amiga June Andreys, veio me contar que viu você e sua amiguinha debaixo das arquibancas, trocando...beijos?" A última palavra foi proferida como se fosse um impropério. "Ou quando contei a sua pobre mãe?"

A menina acamada quase sufocou com a revelação.

"Foi a senhora?"

"Claro. Essa é minha escola, não permitirei atos de desrespeito contra nossos princípios debaixo do meu próprio teto."

Marley não sabia o que dizer.

Quando a situação havia se invertido?

E fugido totalmente ao seu controle.

"Então, você nega isso?"

–ooooooooooo-
Quinn estava sentada na carteira. Esperando. Hoje a aula de história seria dada pela diretora, ela sabia onde Sue se encontrava no momento, essa era a razão por trás do suor escorrendo por suas mãos e a visão embaçada.

Ela vai contar.

Tenho que sair daqui agora.

Antes que seja tarde demais.

Mas foi no meio desse pensamento que a porta foi rudemente aberta. Jogada para fora das dobradiças. Sue entrou com uma régua quilométrica empunhada no braço forte e parou na frente da sala.

"O acidente da senhorita Rose já foi esclarecido. "Pontuou olhando no rosto de cada um. "Quinn Fabray está isenta de qualquer culpa sobre esse infortúnio e se eu ouvir algum boato sobre isso, a pessoa terá um destino mais cruel do que a enfermaria. Entenderam?"

Quinn explodiu de alegria no seu mundinho.

Ela não contara? Por quê? Talvez nunca chegasse à saber, mas estava irremediavelmente feliz. Rachel estava segura, mas mesmo com o segredo sendo protegido, sabia ser só mais um golpe da sorte.

Rachel já estava fora de casa à muito tempo, e quanto mais pessoas sabiam de seu segredo, mas risco ela corria. Hoje escaparam das consequencias da verdade, mas por quanto tempo conseguiriam manter o segredo?

O plano de fuga ainda estava de pé.

Ela devolveria a judia para a família dela.

"Tem sorte de ter o pai que têm, senhorita Fabray." Sue passou ao seu lado e jogou essa frase, não sabia o que significava, mas estava muito cansada para pensar nisso.

O restante da aula foi tedioso e o sono que a consumia à dois das estava ficando cada vez mais pesado. Sabia que tinha que ter tido um bom descanso noite passada, mas a preocupação a impediu de relaxar.

Só que agora, estava confortada pelo alívio.

Fechou os olhos por alguns segundos.

E se deixou levar.

–oooooooooo-

Quinn olhou para as mãos, do tamanho de xícaras. Dóceis e bem cuidadas. Joviais. Alcançou os cabelos e viu-os grandes, enrolados em tranças até a altura dos ombros. Olhou atentamente ao que a cercava.

Neve.

Em todos os lugares. Aquela branquidão gélida forrava tudo. Andar era complicado, mas conseguiu dar alguns passos pesados para o seu destino. E nem em um milhão de anos, poderia imaginar um pior.

Grades, cheias de arame farpados, apareceram, formando uma grande muralha por toda volta. Limitando o espaço infinito de neve. Parou e puxou o vestido para fugir de uma poça de água congelada.

Levou um susto ao verificar suas mãos.

Estavam maiores, com uma grande presença de calos, espalhados por toda a palma até as costas. Os cabelos agora estavam presos num elegante coque, e o chão estava mais distante dos olhos, o que indicava seu tamanho modificado.

"O que está acontecendo?"

Falou com uma voz que não era dela.

Correu de volta a possa de água e vislumbrou um reflexo à muito perdido.

Sua mãe lhe encarou de volta.

"Eu...mamãe?"

Um som distinto veio pelo lado. Um clique sinistro que fez todo seu corpo entrar em descontrole. Virou alarmada para um homem que a encarava, de braço estendido, com uma arma na extremidade.

"Não atire, por favor." Disse, sem saber exatamente como.

Sabia como a cena se desenrolava.

Cada palavra. Cada ato.

Caminhando para o desfecho sangrento.

Aquele homem havia destruído seu mundo incontáveis vezes. Quinn nunca se esqueceria disso e também de vê-lo morto, com muita satisfação. Vislumbrou-o esticar colocar a arma em linha reta, apontando direto para seu peito.

E algo, fez o seu medo dobrar.

Uma coisa que passara despercebida por toda sua vida.

Até então, relevante.

O braço que puxou o gatilho, estava tatuado com escrituras. Uma sequência, para ser mais exata e antes de morrer no sonho, ela reconheceu aqueles números.

190649.


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Notas finais do capítulo

É eu sei, a vida não é fácil, e provavelmente embaralhei a cabeça de vocês um pouquinho mais, mas fiquem tranquilos a explicação para tudo virá na hora certa. Boa semana pessoal, foi bom estar com vocês de novo. Até o próximo.