X-Men: O Renascer Da Fênix escrita por Tenebris


Capítulo 12
Verdades Não Ditas


Notas iniciais do capítulo

Desculpa pela demora! Mil perdões, na verdade! A escola está muito corrida e difícil, mas eu jamais vou abandonar essa ou qualquer outra fic :D Adianto que a batalha final está no capítulo 13 e 14, então se preparem! Beijos!



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Alice acordara de repente. Porém, segundos antes disso, tivera outro flash de memória, como se tudo o que ela passara nos últimos três dias fosse revivido em três segundos muito tensos. Ela queria que nada daquilo fosse real, mas uma dor aguda em sua cabeça indicava que ela não teria esse privilégio.

Ela abriu os olhos e percebeu onde estava: Na ala de enfermaria de Utopia. Ela arrancou alguns fios metálicos que estavam colados a ela, ignorou a tontura pertinente que sentia, e colocou-se de pé. Precisava de respostas. Precisava confirmar se tudo aquilo era mesmo real. Precisava saber se tudo de que se lembrava era mesmo o que tinha acontecido de fato. Alice, já de pé, cambaleou, e aquelas paredes brancas da enfermaria nunca pareceram mais claustrofóbicas. Aquele cheiro de álcool nunca pareceu tão inebriante.

Ela caminhou, e foi recepcionada por uma voz nem tão gentil.

- Alice, trate de voltar agora pra cama! – Era Erik. Tão controlador como sempre.

 Alice olhou-o por alguns segundos, e depois atirou-se nos braços dele. Erik suavizou sua expressão rude, e acolheu Alice em seus braços. Ele percebeu que ela deveria se lembrar de cada detalhe do dia anterior.

- Ah, Erik... Aconteceu, não é mesmo? – Lamentou ela, entre soluços. Chorava tristemente.

E Erik a envolveu em seus braços, como geralmente fazia. Mas dessa vez tinha algo diferente... Ele queria confortar Alice, dizer a ela que tudo ficaria bem realmente. Só não tinha certeza disso, principalmente porque começou a sentir remorso. Ele a enganava. Ele a usava, e toda vez que Alice corria na direção dele, tão entregue, ele percebia o quão estúpido ele vinha sendo. Arrependera-se amargamente de ser aquele homem vil e rancoroso, sempre em busca de vingança.

- Alice, tudo vai ficar bem. Não foi culpa sua, e sabe disso. Minha vida é assim, e a sua, e a de qualquer outro mutante também é. Cheia de provações, dificuldades...  Mas escute. Tudo vai ficar bem. – Disse ele, repetindo a frase também para si mesmo.

Alice amparou seus olhos, límpidos pelas lágrimas, nos olhos soturnos de Erik, para então abraçá-lo novamente. Ela parecia mais calma.

- Eu matei aquele homem, não é? Eu explodi aquele lugar! – Comentou ela, lamentando-se novamente.

- Não, Alice. Ele se matou. Afinal, a culpa foi dele por dopá-la e machucá-la assim. – Confortou-a Erik, com a voz cálida.

Então ele observou novamente os hematomas espalhados pelo corpo de Alice. Pareciam melhores, tratados, mas ainda assim totalmente visíveis.

Alice desvencilhou-se de Erik suavemente, e ele beijou-lhe os lábios delicadamente.

- Fico feliz por ter você de volta. Aquela varanda não é a mesma coisa sem você. – Comentou ele, ao que um traço de sorriso sincero finalmente surgia nos lábios de Alice.

- Então me conta... Como vocês me resgataram? – Perguntou ela, sentando-se em sua cama.

- Assim que eles levaram você, Charles voltou para Utopia. Ele reuniu um esquadrão Primeira Classe, me chamou, chamou Logan e outros. Ele usou os sensores para localizar o sinal do seu radar de X-Men, e seguimos no X-Jato até aquele galpão. Ficava em uma área mais afastada, em São Francisco, então foi fácil. – Contava ele, mas Alice tinha a impressão de que ele omitia alguns detalhes mais violentos.

Ela apenas sorriu. Erik prosseguia:

- Demoramos para encontrar você porque o sinal do seu radar estava muito fraco. O Charles acha que é porque eles tentaram bloquear qualquer sinal elétrico. Realmente tentaram impedir seu radar de funcionar, e quase conseguiram. Além disso, lá tinha muitos Guardas e Soldados. Demoramos um pouco para entrar. – Finalizou Erik.

Alice encarou-o e pensou em fazer uma pergunta. Sabia que isso causaria certa desconfiança em Erik, mas prosseguiu:

- À essa altura, eles devem estar atrás de mim. Agora, o Governo realmente tem motivos para me prender, afinal, eu matei aquele homem.

Erik pigarreou. Ele olhou incisivamente para Alice, com ar de seriedade. Falou, com mistério:

- Na verdade, fique tranquila. O Governo não pode interferir em Utopia e em seus integrantes. E eles não virão atrás de você.

- Como pode ter tanta certeza, Erik? – Perguntou Alice, desconfiada.

- Porque eu disse a eles que quem matou Greene foi eu. Eles estão atrás de mim.

Alice encarou-o incrédula.

- Como assim? Você assumiu a culpa no meu lugar? – Ela perguntou, abismada. Sua garganta secou.

Erik a encarava com seriedade e rigidez, inflexível como sempre. Só de olhar para a expressão dele, Alice sabia que ele jamais mudaria de ideia.

- Você já tem problemas demais, Alice. E ainda é jovem. Não precisa desse tipo de problema com o Governo. Eu tenho... Alguns anos a mais. Sei lidar com isso. E... Quero proteger você.

Alice, então, conseguiu se sentir ainda pior. Ela queria enfrentar isso por ela mesma, afinal, realmente a culpa era dela. Do que adiantaria fugir disso?

Ela tocou nos cabelos de Erik afetuosamente, e disse:

- Sabe que não precisa fazer isso por mim.

Erik retirou gentilmente as mãos dela dos cabelos dele, e levantou-se. Estava a ponto de partir, a ponto de deixar aquela sala, quando falou prontamente:

- Já fiz. E não me arrependo.

Três dias se passaram.

Alice ainda não tivera permissão para sair da ala hospitalar. Alguns machucados precisavam cicatrizar mais, ela precisava tirar alguns raios-x para avaliar lesões e precisava melhorar da dor de cabeça. Além disso, Charles a visitava várias vezes ao dia, para estudar o comportamento da mente dela, já que ele não podia lê-la com precisão.

Ele queria se certificar de que Alice estava física e mentalmente bem para usar seus poderes novamente. Charles queria garantir que ela não teria outra explosão de poderes como aquela tão cedo. E, até aquele momento, tudo parecia bem e normal.

Assim, na manhã seguinte, Alice tomou um café da manhã bem leve, enquanto estava sentada na cama de seu quarto, na ala hospitalar. Ela espreguiçou-se, foi até à janela, observou o vasto mar à sua frente e desejou voltar novamente à sua rotina normal.

Foi então que ela ligou uma televisão pequena, que estava colocada em cima de uma cabeceira. Era a única forma de contato que ela tinha com o mundo exterior, enquanto estivesse sob observação na enfermaria.

Alice estava sentada em sua cama enquanto lia um livro qualquer. A televisão servia apenas de ruído para ela não se sentir ainda mais solitária. No entanto, uma voz familiar, vinda da televisão, despertou a atenção dela. Alice largou o livro em um canto, levantou-se, e parou em frente à televisão, enquanto via ao vivo o pronunciamento de um famoso deputado: Liam Field. Seu pai.

Alice observava atentamente, sem nem piscar, o pronunciamento proferido por seu pai.

Ele fez as saudações iniciais, e dizia seu dirscuso. Alice simplesmente parou, tentando entender o que estava acontecendo. Sua sobrancelha arqueava em sinal de dúvida e terror.

Liam dizia: “Esta noite, fomos surpreendidos por mutantes cruéis. Mutantes cruéis e descontrolados, querendo impor sua vil vontade sobre nós, que somos cidadãos de bem. Um ofical do Exército Americano foi morto pelo mutante de nome Magneto. Erik Magnus Lensheer. Eu já tive minhas desavenças passadas com esse mutante, inclusive conheci-o pessoalmente há um tempo. Posso garantir, em nome de meu mandato, que ele deve ser detido. Erik Lensheer deve ser preso e impedido, como eu mesmo já tentei fazer antes. Esse mutante Magneto deve pagar pelo que fez. Se você, Erik, estiver nos assistindo nesse minuto, saiba que vamos caçá-lo. Não adianta se esconder.”

O pronunciamento acabara.

Alice tentava digerir as informações que agora há pouco foram jogadas sobre ela com violência. Ela sentia sua própria expressão mortificar-se, abismar-se, e aos poucos, enfurecer-se. Ela levou um dedo à televisão, tocou a imagem de seu pai, enquanto percebia o que vinha acontecendo.

Erik e Liam se conheciam. Liam até mesmo já perseguira Erik e odiara-o por ser mutante. Alice nem imaginava as coisas que o seu pai provavelmente deveria ter feito a Erik, tamanho era o ódio do seu pai por mutantes. Mas aí surgia outro problema.

Erik nunca mencionara isso para Alice. E ele sempre fazia tantas perguntas para ela sobre o pai... Sempre fazia isso com um brilho ligeiramente maligno nos olhos. Foi, então, com uma profunda decepção que Alice deduziu.

Erik a estava usando para se aproximar do pai dela. Todo esse tempo, todas as noites na varanda, todos os salvamentos, todos os beijos e todas as palavras de conforto. Nada daquilo tinha sido real. Erik não passava de alguém vingativo e rancoroso, um nato predador.

Uma única lágrima escorreu pelo rosto dela. Foi escorrendo pelas bochechas dela, ardendo na trilha em que passava. Alice sentiu tanta raiva, que obrigou-se a ser forte como nunca antes. Ela precisava falar umas coisinhas para Erik. Precisava reunir todo ódio, toda fúria e toda decepção que sentia para enfrentá-lo.

- Alice? – Chamou Charles Xavier. Alice enxugou rapidamente sua lágrima e mexeu-se, a fim de não deixar Charles ver seus olhos vermelhos. Ela não soube dizer desde quando ele entrara ali e a vira.

- Olá, Professor. Espero que não se importe, mas preciso ir ao saguão de Utopia. – Ela respondeu, tentando normalizar a voz.

            - Não sei o que você viu na televisão, mas está passando em cada intervalo comercial. Peço calma, muito diálogo e... – Disse Charles. Então, o Professor também assistira ao pronunciamento e entendera tudo. Mas Alice virou-se.

            - Calma? Diálogo? Assim que eu encontrar Erik, ele terá tudo. Menos isso. – Afirmou Alice, desviando-se da cadeira do Professor e marchando até o centro de Utopia.

            Erik mal imaginava o que o aguardava.

            Erik terminara de arrumar seu uniforme. Ele tentava afastar Alice de seus pensamentos, porque era cada vez mais intenso o remorso que sentia. Ele pensou em visitá-la, mas achou melhor amadurecer a ideia. Por fim, resolveu dirigir-se ao saguão de Utopia, no andar principal. Era onde ele passava grande parte das tardes.

            E Alice corria até lá, sem se importar que o lugar estivesse lotado. Muitos mutantes se perguntavam como ela escapara da enfermaria, outros perguntavam se ela precisava de ajuda. Ela ignorou todos, no máximo assentindo sem nem ouvi-los. Quando ela avistou Erik, sentiu os pulsos queimando. Tivera uma raiva absurda, incontrolável. Sua Águia interior queria emergir, mas ela conseguiu deter-se e acalmar-se minimamente.

            Alice parou diante de Erik, cruzando os braços. Ele a observou com curiosidade e com aquele característico ar de superioridade.

- Como pôde? – Ela perguntou simplesmente. Um traço de repulsa vibrando em sua voz.

Erik olhou-a de relance, imaginando o pior. Disfarçou, perguntando cínico:

- Como eu pude o que?       

Alice avançou lentamente, com um sorriso irônico. Ela agiu sem pensar. Deu um sonoro tapa na cara de Erik. Todos ao redor pararam o que faziam e começaram a prestar atenção na briga que surgia, mas Alice não se importou.

- O que você fez, garota? – Urrou Erik, agora com a expressão igualmente voraz.

- O que eu fiz? – Ironizou ela, olhando com desdém para Erik. – Já assistiu à televisão hoje? Liam Field... Esse famoso deputado falou de você. Ele disse que conhece você, Erik. Ele disse que conhece você de desavenças antigas! Será que foi ele quem torturou você?

Alice agora estava com o rosto a centímetros do rosto de Erik. Enquanto acusava-o, a expressão dele passava de raiva momentânea à incredulidade pelo que ouvia. Então, com um choque, ele percebera. Alice descobrira tudo.

- Você e meu pai se conhecem! São inimigos antigos! Ele está caçando você, por causa do assassinato que eu cometi! Ele quer terminar o que vocês começaram... Quando pretendia me contar? Ou melhor, será que você pretendia me contar?

- Alice... Eu... Olha... – Arquejava Erik. Ele fora pego de surpresa, e não sabia como lidar com isso. Alice não parecia disposta a conversar.

Ela olhou para ele com a expressão voraz e furiosa. Parecia querer dar outro tapa nele, caso fosse necessário. Ela gritou, inteiramente descontrolada:

- Cale a boca, Erik. Não adianta mentir agora. Nós dois sabemos que você é um homem rancoroso, vingativo e ameaçador. Tenho certeza de que pretendia se vingar do meu pai. A pergunta é “como?”. Me usando? Usando a mim para chegar até ele?

            Erik sustentou o olhar de Alice, retribuindo a fúria que os olhos dela emitiam. Ele queria retribuir também as ofensas recebidas, mas com um pesar em sua mente, percebeu que não poderia. Alice tinha razão em tudo o que falava. Para Erik, restava apenas aguardar passivamente o desprezo dela. Ele disse, atenuando o tom de voz:

- Você não tem ideia do que eu passei, Alice...

Mas ela interrompeu-o com desdém. Fitou-o com tanta indiferença, com tanto desprezo e ódio no olhar que Erik sentiu ter perdido para sempre a garota divertida do inverno de 2010.

- Não tenho mesmo. E nem quero ter. Não quero me transformar numa pessoa como você. – Erik fez menção de tocá-la. - Afaste-se de mim, Erik!

Por fim, só restava para ele ser sincero com ela. Alice descobrira tudo, por meio de um pronunciamente na televisão do próprio pai, e Erik precisava aceitar a verdade dos fatos. Ser sincero era a única coisa decente que ele podia fazer. Porque, naquele instante, percebeu que perdia mais do que um peão de seu jogo. Perdia a pessoa que ele mais gostara até então em sua vida patética. Perdia alguém que ele queria muito bem. Era como se um futuro um pouco mais feliz para ele estivesse, nesse momento, sumindo em cinzas, desvanecendo... Tudo por culpa dele próprio. No entanto, ele sabia que, se tivesse a chance, não agiria diferente. Erik não mudaria seu jeito. Portanto, restava para ele lamentar-se e desejar que Alice um dia voltasse para ele. Nisso, ele tinha fé. Falou, pausadamente:

- Eu vou ser sincero com você, Alice. Eu realmente me aproximei de você para me vingar do seu pai.  Tentei muitas vezes conversar com você para descobrir informações sobre ele... Eu queria, e ainda quero, destruí-lo. Quero fazê-lo sentir o dobro de dor que eu senti quando eu estava sendo estudado por ele e por seus capangas. Mas aí, eu descobri que não posso. Não consigo fazer isso. Você não merece, Alice. E eu... Eu... Gosto de você. Nunca quis magoá-la. Eu ainda quero me vingar de seu pai, não vou negar. Mas não vai ser usando você.

Alice olhou-o, por um momento, com aqueles olhos calmos e compreensivos. Porém, como mágica, sua máscara de fúria voltou.

Erik prosseguiu:

- Você me fez desistir desse plano. Isso nunca tinha acontecido.

- Não acredito em você. – Ela respondeu secamente.

Erik falou, dando de ombros:

- Eu não esperava por outra atitude vinda de você. Mas eu te entendo. Não mereço nada além de seu desprezo. Mas eu pretendo fazer as únicas coisas que posso. Ser sincero, e me desculpar.

Alice endureceu a expressão ainda mais, e aumentou o desprezo em sua voz, quando disse, indo embora:

- E eu vou fazer o que devia ter feito há muito tempo, Erik. Me afastar de você e dizer adeus.


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