Cameron Briel

Sempre ele.

Sempre o maldito Grigori.

Era extremamente incrível como ele conseguia atrapalhar meus planos em menos de um dia. Era incrível como ela estava na palma da mão dele. Era incrível a magnitude da ligação dos dois.

Aquilo irritava. Aquilo magoava. Feria. Mas o que mais eu poderia fazer? Era sempre desse jeito. Eu sempre me apaixonava por ela, ele sempre se fez de idiota para afastá-la e ela sempre parecia querer escolher o oposto, mas sempre quando chegava o momento, ela ia correndo para os braços daquele cretino.

Ficar dentro daquele reformatório não iria resolver os meus problemas. Eu precisava esfriar a cabeça e pensar em alguma forma de reverter aquela situação. Não me daria por vencido, Lucinda ainda seria minha de qualquer jeito. Ela precisava saber que eu não era o monstro que Daniel provavelmente deve ter falado, eu tinha um coração, eu tinha humanidade.

Caminhei a passos firmes, rumando aos portões do reformatório. Não estava preocupado com o fato dos vermelhos estarem ligados, queria mais que eles se fodessem.

Eu já tinha um lugar em mente, iria para o primeiro bar que encontrei nessa cidade no momento em que pisei no reformatório. O mesmo encontrava-se a dois quarteirões da Sword and Cross o que facilitava e muito minhas fugas no meio da noite.

Adentrei ao ambiente simples e mal decorado, era típico de um boteco onde um copo de pinga custaria um dólar. Sentei-me em uma das cadeiras da bancada e pedi o de sempre, uma vodka com limão com bastante gelo.

O barman serviu-me uma dose exagerada e eu mergulhei meus lábios na boca do copo, deliciando-me com o gosto forte e ardente da bebida. De algum jeito, aquilo costumava ser algo relaxante para mim. E naquele instante eu precisava relaxar, precisava pensar abertamente, não entregaria os pontos tão facilmente.

Jamais havia sonhado em me apaixonar novamente, e Lucinda foi uma prova de que o acaso costumava brincar com as pessoas, costumava mudá-las. A forma como ela andava, como desviava, envergonhada, de uma troca de olhares, tudo tornava sua existência a coisa mais pura e humana que podia-se imaginar. Ela foi o antídoto para o mal que uma certa ruiva me causara.

—Cameron?! – Uma voz melodiosa e maldosa soou em meus ouvidos.

Engoli em seco ao ouvir. Eu sabia quem era, jamais poderia esquecer aquele tom. Virei-me com cautela, desejando estar enganado, mas eu não estava.

—Lilith?! – Minha voz falhou quando bati os olhos na ruiva de olhos intensos em minha frente.

Minha história com Lilith não é a das mais românticas. Em um tempo bastante remoto, apaixonei-me por ela de uma forma intensa e devota. Por muito, acreditei que ela me amava igualmente, mas se estou na merda hoje, vocês devem saber exatamente o que aconteceu no fim desse romance trágico.

—Não sabe como eu procurei por você... – Ela começou rindo. – Digo, vasculhei o mundo inteiro, nunca poderia imaginar que te encontraria aqui.

—Poupe-me de suas histórias, por mais que eu não entenda seu interesse repentino em me encontrar, devo te dizer que agora que o fez, pode ir dar meia volta, cruzar aquela porta ali atrás e ir atrás de algo que realmente valha a pena fazer. – Meu tom ríspido deixou bem claro minhas intenções com ela.

Eu já previa que ela não levaria a sério nem um terço das palavras que eu havia acabado de proferir. De um jeito extremamente vulgar e sensual, a garota caminhou a passos graciosos até mim, e aquilo não era nem de longe a melhor coisa a ser feita.

—Ora, por favor! – O deboche era evidente em seu tom de voz. – Não finja que não está com saudades, passamos por momentos intensos demais para serem esquecidos.

Gargalhei alto com sua investida.

—Sabe, eu tinha esquecido que você possui um senso de humor incrível... – Continuei rindo. – Mas quero que saiba de uma coisa, eu estava extremamente feliz e realizado sem a sua presença ou qualquer coisa que remetesse a você.

—Tem certeza disso? Pelo o que me lembro de sua personalidade, você só sai para beber todas quando alguém parte seu coração, acha mesmo que pode me enganar? Cameron, você não está nem de longe melhor sem mim. – A presunção dela era evidente.

—Ainda estou tentando entender a partir de quando isso virou da sua conta. – Mordi o lábio inferior, nervoso.

—Então é verdade? Eu tenho uma concorrente em potencial?! Preciso me sentir ameaçada? Oh, céus! Como isso foi acontecer? – Lilith parecia realmente incomodada com aquilo.

—Chega! Minha vida não diz respeito a você, nada disso diz respeito a você, Lilith! – Esbravejei, enquanto me levantava.

—Não importa o quanto você esconda, eu vou encontrar a vadiazinha que anda morando em seus pensamentos, e te faço uma promessa, ela vai sofrer em minhas mãos da mesma forma que você sofreu. Apenas eu tenho o direito de partir seu coração, Cameron! E assim vai continuar sendo até o dia do juízo final. – A ruiva sibilou como uma cobra pronta para dar o bote.

—Eu pensaria duas vezes antes de tentar qualquer coisa contra a vida dela, acredite se quiser, mas, mesmo que consiga descobrir a identidade dela, você jamais encostará em um mísero fio de cabelo dela, e se o fizer, só vai comprovar seu atestado de cobra venenosa. – A olhei com um certo desprezo.

—É agora que eu tenho que explodir em uma gargalhada? Desde quando um demônio como você se comporta como um anjo? Não sei quem possa ser essa garota, mas sei que ela te transformou em um completo paspalho. – Lilith zombou.

—Um dia a gente aprende que nem tudo se resume a coisas ruins, posso sim ser um demônio e posso ter feito inúmeras coisas da qual eu possa não me orgulhar, mas nada se compara a você e ao seu veneno. – Caminhei a passos largos até a porta do estabelecimento.

—Aonde está indo? – Ela arfou com minha extrema sinceridade.

—Se você não sai eu saio, pode ficar com o restante da bebida, não faz mais diferença, não quando eu sei o que fazer. A propósito, faça um favor ao mundo e desapareça da minha vida, se você diz que sente algo por mim vai saber respeitar essa decisão, adeus, Lilith. – Dei as costas e me pus a andar o mais rápido que podia.