– Ele não vai se importar – a voz fria e suplicante do strigoi chegou a meus ouvidos, eu apostava que era do Moreno.

– Você sabe que Ele não gosta de sua comida tocada – por um momento eu fiquei confusa. Eu não tinha ideia de quem era realmente o Ele, mas tinha uma fortíssima impressão de que era um strigoi mais forte e chefe dos strigois na minha frente.

– Ele não vai se importar, nós trouxemos Morois para ele e só quero o dhampir. – isso foi o suficiente pra que minha mente ficasse alerta. Percebi imediatamente que o lugar onde estávamos, um pequeno porão úmido e mal iluminado, estava cheio. Havia três morois com olhos arregalados e fixos nos stroigs, duas humanas que choravam histericamente e dois dhampirs, imediatamente percebi que eram guardiões, sua postura revelava isso. E ao lado de Mason, meu melhor amigo, quase meu irmão, a pessoa em quem eu mais confiava, estava o strigoi Moreno, seus olhos vermelhos brilhavam de fome e ele continuou falando.

– Ele nem precisa saber da existência desse daqui, - falou, empurrando a unha no rosto de Mase, fazendo meu sangue gelar – Há comida aqui suficiente, a dhampir é deliciosa e Ele não vai se preocupar com um dhampir quando ver os moro...

O Moreno foi interrompido pelo strigoi Loiro que saltou da cadeira em que estava sentado e atravessou o porão em uma velocidade assustadora, ergueu o Moreno e o sacudiu como se fosse uma boneca de pano. Suas presas estavam alongadas, seus olhos brilhavam perigosamente e sua voz fez com que me encolhesse na cadeira.

– Se ouvir sua voz novamente eu vou desmembrá-lo e largarei seus pedaços em algum campo antes do sol nascer e o deixarei lá pra queimar, entendeu? - sua voz era fria e mortal e ele fitava os olhos aterrorizados do outro strigoi. Em nenhum momento eu duvidei de sua capacidade de cumprir a ameaça, ele era mais alto e muito mais forte que o strigoi Moreno.

– E - eu sinto muito, meu senhor. Eu não tinha a intenção de irritá-lo, estou faminto.

O nojo, o desdém e a fúria eram visíveis no rosto do strigoi Loiro, rezei para que ele negasse o pedido, arremessasse o Moreno na parede ou arrancasse a cabeça dele. Qualquer coisa menos permitir que ele se alimentasse e matasse algum de nós.

– Tanto faz – disse o Loiro, largando o Moreno – Seja rápido e silencioso. E pegue o ruivo. - Imediatamente o Moreno se virou na direção de Mase. Meu coração errou duas batidas antes de bater freneticamente, minha mente nublou pelo pânico e minha garganta fechou, porém nada disso foi suficiente para impedir que um grito desesperado explodisse pra fora de mim.

– Não! – gritei me debatendo na cadeira, era minha culpa que estávamos ali. Era por causa da minha irresponsabilidade, pela minha falta de capacidade de amar Mase do jeito que ele merecia, que estávamos ali. Eu não podia permitir que ele morresse daquela forma. Não Podia. – Não faça isso, não com ele. Maldição, me use, mas ele não!!

O loiro apenas me observou, mas o Moreno riu da minha cara – Ora, ora temos uma garotinha apaixonada, é? Que interessante! – ele disse com desdém e se voltou na direção de Mason, que estava pálido como um cadáver, o que ele seria em breve se eu não impedisse, e chocado.

Pensa, Rose, PENSA! – gritei mentalmente, olhando horrorizada enquanto o strigoi se aproximava lentamente de Mase, só pra aumentar meu desespero. Meus olhos voaram pela sala procurando qualquer coisa que pudesse usar a meu favor.

Uma pequena parte de mim percebeu que os morois e os dhampirs me encaravam, as humanas haviam parado de chorar e que o Strigoi Loiro me olhava com curiosidade e frieza.

Frieza. Eu nunca conseguiria nada implorando para um strigoi, somente talvez, tornar sua refeição mais prazerosa. Mas se eu o desafiasse... Ignorando meu bom senso e a razão que gritavam para mim parar, pus minha melhor mascara de desafio e usei meu pânico a meu favor.

– Sabe o que eu acho? – gritei pro Moreno. – Acho que você esta com medo, está tão fraco, é tão fraco que tem medo de se aproximar de mim. Sabe que eu sou mais forte que você e que posso acabar contigo!

Aquela mesma pequena parte percebeu o olhar chocado dos morois, dhampirs e das humanas, também percebeu que o strigoi Loiro me olhava com verdadeiro interesse, e que havia arqueado as sobrancelhas diante das minhas palavras. Ele também não foi o único a reagir a elas. O Moreno ficou furioso, ele praticamente rugiu:

– Mais forte que eu? Você não é NADA comparado a mim! Eu sou mais forte que você, garotinha estúpida! Muito mais forte!

– A você é? Então por que não prova? – disse com frieza e nojo – Me solte e veremos quem é o mais forte, quem leva a melhor. Se eu matar você eu e o ruivo somos deixados em paz, se você ganhar terá uma refeição dupla e a certeza de que é o melhor.

– Sua vadia desgraçada, vou te mostrar quem é o melhor! – disse partindo em minha direção. E naquele segundo percebi a dimensão do que havia feito. Eu havia apostado tudo, havia entrado no jogo e iria até o fim, até por que eu não tinha muita escolha. Tinha um strigoi danado de bravo querendo meu pescoço. Porém antes que o Moreno realmente saísse do lugar o strigoi Loiro o impediu, segurando seu braço.

– Deixe-me te-la. Deixe-me mata-la – exigiu o Moreno.

– Não – disse o strigoi Loiro.

– O que? – gritamos, eu e o strigoi Moreno, praticamente em uníssono.

– Não você não tem permissão para matá-la, nem sequer tocar nela. E a menos que não queira se alimentar irá calar a boca e acabar logo com o ruivo. – disse o Loiro encarando o Moreno – Fui claro? – Imediatamente o strigoi Moreno se virou na direção de Mase.

Em um segundo a mascara de desafio e frieza se perdeu em meio a meu desespero. Aquilo não podia estar acontecendo. Eu havia apostado alto e havia perdido de uma forma que não previ. Eu me descontrolei, aquilo não fazia parte do plano, isso não podia estar acontecendo. Fúria surgiu de uma forma explosiva dentro de mim.

– Bastardo Desgraçado! Maldito Loiro Oxigenado! Seu Desgraçado Filho da Puta! – gritei enquanto me debatia, sua reação foi simplesmente erguer a sobrancelha ironicamente.

– Faça isso logo. – disse o maldito Loiro ao Moreno que me observava. Ele não hesitou se lançou sobre Mase e o mordeu. Eu gritei junto com ele. Senti sua dor como se ela fosse minha.

– Não, não, não... Mase – solucei seu nome enquanto minhas lagrimas nublavam a visão de sua vida sendo sugada por um monstro. Monstro era aquilo que todos os strigois eram, criaturas desalmadas que não deveriam existir e se existiam deveriam ser mortas. Todas elas. E seria isso que eu faria, de alguma forma eu sairia dali viva e mataria todos os strigoi que conseguisse. Por Mason e para Mason. Sempre.