–Dois-

Vejo a chuva aqui fora. Ela se torna tão entediante.

Essas gotas, apenas caiem, por nenhum prazer, nenhuma razão, nenhum motivo.

Ter ganhado essa oportunidade ainda é surreal. Nunca me imaginei aqui nos Estados Unidos, jogando futebol e ainda estudando em uma boa escola.

É tudo tão perfeito.

Mas você não está aqui, Takuto Shindou.

E eu sinto a sua falta.

“Sabe, ficar pensando no Shindou, não vai trazer sua vida de volta.” Kariya disse, entregando uma xícara escrito I Love NY.

“Eu não estava pensando em Shindou, e obrigado.” Peguei a xícara, tocando seus dedos gelados, e soprando o vapor que subia.

“Aposto minhas moedinhas, que você estava.” Disse ele sussurrando perto do meu ouvido.

Não pude deixar de sorrir, Kariya era provocante a sua maneira. Virei-me a ele.

“Perdeu suas moedinhas.” Andei até a cama, e ele se juntou a mim, sentamos. “Na verdade, eu estava observando essas gotas, é tão sem sentido, elas caiem e caiem, sem prazer, sem razões ou motivos.”

Kariya balançou a cabeça.

“Sabe, eu não concordo com você. Existe motivo para cada coisa que existe no mundo. Talvez uma gotinha dessas que caia na nossa janela, esteja envergonhada de manchar a vidraça, se perguntando o porquê de fazer isso. E ainda existem outras gotinhas que estão molhando as flores do Central Park, e ficando felizes em ajudá-las e deixá-las forte.”

Obviamente, estabeleci a relação que Kariya quis dizer. Shindou era a gotinha feliz, que deixava os outros fortes, enquanto eu era a envergonhada, me questionando das coisas. Suspirei.

“Seus olhos não mentem Kirino. Você estava pensando em Shindou, está pensando nele agora, e continuara pensando nele.”

“Desculpe...” Sussurrei.

“Eu não posso reverter seu coração partido, apenas lhe dar o meu, Kirino, e esperar que isso seja o suficiente.” Kariya disse seguro.

Fiquei pior ainda. Sei que essa não era a intenção de Kariya, mas era a verdade. E eu não estava só me magoando, estava magoando ao meu verdinho também.

Odeio isso.

“Eu amo você, Kariya.” Falei baixinho.

“Não precisar dizer, se não tiver certeza.”

“Mas é.”

Era um clima frio, ao novo país que eu estava. Minha mão tateou o cachecol azul de Kariya e o puxou para mais perto.

Senti sua respiração perto de mim, sua boca a milímetros de distancia. Eu abri meus lábios e reconheci seus lábios os completarem. Sua mão saiu da xícara e foi para minha cintura.

Posso jurar que mesmo com vinte mil camisas sobre o meu corpo, o toque de Kariya faz com que minha pele formigue.

Obviamente, eu estava corado, e fiquei mais ainda quando senti Kariya avançar com a ponta da sua língua entre minha boca.

“Ahn...” Eu adorava essa sensação. E ele também.

A verdade é que eu gosto de Kariya.

Ele me ama.

Ele nunca me deixou ir.

Ele consegue de alguma forma trazer meu pequeno coração de volta a realidade, mesmo que fosse por alguns segundos, e não era uma realidade cruel e sombria, era doce e adorável. Uma vida feliz. A minha vida.

Os dedos puxavam seus fios lisos levemente, pedindo por mais exploração, mais contato. Porém, ele se separou e olhou fundo em meus olhos.

“Ligue para Shindou.”

“Não.” Disse convencido.

“Bem, vai ter que fazer isso uma hora.” Kariya levantou, mas eu puxei sua mão e ele caiu em cima de mim.

“Não... Não me deixe.”

“Eu não vou.” Disse Kariya firme outra vez.

E então me beijou. Suas mãos tiraram minhas habituais marias chiquinhas e deslizaram sobre minha camisa abrindo calmamente os botões, um a um.

Seus lábios foram a meu pescoço.

“Ahn...” Suspirei, enquanto ele mordia o local. Abri meus olhos e vi meu Iphone acender a tela.

Era Shindou me ligando. Pela décima quarta vez.

O celular desviou a chamada, e eu desviei a atenção do celular.

Meus braços sublinharam a costa de Kariya, e ele involuntariamente gemeu. Sorri.

Estava na hora de seguir em frente.

~~//~~

Por mais que eu tente, Kirino não me atende. Talvez esteja no treino ou algo assim. Mas ele nunca deixou de me atender.

Por favor, Kirino. Vamos, me atenda.

‘Este celular está indisponível no momento. Por favor, tente mais tarde. ’

“Aah!” Joguei o celular na cama.

Que adianta ter a melhor tecnologia do mundo, se a pessoa que você mais quer ouvir a voz não o atende?

Kirino. Kirino. Kirino.

Você esteve aqui algum tempo antes de ir embora?

Você queria me dizer algo. Acho que me disse. Mas porque eu não consigo lembrar?

É como... Se eu ignorasse algo que você tivesse falado...

Mas eu consigo decifrá-lo até de olhos fechados.

O que foi que eu perdi?

Ah...

Você queria minha aprovação, não é mesmo?

Queria que eu dissesse não, que você ficasse aqui comigo.

Mas você não está, e eu não sabia se devia ter dito isso. Seria tão egoísta... Mas era uma grande chance para você, porque desperdiçá-la... Comigo?

Mas agora sei que deveria ter dito.

Ainda sim. Há algo nesse quebra cabeça, que não se encaixa. Há algo que eu estou frustrado por poder esquecer.

Sinto que é algo importante.

Fito a claridade lá fora.

Sei de uma pessoa, que ainda está aqui, que pode me ajudar.

Que pode me dizer.

O que eu me esqueci de lembrar.

Por favor, Tenma. Ajude-me a lembrar.