Sogno D'amore escrita por Rocker


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, é maldade o que eu fiz. Quase oito ou nove meses sem postar, mas sinto muito MESMO por isso. Pode ser que isso irá se repetir, mas essa fic é a mais complicada de se escrever, pois é uma das que eu quero transformar em livro mais tarde, então todo cuidado é pouco. Envolve muitos fatos reais, que eu tenho que estar pesquisando a todo momento, checando a cada momento, então pode ser que essa será a que menos vou trabalhar. De vez em quando, quando bate aquela vontade desesperadora de escrevê-la, eu tento postar um capítulo ou outro, mas não será sempre. Mas peço que não me abandonem, de verdade, porque essa fic eu não vou abandonar! Bem, é isso, espero que gostem desse capítulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/372271/chapter/10

Capítulo 10

Estava novamente em meus sonhos. No meu quarto de hospital imaculado - que eu, pessoalmente, estava com uma vontade louca de tingir só de preto. Eu podia perceber claramente que eu estava dentro de um sonho. Tudo parecia mais claro, mais nítido e eu eu via detalhes pequenos que antes eu não me daria ao trabalho de perceber. Era como se tudo ali houvesse um magnetismo maior sobre mim.

Mas, ainda assim, não havia qualquer sinal de Nicholas por perto. Fiquei uns bons três minutos ponderando o que deveria fazer, até que me toquei de que a babaca aqui não estava mais presa em aparelho algum. Como provavelmente o tempo nos sonhos se passava mais devagar, os médicos já deviam ter percebido que eu conseguia respirar pelos meus próprios pulmões e não precisaria usar uma bomba irritante.

Claro, eu não ia perder a oportunidade de me livrar daquela cama desconfortável, mesmo que fosse somente em sonho! Levantei-me da cama e, apesar de estranhar que Nicholas não estivesse ali, agora eu agradeci por esse fato. Pois eu estava apenas com minhas roupas íntimas. E eu, com certeza, não ia querer que ele me visse assim. Seria vergonhoso. Extremamente vergonhoso.

Olhei em volta e quase dei graças a Deus por encontrar um roupão preto felpudo, que eu reconheci sendo meu de casa, mas só não o fiz porque não era lá muito religiosa. Coloquei ele sobre os ombros, fechando-o bem ao meu redor. Não queria correr risco que fosse. Saí para fora do corredor, estranhando não encontrar ninguém. Olhei de um lado a outro no extenso corredor monótono hospitalar, à procura de um sentindo para encontrar Nicholas, ou ao menos alguma coisa que me fizesse acordar de novo. Não ia ficar ali sozinha nem que me pagassem!

De um lado, o que parecia ser a recepção do andar onde meu quarto era localizado. Do outro, mais perto, ficava uma varanda bem no final. Uma varanda, onde estava Nicholas. De costas para a portas de correr de vidro e apoiado no parapeito da grade. Completamente despreocupado. Andei cuidadosamente até lá, ainda desconfortável em meu roupão e preocupada com o fato de alguém aparecer. O que já deveria ter acontecido.

– Você os expulsou mais rápido do que imaginei. - comentou ele, assim que pisei na varanda.

Senti todo o sangue subindo para minhas bochechas e, por um segundo, imaginei que morreria por falta de sangue no resto do corpo.

– Você ainda tem muitas coisas a me explicar. - desviei o assunto, me aproximando e me apoiando na grade ao seu lado.

A vista de lá era linda. Parecia ser um jardim plantado ali nos fundos do hospital e me lembrei de que os idosos de Salém gostavam de manter aquele jardim intacto. Em uma cidade com pouco mais de quarenta mil habitantes, era comum que o hospital dividir os fundos com o asilo. E, ali no meio dos diferentes tipos de flores, ao lado da parte gramada, eu pude ver um pequeno conjunto de tulipas. Acho que descobri onde Nicholas arranjou a tulipa vermelha que havia me dado.

– Eu já disse que ainda não posso te falar. - ele respondeu, ainda sem me olhar.

Era melhor assim também. Meu estado de decadência estava ganhando níveis extremos a cada vez que nos encontramos.

– E por quê não? - perguntei, frustada com minha falta de informações.

Nicholas hesitou, seus lábios se apertando em uma linha fina e o olhar duro em direção ao jardim

– Porque ainda não é seguro. - ele respondeu.

– Para mim ou para você? - perguntei ironicamente, e assim que ele finalmente direcionou seus olhos azuis eletrizantes para mim, percebi que ele não estava brincando.

– Para você, e eu não posso deixar que nada te aconteça. - ele disse, com a voz amargurada.

E por mais que fosse fofo da parte dele, isso era machismo.

– Posso cuidar de mim mesma. - argumentei.

– Não foi o que pareceu quando chegou aqui toda arrebentada. - ele rebateu, mas logo arregalou os olhos, se arrependendo.

Não que eu ligasse muito para o que os outros diziam.

– Bem, a culpa é daquela vaca velha e louca que me entregou esse colar! - resmunguei, rezando mentalmente para que ele soltasse alguma coisa.

– O quê?! Vó Nicholie nunca faria isso! - ele aumentou o tom de voz, na defensiva.

E franziu o cenho, irritado consigo mesmo quando percebeu que caiu na minha lábia. Acho que ando demais com o Travis.

Arqueei uma sobrancelha e sorri maldosamente. - Então, quer dizer que ela é sua avó...

Nicholas bufou, frustado. - Não vou falar mais nada, não adianta.

Pensei por um instante, procurando qualquer coisa que me ajudasse a convencê-lo. Meu próximo passo era um tiro no escuro.

– Tudo bem, então acho que sua avó vai querer o cordão de volta... - comentei sugestivamente, levando a mão em direção ao cordão de ouro em meu pescoço.

Mas Nicholas foi mais rápido e segurou minha mão a tempo. - NÃO!

Levantei uma sobrancelha, desafiando-o. Ele engoliu em seco, aparentemente envergonhado, e soltou minha mão.

– Vai contar ou não? - perguntei.

Nicholas respirou fundo, como se procurasse por mais tempo.

– Somente algumas coisas por agora. Não quero e não posso colocar sua vida em risco. - ele respondeu, indicando que entrássemos.

Atravessamos toda a extensão do corredor, e paramos direto na recepção. Sem ninguém. Nos sentamos naqueles sofás desconfortáveis e, por um segundo, me perguntei porque não voltamos para meu quarto. Provavelmente os sofás da recepção eram mais confortáveis que a poltrona que tinha lá. Tomei certa distância de Nicholas no sofá, ainda pensando no estado em que me encontrava.

Nicholas suspirou, antes de começar a fizer. - Primeiras perguntas?

– Por quê minha vida está em risco?

Ele ficava estalando os dedos, como um tique nervoso, ou apenas procurando ganhar tempo. Ou talvez os dois.

– Porque eu preciso da sua ajuda. - ele disse vagarosamente, medindo cada mínima palavra que deixava sua boca. - E existe uma pessoa que não quer que você me ajude. Então, como ela não pode me atingir, ela tentará te atingir.

– E por quê essa pessoa não quer que eu te ajude? E que ajuda você precisa?

Eu estava tentando tirar qualquer tipo de informação. Quanto mais eu soubesse, melhor seria. E dane-se os riscos.

– Alguma outra pergunta que não tenha a ver com isso? - ele virou-se para mim, arqueando uma sobrancelha.

Eu bufei frustradamente desta vez. Cara, esse lance de não saber nada me deixava verdadeiramente irritada!

– Okay, então... - parei um instante para pensar em qual pergunta eu faria. - Pode ao menos me explicar como funciona esse coisa de sonho e realidade?

Ele hesitou, pensativo, até que se acomodou mais no sofá, virando-se de frente para mim. Eu permaneci do mesmo jeito robótico que estava, cuidando para que o robe não revelasse mais que o necessário.

– Não é exatamente um sonho... - ele começou a explicar. - Eu estou preso no colar que você tem. Isso - ele fez um gesto indicando a sala, mas entendi que ele queria que eu compreendesse que era mais que isso - é como uma outra realidade, outra dimensão.

– Mas então por quê aquele dia você disse que não era a primeira vez que vinha em meus sonhos? E o que você queria dizer com aquilo? - interrompi-o, deixando a curiosidade me consumir.

– Epa, uma coisa de cada vez! - ele disse, rindo, e eu abri um sorrisinho sem graça. - Não posso explicar tudo ainda, mas quando fui preso no cordão, eu vim parar aqui. É uma dimensão que imita a realidade. Se eu lhe dissesse isso, você não acreditaria.

– E muito provavelmente lhe chamaria de louco. - completei, sorrindo marotamente.

– Exatamente. - ele sorriu fracamente também, antes de continuar. - Tudo o que acontece na realidade, acontece aqui também, mas nem tudo o que acontece aqui, acontece lá.

– Mas e a tulipa, e a marca dos dedos...? - questionei, mas ele logo interrompeu.

– Certas coisas acontecem sim. Mas essa dimensão é no colar, e quando você dorme, sua mente é transferida para cá também. Aqui, o que passa de cá pra lá, depende da sua fé. Isso só aconteceu por quê acreditou que estaria lá ainda quando acordasse. Se não acreditasse, não estaria.

– Mas e o tubos? - perguntei.

– A mesma coisa. Não deixei você tirar porque você acharia que seriam tirados também lá.

– Por quê você aparece só pra mim?

– Por causa do cordão. - apontou para o cordão preso em meu pescoço. - Eu posso viajar nos sonhos de qualquer um, mas apenas quem tiver esse cordão pode me ver, e controlar o que levar até a realidade quando acordar.

– E por quê não tem mais ninguém aqui? - perguntei, olhando para o hospital deserto. Era algo que me incomodava desde que entrei nessa "dimensão".

– Porque só você está com o colar.

Ficamos alguns minutos em silêncio, com Nicholas analisando minhas expressões e me deixando desconfortável diante da ideia de estar sendo analisada atentamente. Eu estava curiosa. Extremamente curiosa. Mas não forçaria muito a barra para ele.

E então eu senti a mesma tontura, que estava passando a ser familiar. Olhei para Nicholas, e pela minha expressão ele percebeu que eu acordava.

– Isso já está irritando... - eu disse, minha voz já se tornando longínqua.

Ele riu. - Mais uma coisa... Belo robe.

E a última coisa que tive consciência foi das minhas bochechas corando sobre o olhar malicioso de Nicholas Parker.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!