Batalha Real - Matar ou Morrer! escrita por Stark
18 horas e 54 minutos de jogo...
Daniel e Vinícius encontravam-se no andar em cima da Farmácia no quadrante F-5, ambos contemplando o corpo de Gabriel, que acabara de cair no chão com o braço jorrando sangue.
Vinícius estava caído junto à parede, não conseguiu se manter de pé ao ver a cena do antebraço de Gabriel caindo no chão. Olhou para Daniel, ainda segurando a espada e rastejou rapidamente até o antebraço, retirou a arma da mão separada do corpo e apontou para Daniel, que já havia reagido e agora mantinha Vinícius no chão, encurralado contra a parede, apontando a espada para a barriga de Vinícius, enquanto o colega mirava com o revólver em seu peito.
Os dois se encaravam em completo silêncio, escutando apenas a respiração um do outro. Vinícius olhou para Gabriel caído no chão e olhou novamente para Daniel como se dissesse “Podemos fazer mais disso juntos”.
– Aliança? – Vinícius perguntou, rompendo o silêncio.
– Você não me mataria nem se quisesse. – Daniel disse, baixando a guarda e estendo a mão para ajudar Vinícius a se levantar.
Sabia que o colega não atiraria, e pela primeira vez sentia que havia uma pessoa em quem poderia confiar. Vinícius segurou a mão de Daniel e se levantou. Vinícius encarou-o por um instante, não desconfiado, mas seguro da aliança, da amizade que só alguém que presenciara o amigo cortar o antebraço de alguém e ainda se sentir agradecido poderia ter.
– Ele morreu? – Vinícius perguntou. Daniel se aproximou do corpo e abaixou-se colocando o dedo no pescoço e conferindo os sinais vitais.
– Não. Ele ainda tem pulsação. – Daniel disse – A pressão dele está baixa, acho que isso explica o desmaio. Ele deve acordar em breve.
– E o que vamos fazer com ele? – Vinícius disse, como se perguntasse “E então, como vamos matá-lo?”
– Eu quero que você pressione o antebraço, pra conter a hemorragia.
– O quê?! Mas por quê? – Vinícius perguntou atônito.
– Confie em mim. Se ele acordar, você tem como se proteger. – Daniel disse, apontando para a arma na mão do colega.
– Então nós vamos só esperar ele acordar?
– De certa forma sim. Eu voltarei em breve. – Daniel disse, pegando sua bolsa que estava em cima de uma mesa.
– Aonde você vai? – Vinícius perguntou desesperado.
– Não muito longe. Confie em mim. E faça o que eu disse. – Daniel falou, se retirando do recinto.
Vinícius ficou olhando para a porta que acabara de fechar em estado de choque. Onde Daniel teria ido? Por que lhe deixara sozinho com o colega que tentara mata-lo? E por que se recusava a se vingar dele? Por quanto tempo ele se ausentaria? Será que ele só estava com medo de matar ele e Gabriel, e toda a história de aliança tinha sido mentira? “Isso explica porque ele levou a bolsa!” Vinícius pensou, revoltado. Olhou para o chão e viu que a poça de sangue ao lado de Gabriel já atingira seus pés. Ajoelhou-se e pressionou o antebraço de Gabriel, manchando as calças de sangue, por mais que fosse difícil acreditar, tinha que confiar em Daniel. Fora ele quem o viu entrar naquele escritório correndo e não o atacara, pelo contrário, lhe protegera.
Vinícius ficou olhando para aquele escritório, vendo os raios de sol entrarem enfraquecidos nas janelas de película e se perguntado há quanto tempo seu amigo estivera ali. Viu garrafas de suco e pacotes de biscoito vazios em cima da mesa e percebera que Daniel estava preparado. Provavelmente ele teria ido até um Supermercado e sobrevivido. Vinícius ficou admirado, e se interessou em saber pelo que Daniel passara até aquele ponto do jogo, visto que ele mesmo já tinha passado por poucas e boas.
Não sabia se haviam se passado três minutos ou três horas, Vinícius escutou o barulho da porta e viu Daniel entrar apressado, colocando a katana em cima da mesa, e a bolsa no chão, retirando dela gaze, algodão, bandagens e um esparadrapo.
– Segura, e vai me dando umas tiras pra eu conter a hemorragia. – Daniel disse, colocando o esparadrapo nas mãos do colega, que teve que soltar a arma no chão.
Daniel colocou algumas camadas de algodão e gaze no ferimento e pressionou.
– Já está coagulando um pouco... – Daniel disse, agora enrolando bandagens no ferimento. – Esparadrapo!
Vinícius deu uma tira de esparadrapo para Daniel.
– Mais! – Pediu Daniel.
– Aqui. – Vinícius entregou, assustado e ao mesmo tempo impressionado com a atitude do colega.
– Acho que assim está bom. – Daniel disse se levantando – Ele vai estar muito fraco, mas não vai morrer...
Vinícius juntou a arma do chão e se levantou.
– E se der uma infecção? – Vinícius perguntou.
– Acho que todos vamos estar mortos antes que qualquer infecção se espalhe. – Daniel disse friamente, olhando para Gabriel que começou a se mexer.
– Ele tá acordando... – Vinícius disse, e sem saber exatamente o que fazer apontou a arma para Gabriel, mas Daniel o fez abaixá-la.
– Hã... – Gabriel gemia, recobrando a consciência. Ao tomar conta de onde estava ficou em estado de choque, como se estivesse esperando a morte.
Daniel se abaixou e tirou da bolsa uma garrafa de água pela metade e uma cartela de remédios. Tirou dois comprimidos da cartela e estendeu junto à garrafa de água para Gabriel.
– Tome. – Daniel ofereceu.
– Isso é veneno? – Gabriel perguntou.
– É analgésico. Você sofreu um ferimento grave, isso vai ajudar. – Daniel disse.
– É veneno! Vocês querem me matar! Eu não queria atacar... Eu só estava assustado... Não me matem! – Gabriel falava desesperado.
– Tome... O... Remédio... – Daniel disse novamente.
– Por favor... Não façam isso! Vocês... Vocês me conhecem! Sabem que eu não entraria no jogo... Eu só estava assustado! Por favor.... Por Deus!
– Se quiséssemos te matar eu já teria estourado os seus miolos. – Vinícius disse, apontando a arma para Gabriel. – Agora, tome o remédio!
Daniel sorriu com o canto da boca e ofereceu os comprimidos e a garrafa de água para Gabriel, que sob a mira da arma, engoliu os comprimidos e bebeu toda a água da garrafa. Vinícius ficou encarando Daniel, que observava Gabriel.
– Você já matou alguém? – Daniel perguntou a Gabriel.
– Não... Vocês sabem que eu nunca faria isso! – Gabriel respondeu rapidamente.
– Por que abriu fogo contra o Vinicius? – Daniel continuou.
– Porque... Porque... Ele tava perto do corpo... Da Gabriela... Eu achei que ele tinha matado ela... E... E eu achei que ele estava jogando... – Gabriel disse, nervoso.
– E você está jogando? – Daniel perguntou incisivamente.
– Não... Eu não! Eu só quis me defender... – Gabriel respondeu.
– E você sabe de alguém que esteja participando? – Daniel continuou.
– Eu... Eu vi o Cícero... Ele tava dirigindo um carro... E acho que ele tava segurando uma arma, com o braço pra fora do vidro... Como se tivesse procurando qualquer um na cidade pra atirar... Ele... Quase me viu...
– O Cícero... Não sei por que não estou surpreso... – Daniel disse – Você está surpreso Vini?
– Não... – Vinicius respondeu, observando o interrogatório em silêncio.
– É, Gabriel... Você precisa tomar mais cuidado, não vai querer cair nas mãos de pessoas que podem estar jogando... Essa sua falta de cuidado lhe custou uma mão. – Daniel disse, sarcástico para Gabriel, como se ele não tivesse sido o responsável por aquilo.
– É... Eu vou... Vou ter... Mais cuidado... – Gabriel disse, lentamente. Sua visão começou a embaçar.
Vinícius e Daniel ficaram observando Gabriel fechar os olhos e perder a força dos músculos do corpo, deitando-se no chão, claramente perdendo a consciência.
– O que foi que você deu pra ele? – Vinícius perguntou.
– Ansiolíticos. – Daniel respondeu.
– Quê?
– Hipnóticos, tá ligado? ... Remédio pra dormir!
– Ah... Mas ele não tomou só dois comprimidos? – Vinícius perguntou confuso.
– Eu triturei e dissolvi muito mais na água que ele bebeu... O suficiente pra derrubar um cavalo. – Daniel respondeu – Agora que a Bela Adormecida caiu nos braços de Morfeu... Vamos ver se o que ele diz é verdade... Me alcança o revólver?
Vinícius alcançou o revólver para Daniel, sem hesitar. Daniel começou a conferir.
– Quantos disparos ele fez contra você? – Daniel perguntou.
– Acho que uns 4 ou 5... – Vinícius respondeu, se ajoelhando em direção à bolsa de Gabriel, no chão.
– É, acredito que foram 5... Ele só tem mais um projétil no revólver... – Daniel disse.
– Mas acho que ele já disparou mais que 5 vezes... – Vinícius disse, mostrando a Daniel uma pequena caixa contendo projéteis, com alguns espaços não preenchidos.
– Hum... – Daniel se aproximou de Gabriel e apalpou os bolsos do colega – Ele tem alguns no bolso, mas não o suficiente pra preencher todo o espaço do estojo. Acho que esse danadinho se meteu em mais confusão do que ele nos disse.
– Daniel... – Vinícius disse olhando para a bolsa assombrado – Eu acho... Que ele é do tipo que gosta de guardar troféus.
– Por quê? – Daniel perguntou.
Vinícius tirou um picador de gelo de dentro da bolsa.
– Isso é o quê? – Daniel perguntou surpreso.
– Um picador de gelo! Não é o tipo de coisa que se encontra em uma Loja de conveniência aqui nessa cidade... Daniel... Isso aqui era a arma de alguém!
Daniel encarou Vinícius por um instante, não estava surpreso por Gabriel estar mentindo. E sabia que Gabriel teria que morrer, cedo ou tarde, por isso teve a ideia de parecer disposto a formar uma aliança com Gabriel para que ele lhe passasse informações sobre o que estava acontecendo no jogo. E conseguira, agora sabia que Cícero também estava participando do jogo, e que havia conseguido um carro. Mais uma ameça.
– Eu sabia que ele tava mentindo! – Daniel disse, depois de uma pausa.
– E agora... O que a gente faz? – Vinícius perguntou, pensando em largar Gabriel em algum canto da cidade e abandoná-lo.
– Receio ter que dizer... Que ele precisa ser eliminado. – Daniel disse, se levantando e olhando para o revólver em sua mão.
Vinícius observou em silêncio.
– Daniel... – Vinícius disse, com a voz tremendo – Acho que não é o momento apropriado... Mas tem uma coisa... Que eu preciso te contar...
– Você já entrou no jogo? – Daniel perguntou imediatamente.
– Sim – Vinícius respondeu, soltando o ar depois de uma longa pausa – O Murilo... Apareceu do nada e... Eu não queria... Mas quando eu vi... Já tinha feito.
– O Murilo? – Daniel disse, dando de ombros – Já era de se esperar... Aquele cara te odeia.
– Odiava. – Vinícius disse friamente.
– Tá bom... Depois dessa confissão eu fiquei comovido. Acho que eu vou te poupar do trabalho sujo... Agora somos uma aliança, cúmplices não é mesmo? – Daniel disse. Vinícius assentiu com a cabeça.
Daniel se abaixou, pegou um algodão e colocou nos ouvidos.
– Me ajuda aqui? – Daniel perguntou, arrastando o colega no chão. Vinícius segurou Gabriel pelas pernas e os dois o levaram até o banheiro.
– Eu me viro daqui pra frente. – Daniel disse olhando para Vinícius como se dissesse “Você não vai querer ver isso”.
Vinícius saiu do banheiro e observou Daniel na porta. Colocou as mãos nos ouvidos e assistiu Daniel estender a arma e apontá-la para o chão. Então ouviu o disparo.
Sobreviventes: 18 e contando...
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