Batalha Real - Matar ou Morrer! escrita por Stark


Capítulo 20
Estresse


Notas iniciais do capítulo

A Arena é um ambiente altamente estressante. Os alunos são submetidos à tensão constante e cada um tenta fazer o possível para não sucumbir a esses sentimentos.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/372215/chapter/20

14 horas e 30 minutos de jogo...

Daniel lavava o rosto na pia do banheiro no andar acima da farmácia do quadrante F-4, o banheiro era um dos únicos lugares em que ele notava não ter câmeras. A sua katana repousando encostada contra a parede daquele banheiro agora lhe parecia mórbida demais. Sua vida inteira havia se tornado uma viagem vertiginosa e nauseante em apenas algumas horas. Pelo que lhe parecia, afinal, não sabia dizer quanto tempo ele e seus colegas permaneceram drogados e sob custódia do governo para darem início ao jogo. Horas? Talvez dias? Quanto tempo levara para evacuarem a cidade e instalar todas aquelas malditas câmeras? Era difícil dar qualquer palpite preciso.

Sempre fora um rapaz inteligente, de mente perspicaz, capaz de ter uma visão ampla de toda a situação e conseguir tomar uma atitude equilibrada e sensata, e sabia que para sobreviver teria que acabar matando alguém, essa hora inevitavelmente chegaria. Toda a situação lhe deixara estranhamente confortável com essa ideia, embora já notasse sintomas de estresse intenso em seu organismo, a queimação em seu estômago jamais estivera tão forte.

***

Felipe se encontrava no depósito no quadrante H-5, oscilando entre os extremos de nervosismo e tristeza. Chorava e sentia raiva, estava com vergonha de estar tendo todas aquelas reações na frente das câmeras, por isso se escondeu atrás de uma caixa. Ele olhava para a picareta que havia recebido e o disparador de pregos que arrumou. Aquilo eram armas, armas que ele supostamente usaria para matar os seus colegas, seus amigos. Ele deveria entrar ou não no jogo? Aquela pergunta lhe causava arrepios e lhe traziam à tona sentimentos incontroláveis, ele não queria participar daquilo.

***

Vinícius agora estava escondido em meio às árvores do matagal no quadrante C-8, atento a qualquer barulho que ouvisse. O som dos pássaros lhe tiravam a concentração, mas ele lutava para manter a calma. Repassava mentalmente tudo o que já havia passado, se lembrava de acordar na sala, escutar o General chamar um por um para participar daquele jogo insano, se lembrava do corpo de Vanessa ainda no chão da sala, se lembrava do medo de estar sozinho na cidade à noite, de se esconder naquele banheiro e ter que pular a janela e se esconder no matagal, exatamente como estava agora, de ter que passar a noite em baixo da chuva e sair de seu esconderijo quando o mesmo virou Zona de Perigo, de encontrar aqueles carros e Murilo tentar matá-lo, de usar um daqueles carros para matar Murilo, de fugir atordoado daquele local, de passar pelo matagal e encontrar aquela casa, de tentar colocar todos os pensamentos no lugar e de voltar a se esconder no matagal.

Vinícius se lembrava, tudo era tão nítido, tão vívido, como se tivesse acabado de acontecer. Imaginava pelo quê os seus colegas que ainda estavam vivos passaram, e se pegou triste imaginando os seus colegas que morreram. Era incapaz de julgar os que já mataram, quando ele mesmo já havia se tornado um assassino. Ali, escondido entre as árvores, percebera que não era tão forte quanto imaginava ser, que não era tão corajoso quanto queria ser, ele olhava para as folhas que balançavam ao vento iluminadas pela luz do sol, desejando que tudo aquilo terminasse rápido, e sem muita dor.

***

Helia estava na loja de roupas no quadrante I-9, se distraindo com as peças de roupa que encontrava pela loja, algumas eram tão bonitas que ela as colocava na frente do corpo e se olhava no espelho, tantas estampas, combinações possíveis, ela se lembrava de Luana, que sempre quis cursar moda. “Ela se foi...” Helia pensava, havia escutado o anúncio do General. Quando aquela voz retumbava pela cidade, o corpo de Helia se sentia fraco e ela ficava com uma enorme vontade de vomitar. Sabia que coisas terríveis estavam acontecendo do lado de fora daquela loja, mas ela não queria pensar mais naquilo. Helia estava em estado de negação. E ali, dentro daquela loja, ela encontrava conforto e uma falsa sensação de segurança.

O estresse estava acabando com ela, justo ela, que sempre tinha o controle de todas as situações, que sabia gerenciar suas próprias emoções. Agora ela se encontrava ali, admirando um vestido azul-esverdeado que combinava com a cor dos seus olhos. Estava a ponto de ter um colapso, se dirigiu até sua bolsa e tirou uma barra de chocolate que pegara do Supermercado, deu uma mordida e sentiu rapidamente os efeitos da endorfina aliviando a tensão, e torcendo para que a serotonina lhe fizesse aguentar por mais tempo aquela situação.

***

Karine deixara a prefeitura e vagava pela cidade no quadrante G-4 com a balestra que roubara de Eduardo, simplesmente não sabia o que fazer agora, deveria matar? Não era tão simples assim, mas sabia que era um mal necessário. Seu cérebro estava disparado em adrenalina, o que fazer? Para onde ir? Mantinha a balestra alta como se ela fosse lhe proteger de todos os perigos. Como se uma única flecha, a única que tinha disponível, pudesse lhe tirar daquele pesadelo.

***

Cícero caminhava frustrado no quadrante F-3, havia levado um tiro no ombro e já andava com dificuldade, ele olhava para o ferimento e sabia que aquilo não estava doendo tanto quanto deveria “Incrível o que a adrenalina faz com o corpo” ele pensava. Havia matado uma vez, e isso lhe rendera um revólver, um bônus além da espingarda que já possuía. Seus pensamentos estavam nebulosos e confusos, toda aquela situação era esgotante, precisava de água, sombra e descanso, mas também não estava disposto a terminar sua busca tão cedo.

Foi então que virando o quarteirão, ele avistou alguém, seus cabelos esvoaçavam conforme ela olhava de um lado para o outro mantendo a mira da balestra alta, parecia que queria criar coragem, mas estava visivelmente apavorada. Cícero começo a correr, não iria arriscar tentar acertar de tão longe, e precisa aproveitar a oportunidade que a sua vítima não percebera sua presença. Karine escutou passos, de estavam vindo? Se virou de costas e percebeu Cícero vindo em sua direção em grande velocidade , tentou disparar com a balestra, mas errou. E lá se fora a única flecha que tinha disponível, podia avançar com a sua foice que guardara, mas olhou para a espingarda que o garoto trazia consigo, agora precisava correr, o mais rápido que podia.

Cícero olhava para aqueles cabelos esvoaçantes correndo em disparada, ergueu a mira da espingarda e disparou, nada, o tiro não acertara a garota. Disparou outra vez, e viu o sangue explodir do braço da garota. Ela não desistia de correr, de procurar salvação, outro disparo, dessa vez a garota caiu no chão, Cícero acertara em cheio em sua cabeça.

Ele se aproximou e observou aquele corpo ensanguentado caído em uma posição estranha. Olhou para a balestra, e suspirou “Arma inútil... No que ela estava pensando?” Ele olhou para a bolsa aberta da garota e viu a foice guardada ali “Ela já matou alguém? Muito provável...” Ele pensou, percebendo que ela possuía duas armas. Olhou para aquelas armas, elas pareciam tão inúteis comparadas à sua poderosa espingarda e o seu eficiente revólver, e pensou em quantos alunos estavam por aí se matando com um estilete ou coisa parecida.

Percebeu um carro estacionado próximo à ele, ele se aproximou e reconheceu os mesmos carros que vira em frente a Igreja, na praça, um ainda estacionado e o outro ainda segurando um corpo contra a parede. Ele ficara assustado e ao mesmo tempo admirado com a engenhosidade daquilo. Ele precisava ter aquele carro. Abandonou o corpo da garota com a foice e a balestra e se dirigiu ao veículo. Ao entrar, sentiu que aquilo era uma armadura, que acabara de tomar a melhor decisão que teve até agora, ele ligou o carro e o barulho do motor preencheu o ar silencioso da cidade, e com seu novo brinquedo, disparou pela Avenida.

***

Eduardo olhava pela janela da prefeitura, voltara para lá na esperança de surpreender Karine e obter sua balestra de volta, mas não encontrava a garota. Numa mistura de depressão e irritação por ter perdido sua balestra, a única arma que lhe dava alguma tipo de vantagem “Ao menos ela não conseguiu levar a aljava inteira” Se lembrando da garota indo embora desesperada com a balestra e deixando Eduardo para trás, somente com um spray de pimenta. Ele escutou um barulho e viu a sua frente, na Avenida, um carro percorrer a rua. Ficou surpreso, mas ao mesmo tempo curioso, como alguém arrumara um carro? Será que ele poderia arrumar um também? Certamente, um carro lhe parecia bom, mas inútil sem arma alguma, a não ser que atropelasse alguém, isso seria uma forma de conseguir outra arma. Eduardo agora abandonara a sensação de impotência e estava determinado a sair daquela situação.

Sobreviventes: 19 e contando...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sei que demorei muito para continuar a história, mas acho que finalmente vou conseguir concluí-la.

Ao longo desse hiato, eu pensei em reescrever toda a história, mudar personagens, a personalidade de cada um deles e encontrar uma outra forma de deixar a narrativa mais interessante. Porém, cheguei a conclusão de que deveria deixar a história como está e continuar com o final que imaginei desde o começo, porque se fosse interferir nesse ponto eu estaria desapontando não só quem lê a história, mas a mim mesmo.

Gostaram do capítulo? Deixem comentários... O próximo capítulo sai em breve.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Batalha Real - Matar ou Morrer!" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.