A Escolha Do Guerreiro escrita por Yui


Capítulo 5
De Volta Pra Casa


Notas iniciais do capítulo

Bem, aqui estamos nós de novo com A Escolha do Guerreiro.
Nesse capítulo acabamos com a infância de Tigresa, literalmente.
Vocês vão entender porquê assim que lerem.

Boa leitura e não me ameacem, ein? hahaha



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Quatro dias se passaram, Feng preferiu ficar um pouco mais, seria divertido ao menos para Tigresa, Víbora e Po. Claro que era Tai Lung quem corria atrás deles, ou ao menos das duas fêmeas já que o pequeno panda às vezes ficava sem entender as brincadeiras ou se cansava de correr.

O leopardo das neves teve muito trabalho com elas enquanto o Grão-Mestre do Palácio de Jade, junto à Shifu e Feng, conversavam exatamente sobre kung fu. O pai de Tigresa permitiu que ela passasse pelo circuito e Shifu permitiu a Víbora. Então, as duas foram observadas por Mestre Tai Lung. Desta parte, Po não participava, já que nunca havia treinado kung fu e seu pai precisava de ajuda.

O dia seguinte reservava uma viagem de volta à Guangzhou. Na última noite no palácio, depois do jantar, Tigresa resolveu perguntar à Tai Lung porque ele mudou.

Esperou que o leopardo saísse da cozinha e estivesse rumo aos quartos. Seu pai ainda não havia voltado de uma caminhada que fora fazer com Oogway e Shifu. Não sabia o que eles tanto conversavam, mas descobriria depois.

Avistou o mestre leopardo entrar no corredor, ela estava com a cabeça na porta e Víbora estava com ela em seu quarto.

- Chama ele – pediu a serpente em um sussurro.

- Calma – esperou ele se aproximar e abriu a porta lentamente – mestre Tai Lung?

O leopardo já havia aberto a porta de seu quarto, mas voltou a fechar assim que ouviu a felina chamar.

- Sim?

- Poderia vir aqui contar uma história pra gente? – Pediu ela com aqueles olhinhos dourados brilhantes.

- Ah, está bem – disse ele com um suspiro.

Enquanto chegava ao quarto das meninas, revirou os olhos e então entrou. As viu sentada na cama da pequena listrada próximo à cabeceira e se sentou na outra ponta.

- Bem, que história querem que eu conte?

- Como você mudou... – perguntou Tigresa sem duvidar em responder.

O leopardo abriu os olhos até onde pôde. Esperava que perguntassem por isso, mas ainda não queria contar a elas. As duas o encararam, até que ele cedeu.

- Ok, tá bom, eu vou contar.

Ambas sorriram felizes com a decisão do mestre. Finalmente saberiam porque ele resolveu abandonar o ódio que sentia por não conseguir o que queria.

- Quando comecei a destruir o vale eu estava furioso pra ter o título de Dragão Guerreiro e se não o tivesse por boa vontade, o conseguiria à força, pelo menos eu queria que fosse assim...

Cheguei no Sagrado Salão dos Heróis e encontrei Mestre Oogway e meu pai, eu pensei em atacá-los, mas Shifu começou a falar:

- Tai Lung, pare!

- Pare, meu jovem. Não precisa ser assim.

- Como você sabe que não precisa ser assim?! O que é que você sabe, seu velho?! Não é você que tá perdendo o título sabe-se lá pra quem! – Eu gritava, cheio de raiva e achando que tinha razão.

- Você tem sim um futuro brilhante, mas não da maneira como você vê – dizia Oogway. A voz dele era calma, mas ele me olhava muito sério e concentrado.

- Por favor, filho. Não faça isso.

- Eu só quero que você se orgulhe de mim. Você só dizia que eu teria um futuro brilhante, que eu merecia o pergaminho se eu me dedicasse. Eu não tenho falhas, eu não faço um movimento errado quando treino ou luto e acham que eu não sou digno?! Nem que você me faça um elogio sequer?!

Eu estava ofegante depois de tantos gritos, cheguei a babar. Não estava medindo minhas palavras. Foi quando meu pai derramou algumas lágrimas.

- Eu sempre tive orgulho de você – disse e deu um passo em direção a mim – eu sempre soube que você se tornaria um grande mestre, só queria que você merecesse a glória que é ser o guerreiro lendário, mas... não me importa se você não for esse guerreiro. O que me importa é que você ama kung fu e domina seu estilo, é um adulto forte e merece todos os elogios do mundo, merecia também ter um pai melhor do que eu.

Fiquei chocado. Dizendo aquilo ele soltava lágrimas com mais frequência. Chorava sem nenhum ruído.

- Só quero que você me perdoe, meu filho. Pode me destruir, mas deixe os outros em paz, deixe o palácio em paz. Se quiser lutar comigo, lute, mas não faça mal aos outros. Eles não merecem pagar pelos erros que eu cometi de não te iludir e forçar. Esses serão o meu perdão e a minha paz – Shifu me olhou seriamente.

Eu adquiri a mesma expressão dele e fui chegando cada vez mais perto. Acho que Oogway percebeu que eu vi seu sorriso, ele é muito sábio e acho que entendeu o que eu ia fazer.

Cheguei perto de Shifu que ainda estava com a guarda baixa e fiquei parado um tempo olhando pra ele, tentando saber se ele dizia a verdade. Abracei meu pai, peguei ele de surpresa.

- O... o que você está fazendo?

- Te abraçando, pai.

- Por quê?

- Porque eu te perdoo. Falou a verdade e agora entendo que não precisava de título nenhum pra você gostar de mim ou estar orgulhoso.

- Claro que não, meu filho. Eu te amo, sendo ou não mestre de kung fu, sendo ou não o Dragão Guerreiro. O que me importa é você estar feliz, há mais na vida do que kung fu.

- É o que diz Mestre Oogway.

Ele me abraçou e então eu senti que não precisava fazer esse tipo de sacrifício pra ganhar o orgulho dele e ouvir que ele me amava e que não precisava de nada a mais do que eu era pra me amar. Mais tarde, eu pedi desculpas pra Oogway e pro pessoal do vale.

Demorou um tempo, mas eles pararam de sentir medo de mim. Depois ele me disse que não tinha coragem de dizer tudo o que disse a mim.

-... mas acabou tudo bem.

- O que fez você mudar... foi o pedido de perdão do seu pai? – Perguntou Víbora sorrindo com lágrimas nos olhos e o leopardo assentiu – que lindo!

- Meu pai fez tudo por acreditar em mim, eu era grato e achava que precisava de mais do que isso pra demonstrar, mas tava errado – disse Tai Lung -, mas foi o perdão...

-... o perdão e o amor de pai pra filho que o salvou – interrompeu alguém à porta do quarto.

- Mestre Shifu – disseram as duas ao uníssono.

- Boa noite, meninas. Contanto uma história pra elas, filho? – Sorriu olhando o felino.

- Sim, pai – sorriu também.

- Onde está meu pai? – Perguntou Tigresa.

- Oh, sim. Ele está com Mestre Oogway.

- Mas que tanto eles conversam? – A pequena estava ficando cada vez mais curiosa.

Eles estavam andando pelo palácio em silêncio. Depois de passar todos esses dias aconselhando Feng a fazer o que sentia certo, a velha tartaruga só podia esperar que ele seguisse os conselhos, se bem que a decisão não dependia apenas dele.

O idoso encarava para o tigre que tinha um olhar vazio enquanto iam para a ala dos estudantes.

- Como vou fazer?

- O que, meu jovem?

- Minha esposa não vai querer quebrar o compromisso com o príncipe. Não vai querer livrar Tigresa das lutas pelo território. Ela pode sofrer quando souber a verdade sobre as lutas, e o que o futuro reserva pra ela.

- Mas o casamento pode ser cancelado.

- Sim, pode. Espero que até lá, o príncipe se lembre disso.

- Se acalme, meu amigo – a tartaruga colocou a pata sobre o ombro de Feng, chamando sua atenção e sorriu para ele – o destino levará sua menina por onde ela deve ir – ele parou e olhou para o céu estrelado de verão apontando com seu bastão – olhe para a estrelas. Olhe para a lua, ela sempre faz seu ciclo, ela sabe onde deve chegar. Mesmo quando uma nuvem está em seu caminho ela vai até onde deve estar. E acontecerá o mesmo com Tigresa, ela vai onde deve ir, mesmo que seu caminho seja nublado, se ela se deixar guiar pelos acontecimentos, por suas próprias ações e sentimentos.

- Como ela vai saber? – Perguntou Feng com dúvida.

- Se for o caso, ela vai receber alguma ajuda do destino pra seguir seu caminho, ele é implacável, não importa o que se faça.

- Tenho medo de que ela se fique rebelde, que se volte contra nós, será que vai fazer isso?

- Não posso te dizer que isso não possa acontecer. Nada é impossível, mas você está se preocupando muito com o que virá. Na hora que a dificuldade se apresente, você saberá o que fazer se procurar bem e se permitir guiar.

Feng olhou para o chão com o coração acelerado. Ele tentaria evitar que algo afetasse a felicidade de sua filha, mas... Oogway era tão sábio, não podia estar errado ao dizer que ela saberia o que fazer e que seria ajudada pelo destino, Feng só não podia imaginar como.

Seguiram caminho rumo aos quartos. O Grão-Mestre deixou-o com sua filha para que pudessem descansar. O dia seguinte seria muito puxado para voltar para casa.

Enquanto isso, muito abaixo do nível da montanha, na rua principal do vale, um ganso colocava seu filho... panda, para dormir. Estava no quarto da cria apagando a vela para que apenas a luz da lua pudesse entrar. Se aproximou da cama onde o pequeno Po estava deitado e o cobriu. Sr. Ping se sentou ao lado de seu filho que esperava que ele contasse uma história.

- Vai contar história sobre alguma lenda audaciosa do kung fu? – Perguntou o pequeno fazendo movimentos com as patas cortando o ar.

- Ah, vamos variar um pouco, o que acha?

- Ah... não sei. Vai ter ação?

- Hm, não sei. Você tem que ouvir pra saber.

- Conta, conta!

- Ok. É a lenda Qi Xi.

- O que é essa lenda? Fala de quê?

- Eu vou contar agora, e você já tem idade pra ouvir essa história que minha mãe costumava me contar pra tentar me fazer pensar em casar...

- Mas o que aconteceu?

- Eu me apaixonei...

- Sério? – Po arregalou os olhos, surpreso que seu pai se apaixonou e não se casou. O ganso assentiu e o filhote perguntou de novo – por quem? Onde ela está?

- Me apaixonei pela sopa – sorriu enquanto Po ficou sério e ergueu uma sobrancelha. Sr. Ping limpou a garganta para continuar – hm, aham, mas então, um jovem trabalhador do campo chamado Niulang que vivia com um amigo boi e foi expulso de casa pelo seu irmão e a esposa ruim dele, foi com seu amigo a um lago onde o amigo disse que ele podia arrumar a melhor das esposas e ser feliz com ela...

- Como ele chegou lá?

- Ah, sei lá, passeando. E chegou ao lago e viu sete fadas. O boi amigo dele encorajou ele a pegar uma das roupas pra fazer com que a dona fosse atrás e ele pudesse falar com ela pra ser sua esposa. O grupo achou os vestidos e foi embora, mas a mais jovem delas que se chamava Zhinü, ela desenhava as nuvens, sabia?

- Não.

- Então, ela não achava o próprio vestido e Niulang apareceu com ele e a viu sem nada...

- Pai!

- Tá bom, era só essa parte... ele a viu e pediu pra se casar. Ela aceitou e os dois se tornam um bom casal, se amavam e eram felizes, junto com seus dois filhos por muitos anos, mas a deusa, a imperatriz do Céu não gostou de saber que um mortal era casado com sua filha e quis separar os dois.

- Ah, não...

- Ah, sim... ela fica furiosa, arrasta sua filha de volta e cria tira seu pente mágico pra criar um rio de prata e os separa pra sempre. As nuvens que Zhinü desenhava eram tristes e ela não era feliz com saudade de seu marido e de seus filhos que foram deixados com ele.

- E acaba assim? – Perguntou Po começando a ficar incrédulo com o tipo de história que seu pai estava contando.

- Não, claro que não. Uma vez por ano, por ordem da rainha do Céu que ficou com pena de sua filha tão triste, as andorinhas tem piedade deles e então fazem uma ponte pra que eles possam se encontrar do lado em que Niulang está e passarem uma noite juntos a sétima noite do sétimo ano.

- Hm, melhor assim.

- Sabe do que é que eu tô falando?

- Não... do quê?

- Daquelas estrelas ali, olha, filho – apontou pela janela com sua asa.

Po viu duas estrelas, uma um pouco maior que a outra e entre elas, um rastro brilhante, parecia uma corrente de pequenas estrelas. Será que essa lenda era real?

- Pai, é de verdade?

- Não, Po. É só uma lenda. Boa noite, filho.

- Boa noite, pai.

O ganso saiu do quarto e foi se deitar, deixando seu filho sozinho para dormir também.

- Amanhã, conta uma história com ação – pediu Po de seu quarto ainda olhando as estrelas.

- Tá filho, agora dorme.

No Palácio de Jade, Tigresa acabara de escutar a mesma lenda que Po.

Estava deitava e seu pai a cobriu, contou a lenda a ela, que ficou com aqueles olhinhos dourados brilhando intensamente e se levantou da cama para ver as estrelas.

- Será que a Víbora vai querer ouvir?

- Mestre Shifu deve estar contando a ela agora, o Tai Lung... ou Oogway.

- Como você sabe? – Perguntou a pequena felina voltando a cama para ser coberta novamente.

- Estamos no sétimo mês e logo será a última noite. A última noite é o dia dos namorados chinês.

- É?

- Sim, e se dá a ele o nome da lenda...

- Qi Xi... tem festival pra isso?

- Claro que tem – sorriu – inclusive, em Guangzhou vai ter. Agora dorme pra gente ir cedo amanhã.

- Tá bom. Boa noite, papai - bocejou.

- Boa noite, meu amor – beijou a marca central de sua testa e se retirou, deixando-a cair em sono profundo.

Foi se deitar no outro quarto e demorou a pegar no sono, simplesmente por não conseguir deixar de pensar no que havia dito Oogway, no que Shifu disse também e no que ele poderia fazer para garantir a felicidade dela.

“Meu pai quis ficar no palácio, será que influenciaria Tigresa a fazer o mesmo?”, pensou olhando para o teto e lutando contra o sono para poder pensar mais. “Mas, tô pensando coisas ruins, besteiras, eu tenho que parar... acho que é sono”.

Se virou e adormeceu, depois de muito esforço para ficar relaxado, seu cérebro não parava um segundo.

No dia seguinte, acordaram cedo para começar a viagem. E ao segundo dia, passariam por um rio com uma ponte forte e larga, mas Feng achou melhor fazer isso no dia seguinte. Aproveitaria mais o tempo com Tigresa antes que ela soubesse de algo de seu futuro planejado. Queria ver a felicidade espontânea estampada no rosto da felina sem aquele ar de cansaço por conta de cobranças e responsabilidades que eram demais para uma menina como ela.

- Pai, por que ainda não vamos passar? Falta pouco pra chegar em casa? - Perguntou ela observando o cair da noite,

- Ah, falta meio caminho ainda, mas vamos aproveitar mais um pouquinho aqui... o que acha? - Sorriu - além disso, é uma grande viagem, foi legal, não foi?

Feng estava esquentando alguns bolinhos dados pelos trabalhadores do palácio em sua fogueira improvisada. Deixou a bandeja de lado para abraçar a felina sapeca que vinha correndo para ele.

- Foi sim, papai - ela o abraçou - muito obrigada. Nunca vou esquecer essa viagem. Foi a melhor coisa da minha vida!

- Até agora... você ainda tem muito pra viver, isso vai ser pouco perto de outras coisas pra você.

- Claro que não, vai sempre ser a melhor. Foi a primeira, eu fiz com você e foi muito, muito divertido, legal, vimos lugares tão bonitos e eu fiz novos amigos, por sua causa, pai - continuou abraçada fortemente ao pai, depois o largou e foi apanhar alguns bolinhos.

Feng ficou parado fitando o fogo crepitar à sua frente. Não estava prestando atenção ao fogo necessariamente, estava paralisado pelas palavras de sua filhote. Aquela última frase ecoava em sua cabeça.

Não podia transformar a vida dela tão cedo como fizeram com ele. Exigir tanto dela que apenas estava começando a viver.

- Pai? - Perguntou preocupada.

- Hm?

- O que foi?

- Nada filha... ah, s-sabe... o nome desse rio?

A felina olhou para o rio por alguns momentos e tentou imaginar. Fitou a ponte, a margem, as plantas ao redor delas e a água que refletia a lua cheia.

- Ahn, não, não sei... - olhou novamente para Feng.

- Se lembra da história, a lenda que te contei? - Olhou para ela sorrindo e ela assentiu - então, é o rio de prata, essa é a ponte das andorinhas e ela liga norte e sul, mas você vê no céu que as estrelas ficam uma para o leste e outra para o oeste...

- Podia ser como na história, então, essa daqui é qual?

- Essa pode ser a Niulang e a nossa parte da China, que é o sul, pode ser Zhinü...

- Tá bom - sorriu.

Comeram e depois de brincar um pouco com a cria, ambos dormiram. Tigresa ficou envolvida nos braços possessivos de seu pai e ambos ronronavam.

Realmente amor familiar é a ligação mais forte que se pode ter, o amor de um pai ou uma mãe por seus filhos.

Tanto é que, chegando em casa, Tigresa, depois de descansar, chamou Shaohannah e Seyoung para contar as novidades. As duas tigresinhas nem perguntaram à sua mãe se podiam ir à casa dos líderes da cidade.

Para contar as coisas, Tigresa resolveu sair à passeio com elas, passeio que seria em seu local secreto de treinamento e conversaram enquanto falavam.

Ao passo que, Feng e Ming-Yue tinham sua primeira briga séria em anos de casado, que era sobre o bem-estar de sua única filha e herdeira.

- Não podemos contar pra ela agora... vamos tentar resolver isso com o príncipe! O pai dele ainda está bem e vivo, vai poder quebrar essa promessa... aliás, eu nem sei porque isso existe.

- Não, Feng. Não podemos. O futuro dela já está em risco pelos ataques de sabe-se lá quem! Não podemos deixar que ela passe nada mal, não quero que minha filha sofra mais que o que pode sofrer ao ter essas obrigações... - começou a chorar.

Feng, há muito tempo, não a via chorar assim. Aliás, não a via chorar. Então ela se sentou no sofá da sala e ele a imitou, para depois abraçá-la.

- Pensa um pouco... se a gente conseguir, ela pode escolher o que quer da vida.

- E se não conseguirmos?

- E se ela se revoltar?

- E se tentarem nos tirar ela de novo? Se tentarem feri-la? São muitos "e se", mas temos que nos arriscar a ser detestados por ela pra que ela fique bem, segura...

O tigre suspirou forte e fechou os olhos por um momento.

- Está bem, Ming. Mas tenho medo...

- Eu também tenho, mas não vai acontecer nada com ela... ela vai continuar sendo essa nossa doce filhote.

- Espero...

- Eu também - olhou para ele e agarrou a pata do marido - vamos ter fé. Contamos para ela depois do jantar.

- Está bem.

O dia passou mais rápido do que eles imaginavam, para seu desespero. Tigresa chegou com suas amigas, todas felizes e a Ah-Kum atrás delas porque somente as encontrou a essa hora. Passou o dia buscando as filhas pela cidade toda. Ela levou as gêmeas para casa com Mu e então a família do líder tigre da vez, pôde jantar junta.

Tigresa sentia algo errado como na noite em que ela e seu pai acamparam próximos à ponte das andorinhas. A tensão era forte, não tinha como não perceber.

Ao terminarem de comer, levaram Tigresa para o quarto com aquela famosa frase dos pais "temos que ter uma conversa séria", dentre suas variantes. E ali despejaram tudo na pobre garota, tendo ao menos a delicadeza de escolher bem as palavras, embora isso não fosse adiantar muito.

A reação da menina não foi nenhuma da qual eles esperavam. Esperavam ouvir frases de ódio, elas não vieram. Esperavam que ela ficasse com raiva, mas também não pareceu, embora soubessem que ela provavelmente sentia algo assim. Ela chorou e seus pais se maldisseram por contar-lhe a verdade tão e de forma tao brusca, logo depois dessa incrível viagem que ela viveu.

Mas, que podiam fazer? Nada além disso. A deixaram sozinha para dormir e foram fazer o mesmo, mais tristes do que quando ficaram cientes de tudo que aconteceria quando concebessem um filhote. Mas não dormiram sem antes Feng soltar para sua esposa um "eu te avisei".

Não seria a última vez que ele diria isso a ela.

Com o passar dos dias, aquelas notícias entraram de tal forma na mente de sua cria que Ming se sentiria mais culpada à cada dia. Não por Tigresa se tornar rebelde, mas por ela fixar em sua cabeça que ela deveria viver em função desses objetivos impostos.

Treinando para ganhar a luta, aprendendo etiqueta para se casar, mesmo sabendo que isso poderia ser cancelado, o fazia por via das dúvidas. Vai saber se um dia teria que se casar ou ficaria ali liderando o bando de tigres daquela cidade? Ou quem sabe, as duas coisas? Ser líder de Guangzhou e acabaria sendo imperatriz, quem diria...

Isso não importava. Ela gostasse ou não, quisesse ou não, segundo seus pais, esse seria seu destino. Então não desperdiçaria seu tempo com besteiras como passieos, viagens sem ser por alguma competição ou torneio de kung fu à assistir ou participar, nada mais de reunião de amigas, mesmo sabendo que poderia afastas Shaohannah e Seyoung. Guardaria forças e colocaria sua mente no que deveria fazer à partir de algum momento de sua vida. E ignorou o que Mestre Oogway disse por acreditar que a sábia tartaruga estava errada, já que estava se baseando apenas naquele princípio de sua vida, sem pensar justamente que era somente isso: o princípio.

Aquilo valia para qualquer coisa e seria um belo conselho se ela o resolvesse seguir.

"Há mais na vida do que kung fu".


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Notas finais do capítulo

Eu mudei um pouco a lenda de Qi Xi porque né, eles são animais, do que é que o pastor vai tomar conta? E vamos fingir que daria pra ver as estrelas, só mudei um pouco pra dar sentido à fic e o princípio é sempre o mesmo como nesse link pra quem quiser a lenda inteira: http://atmoonlight.blogs.sapo.pt/47960.html
Aqui está minha versão de como Tigresa se torna a guerreira fria e distante do primeiro filme. Próximo capítulo acontece 17 anos depois dessa viagem.
O que acharam? O que imaginam que acontecerá depois de tanto tempo?

Bem, espero que tenham gostado e comentem. (:

Até mais. o/