Sorte ou Azar? escrita por Sídhe


Capítulo 2
Boa ou má?




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O Festival era, sem dúvidas, o maior evento de que Lea já havia participado. Os romanos sabiam como dar uma festa. Toda a cidade usava dourado e verde-escuro, em sinal de idolatria à deusa Fortuna. Lea recebera, assim como todos os outros semideuses, uma toga especial para aquele dia. Na verdade vestir togas a fazia se sentir como um pedaço de melão enrolado em presunto, mas deixou para lá, estava mais interessada no seu vestido para aquele dia. Peter a ajudara naquilo - menos na parte de experimentar a roupa de gala, que tinha certa dificuldade no zíper. Mas Lea não pediria para um garoto fechar desde sua perna até o tronco, então se virou com seus poderes de filha de Hefesto. Era simples e verde escuro, sem alças e com uma saia longa e leve, que a fazia parecer flutuar quando a usava. Gostei, pensou. Mas será que ele iria gostar também?

Deixou de lado aqueles pensamentos, se impressionando com a imagem de Fortuna em mármore sendo levada em um desfile pelas ruas da cidade até o pátio central. Alguns dos - coitados, acrescentou - semideuses levavam a estátua num pedestal. Ela tinha uma cornucópia em sua mão, um timão, uma roda e diziam ser cega. Fortuna é vendada porque distribui seus bens aleatoriamente, ela ouvira aquilo em algum lugar. Taí, ela gostaria de ganhar uma boa sorte. Ryan guiava o desfile, em seu pégaso Skippy, ao lado de Jeyne em Tempestade. Ambos usavam uma toga diferente agora, também verde simbolizando fortuna e riqueza.

Lea passeava pela cidade seguindo a tudo e todos, pois fora dispensada de seu trabalho para poder acompanhar o Festival. Comprou um chocolate numa das lanchonetes e seguiu ao lado de Peter pelas ruas.

– Você vai com Jeyne, certo? - Ela perguntou para o garoto indígena de olhos caleidoscópicos. Lea sempre achara Peter muito bonito, mas sabia que ele gostava de Jeyne, e não se importava, pois dava mais atenção a um certo filho de Belona. No entanto, ele mencionara que apenas não iria com a pretora por conta de Peter.

– Sim - Falou. - E você, tem par?

Lea deu uma risada incrédula, como se fosse a pergunta do ano.

– O quê? Eu não sou boa suficiente para ter um par? - Riu novamente - O meu par está bem ali na frente. - Apontou para a direção em que Ryan estava.

Peter deu uma olhada.

– Vai com o Skippy? - Zombou, rindo.

– Ó sim, espero que os cascos dele estejam brilhando como seus olhinhos pretos - Ela deu dois socos de leve no braço do garoto, que fez apenas rir.

– Ryan? - Concluiu - Impossível. - Deu outro sorriso.

Lea apontou o polegar para si mesma.

– Baby, não tem páreo para mim. - Piscou um olho. - Tudo bem que ele não parece ser a melhor opção do mundo quando veio me pedir porque, você sabe, ele ainda gosta da Jeyne. Mas de qualquer forma, eu vou com ele, não ela. - Peter desfez o sorriso à menção do nome de Jeyne, como se Ryan trouxesse más lembranças. E de fato trazia, porque todos sabiam que ele ainda era apaixonado por Jeyne. Lea só queria saber que diabos deu naquela cabeça para ele pedir para ir com ela ao baile.

Peter deu uma olhada em Lea.

– Você gosta dele. - Disse, voltando a sorrir.

– O quê? Não! - Lea se defendeu. Ele a olhou, levantando uma sobrancelha. Ela suspirou - Está bem, está bem. Eu gosto dele.

– Muito - Adicionou Peter, sorrindo vitorioso.

– Muito - Lea repetiu, sendo derrotada.

– O suficiente para esquecer qualquer outro - Ele falou.

– Eu não vou repetir isso aí - Lea disse, vendo que Peter estava realmente se divertindo com a situação. Filhos de Afrodite, pensou. - Mas se quer mesmo saber, sim, eu gosto muito dele.

Peter levantou as mãos em desistência, seguindo com Lea pela cidade. Vez ou outra observava Jeyne, com seus cabelos loiros presos em um rabo de cavalo, montada em Tempestade, usando as roupas de pretora. Lea queria poder dizer que não fizera o mesmo com Ryan. À noite eles iriam juntos para o Baile, e só lembrar daquilo a fazia ficar a ponto de querer lançar bolas de fogo em Otaviana (ela gostava de lançar bolas de fogo em Otaviana a qualquer dia e qualquer hora, para ser sincera). Certo, ela gostava dele desde o momento em que foram para uma missão juntos. E certo, ela já tinha pensamentos muito sujos com ele também. E estaria certo se ela dissesse que Ryan era, na sua opinião, o amor da vida dela? Quer dizer, eles passaram por tanta coisa juntos e mesmo assim eles nem sequer faziam maior contato. Ela o salvou, ele a salvou, eles tiveram que ficar uma noite inteira abraçados para evitar um congelamento e claro, tiveram certos constrangimentos na frente de Afrodite e um troll mouco cheio de furúnculos, mas qual é, ela só pedia uma chance.

Então, ela pisou em alguma coisa dura no chão. Tirou o pé de cima e viu, ali no piso de Nova Roma, um vidro quebrado. Ele brilhava muito à luz do dia, e Lea pegou-o, aproximando-o dos olhos. O vidro era em formato de coração. Grande parte dele estava faltando, mas não havia mais nenhum resquício de vidro no chão, não fora ela a quebrá-lo.

Peter olhou o coração.

– Jeyne estava me dizendo ontem que, se você acha alguma coisa no dia de Fortuna, pode ser a sua sorte - Disse - Ou azar. - Acrescentou.

É sempre retratada com os olhos vendados, pois distribui seus bens aleatoriamente.

Lea não sabia se havia pego a sorte boa ou má, ela só sabia que havia pego algo quebrado.

– Adorei a segunda parte - Disse, sarcástica - E se for azar?

– Só tem um jeito de saber. Fique com ele. - Ele falou, vendo o desfile passar. Ambos decidiram parar e se sentar em um dos bancos da praça. Lea voltou a observar o coração. Era vermelho vivo, parecendo... Fogo. Seus olhos arregalaram quando viu uma chama dentro do coração.

– Você viu isso?! - Ela perguntou de repente, surpreendendo Peter, praticamente esfregando o vidro na cara dele.

– Vi o quê? - Falou, tentando olhar para o mais dentro possível.

– Tinha fogo aí dentro!

Peter franziu o cenho, segurando o vidro e tentando ver algum sinal de fogo.

– Não.

Lea pegou o coração de volta.

Mas tinha. - Sussurrou para si, o olhando por uma última vez e guardando ele em seu bolso. Lea levantou a cabeça, vendo que o desfile continuava e a música alta agora prejudicava a conversa entre ela e Peter, que disse alguma coisa inaudível e saiu dali. Ficou sozinha, observando a estátua chegando pela rua. Os olhos de pedra de Fortuna, mesmo sendo cegos, pareciam vidrados nela. Lea tirou-o do short e revirou o coração quebrado mais uma vez entre os dedos. Teria ela pego a sorte ou... o azar?


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Notas finais do capítulo

O terceiro cap vai ser o maior e o cheio de emoções, então esse daqui foi mais como a introdução da história :)