A Lenda Dos Encantrios escrita por Any Queen


Capítulo 7
Amigos e Inimigos




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O grande dragão negro me fez recuar até cair no chão, ele permaneceu um momento em pé me analisando, enquanto eu fazia o mesmo.  Ele era maior que os outros que eu havia visto, seus olhos tinha uma íris azul e a outra verde, o que se tornava difícil de encarar,  suas escamas eram escuras como a noite, com defeitos por todo corpo, machucados de outras guerras.

                - Não me mate! – disse como se fosse um pesadelo, que você que gritar, mas sai somente um sussurro.

                “Bem que eu queria”

                - Quem é você? – perguntei tentando me levantar, com medo do dragão tentar me matar por fazer movimentos bruscos.

                “Dracon, e a magricela é quem?”

                - Kassie... – tirei a terra de cima de mim e pude ver melhor o tamanho da criatura, com certeza era maior que os outros, asas que se estendiam de sua coluna eram como as de um morcego, só que gigante. – Você é o meu dragão?

                “É impossível, meu único cavaleiro já morreu, mas eu não posso matá-la.”

                - Isso é bom?

                “Pergunte a velhota ali no canto, esses idiotas sempre sabem de tudo”

                - Você é sempre assim? – estava pensando em Brian quando fiz essa pergunta. Foi quando eles apareceram sozinhos, achei que já estariam com seus dragões. – ela disse que você é meu.

                “Ótimo! Estou preso a outro feiticeiro”

                - E ótimo! Estou presa a um dragão que só reclama.

                Não esperei a resposta, revirei os olhos e fui até o encontro dos outros. Eles não haviam mudado em nada, a não ser pelos colares de dragão nos devidos pescoços, menos Lily, que levava um passarinho, um Diamante Gold, no ombro, como se já fizesse parte dela. Dracon me seguiu com passos fortes, quando parei, ele abaixou a cabeça para ficar do lado da minha.

                - Você não morreu! – disse a Senhora Singer – Eu disse!

                - Uau, ele é bem grande – disse Frank cujo o cordão era preto.

                “Não, sou pequeno idiota!”

                - Cale a boca! – gritei sem pensar.

                - Desculpe... – disse Frank magoado.

                - Não foi você, foi o Dracon. – apontei para o dragão.

                - Gostei dele – disse Brian que estava apoiado na parede da casa com braços cruzados, totalmente despreocupado com o fato de eu quase ter morrido.

                - Agora faça-o virar um colar, minha querida. – falou a Senhora.

                - Como? – perguntei, eu não sabia fazer magia, não achava capaz de fazê-lo, era só estalar os dedos?

                “Diga ‘Volter’ e me imagine como esse troço preso no pescoço”

                - Eu não sei fazer magia.

                - Todos nós conseguimos, – debochou Mindy – sua fraca.

                - Não queria concordar com ela, – disse Lily – mas todos nós fizemos.

                - Você consegue, Kassie – encorajou Liam.

                Respirei fundo, fazer magia... Nunca pensei que ia, parecia impossível. Imaginei Dracon como um colar e disse:

                - Volter.

                Ele brilhou do meu lado e se desfez em pequenas partículas brilhantes, Dracon se refez de novo como um colar no meu pescoço. Para minha sorte não dava para escutá-lo.

                - É magia simples, não precisa ser poderoso para fazer este feitiço – explicou a maga – mas parabéns meus jovens, já tem a segunda parte de seus poderes.

                - Ótimo, estamos em um videogame – irritou-se Brian – qual é a próxima fase? Enfrentar O Chefão?

                - Ainda não – a Senhora deu uma risadinha – falta descobrirem quem são.

                - Eu sou a Mindy, linda, maravilhosa e perfeita – ela era totalmente humilde – sei quem eu sou.

                - Não desse jeito, querida, é descobrir sua essência, sua arma e a fonte de seus poderes.

                - E como vamos fazer isso? – perguntou Frank interessado.

                - Não é nada que possam fazer, vem de dentro de vocês, mas tomem cuidado, é mortífero.

                - Mais uma coisa na minha lista de qualidades incríveis. – Brian não deixava uma passar.

                - Acho que já está na nossa hora – queria sair de perto daquela mulher, me dava arrepios – obrigado pela sua ajuda.

                - Calma! Tenho mais uma coisa importante a dizer – lá vamos nós – não confiem em ninguém em Pórfiron, fiquem o mais escondidos o possível, conheço pessoas que pagariam uma vila inteira para ter suas cabeças, não falem que são em hipótese alguma. Escondam os colares, seus dragões e, acima de tudo, cuidado com as trevas. – ela disse num tom sombrio.

                - Ah... – tentei dizer algo já que todos ficaram calados – obrigada.

                - Conte sempre, querida, até mais!

                Ela seguiu até a casa pela parte de trás e quando fechou a porta a casa sumiu, não estava mais me impressionando, mas eu gostava de ver. Peguei o mapa no meu bolso e tentei localizar onde estávamos. Estávamos bem longe do primeiro Presente, O Olho da Morte, e esse era o mais perto.

                - Vamos agora? – perguntou Frank.

                - Não, - disse Brian – já passa das três da tarde, e eu creio que vamos demorar mais que duas horas para chegar nesse lugar, vai escurecer.

                - As trevas – completou Lily.

                - Então o que faremos? – disse Mindy.

                Olhei novamente para o mapa, estávamos bem longe de qualquer civilização, as vilas próximas ficavam muito longe, e, como disse a maga, não podíamos confiar nas pessoas. Mas tinha um prédio abandonado nas redondezas, talvez tivéssemos sorte e estaria vazio.

                - Tem um prédio, uma casa, eu não sei – mostrei o mapa – se tiver abandonado talvez possamos passar a noite e viajar assim que amanhecer.

                - Acho uma boa ideia. – concordou Frank, não pude deixar de sorrir par ele.

                - Que novidade – zombou Brian – o que você não concordaria com ela? – ele apontou para mim.

                - É uma boa ideia Shay, eu dou credito a ela. – eu não sabia que o sobrenome do Brian era Shay, e como o Frank sabia?

                - O que você quer é se passar por bonzinho com ela, só para ela cair de novo na sua lábia e você a trair de novo!

                - Cale a boca! Você não sabe da nossa história! – ele se irritou, como eu, ele não gostava de falar sobre “nós”.

                - Sei o bastante para saber que você é um idiota! – eles estavam cara a cara agora, Mindy estava se corroendo de raiva, mas não disse nada, Lily e Liam se afastaram e estavam conversando de longe e eu... Bem eu não queria parar uma briga por mim, quando que isso iria acontecer de novo?

                - Você não sabe de nada, acha que é perfeito, o bonitão, mas é só uma mascara, EU não vou deixá-la cair na sua lábia!

                - Ah é? E como vai fazer isso? – Brian estava provocando de mais.

                - Mantendo ela longe de você.

                - Impossível, se você considerar que ela já está apaixonada por mim – essa foi a gota d’água pra Frank, ele deu um soco na cara de Brian, que revidou na mesma hora que entendeu o que ele tinha feito.

                - Agora chega! – gritei.

                - Não se mete, Kassie! –gritaram em une-som e voltaram a brigar.

                - Parem! – Mindy gritou – É ela, não é ninguém de importante.

                Eles estavam brigando de verdade, agora já não era mais fofinho, era ridículo, eu tinha que fazer alguma coisa, mas eles eram mais fortes que eu, e pelo jeito não parariam de brigar se eu entrasse na frente. Então algo aconteceu. Uma vibração estranha passou pelo meu corpo e a marca queimou no meu antebraço, depois foi tudo um impulso, como se eu mesma não pudesse controlar o que eu fazia.

                - Eu disse chega! – gritei, o vento começou a se agitar muito forte e as folhas das árvores a voarem para todos os lados.

                Abri os braços e os dois voaram para longe um do outro. A Mindy chegou mais perto querendo protestar, porém quando ela chegou, parecia que todo ressentimento que eu tinha dela, toda raiva saiu e eu comecei a enforcá-la, não com as mãos, mas eu estava tirando o ar da sua garganta, impedindo-a de respirar. Ela caiu de joelhos no chão tentando encontrar uma brecha, eu tentei parar, mas não conseguia, não queria.

                - Pare Kassie! – Frank disse chegando perto de mim, eu fiz um gesto com a mão mandando-o para longe.

                - Não se meta! – gritei de volta.

                A Mindy começou a ficar branca e eu a me descontrolar, minha consciência estava cada vez mais longe. Brian me puxou pegando no meu ombro e olhou nos meus olhos:

                - Chega Kassie! – ele olhou para Mindy preocupado – Agora! – gritou.

                Então, como sempre, aqueles perfeitos os olhos azuis me puxaram de volta. Eu me livrei das suas mãos e fui correndo até Mindy.

                - Desculpa! – ela estava desmaiada sem movimento algum, nem mesmo os seus pulmões subindo e descendo. – Acorda! Eu não queria fazer isso! Eu não sei como fiz isso! – lagrimas rolaram no meu rosto, eu não podia ter a matado.

                Todos se juntaram envolta dela, a sua cabeça estava repousada no meu joelho. Brian tentou checar as pulsações, ele fez um movimento negativo com a cabeça e mais lagrimas rolaram do meu rosto.

                “Está esperando o que? Traga a menina de volta”

                - Como Dracon? – todos me olharam sem entender.

                “Também não é uma magia difícil, você tirou o ar dela, coloque de volta”

                - Como?

                “Bote a mão na cabeça da menina e depois é só desejar que volte, não é tão difícil, até mesmo para você!”

                Assim o fiz, eu tentaria qualquer coisa para trazê-la de volta, eu não poderia ser culpada por uma morte, por mais que eu não gostasse dela isso não era motivo para matá-la. Fechei os olhos e tentei me concentrar o máximo possível, repetia em minha mente: “volte,volte,volte...”. Nada aconteceu.

                -Dracon...

                “Tente de novo”

                - Volta! – gritei.

                Então ela arfou, e eu me senti aliviada, abri os olhos e a vi virar de bruços tossindo, como se tivesse se afogado, a cor estava voltando para seu rosto.

                - Está maluca? – ela perguntou sentada e todos levantaram aliviados.

                - Eu não sei o que aconteceu... Eu não sei!

                “É como se fosse um poder oculto, quando é irritado ele sai, e não tem como controlar, é mortífero” 

                - Dracon disse que é um poder dentro de nós, quando somos irritados ele sai e não tem como controlar.

                - Não entendo – começou Lily – Brian e Frank caíram na pancada e nenhum dos dois fez isso. – ela apontou para Mindy.

                “Você, pelo que eu sinto, é mais instável”

                - Dracon diz que eu sou instável – disse abaixando a cabeça, não gosto de olhares acusadores acima de mim.

                - Lembre-nos de não te irritar, Way. – Liam riu.

                - Eu quase morri! – Mindy se apoiou no ombro do Brian.

                - Sabemos disso – falou Frank – por nossa culpa, - ele olhou para Brian – nossa briga idiota.

                - Você é idiota, não eu! – Brian tirou o braço de Mindy do seu ombro e ela fez beicinho fingindo tristeza.

                - Chega! – eles pararam, assim que eu disse – Vamos, já está escurecendo, temos que achar a casa ou prédio, sei lá.

                Peguei a direção e segui sem querer respostas. Andei na frente de todos, eu não queria olhar na cara de ninguém, nem mesmo Lily. Só queria que esse dia acabasse logo e todos esquecêssemos o que aconteceu. Meus pais ficariam muito bravos quando soubessem.

                Meus pais... Como eles estariam agora? Fazia um dia e meio desde que sumi, já sentia saudades deles, eu nunca fui de ficar muito tempo longe dos dois, todos os dias, desde que eu me entendo por gente, eu passei com eles, meus pais sempre foram protetores de mais, principalmente a minha mãe.

                Se eu sumisse por algum tempo, mesmo que eu só estivesse dentro do meu quarto, ela gritava: “Chegou a hora, Christopher”. Meu pai tentava mostrar a ela que estava tudo bem, mas ela nunca se conformava, sempre dizia que a hora chegaria, nunca entendi, mas agora eu acho que estou começando a descobrir o que significa.

                Depois de meia hora de caminhada silenciosa chegamos a casa, é, era uma casa. Caindo aos pedaços, parecia vazia, mas fiquei feliz de sabermos que tínhamos um lugar para dormir. Paramos todos enfrente a construção de madeira podre, a porta estava escancarada e as janelas quebradas, parecia que tinha sido atacada, tinha dois andares, mas o de cima, por fora, parecia igualmente destruído.

                - Entramos? – Lily apertou o braço do Liam enquanto dizia – Acho que está abandonada.

                - Vai na frente Kassie. – Mindy me deu um empurrão para frente, já estava nos últimos minutos do sol, tínhamos que ver se estava vazio, mas logo eu?

                - Sozinha? – perguntei indignada – só porque quase matei a Mindy não quer dizer que virei uma arma.

                - A que isso! – disse Brian – Pode ser só um escudo mesmo.

                Nem me preocupei em responder. Eu não gostava da ideia de entrar em uma casa abandonada, mas eu tinha que deixar de ser fraca, mostrar coragem, por mais que eu não tivesse tanta. Segui para o primeiro degrau da escada quando uma mão familiar repousou no meu ombro.

                - Vou com você. – por mais que no momento eu estivesse chateada por ele ter brigado com Brian, não conseguia ficar com raiva dele, era fofo demais, e queria mostrar ao Brian que não estava apaixonada por ele.

                Sorri para Frank deixando ele passar na frente, peguei a sua mão e entramos na escuridão da casa. Os pequenos raios de sol ainda entravam pelas rachaduras da janela, possibilitando a visão. Com certeza ela tinha sido atacada, moveis de madeira luxuosos estavam jogados no chão, quebrados, destruídos, o espelho, do que um dia fora uma sala de estar, estava quebrado, pratos esparramados pelo chão, talheres e copos, talvez tenha sido atacada no meio de um jantar em família.

                Frank soltou a minha mão e pegou uma boneca de pano com a cabeça quase caindo do chão.

                - Quem será que morou aqui? – ele repousou a boneca em cima de restos do que fora uma estante.

                - Não sei, mas espero que ninguém tenha morrido quando a casa foi atacada. – Frank pegou minha mão e me guiou até o pé da escada.

                - Acho que foram ricos. – e começamos a subir as escadas.

                Certamente ele tinha razão, por trás das cinzas e dos moveis quebrados havia uma casa de luxo, com as paredes enfeitadas por quadros de antepassados mortos, louças de porcelana e taças de cristais, onde um casal deitava em um sofá de veludo e encarava a filha brincar no piano de calda no canto da sala, fingindo ser uma musicista, um sonho talvez perdido.

                As escadas rangeram quando subimos, o segundo andar era igualmente cinza e destruído, era um corredor grande com quatro portas escancaradas. Os quartos estavam em melhor estado, as camas ainda estava inteiras e em bom estado. Estaríamos bem à noite. Entramos em um quarto que deveria ter sido rosa, devia ter sido da pequena pequenina que morava aqui, Frank sentou na cama afofando-a, ele sorriu e me mandou sentar.

                - Tirando o pó, acha que dá para dormir. – ele olhou para mim e me encarou, não entendi porque ele estava penetrando com aqueles olhos verdes nos meus.

                - Acho que sim. – passei a mão no contorno de sua cicatriz.

                - O que aconteceu com a gente? – ele perguntou como se não soubesse da resposta.

                - Não quero falar sobre... – a frase ficou no ar, pois ele me puxou para perto de si e me beijando.

                Era a mesma sensação de sempre, aquela mão carinhosa na minha bochecha me puxando para perto, não intensamente forte como era com Brian, era calmo e avassalador, eu poderia continuar com aquilo o dia todo, mas me afastei.

                - Tem gente nos esperando – me levantei – e eu ainda não te perdoei por participar de uma briga idiota.

                - Foi por você – ele protestou – mas vamos, Brian me atrapalhando novamente.

                Ele levantou, pegou a minha mão e saímos. Quando estávamos quase perto da porta eu ouvi a voz de Brian:

                - Eles estão demorando de mais, vou entrar!

                - Deixe de ciúmes Brian – acalmou Liam – não tem nem cinco minutos que entraram.

                - Tem mais que isso, e não, eu tenho ciúmes da Kassie, não tenho nada com ela e nem vou ter. O problema é que... – ele nos encarou na porta e parou de falar o que ia dizer – está vazia?

                Ele estava sentado no ultimo degrau da escada batendo os pés, Lily estava deitada no chão com a cabeça apoiada na cocha do Liam ela se levantou e sorriu para mim, talvez estivesse pensando que finalmente tava dando tudo certo com Frank, o que eu sempre quis, era uma pena que tenhamos essa chance em outra dimensão, e com Brian nela. Mindy estava passando a mão no cabelo do Brian toda feliz, queria contar que eu já tinha feito isso, e para ela não ficar tão feliz, mas achei sensato não fazer.

                - Está sim, - todos levantaram e entraram na casa – Tem quatro quartos em cima em bom estado.

                - Dois vão ter que ficar aqui. – declarou Mindy me dando olhar significativo, eu fiz um movimento negativo com a cabeça.

                - Tem um de criança, um de casal e dois com uma cama de solteiro. – expliquei.

                - Não me importo de dividir a de casal com a Lily – falou Liam sorrindo para a namorada, não que eu ficasse assustada com a ideia, Lily já tinha me dito que o namoro deles tinham “ultrapassado mais uma meta” como ela disse, no ultimo verão, e ninguém discordou.

                - Eu fico com o de criança – pediu Mindy rapidamente.

                - Pronto! Brian e Frank ficam com os outros dois – disse.

                - E você? – perguntou Frank.

                - Eu posso dormir aqui na sala, ou no corredor não me importo.

                - Não Kassie – Brian disse para a minha surpresa – O herói desse grupo sou eu, e você não tem o rosto para ser salvadora da pátria, eu fico, e se você protestar dormimos juntos aqui na sala, para a sua sorte.

                - Ela vai dormir no quarto – Falou Frank por mim.

                - Alguém tem algo para comer? – Mindy pôs a mão na barriga – não como nada desde manha.

                - Ninguém come. – falou Lily olhando pela janela – acho que tem frutas para comermos.

                                               ***        

                Ficamos horas sem fazer nada, Lily conseguiu as frutas estranhas que ela assegurou que não tinha riscos, comemos e seguimos para o quarto, já estava escuro e as estrelas brilhavam do lado de fora do quarto de hóspedes. Fiquei muito tempo olhando para o teto sujo enquanto o sono não vinha e eu tive a impressão que demoraria mais um tempo, mas depois meus olhos se ajustaram a escuridão.

                Isso foi único jeito de me fazer pensar no que aconteceu hoje. Eu quase tinha matado a Mindy, Brian ficara com ciúmes de MIM, Frank havia me beijado, eu ganhara um dragão e essa realidade estava cada vez mais estranha. Deixei meus pensamentos seguirem para Frank, o garoto que havia me traído agora me defendendo, depois de um ano, era impossível, mas eu não podia enganar a mim mesma, não iria beijá-lo seu ainda não confiava nele, Frank não poderia mudar de uma hora para outra. Mesmo que fosse o Frank, o meu Frank, ainda não confiava.

                Lily entrou pela porta do quarto sem bater e sentou na ponta da cama. Ela ficava tão bonita de cabelo solto, parecia ter amadurecido nesse pouco tempo, e, mesmo com isso tudo, ela não tinha perdido a confiança. Levantei-me e encarei a única coisa familiar nesse quarto.

                - Como está?

                - Tirando pelo fato que eu quase matei uma pessoa e meu ex-namorado me beijou hoje... Acho que estou bem.

                - Ele o que? – ela se surpreendeu e chegou mais perto – me explica isso.

                - Nada de mais, ele está querendo se retratar comigo, mas eu não quero tê-lo se não sei se posso confiar nele.

                - Está muito certo, amiga – ela fez uma pausa – e Brian, não sente nada por ele?

                - Ele me dá nos nervos, me beijou e depois fica me ignorando, e ainda participa de uma briga idiota.

                - Por você... – completou.

                - Mas ele é um idiota, não quero nada com ele.

                Alguém bateu na porta e uma voz familiar veio da escuridão:

                - Você vem Lily?

                - Já vou amor – ele olhou para mim e depois me deu um abraço – boa noite.

                - Juízo vocês dois.

                - Ai não tem graça – ela saiu saltitando do quarto para os braços do namorado.

                Fiquei mais tempo deitada na escuridão quando me irritei de ficar deitada e fui até a janela. As constelações de Pórfiron eram diferentes de tudo o que eu já tinha visto na minha vida, as estrelas era de diferentes cores e brilhavam intensamente no céu negro. A lua era maior que a nossa e sombras passavam na frente da luz branca.

                - É lindo – suspirei.

                - Só não é mais que eu. – não precisei me virar para saber quem estava do meu lado.

                - O que faz aqui? – perguntei irritada.

                - Queria testar uma coisa... – eu me virei para encará-lo frustrada.

                Brian estava sem o colete ou blusa, o que piorou muito a situação, não dava para ficar irritada com ele quando seu cabelo estava bagunçado caindo no olho e seus olhos brilhando intensamente me encarando, e, um pequeno detalhe, ele estava sem camisa e aquela visão não me deixava olhar para outro lugar.

                - Assim você vai gamar. – ele sorriu aquele sorriso torto perfeito.

                - O que você quer?

                - Um beijo. – ele falou como se fosse uma coisa simples.

                - Ah é? Pois então não! – descarreguei – você vai ao meu quarto me beija e depois passa o dia me ignorando, depois resolve brigar com Frank... E disse que não quer nada comigo, agora quer um beijo? Não senhor perfeito, não!

                - Você escutou aquilo? – ele abaixou a cabeça, me deu uma brecha para encarar aquele peito perfeito.

                - Sim, agora pode sair? – apontei a mão para a porta.

                - Deixe-me beijá-la, só quero ver uma coisa, depois, dependendo o resultado, eu te deixo em paz – eu não respondi – eu prometo.

                - E o que você espera ter como resultado?

                - Primeiro tenho que beijá-la. – minha curiosidade me traiu de novo.

                - Tud... – ele não me deixou terminar, me puxou pela cintura e me beijou.

                Foi como da ultima vez, ou talvez até mais intenso, ele passou a mão por toda a minha coluna fazendo carinho enquanto me beijava mais forte. Não podia compará-lo com Frank, era tão intenso quanto se podia ser. Ele me apoiou na parede mais próxima e continuou me beijando, eu consegui segurar no cabelo novamente, tão perfeito que era impossível não amar, coloquei a mão na sua bochecha e depois desci para o seu pescoço.

                Depois de um tempo ele me jogou na cama e ficou em cima de mim, e eu botei a minha mão no seu peito esculpido, agarrei o pescoço dele puxando-o para perto, ele respondeu levantando a minha blusa, por extinto me afastei.

                - O que há? – ele perguntou se sentando.

                - Era só um beijo, já tirou sua conclusão? – me sentei puxando a camisa.

                Ele se sentou e respirou fundo deixando o ar sair lentamente, parecia que toda a exaustão daquele dia se concretizou naquele  gesto.

                - Eu... – ele procurou as palavras certas – eu já beijei muitas garotas, muitas mesmo, e com várias foi mais que isso...

                - Me poupe da sua vida amorosa. – cortei-o.

                - O fato é que eu nunca senti nada como eu sinto quando te beijo, tão forte, e... Perfeito, como se pela primeira vez na vida eu tivesse certeza que estou fazendo uma coisa certa, como se fosse certo te ter nos meus braços, simplesmente certo.

                - Então por que me ignorou?

                - Porque eu tenho raiva de você!

                - Serio? – aquele garoto já estava me deixando com muita raiva e eu não queria ficar com raiva.

                - Espere, eu tenho raiva porque eu quero você, eu prometi a mim mesmo que não gostaria de ninguém de verdade, eu já vi o amor e eu não gostei dele. E você? Cara você me deixa louco – ele jogou as mãos para o alto – e eu não quero isso, não quero gostar de ninguém, e achei que não gostaria.

                - Ai você me odeia? A gente só e conhece há dois dias!

                - Exatamente é muito pouco tempo para gostar de alguém, mas você me atrai desde a primeira vez que te vi. E acho que o que ajudou é porque eu gostava de você, antes, quando ficou aquele tempo na Grécia.

                - Brian... – de certo modo aquilo foi uma declaração, eu não sabia o que dizer, eu não sabia como me sentia em relação ao Brian, eu só o via como o garoto idiota que se achava o máximo.

                - Não fala... Não fala nada esta bem? – ele pegou a minha mão – eu não quero sentir isso, o.k.?

                - Amor?

                - É, eu não quero.

                - E o que eu posso fazer? Se é que se pode fazer alguma coisa...

                - Pode me fazer acreditar que não quer nada comigo, que está completamente apaixonada pelo Frank e que só quer ser minha amiga.

                - É isso que você quer? – ele chegou mais perto de mim botando a mão no meu rosto, eu a segurei fazendo carinho – É Brian?

                Mil forças em mim pediam que ele dissesse não, eu queria que ele dissesse não, eu não queria ser só amiga de Brian Shay, queria beijá-lo, tê-lo perto de mim, me abraçando, era louca essa ideia, como ele disse só nos conhecíamos há dois dias, mas eu já gostava dele há anos atrás. Olhei nos olhos dele, o destino é tudo, disse o mago, será que o meu destino era ele, por isso essa coisa toda?

                - Brian fala alguma coisa. – insisti.

                - O que VOCÊ quer?

                - Não quero ser só sua amiga... – ele estava agora só um centímetro de mim.

                - Nem eu. – ele pulou em cima de mim me derrubando da cama me beijando.

                Deitamos na cama pequena de mais para duas pessoas, mas eu não me importava em dividir. Eu me separei dele um pouco.

                - Não, Brian. – ele me olhou e sorriu torto, segurou na minha mão.

                - Tudo bem, mas posso dormir aqui? Lá embaixo é terrível de mais.

                - Pode sim – eu me deitei de costas para ele, Brian me envolveu com os braços e enterrou a cabeça no meu cabelo. – E como fica a gente?

                - Vamos deixar rolar, ver no que vai dar. – ele me puxou mais – Eu entendo se ainda gosta dele...

                - É uma situação complicada. – declarei.

                - Está vendo no que dá o amor? Por isso eu não quero amar, mas não sei ao certo quando estou com você. – o senti rir. – Isso não quer dizer que está presa a mim, somos amigos vendo no que vai dar.

                - Sem problemas, Shay. Boa noite.

                - Durma bem, Way.

                Ele beijou minha cabeça e acalmou a respiração. Brian entendeu o que eu queria, e para ele também estava perfeito, eu ainda gostava do Frank e só o conhecia tinha quarenta e oito horas, tínhamos que esperar e ver no que ia dar, só esperava que desse certo no final e eu não passe por aquele típico problema de filmes, ficar dividida por dois garotos.

                Com a minha vista semicerrada eu vi uma mulher no canto do quarto, a mesma que eu tinha visto na floresta, ela estava me olhando novamente daquele jeito estranho.

                - Você veio até mim. – depois que disse isso ela sorriu.


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