A Lenda Dos Encantrios escrita por Any Queen


Capítulo 6
Poderosos




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Girei de todas as formas possíveis antes de parar de repente. Quando parei, tive que esperar alguns minutos até a tontura parar e eu levar um susto. Estávamos todos parados em um grande campo verde, somente nós, sem o Mago, estremeci. O campo era em um verde vivido como primavera, tinha árvores dispersas e uma casa no centro, feita de madeira, não tinha mais que um andar e uma cadeira de balanço na varanda. Fora isso, estávamos sozinhos. Olhei para trás e disse:

                - Cadê o Roterford? – todos estavam com a mesma cara espantada, a não ser, como sempre, por Brian, que estava olhando atentamente o perímetro.

                Agora não chovia mais, deduzi que não estávamos na Vila Daque, mas o ar continuava gélido, puxei a capa para me esquentar quando vi que no meu bolso tinha dois papeis. Peguei o primeiro: era um papel cálido, com uma cor de café. Todos chegaram perto de mim fazendo um circulo, somente Brian continuava a me ignorar fora do mesmo, queria gritar para ele parar de ser tão idiota.

                Ao abrir o pape tomei o máximo cuidado possível, pois parecia ser muito velho, tinha várias linhas diferentes. Era um Mapa. Roterford não tinha nos deixado para trás, dobrei novamente o papel e peguei o outro. Esse era mais novo, com um cheiro de orquídeas a florescer, ao abrir, estava escrito:

                “Kassie, minha jovem do Ar, desculpe não poder ir com vocês, Dragões não são muito fãs de Magos, mas eles não matarão feiticeiros poderosos como vocês. Mas cuidado, sem feiticeiros para reclamá-los, os pobrezinhos não tem donos, então podem ser meio violentos. Achem os seus e tomem conta dessas criaturas, mande um abraço para a Senhora Singer, dona do lugar. Boa sorte, meus jovens, e que o destino os ajudem! – Roterford.”

                Mindy puxou o bilhete da minha mão e eu deixei, com certeza ele estava verificando se tinha lido a palavra certa: “feiticeiros poderosos”. Não era de se esperar que o Mago fosse mentir, já vimos que ele fala a verdade e temos que confiar nele se quisermos voltar para casa, mas cada coisa que ele diz é sempre de mais para mim.  Às vezes queria ser como Brian, forte o suficiente para não fraquejar, saber e pronto.

                - Feiticeiros? – perguntou Mindy entregando o bilhete a Lily – Dragões? E nada de shoppings? Que porcaria de lugar é esse? – ele bufou fingindo falsa irritação.

                - Acho que ele não mentiria, – começou Liam – mas acho que saberíamos, se somos poderosos, como ele diz aqui – ele sacudiu o bilhete que tinha pegado de Lily – Acha que não saberíamos?

                - Acho que tem haver com esses malditos colares! – irritou-se Frank, ele tirou o objeto e repousou na palma de sua mão – Antes, sem eles, nada tinha acontecido.

                - Mas eu já tinha o meu, - disse Brian, chegando cuidadosamente perto de mim, sem me tocar – e nada disso tinha acontecido antes, definitivamente.

                - Eu também, - Lily se pronunciou – Não faz muito tempo, mas acho que se fosse para acontecer... – ela fez uma pausa – Kassie! – ela gritou repentinamente – Você não foi a ultima?

                - E o que isso tem haver? – perguntei irritada, não achava que ela pudesse me culpar.

                Brian me lançou um olhar lembrando, talvez, das palavras do homem que me entregou o colar: “Te espero”, ele não contaria se eu não quisesse, mas me culparia, eu tinha que me defender.

                - Eu acho – comecei – que fomos todos nós, quando nos juntamos no refeitório isso ocorreu, não foi apenas eu, fomos todos nós. – tirei o colar e fiz o mesmo que Frank – acho que devemos estar aqui, nós seis.

                - Ideia tola. – Mindy retirou o colar – por que deveríamos estar aqui?

                - Não sei – Liam tirou o colar – Mas talvez Kassie não esteja delirando – ele sorriu para mim – Isso é real!

                - Deu para ver que é! – Lily bufou, mas tirou o colar, não entendi porque subitamente todos estavam fazendo aquilo – Por isso temos que ir embora, não gosto nenhum pouco da ideia de ficar aqui! Não importa se somos ou não feiticeiros.

                - Como não importa? – Brian tirou o colar com tanta ferocidade que me fez recuar – não percebem? Somos mais que adolescentes comuns, nunca se perguntaram como sabiam de certas coisas? Ou talvez... – ele me olhou – sonhar certas coisas... – ele sustentou olhar, mas eu desviei, não ia me derreter, não ali.

                - Ele tem razão, - não queria concordar com ele – mas vamos de qualquer jeito visitar esses dragões e resolver isso, não vamos descobrir nada ficando aqui discutindo.

                Levantei a mão para colocar o colar, todos fizeram o mesmo. Quando foram repousados no pescoço houve uma explosão, mas não de destruição. Mais ou menos no centro de nós uma luz branca começou a brilhar, tão forte que me fez recuar e fechar os olhos.

                Quando a cegueira me deixou, olhei em volta, nada tinha mudado a não ser pelo símbolo esculpido no ar acima de cada um. Quando olharam abismado pude ver seus olhos, sem íris, somente uma cor dominando toda a esfera. Os de Mindy era um azul meio esverdeado, cor do mar, logo acima dela tinha um triângulo azul e nas suas pontas havia extensões como caracóis se agitando como em alto mar. Lily já era rosa, tão forte quanto o de sua blusa, seu símbolo era como uma coroa de louros do tempo antigo.

                Brian era em um vermelho assustador, como se fossem sair chamas de seus olhos a qualquer momento, não sei ao certo de sua expressão, o símbolo que ele levava eram três traços que juntos formavam uma fogueira que crepitava. Liam tentava diluir seu símbolo, seus olhos estavam marrons e por mais que tentasse ainda permanecia um simples circulo marrom como terra e no centro um quadrado. Por ultimo, Frank cujos olhos ardiam em um azul frenético e eletrizante, quase como carga elétrica, que se confirmava pelo longo raio em sua cabeça, como seu símbolo.

                Olhei para cima, mas não havia jeito de ver o meu. Isso tudo levou apenas alguns segundos, não muito tempo para pensar, logo depois que tudo sumiu algo queimou meu braço, logo abaixo do cotovelo na região do antebraço. Puxei a manga da blusa a tempo de ver o símbolo se firmando sob a minha pele, como uma queimadura que ardia fortemente, mas tão suportável que era até mesmo aconchegante, comum. Era um circulo não muito grande, dava a impressão de estar dividido em quatro partes e, seguindo da extremidade para o centro, linhas que se tornavam curvas ao chegarem a seu destino.

                - Mas que porcaria foi essa? – Mindy foi a primeira a falar, seus olhos já haviam voltado ao normal, ela estava afagando o antebraço, onde o símbolo havia sido feito.

                - Culpa da droga desses colares! – gritou Lily.

                - Legal! – soltou Frank.

                - Concordo – disse Liam – foi incrível. Eu fui o único que senti uma onda por todo o corpo?

                - Eu chamaria isso de outra coisa... – Brian riu com a piada sem graça.

                - Cale a boca Brian! – me virei para Liam – Não.

                                               ***

                Andamos ate a casa de madeira no meio do vale, antes de podermos chegar perto o bastante para alguém nos ver, uma mulher saiu da casa. Ela era bem velha, usava um vestido verde musgo com um xale jogado por cima, seu cabelo era branco e seus olhos muito azuis, quase como se não houvesse íris. Devia ser a Senhora Singer, a dona do lugar - pensei.

                Ela caminhou vagamente até o começo da pequena escada que distanciava o chão do piso da casa, nos juntamos em uma fila estranha. Frank chegou perto de mim e envolveu seu braço na minha cintura, como forma de proteção, não que achasse que aquela frágil Senhora fosse perigo, mas se tratando desse mundo eu tenho minhas duvidas. Ele me encarou quando pousou a mão, eu deixei, ele sempre fez isso, mesmo quando éramos só amigos, sempre foi protetor e era bom ter ele tão perto, adorava seu perfume.

                - Demoraram! – disse a Senhora descendo o último degrau. – Fizeram uma grande bagunça no meu vale.

                - Desculpe Senhora, não tínhamos a intenção – Lily deu alguns passos a frente segurando a mão do Liam.

                - Sem problema querida, adoro demonstrações de poder – ele deu uma risadinha.

                - Queremos ver os dragões – disse Frank chegando ao ponto.

                - Ah claro, que burrice a minha – ela estalou os dedos, estava começando a não gostar desses estalos, sempre acontecia algo ruim.

                Olhamos para trás no momento de uma pequena explosão, depois do estrondo, estavam os dragões, tão grande e assustador cada um deles. O vale ficou cheio dessas criaturas estonteantes, eram de várias cores e tamanhos, indecifrável o número. E eu comecei a ouvir vozes na minha cabeça.

“Comida”

“Acho que não, são humanos?”

“Tem cheiro de feiticeiros”

“Achei que tivessem extintos”

“Ainda são saborosos”

“Nada de comer”

“Só um?”

“Sem comer, Eón!”

“Só assustar!”

“Isso pode”

As vozes continuaram, todas de uma vez, eu tampei meus ouvidos, mas não adiantou, continuei escutando de todos os lados. Minha cabeça começou a doer muito forte, meu estomago embrulhou, achei seriamente que ia desmaiar, mas Frank me segurou.

- Tudo bem, Kassie?

- Vozes! – gritei – Façam parar!

- Não estamos ouvindo nada, doida – zombou Mindy.

- O que você está ouvindo? – perguntou Frank gentilmente.

- Acho que são os dragões, muitas vozes – disse a Senhora – isso deve estourar a cabeça dela – ele chegou perto de mim e fez com que me apoiasse nela – vamos entrar, longe das vozes, tudo bem, querida?

Não consegui responder, Brian o fez por mim:

                - Não acho que seja uma boa ideia, deixá-la sozinha, não cofiamos em você.

                - Não vejo problema algum – disse Mindy.

                - Só façam parar! – disse mais uma vez, eles não sentiam o quanto era perturbador.

                - Vamos querida – ela me puxou em direção a casa, não tinha forças para hesitar e a segui.

                - Acha que é uma boa ideia? – disse Frank me soltando relutante.

                Assenti com a cabeça, só queria sair dali e para com as vozes na minha cabeça.

                “Uma já foi!”

                “Botamos medo!”

                “Somos de mais!”

                “Ela tem um cheiro bom”

                “Poderosa”

                Subi as escadas e entrei na casa, na mesma hora as vozes pararam, senti um alivio e desabei no sofá mais próximo. A casa da Senhora Singer se mostrou bem simples, tinha uma mesa perto da janela, dois sofás no centro, varias prateleiras com diferentes animais e potes e um tapete de um urso azul no centro, encarei no objeto até ela voltar e me estender um chá.

                - Tome querida, ajuda. – ela sentou no sofá a minha frente e tomou um gole da sua xícara branca.

                Tomei um gole da estranha mistura e a dor de cabeça passou, quase como se nunca tivesse sentido, somente pela lembrança da dor estridente.

                - Obrigada – disse sem jeito – O que aconteceu? Por que eu ouvi as vozes e ninguém mais?

                - Pelo obvio, querida – ela pousou a xícara na mesinha ao lado – são criaturas do ar, é necessário que você as entenda.

                - E isso? Do ar? O que significa?

                - É a sua essência, o que você nasceu para controlar, sua fonte de poder, seu símbolo, como quiser chamar.

                -Ah! – era cada vez mais estranho, mas isso explicaria como eu sempre pude sentir as tempestades se formando e como adorava os furacões.

                - Mais uma coisa... – ela fez uma pequena pausa e se inclinou para frente como se fosse sussurrar algo importante – seu dragão não está lá fora com os outros, ele está lá atrás em uma zona especial.

                Que ótimo além de eu ter um dragão e ouvir essas criaturas, o meu era um problemático que estava exilado dos outros.

                - Isso é uma coisa única! – ela deixou escapar – ele está lá, pois já foi de um feiticeiro há alguns anos, mas ele morreu e, por incrível que pareça, é a primeira vez que um dragão não morreu quando seu cavaleiro morre.

                - Então por que ele é meu?

                - Segredos querida, e não sou eu que posso contá-los.

                - Que ótimo! – disse me afundando no sofá.

                - Quer vê-lo? – ela perguntou entusiasmada, acho que ela era a única pessoa que se animaria de se encontrar com um dragão mortífero.

                - Tenho outra escolha? – me levantei.

                - Claro que não!

                                               ***

                Ela me guiou até a parte de trás da casa onde havia uma enorme caixa de metal blindada, com uma placa que dizia: “Não se aproxime, dragão muito, muito perigoso”. Virei-me para Senhora esperando ajuda.

                - Eu vou morrer!

                - Oh não, querida, ele não vai matá-la – ela falou – talvez...

                - Não tenho outra escolha?

                Mas nem precisei dar o primeiro passo, algo me puxou, como se uma corda invisível tivesse envolvido a minha cintura e me obrigava a ir até a grande caixa, por mais que eu lutasse era em vão.

                Cheguei a um metro da caixa e parei subitamente, a porta de abriu com mágica e algo negro pulou em cima de mim e eu não enxerguei mais nada.


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