A Garota Solitária Dos Fones De Ouvido escrita por tiny


Capítulo 2
Capítulo 2 - Drogas


Notas iniciais do capítulo

Capítulo revisado, reescrito e repostado.



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Era Março, Primavera.


No dia vinte e cinco, quatro dias depois de começar a primavera, eu novamente vi ela: A garota solitária dos fones de ouvidos. Eu lembro bem que aquele dia começou como um dia qualquer, com as flores e o cheiro da primavera. Assim como todas as primaveras, de todos os anos.

 

Era manha e a claridade já iluminava alguma parte de meu quarto, eu abri os meus olhos e olhei para o relógio. Ele marcava oito e trinta e cinco da manha. Agradeci por ser Sábado. Me levantei e fui até o banheiro, escovei os dentes e lavei o rosto, não demorando muito, eu logo saí do banheiro.

 

Estava frio, então coloquei uma blusa de manga longa uma calça de moletom de cor cinza, não esquecendo uma blusa moletom também de cor cinza. Pequei meu celular e saí do quarto. Desci as escadas, passei pela sala e cheguei até a cozinha.

 

Não tinha ninguém, com certeza minha mãe tinha saído cedo para ir até o Hospital, ela é a médica mais comunicada para cirurgias.


Abri a geladeira pegando o leite o cereal, para logo após fechar a mesma. Fui até o armário e peguei uma tigela para colocar o cereal e o leite. Sentei-me na cadeira e comecei a comer meu café da manhã.

 

Não estava um dia muito bonito. O céu estava cinza e com nuvens pretas, com certeza iria cair um pé d'agua. Sem falar que o vento estava mais gelado do que o normal. Minha mente vagava no silêncio de minha casa enquanto minha boca abria e fechava com cada colherada que eu dava

.

Assim que terminei me levantei para levar a tigela até a pia, mas vi um pequeno bilhete deixado por minha mãe em cima da mesa. Não esquecendo do pequeno papel, eu coloquei a tigela dentro da pia e voltei pegando o bilhete para ver o que havia nele.

 

"Desculpe por sair sem avisar... De novo. Bom, almoce direito e pegue a roupa na costureira e não esqueça de pagá-la para mim, o dinheiro está em cima do micro-ondas. Beijos, mamãe te ama muito"

 

Me pergunto se é tão complicado mandar uma mensagem de texto ou me acordar para dizer isso. Mesmo assim, agora pensando, eu não gostaria de ser acordado em pleno sábado.

 

— Pegar a roupa na costureira...

 

Eu não tinha nada melhor para fazer mesmo, sendo assim joguei o papel fora e corri para meu quarto, coloquei um tênis qualquer, e assim como minha mãe havia me contado no bilhete, eu peguei o dinheiro em cima do micro-ondas e saí de casa.

 

O dia realmente não estava alegre, as ruas estavam quase vazias. Eu coloquei meu fone e caminhei até a rua de trás, onde a costureira morava. Chamei ela, paguei e peguei a roupa. Nem me recordava mais sobre minha bermuda rasgada no furico e minha camiseta de jogar futebol com um túnel de baixo do braço. E fora algumas roupas de minha mãe.


No final tudo deu vinte e dois dólares, e já que minha mãe tinha me deixado uma nota de cinquenta, eu não achei problemas em dar uma passada no mercado e comprar alguns salgadinhos. O mercadinho mais próximo ficava algumas ruas depois da moça da costura, e como eu contei antes, eu não tinha nada melhor para fazer mesmo.


No caminho de volta em vim ao som de Michael Jackson, e como qualquer garoto normal, eu me imaginava dançando como aquela lenda do Pop. Em meu percurso eu precisava passar em um pequeno parquinho onde as criancinhas com mais ou menos oito a dez anos brincavam. Eu passei olhando o parque quase vazio, eu via apenas uma pessoa se balançando em um dos balanços enferrujados daquele pequeno parque.


Eu via pelo corpo que era uma menina, e ela não era criança. Ela estava de costas para mim, mas assim que tirou o capôs da blusa de sua cabeça eu lhe reconheci na hora.


Era ela.


E nesse momento eu parei de andar. Vi quando ela parou de se balançar, mas continuou sentada no balanço, vi também quando ela abaixou a cabeça e olhou para o chão. Parecia perdida em seus pensamentos.

 

Pensei em ir até ela e dizer "Oi", mas seria suspeito e ela poderia me dizer um "Caí fora, otário".


Era ridículo saber que fiquei ali por alguns minutos observando ela olhar para o chão de areia, mas eu fiquei. Fiquei ver ela se levantar e colocar as duas mãos em sua cabeça como se estivesse sentindo alguma dor e depois cair no chão.

 

Com pressa e preocupação eu fui até ela, meu nariz queimou quando cheguei perto dela e senti um cheiro forte de maconha. Mesmo com o nariz ardendo eu joguei as sacolas que eu carregava no chão e peguei ela, virando seu corpo para mim. Como eu havia imaginado, ela tinha mesmo desmaiado.


Eu não pude deixar de reparar que havia um pequeno arranhão em sua testa. Ela estava pálida, e eu soube que não poderia deixa-la ali. Então peguei as sacolas, arrumei ela em meus braços e levei para minha casa.

 

Eu deveria repensar em caminhar com a minha mãe em seus dias de folgas. Admito, ela não era tão pesada, o que me surpreendeu um pouco, por que ela deveria ter a minha idade e pesar aparentemente menos de cinquenta quilos.


Ao chegar em casa, fui direto para o meu quarto para colocar ela na cama. Tirei seu all stars de seu pé e me lembrei de cobrir seu corpo com um de meus edredons. Olhei pra mesmo por alguns minutos e mesmo com ela drogada e machucada, ela continuava linda. Balancei a cabeça e sai do quarto, tinha que cuidar do arranhão em sua testa, então corri até o quarto de minha mãe para pegar a caixinha branca de primeiros socorros.

 

Voltei para o meu quarto por alguns minutos e ela ainda continuava na mesma posição, fiquei com medo que tenha acontecido algo com ela e eu nem perceber. Sempre fui meio desligado para certas coisas, então me aproximei perto de seu rosto só para ter certeza de que ela ainda respirava. Me senti aliviado ao sentir a respiração dela, mesmo que ainda cheirasse a maconha, em meu rosto.


Respirei fundo, e com as mãos tremendo eu tirei do rosto dela alguns fios de cabelo de sua franja e os coloquei para trás com cuidado para não puxá-los. Eu peguei o algodão e colocou o Merthiolate no mesmo, e com certeza calma e delicadeza passei no pequeno corte em sua testa. Eu estava me focando em sua testa até ver ela fazer um pequeno bico com seus lábios finos.

 

Parei de limpar o pequeno ferimento em sua testa e fiquei olhando seu rosto todo. Ela era realmente linda, era um anjo.

 

Saí dos meus pensamentos um tanto assustado quando ouvi ela resmungar alguma coisa, deixei a caixinha de primeiros socorros em qualquer lugar do meu quarto e cheguei mais perto da mesma, queria escutar o que ela havia tido, pois não tinha conseguido entender.

 

— Socorro... - Me assustei ao ouvi-la dizer tal coisa, talvez ela estivesse tendo um pesadelo, ou que sabe estivesse delirando ou... Relembrando o passado. E mesmo assim, não puder deixar de soltar um sorriso bobo, por ter ouvido a voz dela pela primeira vez, mesmo que tenha sido em sussurros.

 

Meus olhos foram para as unhas pintadas de cor verde, mas eu realmente acabei me focando em algo por baixo da manga de sua blusa. Eu fui com calma até lá e levantei cuidadosamente. Os pulsos da mesma estava enrolado. Curioso, eu fui ver o outro. Enrolado também.

 

Na minha mente só vinha uma coisa: Uma garota suicida. Mas eu não queria pensar nisso, porque alguém tão linda não deveria tentar tirar a própria vida.

 

Minha cama estava com o sangue dela, mas eu não liguei. Tudo que eu queria era que ela ficasse bem. Olhei novamente para o rosto dela e me levantei da cama, saí do quarto e encostei a porta. Eu fui para a sala e fiquei pensando do porque dela querer tirar a própria vida. Isso era uma coisa triste.

 

*-*

 

Abri os olhos e me sentei no sofá. O que eu estava fazendo ali mesmo? Vejamos: Eu tinha pegado a roupa na costureira, como minha mãe pediu, tinha ido ao mercado e... Tinha carregado alguém até meu quarto.

 

Arregalei os olhos

 

... Sim! Eu tinha carregado alguém sim. Saí correndo em direção ao meu quarto e abri a porta com brutalidade, senti-me aliviado ao saber que ela ainda estava ali, dormindo.

 

Saí do quarto e fui até a cozinha e abria geladeira, estava procurando alguma coisa energética pra beber. Mas parei de prestar atenção na geladeira quando ouvi passos. Fechei a geladeira, e lá estava ela, escorada no batente da porta, me olhando com um olhar de quem não estava entendendo nada. Os olhos dela eram tão grandes e chamativos.

 

Ela colocou a mão na cabeça, acho que ainda estava doendo ali. Vi ela passar o dedo indicador no pequeno corte em sua testa.

 

— Você está bem? - Disse sem chegar perto dela, mas ela não disse uma palavra.

 

Fiquei fitando ela por algum tempo e nem eu e nem ela movemos um músculo se quer, talvez ambos estivessem com medo. Mas então, eu foquei minha vista melhor em seu corpo, reparei que ela tremia, me preocupei na hora, achei que ela poderia está começando a ter um ataque epilético.

 

Fui chegando perto dela, e quando fui tocá-la, ela dei um passo apressado pra trás, mas pisou em falso e quase caio.


Quase, mas eu a segurei a tempo. Coloquei ela sentada na cadeira e fui novamente até a geladeira e abri a mesma, tirei de lá uma caixinha de leite, e coloquei no copo e dei a ela. Ela olhou o copo e depois olhou pra mim.

 

— Não está envenenado - Disse olhando ela.

 

— Eu nem tinha pensado nisso - Disse ela , e foi a primeira vez que eu realmente puder ouvir como é a voz dela de verdade. E é como eu imaginei, é doce, meiga e delicada... Assim como ela, de algum modo.

 

Vi que a mesma pegou o copo de leite gelado e bebeu até a ultima gota. Colocou o copo delicadamente em cima da mesa e me olhou.

 

— Por quê? - Disse ela.

 

— Porquê, o quê? - Perguntei.

 

— Por quê você me ajudou? - Disse ela, olhando fixamente pra mim.

 

— Sabe,pode até não parecer... Mas, não consigo deixar uma garota drogada na rua sozinha por aí. - Disse a ela .

 

Ela abaixou a cabeça , acho que estava envergonhada com isso.

 

— Bom... Posso saber pelo menos o nome dessa garota solitária com os fones de ouvidos? - Perguntei, e ela levantou a cabeça e me olhou.

 

— Alicia. - Disse ela.

 

— É um belo nome... Alicia. - Disse e sorri. - Eu sou Addan.

 

— Eu sei. - Disse ela. - Você sempre fica me olhando. Posso saber porquê? - Ela disse e eu me senti envergonhado. Então ela sabia.

 

— Você é bonita. - as palavras simplesmente pularam de minha boca e eu vi seus olhos amarelados se arregalarem com minha resposta.

 

— Obrigado... - Ela disse. - Então, essa é sua casa? - Mudou de assunto.

 

— Sim. - Me sentia um grande idiota.

 

— É uma bela casa. - Ela disse após olhar em volta e repousar seu olhar novamente em mim. - Obrigado por me ajudar, mas eu tenho que ir agora. - E sorriu, se levantou ainda um tanto zonza e caminhou até a porta.

 

— Eu sei... - Disse. - Eu espero te ver na escola Segunda. - Eu disse.

 

— Sinto muito ser tão grossa, e sair de sua casa assim tão rápido. - Ela disse. - Talvez a gente se vê Segunda-feira, se eu não morrer até lá. - E com pressa beijou minha bochecha. Vi ela sair rápido de minha casa e sumir em meio a rua.

 

Eu não havia analisado os fatos, e ela tinha dito "Se eu não morrer até lá". Naquela época eu não entendi bem o porquê.


Que garotinho bobo eu era.

 

*-*


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Notas finais do capítulo

Como eu mencionei antes o capítulo foi revisado e repostado, já que a fic foi excluída por um tempo. Eu espeto que gostem desse capítulo e me desculpem qualquer coisa.

OBRIGADO PELAS RECOMENDAÇÕES