Crônicas De Ninguém escrita por Dexx


Capítulo 6
Capítulo 5: Novos amigos


Notas iniciais do capítulo

Música para acompanhar a leitura: http://youtu.be/gdFzgvbCjQs
("Enter Transcendental Sleep" - Therion)



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Acordo na minha cama e quando olho ao redor vejo uma garota de cabelo vermelho e um grandalhão mal encarado parados me olhando.

–- Quem são vocês? – salto da cama rapidamente.

–- Calma, jovem mestre, estamos aqui para ajudar. – me diz a garota.

–- Jovem o que? Foram vocês que me bateram?

–- Não, quando chegamos o senhor estava caído na rua, então o trouxemos para dentro.

–- Tá, e o grandão ali? Ele não fala?

O brutamontes com cerca de 2 metros me olha de canto. –- HUMPF..

–- Victor é sempre calado assim, com o tempo o senhor se acostuma.

–- O nome dele é Victor, e seu nome, garota estranha, como é?

–- Eu me chamo Valquiria. E pare de me chamar de estranha, jovem mestre.

–- Então pare de me chamar de 'jovem mestre'. Isso faz você parecer uma esquisitona.

–- Como devo me referir ao senhor então?

–- Primeiro, pare com isso de senhor também e me chame pelo nome, Armand. Agora me explique o que está acontecendo aqui.

–- O senhor..– Valquiria me olha sem graça e se corrige. –- Você não lembra de nada?

–- Eu deveria me lembrar de algo? Só um sonho estranho que tive enquanto estava desmaiado, de uns caras atacando um outro sujeito.

Victor e Valquiria se olham e depois olham de volta para mim. Há algo de estranho com eles, mas não sei dizer o que é ainda.

–- O que foi? – pergunto aos dois.

–- Não podemos falar, você terá que lembrar por si mesmo...

Primeiro aquela mulher, depois desmaio e tenho aquele sonho, agora esses dois... Algo muito estranho está acontecendo e tudo o que posso pensar é que tem ligação com aquilo que vi na escola há dois anos. Mas não vejo forma de associar isso.

–- Pois bem, podem sair da minha casa agora.

–- Não podemos, temos que proteger o senhor.

–- Me proteger? Assim como me protegeram quando alguém me bateu na cabeça? Olha, vocês são bem úteis hein... – digo de maneira sarcástica.

–- Não sei do que está falando, você estava parado na frente da casa, daí desmaiou, não ficou nem cinco minutos desacordado.

Eu poderia jurar que foi muito mais tempo, e que alguém teria batido em minha cabeça, será que eu estava realmente ficando louco?

–- Tá, mas minha mãe não vai deixar vocês ficarem aqui.

–- Já falamos com ela, ela está lá embaixo.

–- O QUE VOCÊS FALARAM COM MINHA MÃE? Ela vai pensar que são loucos e pode até me mandar de volta ao hospício!

–- Se acalme jovem mestre, quando ela chegou eu disse que somos colegas de classe e que o senhor escorregou e bateu a cabeça mas estava bem.

–- Eu já disse para não me chamar assim.

–- Desculpe. – a garota abaixa a cabeça.

Lembro-me do colar, penso que poderiam ter sido eles que me enviaram o presente, mas quando questiono sobre tal, Valquiria afirma não ter conhecimento de quem enviou e me explica que o pingente é como um amuleto de proteção e que o mesmo vincula as presenças dela e de Victor. Enquanto eu o usar eles estarão por perto e que se eu assim quiser, eles podem "desaparecer" aos olhos das outras pessoas em situações que exijam que eu fique sozinho, minha mãe não deixaria dois estranhos morarem conosco por exemplo, então eles não poderiam ficar o tempo inteiro aparecendo para ela.

Victor não profere sequer uma palavra em momento algum, só fica ali no canto com cara de poucos amigos. Enquanto Valquiria fala pelos cotovelos, nesse aspecto me lembra um pouco a menina que conheci na escola, Josi. Ambos aparentam ter por volta de 16 anos, não sei como minha mãe acreditou na história de 'colegas de classe' mas minha velha sempre foi um tanto ingênua mesmo...

No dia seguinte acordo e ali estão os dois me encarando.

–- Vocês não dormem?

–- Não precisamos dormir.

–- Tá, mas também não precisam ficar me encarando a noite inteira, isso é bizarro.

Desço, tomo café, pego um livro e volto para o quarto, o tempo inteiro com meus 'protetores' atrás de mim. Até que por volta das 10h a campainha toca, vou ver quem é e para minha surpresa Josi é quem está ali na minha porta.

–- Oiii– me diz a menina extremamente animada.

–- O que você faz aqui?

–- Eu só resolvi passar aqui e te ver ué. Quem são seus amigos ali?

Percebo então que Valquiria e Victor estão visíveis, idiotas, agora preciso mentir para Josi também.

–- São meus primos, estão de passagem pela cidade. E sim, você pode passar, mas avise antes, é questão de educação.

–- Ah... Desculpe, te vejo na escola então...– outra vez aquela cara de cachorro abandonado, não tem como ser grosso com ela.

–- Hey Josi, deixe de frescura, vamos juntos hoje, lembra? E já que está aqui, entre. Eu faço panquecas para você.

–- Você sabe cozinhar?– ela me olha com espanto.

–- Sim, eu sempre observo minha mãe enquanto ela cozinha, por que essa cara?

–- Nada... Só quero ver se vai dar pra comer isso.

–- Você é muito abusada para alguém do seu tamanho. Entre logo.

Josi senta-se em um dos bancos na cozinha enquanto eu preparo as panquecas, Victor está em pé perto da porta e Valquiria, para minha surpresa, senta-se ao lado de Josi. As duas garotas ficam se encarando como se uma desejasse a morte da outra, não entendi o motivo desse comportamento.

–- Voilà. – disponho a pilha de panquecas em um prato na bancada logo à frente de Josi.

–- Voa onde?

–- Voilà, é uma expressão francesa, significa aqui, geralmente dita quando se termina algo e tal, entendeu?

–- Você é muito metido Armand.– ela pega um pedaço de panqueca com mel e coloca na boca. –- Hummm... Nossa! Você pode ser chato, ignorante e metido, mas cozinha bem hein!

–- Que maneira estranha de elogiar alguém. Mesmo assim, obrigado.– observo que Valquiria ainda encara Josi como se fosse avançar no pescoço da menina.

–- Valquiria, pode ir comigo lá na sala rapidinho para eu te falar algo?

–- Sim jove.. Armand.

–- Qual o seu problema? Dá para não ficar olhando estranho pra menina?

–- Eu não gosto dela, oras.

–- Por que? Acha que ela é uma ameaça para mim? Olha o tamanho dela, e ainda é mirradinha.

Valquiria fica corada e abaixa a cabeça enquanto fala.

–- Ela não devia ser tão... Tão...Intrometida! Jovem mestre, tenha cuidado. Humpf!

A garota dos cabelos vermelhos afunda-se no sofá emburrada e eu volto para a cozinha onde fico cerca de meia hora ouvindo Josi contar como foi o dia anterior depois que chegamos da escola.

–- Melhor eu ir agora, tenho que me arrumar para ir ao colégio.

–- Tudo bem, 12:30 em ponto eu vou te chamar hein. Não se atrase.

Josi me dá um beijo no rosto e vai correndo na direção de sua casa, Valquiria sobe as escadas pisando forte, fecho a porta e subo para saber o que houve mas não obtenho resposta, ótimo, agora eu tenho dois 'protetores' esquisitos e mudos.

–- Fiquem aqui e lembrem-se de não aparecer para ninguém, já não deviam ter aparecido para Josi.

–- Sim senhor!– me responde Valquiria em tom ríspido.

Quando dá o horário saio de casa, busco Josi e saímos para a escola. Nada de estranho no caminho agora.

Já no prédio da escola, fico sentado no pátio esperando dar o sinal da primeira aula quando vejo um professor chegar. Extremamente pálido, cabelos na altura do pescoço completamente desgrenhados, olheiras profundas como se não dormisse há dias, mas o que realmente me chama a atenção nele não é sua aparência, mas sim o que tem tatuado em seu antebraço direito que me lembra muito a criatura que eu vi no dia do massacre...



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