Crônicas De Ninguém escrita por Dexx


Capítulo 4
Capítulo 3: (im)paciência


Notas iniciais do capítulo

Música para acompanhar a leitura: http://youtu.be/3JFCvcP_1MI
("Reflections of Long Ago" - Nox Arcana)

Esse é o capítulo mais fraco/sem graça para mim (pode ser que alguém leia e não pense o mesmo). Mas não tinha como ir em outro ritmo nele e é importante para o desenrolar da história.



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Se passaram 14 dias desde que tive alta, o que fiz durante esse tempo? Atualizei minha coleção de músicas e li como se minha vida dependesse disso (não que eu já não fosse assim antes).

Amanhã é o dia de conhecer a tal doutora Sabine, particularmente eu odeio psiquiatras, são pretensiosos, pensam que podem te definir e conhecer toda sua vida a partir de simples gestos e sempre estão calados ouvindo tudo, assim como eu faço sempre, odeio gente que se parece comigo.

–- Armand, você não vai para a escola? – pergunta minha mãe

–- Não to afim mãe. Só vai ter pirralho na minha turma, não vai dar certo.– como fiquei internado, estou dois anos atrasado na escola, não que eu seja muito mais velho que eles, mas não queria ir mesmo e não pensei em desculpa melhor na hora.

–- Não vou falar mais nada com você, depois não vai ser ninguém na vida. Não adianta de nada ser tão inteligente se não tem um diploma. – triste realidade

–- Eu sei mãe, mas posso viver da minha arte.

Minha velha cai na gargalhada. -- Você acredita mesmo que vai ganhar dinheiro vendendo seus desenhos estranhos?

–-Aff mãe, não estraga meus sonhos. Semana que vem eu vejo se vou para a escola.

–- Tá, seu enrolado. Agora vai lavar as mãos, o jantar está quase pronto.

Apenas mais uma noite normal em casa, jantar com minha mãe, meu pai está ausente, leio mais um pouco e vou dormir, pois logo cedo tenho consulta.

Uma coisa ao menos foi notável esses dias, não tenho mais pesadelos com o dia do massacre. Enquanto estive internado, não houve sequer um dia em que a criatura ou os corpos banhados em sangue não aparecessem em meus sonhos, parece que ficar em casa me faz bem.

O despertador toca e saio da cama com pressa, quanto antes eu fizer isso, antes acabará e só precisarei ver a médica novamente dentro de 15 dias.

–- Deu formiga na cama? – pergunta minha mãe, visto que nunca tive o hábito de acordar cedo.

–- Muito engraçado... Pode me deixar na clínica quando for trabalhar? Depois eu volto de ônibus.

–- Ah, tinha esquecido da sua consulta, posso sim preguiçoso.

Finalmente estou na clínica, cheguei 15 minutos adiantado e esses minutos parecem uma eternidade na sala de espera, é como se houvesse um buraco que te carregasse para outra dimensão onde o tempo passa mais lento. Todos consultórios de qualquer tipo de médico tem o mesmo poder.

–- Armand Sullivan? – me chama a médica.

–- Entre, por favor.

Pela primeira vez vejo uma psiquiatra tão jovem, deve ter por volta dos 30 no máximo, olhos castanhos, pele morena clara, cabelos negros e levemente ondulados na altura do queixo, uma mulher muito linda. Não que isso me interessasse, nunca tive nenhuma atração por mulheres, nem por homens, devo dizer. Sempre estive preocupado demais com outras coisas e acabei deixando minhas relações humanas de lado.

–- Bom dia Armand, é um prazer te conhecer, ouvi falar muito de você.

–- A doutora Silvia disse que sou louco de pedra né?– dou uma risada leve

–- Não, ela disse apenas coisas boas a seu respeito, como seu senso de humor por exemplo.

–- Menos mal então, já posso ir embora?

–- Calma aí rapaz! Por que tanta pressa?

Dou de ombros e não digo nada.

–- Como foram seus primeiros dias de volta ao colégio?

–- Então... –coço a cabeça, sabia que deveria ter ido. –- Eu não fui ainda.

– Armand, você sabe que precisa ir ao colégio não sabe? Quer causar problemas à sua mãe?

–- Como assim problemas?

–- Se você não frequentar as aulas, a direção pode entrar em contato com o conselho tutelar e sua mãe é quem teria que prestar explicações sobre isso.

–- Ah... Eu não sabia disso, vou ir a partir de hoje mesmo doutora.

–-Râm! Estou de olho rapaz! Bem, e seus dias em casa então, como estão sendo?

–- Normais eu acho, não tive mais pesadelos nem vi nada estranho, aliás, estou dormindo bem sem precisar do remédio.

–- Isso é bom, mas eu não lembro de ter suspendido sua medicação, não pode parar por conta própria.

–-Humpf... Eu sei, mas estou bem, pode perguntar para minha mãe.

–- Não fez mais desenhos da tal criatura?

–- Não.

–- Tem certeza? Não vou te mandar de volta para Rainbow, só quero que compartilhe comigo seja o que estiver acontecendo com você, tudo bem?

–- Tudo bem. Mas realmente não desenhei mais nada.

Conversamos por cerca de uma hora, sobre meu pai, meu gosto pela leitura, coisas e mais coisas... Essa definitivamente foi a pessoa mais curiosa que já conheci até então!

–- Te vejo em duas semanas Armand.

–- Até!

–- Ah, se precisar conversar antes disso, pode vir aqui a qualquer hora, sempre estou aqui e minha casa fica em cima do consultório.

–- Espero não precisar..

Dou um sorriso para a médica e vou embora...

No ônibus, algo estranho acontece.

Me sento ao lado de uma senhora, que parece estar incomodada comigo, não ligo muito para isso. Quando um homem alto, magro, muito branco, com barba longa e cabelo curto senta-se no banco logo à nossa frente. A senhora parece estar perturbada com a presença do homem bem mais do que com a minha, e com expressão de medo, dá o sinal para o ônibus parar. "só mais uma velha paranóica" eu pensei.

Então poucos pontos antes de onde eu desço, o homem se levanta, me estende a mão e eu toco sua mão, por reflexo e educação. –- Seja forte e conseguirá mudar as escrituras, boa sorte irmão.

Eu permaneço calado e sem entender o que ele quis dizer com aquilo, ele desce do ônibus e nem consegui perguntar nada, só fiquei ali tentando entender o que significava isso tudo... Anos mais tarde eu o reencontrei e entendi, mas não é disso que estou falando ainda... Vamos por partes.

–- Armand, chegou isso dos correios e eu recebi.– Disse a nossa vizinha, a senhora Esmeralda, ela sempre recebe encomendas e cuida da casa quando minha família sai em viagem.

–- Obrigado senhora Esmeralda.

Pego o pacote, está em meu nome, mas não estou esperando nada. Entro rapidamente em casa e vou para o quarto, onde abro o pacote.

–- Um colar? Que estranho... Lembro de ter visto esse pingente em algum lugar, mas onde? – falo sozinho enquanto admiro o "presente".
Quando então lembro das aulas de história, e do antigo Egito. Pesquiso um pouco na internet e encontro o nome, Ankh, símbolo da vida eterna e dos antigos Deuses, gostei do presente, mesmo não sabendo quem me enviou. Desde então, não saio de casa sem esse colar, como um símbolo de sorte, apesar de não acreditar nessas coisas, seria bom ter algo com o que me apegar no primeiro dia de aula depois de tanto tempo...


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