Amor E Caos... escrita por Bel Russeal


Capítulo 9
10 de março.


Notas iniciais do capítulo

“O que estava sentindo não era bem tristeza, era dor. Aquilo doía, e não é um eufemismo. Doía como uma surra.”
— Quem é Você, Alasca?(John Green)



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Narração Antenor:

Um dos jogos mais importante, que garantia a classificação para o torneio estadual, eu não iria jogar, devidos aos machucados, Caio e eu ficaríamos no banco e o pior de tudo o aluno novo jogaria na minha posição, já não bastava ele ter me enfrentado pela manhã e depois fez questão de jogar na minha cara que não participaria do jogo, aquele garoto arrumava confusão com o cara errado, eu e ele não nos entendemos desde o primeiro dia de aula, mas mexer com o meu time de futsal já passara do limites, eu era o capitão do time e não vou deixar ele roubar essa vaga.

_ Treinador, eu estou bem. Esses arranhadinhos não vão alterar em nada na minha forma de jogar. – Suplicava mais uma vez ao treinador ao lado da quadra.

_Senta no banco, Toni. Não é só arranhões, se eu te colocar vou ter que colocar Caio, não quero perigo de briga nesse jogo, ele é importante.

Suspirei derrotado e sentei na ponta do banco e na outra ponta estava Caio visivelmente decepcionado, ele também queria jogar. O estádio estava lotado, a escola toda estava lá.

_ Ei campeão, não se preocupa. Você vai esta nos principais jogos, quando o nosso time de se classificar. E vai ser você que nos levará a vitoria. – Melanie disse animada ao me abordar, ela me deu um selinho e saiu fazendo o mesmo nos outros garotos do time, ela sempre fazia isso, ela dizia que era seu beijo de boa sorte.

_Ei Caio, soube que não vai jogar, sinto muito, sei que queria muito. – Vi Samantha falando com o Caio ao lado.

_ Pois é, o treinador que evitar qualquer tipo de confusão. – Caio se explicava para as meninas e Gabe me olhava furiosa sem dizer nada, é claro que ela pensara que aquilo era culpa minha.

_ E eu insisti tanto que me viesse ver jogar.. – Caio continuava a falar.

_ Não se preocupa com isso, vamos torcer pelo time pra você arrebentar nas estaduais. – Sam disse pessimista.

Revirei os olhos com aquela cena e vi Gabe ferver de raiva mais um pouco, me concentrei então nas lindas lideres de torcidas enquanto o jogo começava.

Enfim, o jogo começou, torcia pelo time se dar bem, mas que o Dinho se desse muito mal, aquele aluno novo não podia se sobressair àquilo só aumentaria mais seu conceito com o treinador.

...

Minhas preces não fora ouvidas, sim o time do colégio ganhou, os Falcons foram classificados para as estaduais, mas graças aos 3 gols de Dinho, isso seria noticia para semana inteira, agora ele era um sucesso e ele tinha um prato cheio para zoar com a minha cara.

_Comemoração na praia? – Peter disse saindo do chuveiro enquanto eu pegava minha mochila no armário do vestuário masculino.

_ Não, nenhum um pouco a fim de ver o sucesso do aluno novo.

_ Qual é? Vamos, você precisa se divertir depois de toda essa confusão com o seu pai você merece.

_Sinto que só vou me aborrecer se eu for.

_E se por acaso fizéssemos um tipo de boas vindas ao aluno novo, assim seria mais divertido. – Peter disse malicioso e divertido.

_ Aquele tipo de boas vindas?

_ Sim, o nosso melhor tipo de boas vindas, afinal ele merece. – Peter disse e riu maliciosamente e nos demos à mão.

...

A praia estava lotada, uma fogueira enorme no centro ,como sempre, som alto e muita bebida. Pulei para fora do carro de Peter e saímos em direção a praia, no centro das atenções estava Dinho comemorando, ele parecia feliz com suas mais novas companhias, para minha surpresa, Samantha e Gabriele.

_Vou falar com o resto da galera, então porque não parabeniza o campeão? – Peter disse me entregando junto uma cerveja que nem sei quando ele havia arranjado.

Peter sumiu ao longo da praia em meio a tantas pessoas presentes. E dava alguns goles na bebida enquanto observava a festa, O nome do time gritado em coro foi substituído agora pelo o nome de Dinho, então me aproximei do centro.

_Parabéns, contribuiu muito ao time hoje! – Disse a Dinho que logo fechou o sorriso ao me ver, mas retribuiu ao meu aperto de mão, e todos observavam a cena.

_Por que o silencio pessoal? Palmas ao nosso campeão da noite. – Todos que formavam um circulo entre nós batiam palmas, já Sam e Gabe me olhavam intrigadas.

_Eu como o capitão do time, tenho que admitir o quão bom foi hoje e como é um aluno novo merece uma boas vindas, não concordam pessoal?

_Sim! – Todos falavam animados e Melanie me olhou e sorriu, ela já sacara o que ocorreria e li em seus lábios “Você não presta”.

_ Sabe pessoal, o que é um campeão de futebol sem uma linda líder de torcida? Nada, concordam?

_ Sim! – Todos gritaram novamente.

_ Então, por favor, Melanie a capitão de líder de torcida mais linda da cidade aproxime-se. – Melanie se aproximou.

_ Mostre ao nosso campeão o que você tem de melhor! Enfim divirtam-se pessoal.

Todos voltaram a dançar e Dinho se empolgou na dança com Melanie e fiquei observando-os. Peter então se aproximou:

_ Tudo pronto, agora só esperar o sinal da Mel. – Peter disse.

_Será que não é melhor deixarmos isso pra lá ? – perguntei receoso a Peter.

_ Claro que não, foi ele que deu a idéia pro treinador de deixar você e Caio fora do jogo de hoje, vai deixar isso barato? – Peter perguntou.

_ Foi ele?

_ Claro que foi, tem alguma duvida?

_ Não, deixe tudo preparado. Vamos dar uma lição para esse idiota. - Afirmei e Peter se apoiou com os braços em volta ao meu pescoço.

_ É assim que se fala!

A festa continuou e Dinho estava caindo feito patinho nos encantos de Mel, então só restava esperar e dançar e beber muito.

_ Acabou a bebida? – perguntei a Peter.

_ Tem mais no carro.

_ Ta, eu vou buscar.

No estacionamento, logo encontrei o carro de Peter e abri o porta mala e tirei as grades de bebidas.

_ Ei, o que você ta tramando contra o Dinho? – Samantha apareceu na minha frente toda bravinha.

_ Eu? Nada.

_ Eu sei que não gosta dele e todo aquele discurso de parabéns e boas vindas não convém.

_ Você é paranóica. – disse a irritando mais e caminhava em direção a praia.

_ Eu sei que esta armando algo.

_Que tal deixar de paranóia- disse deixando as bebidas no chão e empurrando ela contra um carro – E me dar um beijinho.

_ Idiota. – Ela disse me empurrando e me dando um belo chute no saco e cai no chão .

_AHHH! – Gritei de dor.

_ Na próxima eu faço você nunca ser pai.

_ Se já não me tirou essa possibilidade. – disse me deitando no chão e gemia com a dor nas partes genitais.

_ Perfeito, então. – Ela disse sorridente e saiu.

_Maluca! – gritei.

...

_ O que faz no chão, cara? Gabriel disse a me ver, provavelmente ele vinha atrás da demora das bebidas.

_ Uma maluca quase me tirou a felicidade de ser pai. – disse tentando levantar e Gabriel riu.

_ Vamos, o pessoal já ta abandonando a festa está na hora de trollar o carinha novo.

....

Chegamos à beira do mar e o iate estava preparado, então na empreita ficamos observando Mel agir.

_Vai com calma! – Mel seduzia Dinho que caia.- Vem vamos dar uma voltinha nesse iate.

_ Espera! Não podemos nem sabemos de quem é. – Dinho recuou.

_ E isso importa? – Mel disse tirando a blusa e o short ficando só de biquíni.

_ Não, nenhum um pouco. – Dinho disse entrando no iate, que demorou alguns segundos e saiu ao longo do mar.

_Caiu feito um patinho! – Peter ria.

_Vamos! Todo show merece um grande final, pega as câmeras. - ---- disse animado, subindo em um Jet ski e cada um foi para o seu.

Perto do iate esperávamos Mel, vimos Dinho e ela na maior pegação, Mel realmente sabia seduzir.

_ Que tal tornar isso divertido! – Ela disse empurrando ele contra o timão do barco e amarrando um dos seus braços.

_ Ah garota, você esta me deixando louco. – Dinho sorria e distribuía beijos em Mel que se afastou para borda do barco.

Aproximei mais o meu Jet e Mel subiu e Dinho olhava aquilo tudo muito confuso, Peter filmava a cara de bobo de Dinho e gritava “vai pra geral, essa pegadinha” se divertindo.

_ Volta aqui, Mel. – Dinho gritou. - Que brincadeira é essa?

_ Desculpa lindinho, você é gostoso, beija bem e tudo mais. Mas é que o Antenor pediu , enfim, o Antenor é o Antenor. – Ela disse subindo no meu Jet e eu ria.

_ Eu vou te esganar, Toni. Me desamarra. – Dinho gritava.

_ Olha, novato! Isso é pra você saber que não pode zoar comigo e tentar me tira do time, essa é suas boas vindas, mas é mais um sinal para não mexer comigo. – Disse alto e toda galera com os Jet skis em volta riam.

_ Me tira daqui.

_ Ah galera! Acho melhor o desamarrarmos! – Peter disse tirando uma faquinha para cortar as cordas do bolso- Ops caiu! – ele disse sarcástico ao derrubar a faca no mar.

_ Vocês me pagam!

_ Olha campeão, se você conseguir se desamarrar é melhor ficar sabendo que não tem combustível suficiente no iate para voltar a praia. – Disse me despedindo.

_Volta aqui, não pode me deixar aqui.

_ Ou se quiser pode ir nadando! – Peter disse.

_ Não podem me deixar aqui!

Todos nos mandamos de volta para praia, onde não havia mais ninguém, Peter se divertia vendo o vídeo várias vezes.

_ Sabe galera, acho que a gente pegou pesado, não podemos deixar ele lá. – Mel protestou.

_Claro que podemos! – Peter disse.

_ Não se preocupa, ele só vai passar a noite lá, paguei um barqueiro para buscá-lo amanha de manhã. – Expliquei a Melanie.

_ Você o quê? – Peter protestou.

_ Cara, ele não podia ficar lá a deriva.

_ Tudo bem, já tenho esse vídeo mesmo. – Peter se conformou.

_Agora ele vai pensar duas vezes de se meter com Antenor Grayson. – Disse satisfeito.

_ Quando você é mal assim eu fico muito excitada. – Mel disse provocante.

_ Fica? – perguntei.

_ Que tal me acompanhar até o meu carro ? – Ela disse me estendendo a mão e então fomos.

Mel começou a me beijar intensamente e entramos no seu carro, ela era linda e sabia o que fazia decidida, mas não havia sentimento ali, apenas desejo.

Narração Duda:

Cheguei à escola, um dia de aula normal, depois da vitoria no jogo de ontem a escola estava toda decorada pela as cores do time. Em meu armário, tirei o livro de Matemática e percebi que todos no corredor segurava um celular e falava de um vídeo.

_ Bom dia, Caio! – O abordei em seu armário.

_ Bom dia! – Ele disse me dando um beijo no rosto.

_ Vocês já viram o vídeo sucesso da escola? – Gabe chegou rapidamente.

_ Bom dia para você também, Gabrielle. – Eu e Caio falamos juntos.

_ Pelo visto não sabem. – Ela disse puxando o celular e apertando o play.

_ Não acredito que Toni Fez isso. – Caio disse surpreso.

_ Eu sabia que ele estava armando algo. – afirmei.

_ Antenor passou dos limites. – Caio protestou e balançou a cabeça negativamente.

Toda nossa atenção e conversa sobre o vídeo foi interrompida, pela chegada de Dinho, todos o olhavam e cochichavam em conversas paralelas.

_ Melhor falarmos com ele.

_ Melhor não. – Gabe me segurou.

E vi a direção em que Dinho seguia, ao encontro com a turma de Antenor, que estavam perto dos últimos armários do corredor.

_ Pelo visto o cara do qual paguei pra te buscar fez o serviço. - Toni disse sorridente.

_Você vai me pagar!- Dinho disse segurando Antenor pela gola da camisa e o apoiou em um armário.

Peter e Gabriel em defesa a Toni, empurraram Dinho para longe e mais alguns meninos se juntaram para defender Toni .

_ Vem, me enfrenta sozinho, sem esses babacas! – Dinho disse furioso- Sem esses seus planinhos, me enfrenta de verdade.

_ Eu não sou moleque, não vou brigar com você, porque assim o treinador me proibira de jogar de novo e eu não prejudico o time.

_ Esta com medo, você tem medo, assim como viu seu titulo de melhor jogador ameaçado , ai resolveu fazer aquele planinho.

_ E você caiu feito um patinho, como você é bobo. Eu não tenho medo, você fez o treinador tirar a mim e Caio do jogo e eu apenas dei o troco.

_Vai se arrepender, Antenor.

_ Alguém tem uma faca para eu cortar os meus pulsos? Porque eu estou morrendo de medo do garotão aqui. – Antenor disse alto e todos riram.

_ Pois bem, arranjou um inimigo. O seu maior inimigo.

Dinho soprou as ultimas palavras tão furiosas que por um momento não reconheci o garoto legal e extrovertido que se esbarrou comigo no seu primeiro dia de aula. Mas era de se reconhecer que o trote pregado por Antenor Grayson passou dos limites.

_ Os babacas sociais são os melhores em pregar trotes no colégio, se realmente Dinho anda provocando Antenor, nada mais esperado do que receber um trote nessa proporção.

Gabe me explicava com naturalidade uma situação em que achava absurda, ela já devia esta acostumada com os trotes que os “babacas sociais” , como ela chamava, passavam.

...

Entramos na sala de aula às 7:59, a aula começa as 8:00 e nesse horário pontualmente o velho entrou na sala, o professor de filosofia mais odiado da escola, eu não o odiava, não como os outros, eu o achava tão inteligente e admirável. “ O que acontece depois da morte ?” Ele escreveu na lousa ainda em silêncio e sentou com dificuldade na cadeira e se ajeitou, acompanhei todos os seus movimentos desde o sentar até o se ajeitar com a mesa, ele era idoso e aparentava quebrar a qualquer momento.

“Ele devia se aposentar” ouvi Gabe argumentar algo do tipo com Caio que soltou uma leve risada e logo ficou sério ao encontrar os olhos do professor que segurava os óculos na ponta do nariz e sobressaltava os olhos para cima de Caio.

_Essa pergunta na lousa é a que mais cerca entre os homens, cada religião ou crença existente tem sua teoria, desde a existência de um paraíso até a reencarnação.– Ele pausam para dar fortes tossidos, mas continuou:

_ São tantas teorias, mas nenhumas delas pode se afirmar que é realmente certa, pois ninguém que já morreu pode dizer a resposta. Mas por quê tantas teorias ? Por que essa pergunta trás tanta curiosidade e medo ao homem?

O velho parou nessas perguntas e observava a sala, como ele também fiz minha vistoria e também esperava que alguém respondesse, todos estavam apenas em silencio olhando seriamente ao professor, ninguém ameaçara a dizer nada ao velho general lá na frente, era essa imagem de durão que o professor transmitia e todos odiavam. Ninguém respondeu o professor e ele passou aquela pergunta como um trabalho para próxima aula.

Eu poderia ter levantado a mão e falado a resposta, pelo menos a minha resposta: Porque, nós temos medo de não ter um depois, essas teorias existem para dar esperança, para acreditarmos que realmente não acabou, porque não queremos que acabe, não queremos aceitar que uma pessoa que você ama tanto, simplesmente não exista mais. É triste e doloroso demais você pensar naquela pessoa em que você mais ama na vida se torne apenas em uma matéria em decomposição que será engolida por vermes, e que acabe, simplesmente, que ela não vai existir mais. E que quanto mais o tempo passa você vai esquecendo cada vez mais ela a um ponto de se assustar quando não lembrar do rosto dela e procurar desesperadamente por uma foto para acalmar um coração, então o medo invade outra vez, não só o medo. mas a culpa de ta esquecendo a pessoa que você mais amava. Então porque não acreditar em um paraíso? Onde ela vai esta feliz em um outro lugar observando você. Ou então em uma reencarnação ? Onde ela vai poder ter várias vidas e a oportunidade de realizar sonho que realizou na vida que perdeu. Por que não querer acreditar nisso?

Pensava eu assim olhando para o lado externo da escola através da janela de vidro que refletia o sol forte em meu rosto. Virei o rosto e voltei a lousa, a pergunta destacada “O que acontece depois da morte?” e a data no canto da lousa 10 de março. Ontem a 00:01 começou o dia 10 de março, eu não me lembrei, devia esta concentrada no cd de imagine Dragons que tocava em meu quarto, na companhia de Gabe e Caio que foram à minha casa depois da festa na praia, porque o time da escola havia sido campeão. Mas eu não havia me lembrado. O tempo aos poucos não só apagava da minha lembrança o rosto de Nick, eu estava esquecendo cada vez mais dele.

Eu estava preenchendo de novo minha vida, escola, time da escola, festa na praia, brigas com Antenor, amigos, jantar com o Cezar, jardinagem com Jorge... Eu estava preenchendo minha vida e seguindo em frente e esquecendo Nicolas, como eu podia? Como eu podia assim seguir em frente e deixar de me lembrar da sua risada, de seu abraço e de seu aniversário. A data do quadro escrita em números pequenos ficava maior aos meus olhos, pequenas gotas de suor se formavam em minha testa.

_ SAMANTHA! – Chamou- me mais um pouco alto, Gabe. Apenas olhei para o rosto aflito de Gabe.

_ O que houve Sam? Esta pálida.

_ Eu esqueci. – As lágrimas escorriam em meu rosto.

_ O que você esqueceu ? – Caio levantou preocupado e todos na turma observavam.

Peguei minha mochila imediatamente e sai rapidamente daquela sala, deixando todos confusos para trás e um professor raivoso me chamando pelo nome.

“O que acontece depois da morte?” Não, Nicholas não poderia virar apenas um corpo engolido por vermes e seus ossos enterrados e esquecidos pelo pó da terra. A sua existência não poderia ser facilmente esquecida. 10 de março, aniversário do melhor irmão do mundo. Eu esqueci.

Atravessei pelo campus da escola, estava um pouco tonta e acho que poderia vomitar a qualquer momento. Meu celular vibrava insistentemente no meu bolso “Gabe chamando...” Desligava e voltava a tocar. Joguei o celular em qualquer canto no chão atordoada. E segui até a rua mais próxima.

Não tinha nenhum taxi ou ônibus, eu iria andando. As pessoas na calçada pareciam se multiplicar em duas, eu estava zonza e a data no quadro estava na minha cabeça. Por fim joguei meu joelhos no chão e encostei-me a cabeça neles. Eu precisava chegar no tumulo de Nicholas, eu precisava pedir perdão à ele, mesmo se ele não me ouvisse.

_Esta tudo bem ? Acho que deixou cair seu celular. – A voz rouca e agora suave de Antenor me abordou. Estava tão tonta que não conseguia mirar em seus olhos azuis que estavam na direção dos meus já que ele se ajoelhou também.

_Eu preciso ir até ele.. – sussurrei em soluços por causa do choro.

_Até quem?

_ Nicholas. – Disse por fim apagando.

...

O som de uma propaganda de rádio era o som que eu ouvia de longe, ao abrir os olhos percebi que não estava mais na rua perto do campus da escola, estava sentada em um banco de carro que tinha cheiro de concessionária, o carro era realmente novo, seu ilstre banco de couro perfeito afirmava isso.

_Finalmente, acordou. Pensei que teria que levá-la mesmo a um hospital e comunicar seu pai. – Antenor disse entrando no carro com duas garrafas de água mineral.

_ Trouxe para você. – Ele disse estendendo a garrafa para mim e apenas o cerrava com os olhos, Antenor sendo gentil como no dia da chuva e no dia que tentou me entregar a tulipa branca, a personalidade dupla daquele garoto estava me matando.

_ Porque estou aqui? – Disse ainda olhando a garrafa que ele segurava.

_ Eu não to sequestrando a donzelinha que desmaiou na rua, eu estou tentando te ajudar, você me ajudou no dia da briga, lembra? – Os argumentos de Antenor me fizeram aceitar a água mineral e me fez lembrar do beijo daquela noite.

_ E respondendo sua pergunta, eu estava matando aula e vi você fugindo também sei lá de quê ou quem, mas ai você derrubou o celular e fui lhe entregar e você desmaiou. – Se explicou e por fim secou a garrafa de água mineral que ele tinha, ele devia esta com muita sede, normal devido ao calor infernal que essa cidade fazia.

_Eu preciso ir. – disse tentando abrir a porta, mas estava travada e então olhei novamente para Toni.

_Por que estava daquele jeito? – Ele perguntou e percebi que ele não me deixaria sair até eu responder.

_ Que jeito?

_ Nervosa e fugindo.

_ Eu tinha esquecido de algo, por favor, eu ainda preciso ir.

_ Você não precisa ir, ja esta aqui. – Ele disse destravando o carro.

Sai do carro e percebi que ele estava estacionado na frente do cemitério, mas como Antenor adivinhara o lugar em que eu precisava ir.

_ Como você sabia? – perguntei.

_ Você disse que precisava ir até o Nicholas, seu irmão não é ?

Não seria um pouco engraçado pensar que a pessoa que eu mais odiava naquela cidade, era a pessoa que sabia uma das dores que tentava ocultar de todos, ele sabia da morte do meu irmão.

_ Como sabe que Nicholas... – Não consegui terminar a frase.

_Esqueceu do dia que nos esbarramos por aqui? – Antenor também tinha visitas a fazer por aquele cemitério onde o sobrenome tão famoso em uma lápide não passaria despercebido.

_ Esquecer .. Venho me esquecendo de tantas coisas. – Disse entrando no cemitério.

Desde a morte de Nick , eu nunca conseguira ver o seu tumulo, não consegui suportar a idéia de ver o seu nome escrito em uma lápide, era uma forma de negar sua morte a mim mesma, mas essa parte da negação havia passado. E só me restara a dor, e como doía.

“ Nicholas Lorenzzi Halter

Amigo e irmão.

10 de março de 1994 a 20 de julho de2013”

Sentei ao lado da lápide de Nick, pensei que se viesse visitar o seu tumulo hoje, no dia do seu aniversário, sentiria um pouco de sua presença ali, mas nada. Apenas seu nome gravado em uma pedra, talvez ele não esteja mais por aqui ou nem esteja me observando do paraíso, talvez ele só não exista mais, isso explica porque eu não conseguia sentir sua presença aqui.

_ Você ainda ta aqui? – Disse surpresa ao sair do cemitério e encontrar Anthenor.

_ Eu sei que o cemitério fica longe de casa, achei que precisaria de uma carona do cara que você mais odeia.

...

_ Achei que fosse demorar mais. – Anthenor quebrou o silencio no carro.

_ Foi tolice a idéia de ir visitar o seu tumulo, Nicholas não está mais lá.

_ Como assim?

_ Ele foi enterrado lá, mas a sua presença e energia não esta lá e nem em lugar nenhum.

“O que acontece depois da morte?” Nada, a pessoa só deixa de existir.

_ Eu sei o que quer dizer, também não sinto minha presença de minha mãe lá.

_ Então por que sempre vem visitá-la? – perguntei.

_Porque acho que aquele nome em uma pedra é mais uma certeza e prova de que uma mulher brilhante existiu e eu devo conservá-la. – Antenor falou com tanto carinho que eu nunca pensei que ouviria isso de sua boca.

_Se arrependeu de ter vindo? – ele perguntou.

_ Eu achei que poderia encontrar sua energia ali e que ela me pudesse me fazer sentir menos culpada de ter esquecido seu aniversario.

Antenor não argumentou mais e ficamos ali o resto do caminho em silêncio, mas era estranho para mim constatar que desde a morte de Nick nunca revelei meus sentimentos para ninguém e naquele momento eu estava cometendo o deslize de mostrar toda minha dor e fragilidade para Antenor, justo Antenor.

Toni estacionou o carro em frente a minha casa ainda em silencio retirei o sinto do carro e antes de eu soprar um “Obrigado” Antenor se pronunciou:

_Quando minha mãe faleceu, eu não conseguia imaginá-la em uma paraíso ou inferno, ou em uma reencarnação, e nem menos na idéia de que ela havia não mais existia. E até hoje eu não imagino.

_ E como você imagina ? – perguntei

_ Como uma estrela, que toda sua energia depois de sua morte foi sugada pela atmosfera e transformada em uma estrela e mesmo que o estagio de vida da estrela chegue ao fim, ela vai virar uma supernova e quando explodir seus gases vão transformar em uma outra estrela, assim sempre iluminando a minha noite, me protegendo durante o sono.

_Essa é uma bela teoria, Antenor. – Disse dando um leve sorriso – Obrigada pela carona.

Talvez eu pudesse adotar a teoria de Antenor, mas acho que nunca saberemos o que vem depois da morte até então morrermos e nem todas as teorias até mesmo a de Antenor acabariam com a dor da falta da pessoa amada.

Entrei em casa, o relógio marcava meio dia em ponto, eu estava tão cansada, só queria entrar em meu quarto e chorar até dormir.

_ Graças à Deus, onde estava? – Cezar disse me abraçando.

_ Você esta me sufocando, Cezar.

_Samantha, onde se meteu ? A sua amiga Gabrielle me ligo preocupada disse que você estava mal na sala e saiu da sala no meio da aula e você não estava em nenhum lugar.

_ Por pouco não me encontrou.

_ O quê ? – Cezar disse surpreso.

_ Vi flores no tumulo de Nick quando fui ao cemitério, quem mais dessa cidade poderia colocá-las? – Disse sentando no ultimo degrau da escada que levava ao segundo andar da casa e o semblante de Cezar demonstrou um pouco mais de alivio.

_ Coloquei elas antes de ir ao trabalho. – Ele disse sentando ao meu lado.

_ Presente” atrasado” depois de tantos anos ? – Disse a Cezar me referindo as flores.

_ Não fale assim, a sua dor não é maior que a minha, apesar dos meus erros, ele era meu filho e eu o amava.

Cezar tinha razão, eu não poderia julgar minha dor maior que a dele, pois estávamos na mesma situação, a dor era igual, talvez.

_ 10 de março de 1994, um dos dias mais felizes da minha vida, ele era um bebe tão sorridente, não dava muito trabalho, acho que nunca deu. – Cezar disse com os olhos lacrimosos;

_ Eu havia esquecido do seu aniversário, eu estou esquecendo dele. Ah meu Deus. Eu não posso, eu não posso simplesmente preencher minha vida e seguir em frente e... – Disse desabando em choro e Cezar me abraçou.

_ Não,querida. Você nunca vai esquecê-lo, você só se distraiu, mas deu tempo, ainda é aniversário dele, não se torture. Não precisa acabar com sua vida para não acabar com as lembranças de Nicholas, ele sempre vai esta no seu coração, mas você precisa seguir em frente sim, para aprender lhe dar com essa dor.

_ Não! Não! Eu não posso seguir em frente, preciso manter lembranças dele aqui comigo. – levantei da escada atordoada.

_ Por que? Por que se fechar novamente Sam, você esta conseguindo, esta fazendo amigos, saindo, eu já lhe vejo sorrindo pela manhã, por que não seguir em frente? Por que se trancar nessa dor?

_Por que preciso dele.

_Nicholas morreu!! – Cezar gritou – Ele não vai voltar. É difícil pra mim e difícil pra você . Mas aceite, ele morreu!!

_ Não! – Gritei.- Calado!

_ Ele morreu! Faz 9 meses! Aceite ou não, mas aprenda a lhe dar com o fato de que ele esta morto, mas você continua VIVA! Não desperdice sua vida. – Cezar disse chorando e eu corri para o meu quarto.

Quando perdemos algo muito valioso em nossas vidas, descobrimos o quanto éramos felizes, o quanto fazia bem a presença, que mesmo com os golpes que a vida nos dá, nos enchia de vida e esperança. Lastimar essa falta, só nos deixa cada vez mais escravizados nas lembranças que não voltam, mas ferem a cada pensamento nossos corações. O mal não se aplica somente a nós, mas também a aqueles que nós perdemos e que não estão presentes na vida carnal. Libertar essa angustia faz parte de continuar a viver, pois quem já partiu, já está perto do grande pai e com certeza espera o grande dia de encontrar-se de novo conosco.

Chico Xavier


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Notas finais do capítulo

Me inspirei em um livro que li essa semana para fazer este cap, espero que tenham gostado.



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