Os dias tinham passado de uma forma maravilhosa, afinal era verão. A temperatura subia à tarde, porém logo depois enormes nuvens escuras se formavam e como esperando, uma grande chuva vinha junto delas.

Eu continuava trabalhando na clinica com Peeta. Sentia-me literalmente morta por ter que pedalar até em casa e, pela manha, meus pés e pernas doíam mais que o comum. Eu guardava todo o dinheiro que ganhava, inclusive se precisasse fugir ou algo do tipo, tinha mais dinheiro do que realmente imaginava. Pela primeira vez, perguntei a mim mesma se tinha necessidade de guardar mais.

Ao terminar de tomar meu café, olhei pela janela e avistei a casa de Glimmer. Desde aquela conversa estranha no bar eu não havia mais trocado uma palavra se quer com ela. Ela tinha sido muito enigmática comigo e não dava para saber o que ela queria dizer com todas aquelas coisas.

Peeta viria até aqui mais tarde. Suas visitas tinha se transformado em um tipo de rotina e, quando eu estava com ele, era simplesmente perfeito. Aliás, tinha todos os motivos para ser. Peeta aceita minhas mudanças de humor constantes e meus silêncios e me tratava com carinho e cuidado, algo que me surpreendia. Entretanto, depois da conversa que tive com Glimmer, achei que estava sendo um pouco injusta com Peeta e as crianças. O que acontece se, por exemplo, Marvel voltasse? Se ele me arrastasse para longe daqui? Eu os deixaria e nunca mais voltaria a ver suas caras? Eu estaria disposta a fazer isso? Estaria disposta a agir como uma idiota outra vez?

Eu odiei todas aquelas questões que Glimmer fez e aquelas que ela me levou a pensar. “Você não sabe o que eu passei droga! Então, cale sua boca” pensei em dizer. “Você não faz ideia de quem meu “marido” realmente era, ou melhor, é.” Mesmo assim, sabia que nenhum desses argumentos resolveria o problema.

Deixei a louça do café sobre a pia, andei pela casa, pensando em como as coisas haviam mudado nesses meses. Não possuía quase nada agora, mas sentia que tinha mais do que nunca tivera. Senti-me amada pela primeira vez em anos. Sei que não poderia prever o futuro, mas mesmo assim, me dei conta de forma repentina e incontestável que deixar essa nova existência era algo inegável.

[...]

– É claro – disse Peeta a mim, após fazer meu pedido. Ele parecia meio surpreso, mas ao mesmo disposto a me ajudar – Quando você quer começar?

– Hoje mesmo? Se você tiver tempo – falo.

Peeta deu uma olhada dentro da padaria, havia apenas algumas pessoas comendo nas mesas e o novo assistente que ele tinha contratado há alguns dias.

– Ei, Gloss. Você se importa de cuidar da caixa registradora por uma hora?

– Sem problemas, chefinho – disse Gloss, ficando onde estava.

Peeta saiu de trás do caixa, sorrindo ele me encarou. – Está pronta?

– Acho que não – respondi, com os braços envoltos do corpo – Mas é algo que devo saber como se faz.

– Por que você teve essa vontade louca de aprender a dirigir? – perguntou ele enquanto entravamos no carro – Se cansou da bicicleta, foi?

– Talvez, a bicicleta é ótima para o que faço. Mas quero tirar a habilitação.

– Para conseguir uma habilitação o estado exige documentos. Certidão de nascimento, cartão de seguro social, coisas como essa.

– Eu sei – falo.

– Esse tipo de informação pode ser rastreado, ou seja, as pessoas podem saber onde você está.

– Eu troquei de número faz algum tempo – digo – Se Marvel soubesse onde eu estava já estaria colado aqui. E se vou viver aqui, é algo que preciso fazer.

– Katniss...

Inclinei-me e beijei seu rosto. – Esta tudo bem, Peeta – sorri – Tenho um segredo. Meu cabelo nem sempre foi loiro, na real ele era castanho.

– Tem certeza que você realmente quer me contar isso?

– Imagino que, algum dia, você iria acabar descobrindo. Quem sabe? Posso voltar a ser morena.

– Por que você está fazendo tudo isso? Querendo aprender a dirigir? Contando-me essas coisas?

– Por que você me disse que eu poderia confiar em você – disse, dando de ombros – Eu confio no que você disse.

– Só isso?

– Sim. Sinto como se pudesse te falar qualquer coisa.

– Okay... Agora você usa somente um pé, ele vai estar no acelerador ou freio. Entendeu?

– Sim.

– Agora, pise no freio enquanto engata a marcha ré. Não acelere, em vez disso, vá soltando o freio com cuidado. Depois, vire o volante e sempre mantenha o pé no freio.

– Okay Mellark, agora vamos lá.

Andamos por vários lugares sem muito movimento. Eu tive algumas dificuldades, mas no final, me sai bem melhor do que imagina. Quando estamos no centro, Peeta me fez parar em uma cafeteria e apontou para mesma.

– Você quer comemorar? Afinal se saiu muito bem – falou ele.

– Sim... Eu posso dirigir amanha também?

– Claro que pode.

Abri meus braços e o dei um abraço espontâneo. – Obrigada. Obrigada por fazer tudo isso por mim.

– Imagina dona Katniss, você merece e você sabe disso.

Nos sentamos em uma mesa do lado de fora. Contei sobre várias outras coisas para Peeta. Ele me olhava, e no final, balançou levemente a cabeça enquanto me encarava.

– O que foi?

– Nada não...

– Só isso?

– Eu amo você – sussurrou ele, finalmente.

Me inclinei e dei um leve beijo em seus lábios. – Eu sei. Eu também amo você, Peeta.