Peeta

Katniss havia finalmente conseguido sua carteira de motorista. Nos dias que precederam o teste, a levei para dirigir em alguns lugares. Apesar de pequenos deslizes, ela passou com uma pontuação de dar inveja. Quando o documento chegou, Katniss pirou de felicidade.

Naquela noite, a levei para jantar em uma cidade próxima. Depois, demos uma volta por tudo. Ficava encarando Katniss por um tempo. Deus, como ela é linda.

– O que foi? – perguntou ela, finalmente.

– Estava pensando que talvez o cabelo moreno não ficasse legal em você. Loiro fica bem melhor.

– É melhor que seja isso mesmo... Sabe, estou tão feliz. Finalmente tenho minha carteira de motorista.

– Eu sei que você tem. Agora, tudo o que você precisa é de um carro.

– Por que eu precisaria de um carro? – disse ela, dando de ombros – A cidade é bem pequena e eu tenho minha bicicleta. E, quando chover, há um homem que está disposto a me levar onde eu precisar ir. É quase como ter meu motorista particular.

– É mesmo?

– É, sim. E eu tenho certeza de que, se eu pedisse, ele até me emprestaria seu carro. Ele está praticamente comendo em minha mão.

Alevantei uma sobrancelha. – Não me parece uma atitude muito masculina da parte dele.

– Ah, ele é ótimo – disse ela, provocando – Parecia um pouco desesperado do começo, com todas aquelas coisas que me deu de graça. Mas, depois de certo tempo, me acostumei com isso.

– Você tem um coração de ouro.

– Ah Peeta, é obvio que eu tenho – disse ela – A chance de encontrar alguém como eu é de uma em um milhão.

Ri de sua cara. – Estou começando a achar que você finalmente está saindo da concha onde se escondia e estou começando a perceber quem é a verdadeira Katniss.

Ela deu alguns passos em silêncio. – Você conhece a pessoa que sou verdadeiramente – disse ela, parando para olhar em meus olhos – mais que qualquer outra pessoa.

– Eu sei – disse a puxando para um abraço.

Dias depois...

Eu não conseguia dormir depois da conversa que tive com Alex. Ele se sentia culpado por ter saído mais cedo de uma festinha, por causa de que ele era o único menino sem mãe.

Aquilo abria uma nova feriada em meu peito. Subi os degraus da escada e fui até o quarto que ela ficara dias antes de morrer. Havia ainda as cartas que ela tinha deixado e pedido para eu não ler.

Li uma das cartas e me surpreendi. Ela havia dito para eu entregar essa carta para uma pessoa, uma pessoa que eu tivesse certeza que amasse.

E eu já estava quase tendo essa certeza.

Katniss

– Eu acho que preciso ir falar com ela – digo, após Peeta estacionar o carro em frente da minha casa.

Havíamos passado a tarde juntos vendo filme. Eu, ele, Kristen e Alex. A tarde fora perfeita. Estava cada vez mais gostando deles.

– Com quem?

– Com minha vizinha – falo, com um sorriso, apontando com um dedo por cima de meu ombro – Ou, melhor dizendo, talvez ela queira conversar comigo.

Peeta assentiu. – Tudo bem – disse ele, me dando um sorriso – Katniss, eu me diverti muito hoje.

– Eu também, Peeta.

Peeta me deu um beijo e logo foi embora. Caminhei até a casa dela. Glimmer quando me viu acenou e sorriu, senti a tensão diminuir um pouco. Não falava há dias com ele, desde aquela vez. Glimmer se alevantou e veio até a varada.

– Em primeiro lugar, queria me desculpar com a maneira que falei com você – falou ela, sem qualquer perambulo – Fiz algo que não devia. Estava errada e isso não vai acontecer outra vez.

Subi as escadas até a varanda e me sentei, acenado pra que Glimmer fizesse o mesmo, no ultimo degrau. – Está tudo bem. Não fiquei brava.

– Ainda me sinto horrível por ter feito aquilo – disse Glimmer. O remorso que ela sentia era mais que óbvio – Não sei o que deu em mim.

– Eu sei – digo – É óbvio. Você se importa com eles. E você quer cuidar deles.

– Mesmo assim, não deveria ter falado com você da maneira que fiz. É por isso que ainda meio afastada. Aquilo estava me matando de tanta vergonha e eu sabia que você nunca me perdoaria.

Lhe dei um leve abraço. – Eu agradeço o pedido de desculpas, mas não é preciso. Na real, você fez que eu pudesse perceber algumas coisas importantes sobre mim mesma.

– É mesmo?

Fiz que sim com a cabeça. – E para que você saiba, eu acho que vou continuar morando aqui por algum tempo.

– Eu vi você dirigindo há alguns dias.

– É meio difícil de acreditar, não é? Ainda não estou totalmente acostumada com isso. É estranho.

– Isso é normal no inicio. Mas o carro é bem melhor que a bicicleta.

– Eu ainda pedalo todos os dias – falo – Não tenho como comprar um carro.

– Eu diria que você pode usar o meu carro se quiser, mas o desgraçado voltou para a oficina. Aquela coisa sempre da um jeito de estragar, é incrível. Eu provavelmente ficaria mais feliz com uma bicicleta.

– Cuidado com o que deseja.

– Agora você está falando as mesmas coisas que eu digo – disse Glimmer, olhando em direção à estrada – Estou muito feliz por você e Peeta. E pelas crianças também. Você faz bem a eles, sabia?

– E como você pode ter certeza?

– Porque eu vejo o jeito com que ele olha pra você. E a maneira que você olha pra todos eles.

– Nós passamos bastante tempo juntos – falo.

Glimmer balançou a cabeça. – É mais do que isso. Vocês dois parecem estar apaixonados – disse ela, mudando de posição no degrau da escada depois de meu olhar extremamente constrangedor – Tudo bem, eu admito. Mesmo que você não tenha me visto, vamos dizer que eu vi como vocês dois se beijam quando se despedem.

– Glimmer, você fica nos espiando?

– É claro que sim – disse ela, com uma careta – Como você acha que vou conseguir me ocupar? Afinal, nada de interessante acontece nesse lugar – falou ela, antes de ficar um instante em silêncio – Você realmente o ama, não é?

Concordei com a cabeça. – E amos as crianças também.

– Isso me deixa bem feliz – disse Glimmer, unindo as mãos como se estivesse rezando.

Também me deixei levar e ficar um tempo em silêncio... isso até uma duvida surgir em minha cabeça.

– Você conheceu a esposa dele?

– Sim – falou ela.

– E como ela era? Digo... Peeta falou sobre ela e eu faço uma ideia de como ela poderia ser, mas...

Glimmer não deixou que eu terminasse de falar. – De acordo com o que vi, ela era parecida com você. Digo isso de uma forma positiva. Ela amava Peeta e amava as crianças. Eles eram o que havia de mais importante em sua vida. E isso é tudo o que você precisa saber sobre ela.

– Você acha que ela gostaria de mim?

– Sim – falou ela – Tenho certeza que ela a adoraria.