“Um dia quem sabe possamos ser um casal de verdade...”

“Um dia talvez seja tarde de mais...”

“Esse dia pode ser hoje, amanhã, nunca sabemos, mas, tudo tem um tempo certo...”

Talvez esse diálogo pudesse mudar muitas coisas.

Talvez esse diálogo com aquele rapaz de olhos azuis cobalto tenham sido suficientes para despertar algo diferente naquela garota que estava perdendo-se dentro dela mesma...

Nanami Pov’s

Cheguei em casa por volta das 4:20, me despedi de Dhiren com um forte abraço, nós dançamos um pouco naquele bar, danceteria, seja lá o que era, depois saímos e fomos para uma alta cobertura de um hotel (não sei como conseguimos acesso tão fácil assim) e ficamos deitados no terraço olhando as estrelas, na realidade conversando do que admirando aquelas coisas que brilham mesmo estando tão longe.

E então quando eu já estava caindo no sono ele me deu uma carona até em casa.

Acordei lá pelas 7:15 tomei um longo banho e como todos sabem um banho não é apenas banho, é um momento de reflexão e nem sempre esses momentos são tão bons quanto gostaríamos.

.........

A água quente batia contra minha pele fria me fazendo arrepiar, ergui o rosto para a água passar por ele, passei a mão pelos longos e grossos fios sedosos de cabelo que agora eu tinha, meus seios estavam maiores, bem maiores, tinha uma cintura mais curvilínea, quadris mais largos e pernas mais definidas, olhei para o box de vidro, meu rosto estava diferente... Não parecia que eu olhava para mim, mas sim para um outro alguém preso naquele reflexo triste.

A água caia e com ela limpava as lágrimas que rolavam em meu rosto, sentia estar cada vez mais perdida, minha memória era fraca, não conseguia lembrar direito das coisas e isso estava me matando por dentro parecia corroer minha alma.

Tem remédio para esse estado de inércia? Ou é apenas embriaguez devido as nuances de minha vida?

–Não quero sumir...- abracei a mim mesma e sentei-me deixando a água cair sobre minha cabeça na esperança da água quente limpar minha alma.

......

Sai do banho com o rosto inchado de tanto chorar, senti minha garganta arranhar por um momento, vesti calças largas e um blusão azul, deixei os cabelos soltos para secarem naturalmente, calcei meias grossas e fui a frente do espelho, toquei meu rosto tantas vezes, arregalei os olhos e fiz expressões faciais, e por fim desatei a chorar novamente... Ai droga, odeio me transformar naquelas garotas bobonas que choram por qualquer coisa... Eu tinha que ser forte, mas era tão difícil.

Por fim acenei para mim mesma tentando provar de que eu era real... De que a aquela pessoa era eu, mas mentir pra si mesma sempre foi a pior mentira.

Sai de meu quarto que já estava cheirando mal por estar sempre fechado por isso antes de sair abri as janelas para arejar.

Dirigi-me para cozinha e fiz um chá, meus adorados espíritos estavam lá, Onikiri e Kotetsu , eles me encararam por um momento e nada disseram.

–Quem é você?- disse Kotetsu primeiramente recuando.

Senti minha garganta se fechar e lágrimas teimando em sair de meus olhos.

–Nanami-sama é você?- gritou o Onikiri.

–Pelos deuses!- Gritaram e uníssono, e então vieram até mim e me abraçaram forte, fazendo milhares de perguntas que não consegui responder.

Depois que eles se acalmaram e foram para o pátio da frente cuidar das plantas que estavam crescendo incansavelmente.

Bebi devagar aquele chá amargo, e ouvi passos, virei-me e vi Tomoe ali parado, vestia uma yukata branca com desenhos em preto, as mangas eram bem soltas.

–E então, como se sente? Vi você chegar ontem.- comentou sentando-se a cadeira ao meu lado.

–Você dorme?- perguntei um tanto debochada, minha voz estava rouca.

Ele ignorou minha pergunta e prosseguiu.

–O que vocês fizeram ontem?- perguntou novamente.

–Nada de mais.- respondi e terminei meu chá em alguns poucos goles, eu não queria parecer fraca, por mais que fosse evidente que eu estivesse péssima eu ainda queria mostrar que poderia ser tão madura e fria quanto ele para fazer as coisas.

–Vamos ensaiar para o festival de troca de estações?

Ele suspirou dando-se por vencido e então fomos para a sala de ensaios no último andar do templo.

–E Mizuki?- perguntei depois de acender o incenso.

–Ele disse que foi encontrar alguém.- disse procurando alguma coisa.

Pensei um pouco em quem seria esse alguém e então puft, Darkane e eu teríamos uma conversinha na próxima vez em nos víssemos.

–Lembra dos passos básicos?-perguntou sentando-se numa das almofadas.

Suspirei e assenti e então começamos o intenso ensaio afinal a primavera começava daqui algumas poucas semanas.

O tempo já era curto e essa dança precisava ser perfeita, ensaiamos até ficarmos exaustos, ensaiar uma dança não é tão fácil assim, cada movimento tem um momento certo, a postura deve ser ereta e perfeita, os movimentos devem ser suaves e delicados, como as flores de cerejeiras que crescem na primavera e florescem.

Bebi três garrafas de água seguidas, estava me sentindo um pouco tonta, Tomou disse que eu estava ficando pálida e me levou para fora do templo.

–Nanami? Está me ouvindo? Nanami!- começou a dizer com urgência, eu o enxergava a minha frente, mas seus movimentos eram tão lentos, não estava mais entendo o que ele queria me dizer, e então tudo ficou tão longe de mim, parecia que o mundo estava se afastando e a escuridão tomou conta da minha visão.

Autora POV’S

Darkane dançava animada com a batida da música, os longos cabelos balançavam, os olhos fechados, os braços pra cima e um sorriso nos lábios, a música acabou e então outra mais lenta tomou o seu lugar.

Ela pulou na própria cama e deitou de lado olhando para a grande sacada de seu quarto, a luz do sol era intensa, o vento era forte levando as folhas embora embaladas pelo vento.

O sorriso não saia de seus lábios, riu alto depois deu um pequeno ataque de felicidade e abraçou a si mesma deitada de barriga para cima.

O casaco que usava era o mesmo que Mizuki a emprestara na última vez em que se viram, na realidade, última não porque nesta mesma tarde haviam se encontrado.

Darkane fechou os olhos se deixando levar pela doce música e cair num flash back.

“ –Então... Obrigada por me emprestar seu casaco.- disse Darkane meio encabulada entregando o casaco nas mãos do garoto de cabelos brancos.

–Está ventando forte e você não veio de casaco, use-o.

–Eu moro aqui perto então não tem problema, já foi gentil de tê-lo me emprestado. - disse depois de limpar a garganta.

–Quem disse que você volta pra casa tão rápido assim?- disse pondo-se a caminhar em direção oposta a casa da garota.

–E quem disse que vou com você?- disse arqueando a sobrancelha esquerda.

–Eu.- disse Mizuki continuando a caminhar, Darkane revirou os olhos, vestiu o casaco e posse a caminhar.

–Onde vamos?-perguntou.

–Gosta de jogos de tiro ao alvo?”

Assim seu flash back termina e volta à realidade.

–Droga...- diz em voz alta, senta-se e passa a mão pelo próprio rosto.

Tira o casaco rapidamente atirando-o para um canto qualquer do quarto.

Deita-se novamente encarando o teto, e suspira.

–Não posso me apaixonar, não posso... É perca de tempo. - disse a si mesma e virou-se numa tentativa falha de dormir.