Castiel andava em passos largos, e eu apenas o seguia, pensando onde ele me levaria. Paramos em frente a um dormitório feminino. Após algumas batidas impacientes na porta, ela se abriu. Ambre nos olhou surpresa, mas não teve tempo de dizer nada. Castiel pegou seu braço e nos arrastou com ele pela escola.

– O que está acontecendo? Me solta! – A menina loira mimada choramingava com raiva.

– Tá mais que na hora de você crescer! – Cast disse irritado, pondo fim a qualquer objeção da parte dela.

Paramos por fim em frente à uma porta no dormitório masculino. Castiel nos soltou finalmente, respirando fundo e criando coragem para bater na porta.

– O que você pretende fazer? Está maluco? – Ambre sussurrou alto demais, fazendo-me ouvir também. O garoto rebelde não respondeu. Bateu na porta e esta foi aberta logo em seguida, dando lugar a um corpo alto e a um par de olhos dourados.

– O que é isso? – Nathaniel olhou para nós três, confuso.

– Precisamos conversar sobre a sua querida irmãzinha. – Castiel iniciou, pedindo passagem para entrar. Assim que Nath a concedeu, Cast empurrou Ambre e me puxou delicadamente pelo braço.

Quando todos estávamos dentro do dormitório, aparentemente de uma única pessoa, Castiel tirou do bolso uma caixinha. Eu não a reconheci de imediato, até ele abri-la e mostrar meu querido pingente de gato. Olhei chocada para Castiel e em seguida para Ambre, que fazia uma cara de medo e raiva misturados. Nathaniel ainda mostrava sua mesma expressão de desentendimento.

– Isso é seu, Shiemi. – Ele estendeu a mão com a caixinha, que eu peguei rapidamente. – Ambre disse-me que era dela e que Nathaniel tinha te dado sem ela saber. Pediu para eu pegar de volta e ela me pagaria qualquer coisa. – Revirou os olhos e suspirou. – Não acreditei muito que Nathaniel havia roubado qualquer coisa dessa mimada, mas eu precisava do dinheiro e vi uma oportunidade de irritar alguém. – Ele olhou para mim sem graça, arrependido. – Mas quando soube que vocês tinham brigado e que você estava realmente triste... não queria causar isso entre vocês. Não desse modo. – Sorriu amarelo.

– Você pegou isso quando foi no meu quarto? Como achou? – Disse em um fio de voz. Estava profundamente irritada.

– Ambre disse que deveria estar em alguma bolsa de praia, e quando você e o Lysandre se distraíram ontem, enquanto ainda estávamos lá, eu achei rápido. Acho que tenho um dom. – Talvez em um outro momento eu teria rido, mas minha irritação era crescente demais para isso.

Nathaniel respirou fundo, só então dando qualquer sinal de vida. Começou a dar um grande sermão em Castiel, que de início pareceu ouvir, mas depois de 10 segundos já parecia estar indiferente às palavras de Nath. Depois, olhou para mim e pediu desculpas e disse que conversaríamos depois. Por fim, se dirigiu para Ambre, que ensaiava uma cara de choro muito engraçada. Preferi sair do quarto, sendo seguida pelo cabelo de fogo.

– Shiemi... Desculpa. – Ele disse assim que me afastei da porta do dormitório.

– Eu confiei em você. – Minha voz colérica denunciava meu interior. – Não acredito que você me roubou!

– Eu sei, me desculpa. Eu não devia ter dado confiança à Ambre, agora eu sei. Shiemi, por favor. Leve em consideração que seria muito mais fácil para mim esconder tudo. Mas eu realmente quero ser seu amigo, quero ser diferente contigo.

Ao encarar Castiel, percebi que seu arrependimento era real. Ele já havia feito muitas besteiras e se metido em muitas encrencas, mas não me lembrava de o ver naquele estado, pedindo desculpas para alguém.

– Tudo bem. – Exclamei depois de um suspiro. – Eu te desculpo.

Cast me envolveu em um abraço caloroso, que eu não tive escolha a não ser retribuir. Sorri feliz ao ver que ele estava sendo sincero pela primeira vez comigo.

– Desculpa, Shiemi. Mas, antes que pense que eu vou ser assim com você para sempre, está muito enganada. Diga adeus ao Castiel que pede desculpas e se acostume novamente com o Castiel rebelde. Aliás, se você me der licença, tenho um encontro agora. Até mais!

Cast me deu um beijo na bochecha e saiu do meu campo de visão rapidamente. Sabia que o muro de ele havia construído em volta de si estava de volta com toda a força, mas me sentia muito feliz em poder ver o que ele era de verdade. Voltei para o meu dormitório, mais cansada impossível. Aquele dia tinha sido muito longo.

*

Depois de uma semana cheia de altos e baixos, o fim de semana havia chegado. Ainda não tinha conversado com Nath, mas recebi uma mensagem sua pedindo para nos encontrarmos no laboratório. Respondi que iria e, só então, levantei da cama para enfrentar o restante dos meus problemas.

Chegando no laboratório, Nathaniel me recebeu com um sorriso. Depois de ver suas expressões de raiva, tristeza e confusão, aquele sorriso foi muito bem retribuído.

– Vejo que está usando o meu presente. – Ele olhava para meu colar com o gato pendurado.

– Sim, finalmente. – Dei um sorriso discreto, lembrando-me de toda a história maluca por trás do pingente.

– Queria me desculpar por Ambre. E principalmente por ter agido daquele modo com você. Desculpe-me.

– Nath, não precisa pedir desculpas, aliás, nem tem motivo. Você só fez o que eu mesma faria. E quanto a Ambre, não se preocupe, não esperaria coisa melhor dela. – Depois de toda a confusão, prometi a mim mesma que não fingiria educação pela loira encrenqueira.

– Sabe, Shiemi... acho que eu e Ambre nunca tivemos um sentimento muito fraternal. Sempre brigávamos, de início por culpa minha, e agora pelas atitudes infantis dela. Acho que foi por isso que me tornei seu amigo tão rápido. Você é a irma que eu sempre quis ter. – O olhar dele era afetuoso e sincero.

– E você é o único irmão que eu tenho. Mesmo que não seja de sangue. Até porque, se fossemos irmãos de sangue, Ambre seria minha irmã também, o que, convenhamos... – Não precisei completar a frase, fui envolvida pela risada de Nathaniel, que só me fez cair na gargalhada junto a ele.

*

No domingo, levantei no horário de sempre, 8 horas da manhã. Tomei meu desjejum com Rosalya, Leigh e Lysandre, que estava passando todo o tempo restante antes da viagem com os amigos.

Quando já era perto do meio-dia, Castiel se juntou a mim no pátio da escola. Conversávamos quando Kentin surgiu de repente. Comecei a estranhar o jeito como ele só aparecia quando eu estava perto de algum garoto e, de restante, nunca dava sinal de vida. Ele voltou a mencionar o assunto do sorvete e eu assenti quando ele perguntou se ainda estava em pé. Castiel, com seu tom sarcástico, interrompeu:

– Qual é a do nerdzinho? Achei que tinha superado seu lance com os doces, Ken.

– Pra você é Kentin, palhaço. – A postura agressiva de ambos estava me assustando, por isso eu intervi.

– Calma, gente. Menos. Castiel... – Lancei um olhar de reprovação, que agiu indiferente.

– Vou indo. Depois a gente se fala, Shiemi. – Kentin se despediu com um aceno dirigido a mim, porém sem tirar os olhos desafiadores de Castiel. Assim que ele se afastou, Cast exclamou irônico:

– Esse cara acha que tem alguma coisa com você ou só quer manter o terreno limpo?

– Como assim? – As gírias do rebelde eram difíceis de se entender.

– Nada não... Só acho que ele ainda não superou o amor platônico do passado.