Finalmente a semana de provas havia acabado. Agora as férias estavam realmente próximas. Iria poder ver meus pais, viajar, ficar quase um mês sem as preocupações da escola. Claro que toda esta minha tranquilidade se devia a minha certeza de ter passado nas provas. Eu tinha estudado, não garantia uma nota alta, mas sabia que tinha ido bem o suficiente para tirar férias o mais rápido possível. Rosalya também estava tranquila quanto a isso.

– O domingo nunca me pareceu tão entendiante. - Resmungou Rosa. - Eles bem que poderiam liberar as notas hoje e nos dispensar amanhã.

– Concordo. Mas um dia a mais, um dia a menos, dá na mesma.

– "Um dia a mais"... - A moça de longos cabelos brancos e brilhantes me olhou. - Vamos ter que ficar no mínimo até terça-feira para ajudar os alunos que ficaram de recuperação.

– Dois dias a mais, dois dias a menos, dá na mesma. - Refiz a frase e revirei os olhos ao completar a mesma. - Agora chega de reclamar, vamos comer alguma coisa.

Puxei Rosalya até a cantina, e acabei comprando um milk shake grande. Rosa comprou apenas um suco. "Não vejo motivos pra dieta, ela é tão magra...", pensei analisando Rosa. Não verbalizei meu pensamento, apenas caminhamos até o pátio, onde sentamos em uma banco sob a sombra de uma árvore. Estava distraída observando as borboletas, e levei um susto quando Alexy tirou o milk shake de minha mão.

– Hei! - Exclamei. - Devolve meu milk shake!

– Você está muito gorda, mocinha. Melhor deixar isto comigo. - Disse apontando para o copo em sua mão.

– Roubar é feio, nunca lhe disseram isso? - Me levantei e em um movimento rápido, peguei o copo de volta.

– Sem graça. - Ele riu enquanto roubava um gole do milk shake.

Armin caminhou em nossa direção, rindo de nossa infantilidade. Ficamos ali, conversando durante a tarde inteira, até que Rosa me convidou para irmos ao shopping.

– Eu até iria, se não tivesse que ficar segunda vela para você e seu namorado. - Ri e ela fez uma careta.

– Vou indo, caso mude de ideia, sabe onde me encontrar. - Ela sorriu e se despediu de nós.

Continuei sentada, conversando com os meninos, e só percebi que o tempo havia passado quando a escuridão tomou conta da escola. Estranhei as luzes não terem acendido, normalmente elas se ligavam ao final da tarde. Convidei os meninos para voltamos à escola e então soubemos que houve um problema na fiação elétrica do colégio, ficaríamos sem energia por algumas poucas horas.

– Droga, como vou continuar meu jogo? - Armin resmungou, parecendo indignado de uma forma divertida.

– A gente bem que poderia fazer uma coisa... - Alexy nos olhou com um olhar sugestivo. - Que tal contarmos histórias de terror? Poderíamos até montar uma roda com os outros alunos.

– Ah, claro! Poderíamos também fazer uma fogueira e assar marshmallows pelo resto da noite. - Ironizou Armin.

– Deixe de implicar com seu irmão, eu achei a ideia legal. Vamos reunir algumas pessoas.

Assim fizemos. Sentamos no pátio, para termos a luz da Lua como iluminação natural e alguns alunos usavam as lanternas de seus celulares para enxergarem uns aos outros. Começamos a contar histórias de terror, conseguíamos misturar a diversão com um pequeno medo que dava ao olharmos para as paredes escuras de escola. Percebi que precisa ir ao banheiro, aproveitei que Melody contava sua lenda para sair. Melody era uma antiga amiga de Ambre, nunca chegou a implicar comigo propriamente, mas sempre arranjava um jeito de me atrapalhar.

Estava dentro da escola, a luz do celular me guiava. Caminhava pelo corredor principal quando meu cérebro resolveu se lembrar da história que Armin tinha contado, sobre uma escola mal-assombrada, a qual tinha seus corredores amaldiçoados por pessoas que tinham morrido num cemitério, localizado embaixo do colégio. Assim que senti um certo medo tentar me dominar, cheguei ao banheiro. Usei-o, e quando estava lavando as minhas mãos, ouvi passos vindos do corredor.

– É só um aluno, você está numa escola, é só um aluno... - Sussurrei para mim mesma.

Saí do banheiro, sem antes aumentar a luminosidade da tela de meu celular. Caminhava devagar, e voltei a ouvir passos, desta vez eles pareciam vir detrás de mim. Virei rápido, colocando o celular à minha frente, mas nada vi. Acelerei a caminhada, e agora o som parecia estar a minha frente. Senti um pânico crescente em mim, então ouvi um "Cuidado!". Acabei correndo e bati em alguém, derrubando meu celular no chão. A pessoa segurou os meus braços, enquanto eu fechava os olhos com força e pedia para me soltarem.

– Shiemi, se acalma! - Espera... Eu conheço essa voz. - O que tá acontecendo?

Abri os olhos e me deparei com a cor verde. Os olhos de Kentin. Ele estava a minha frente, e não pude deixar de notar certa preocupação em seu olhar. Mesmo no escuro, conseguia ver parte de seu rosto.

– Eu... É você... - Um alívio percorreu meu corpo. - Desculpa!

– Hã... Você parecia assustada. - Ele notou que ainda tinha suas mãos em meus braços e os soltou, tomando uma certa de distância de mim.

– Eu ouvia passos vindo de todos os lados, mas não conseguia enxergar ninguém. Por um momento achei que fosse um... - Só então notei que estava sendo idiota por acreditar na existência de fantasmas.

– Não existe só você nesta escola. - Ele revirou os olhos. Parece que sua personalidade fria está de volta. - Bom... Tenho mais o que fazer.

Antes que ele se afastasse, gritei:

– Obrigada! - Só depois de proferir tal palavra, pensei o motivo pelo qual estava agradecendo-o. Não tinha motivo. Mas fiquei extremamente feliz quando ele virou sua cabeça e sorriu, por mais discreto que tenha sido esse sorriso. "Sabia que o Ken não tinha se perdido... Ele estava apenas escondido."