Math dormiu como nunca, em um sono bem profundo. Coisa que já não acontecia há muito tempo. Mas pra estragar - porque sempre diz que o bom, nunca é bom de verdade - teve uns sonhos muito estranhos, com letras, e muito vermelho. Rostos desconhecidos e vozes assustadoras.

Pra ele nada disso era muito assustador. Sempre teve sonhos estranhos, desde muito pequeno. E nunca se interessou em saber o significado deles. Math lembrou da primeira noite que teve esse problema.

–Tudo muito escuro. Ouvia vozes e ossos espalhados por todos os cantos. Tudo oscilava de tamanho e intensidade, até que um clarão muito forte cegava seus olhos. Era como se abrisse os olhos de verdade, como se tivesse acordado. Mas ainda estava ali. Via uma moça, muito magra. Chorando com a mão na barriga, e sangrando muito. Ouvia um choro baixo no canto. Ela gritava mas ele não entendia nada. O choro ficava cada vez mais forte, até que ele percebeu que uma criança estava lá. Uma criança muito branca. Um menino. Ele tentava chegar cada vez mais perto, e quando conseguia alcança-los, ele sumiu. A mulher começou a correr contra Math, mas não conseguia se mexer. Ficara lá, intacto. Como se a moça conseguisse ultrapassar seu corpo.-

Fechou os olhos e balançou a cabeça. Não queria lembrar disso. Foi meio perturbante pra uma criança de 6 anos... E ainda é para um adolescente de 16.

Ele desceu pra tomar seu revigorante café da manhã. E hoje com muito açaí. Até porque depois de todo esse susto, ele merecia.