Gajeel não conseguiu deixar de sorrir quando viu Lucy acordando lentamente.

Seus olhos pesados, a cabeça doendo. Seu corpo inteiro parecia dormente. Então, em questão de segundos, as memórias de Zafron a hipnotizando voltaram à sua mente fazendo-a se levantar rapidamente. Sua respiração ficou ofegante, seu coração disparou. Seu instinto lhe dizia para levantar rapidamente e fugir enquanto podia, mas Gajeel a acalmara.

—Ele morreu, Lucy. — Gajeel segurou sua mão gélida. Lucy parecia um tanto confusa. O que havia acontecido? — Acabou.

Lucy então pôde respirar fundo, aliviada. Ela teve vontade de chorar, mas apenas uma lágrima desceu de seus olhos.

Foi como se dez quilos tivessem sido retirados de seus ombros.

Lucy levantou-se, dando uma olhada para onde estava. No meio da floresta e não mais naquele escritório fétido onde fora hipnotizada. Quis perguntar o que tinha acontecido, mas ela não se importava mais sobre o que tinha acontecido, estava livre. Poderia respirar normalmente agora. Sua vida poderia voltar ao normal.

Natsu estava ali logo ao lado, encostado em uma árvore, com os braços cruzados olhando feio para Gajeel, que parecia olhar da mesma forma. Parecia como sempre, os dois estavam se encarando, puxando briga com apenas o olhar. Aquele olhar entre os dois fez Lucy rir. Ela poderia estar enganada, mas, à ela, parecia que os dois estavam num estado de trégua.

Lisanna estava ao lado de Natsu, olhando para o nada, provavelmente apenas esperando que tudo acabasse para poder voltar à guilda e a monotomia de sua vida animada.

Mas quando Lucy viu aquele rosto, ela teve vontade de atacá-lo. Mas ao contrário, deu um passo para trás, recuando para atrás de Gajeel quando viu que Yoshiaki estava ali.

Lucy estava pronta para atacá-lo, mas somente se ele desse um passo em sua direção. Caso ele mostrasse qualquer intenção de chegar perto de Lucy, ela voaria para cima dele. Mas Yoshiaki percebeu o olhar assustado e enraivecido de Lucy, então manteve-se onde estava.

—E agora? — Gajeel fez a pergunta que Yoshiaki pensava. Ele estava finalmente liberto de todas as ações pecaminosas que fora forçado a fazer, sem nenhuma voz em sua cabeça mandando o tempo todo. — O que pretende fazer?

Gajeel não sabia da história dele, Yoshiaki também não se daria ao trabalho de responder. Era muito complicado. Gajeel estava perguntando, com aquele olhar em seu rosto, se ainda iria atrás de Lucy. Se Gajeel ainda devesse protegê-la dele, depois de ter falhado miseravelmente da primeira vez.

—Agora... — Ele disse, pensando intensamente, passando a mão na cabeça. Era possível ouvir as engrenagens enferrujadas tiquetaqueando em seu cérebro. Já fazia algum tempo desde que tomara uma decisão por si próprio. — Eu vou perambular por aí. Arrumar um trabalho decente, nunca mais usar magia na minha vida. — "Encontrar você em algum lugar", ele completou mentalmente. Yoshiaki deu um sorrisinho sem graça que soou triste em conjunto com aquele olhar pensativo.

Mas o que ele mais queria fazer naquele momento, era se livrar daquele olhar do rosto de Lucy. Ele nunca teve intenção de machucá-la. Em nenhum momento, deixou de desejar poder protegê-la das garras de Zafron, algo impossível de se fazer quando ele não conseguia nem ao menos proteger a si mesmo.

Yoshiaki tinha algumas coisas a dizer para Lucy, mas ele preferiria fazê-lo sozinho. Quando não tivesse tantos outros pares de olhos julgando-o a cada movimento feito. Também, não era de se surpreender. Ele estava com o inimigo até agora.

***

Enquanto eles caminhavam até a estação de trem, Lucy manteve uma distância de, pelo menos, cinco metros de Yoshiaki, sempre grudada em Gajeel. Ela não queria nem olhar para ele, parecia fingir que ele não existia. E quando Natsu se sentiu ignorado por Lucy, procurou não se preocupar muito. Ele sabia o que tinha feito, tinha a ignorado por oito semanas, mas ainda não era motivo suficiente deixar de conversar com ele, ignorando sua existência por completo. Ao menos, era assim que Natsu pensava.

"Ela deveria ter passado por algo muito traumático para estar agindo dessa forma", Natsu pensou, decidindo-se naquele instante de que iria conversar com ela quando estiver sozinhos. Não queria que Gajeel ouvisse a conversa, não queria ter de lutar com ele novamente. Assim também como não queria que Lisanna ouvisse, não queria deixar sua namorada enciumada. Embora ela tivesse um motivo bom para se sentir dessa forma.

Só que os planos de conversar com Lucy sozinha, de ambos, foi por água à baixo quando, na estação de trem, ela não saiu do lado de Gajeel em nenhum instante, assim como ele também não saiu do lado dela.

Yoshiaki teria um trabalho maior, pois teria de acalmá-la antes de iniciar uma conversa decente. E teria de fazer isso antes do trem chegar, ele não teria tanto tempo quanto Natsu, aquela seria a última vez que ele a veria.

A última vez.

Então, não havia motivo para se acorvardar. Ele nunca agiu dessa forma antes e não começaria agora.

—Lucy. — Ele a chamou, fazendo-a pular de susto quando ele surgiu sorrateiramente do lado dela. Lucy encostou-se em Gajeel e fechou a cara enquanto o fitava intensamente, apenas esperando para saber o que ele queria com ela. Ele deveria ser breve pois o trem estava para chegar. — Eu posso falar com você em particular por um segundo?

—Se você tem alguma coisa para falar, — Lucy começou, num tom de poucos amigos. — Você pode falar aqui mesmo. Eu não fico mais sozinha com você.

—Desculpe. — Ele finalmente disse. — Perdão, mas em nenhum momento o Yoshiaki que você conheceu era realmente eu. Eu estava sob controle de Zafron esse tempo todo.

Lucy cruzou os braços e levantou o queixo levemente, num tom de desafio. Ela não acreditava nele.

—Bom, eu sei que não vou conseguir fazer você acreditar em mim. Nem fará sentido mesmo, logo agora, no final de tudo. Não preciso que você acredite em mim, só preciso dizer isso para você. — Ele disse, já podendo ver o trem emergindo na linha do horizonte. Sua coragem esvaiu pouco a pouco, conforme a imagem do trem foi chegando. Se ele ia dizer, seria bom dizer logo. Ele pegou nas mãos de Lucy. — Você é forte. Muito mais forte do que eu achei que fosse. E, com certeza, está mais forte agora. A magia que Zafron dera para você, ainda está aí. — Lucy sentiu suas mãos arderem, quis soltá-las, mas não pode. Parecia que suas mãos haviam grudado por um segundo. O trem havia chego. As pessoas começaram a descer. — Espero que algum dia você me perdoe pelo que eu fiz. Sei que pedir para que você entenda é algo que talvez você não possa fazer.

Lisanna e Natsu pararam na porta, prontos para embarcar enquanto observaram a cena que Yoshiaki estava fazendo. De repente, todos os passageiros, tanto dentro do trem quanto fora pararam para olhar a cena que, diante de olhos desentendidos, poderia ser chamada de romântica.

Yoshiaki então soltou as mãos de Lucy. Mas antes que ela pudesse se mexer, ainda um pouco assustada pela declaração repentina, Yoshiaki a segurou pelas bochechas e lhe deu um beijo em seus lábios. Ela não o empurrou. Ela fechou os olhos, sem saber o que fazer, as mãos paradas no ar. Ela foi a primeira a abrir os olhos. Lucy pôde ver os olhos dele brilhando, enquanto ele soltava um sorrisinho triste.

Ele virou-se então para o lado contrário do trem, dirigindo-se para o rapaz de largo sobretudo com capuz que escondia metade de seu rosto branquelo. Haruta mostrou um de seus famosos sorrisos largos para Gajeel de longe, como um cumprimento, antes de se afastar um pouco para que ele pudesse invocar algum tipo de pássaro híbrido.

De longe, Yoshiaki virou-se de costas à Haruta, voltando a olhar para Lucy que ainda estava parada no mesmo lugar, atônita. Seus olhos castanhos viraram-se para Yoshiaki quando ele moveu seu braço, chamando sua atenção. Ele, então, gritou num tom clichê para que todos pudessem escutar.

—Espero poder te encontrar por aí algum dia.