Lucy se sentia frustrada. E envergonhada. Muito envergonhada. E a culpa era de suas pernas. Suas pernas fracas que não conseguiam mais aguentar o próprio peso. E a dor de ficar em pé era estonteante. Parecia que seu tendão ia arrebentar, sua coxa queimava e sua panturrilha tremia. E o que era pior é que ela não conseguia lembrar-se do que aconteceu para sua perna doer tanto daquele jeito.

Com o corpo submerso, ela levantou somente sua perna por cima da água, procurando por alguma ferida, alguma indicação visual do porquê sua perna doía tanto. Mas nada. Não havia nada, o problema era seus músculos. Lucy voltou a esconder a perna debaixo da água, dobrando-a. Ainda doía. Se ela esticasse, doía. Se ela contraísse, doía. O único momento em que sua perna não doía, era quando estava largada ali na banheira, debaixo d'água, cada célula sua sob a pressão. 

Lucy teria de re-aprender a andar se quisesse se virar sozinha.

Dentro da banheira, naquela superfície lisa e molhada, ela se esforçou para ficar de pé novamente, dizendo para si mesma que ela conseguia, concentrando-se em não fazer barulho para que Gajeel não aparecesse ali do nada, só para pegá-la antes de cair. Que ela caísse. O fato de que ele estava ali para segurá-la parecia que ela tinha perdido toda sua força. Lucy ainda conseguia levantar-se, ela tinha duas pernas. 

Porém, parecia que suas pernas discordavam. 

Concentrando-se em manter o equilíbrio, chegou um ponto que ela não conseguiu mais ignorar a dor. Suas pernas falharam. Justamente quando Lucy colocou o pé direito para fora da banheira, sua concentração falhou — justamente quando Gajeel aparecera na porta — e seu pé escorregou. Ele correu ao seu encontro, servindo de barreira para que ela não caísse no chão.

Ela tinha caído nos braços de Gajeel.

Seu rosto afundou no peito dele. Seu cheiro era confortante. A toalha que ela segurava mais cedo, caíra em seus pés. Ela estava nua na frente dele, mas ela não se importava mais. Lucy já podia parar de resistir, ela tinha que ficar agradecida por ele estar ali e não deixá-la cair.

"Se ele não estivesse aqui..." Ela pensa e, inconscientemente, abraça-o. Se ele não estivesse ali, quantas vezes ela já teria caído no chão? Lucy, pela primeira vez desde que acordara, sentia-se agradecida por Gajeel estar ali, ao lado dela. Pela primeira vez, ela não desejava que em vez de Gajeel, estivesse Natsu. Não, ela estava realmente agradecida por sua presença. E agradecia pelo fato de que ele não era Natsu.

—Porque você está me ajudando? — Lucy pergunta, ao perceber que aquela pergunta voltara à sua mente. Ela queria uma resposta.

—Você não se lembra? — Disse Gajeel, abraçando-a de volta.

Lucy abriu a boca para falar algo, mas o cheiro de queimado vindo da cozinha interrompeu a conversa entre os dois. Procurando ignorar o estado de Lucy, Gajeel a colocou sentada na cama, enquanto ela corria para a cozinha, deixando a conversa pela metade.