Greek Madness escrita por AnandaArmstrong


Capítulo 7
VI - “You simply brought this madness to light, and I should thank you.”




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/370366/chapter/7

O pequeno atelier da Omega Ni Psi está, no momento, completamente abarrotado de gente. Todas as Omegas conseguiram, de alguma forma, se espremer em um quartinho minúsculo de 2m x 2,5m cheio de coisas de arte, costura, telas, tintas, tecidos e todo o material artístico que temos. Elas não param de falar um minuto, diversas conversas paralelas entrando e saindo da minha cabeça feito um drive-thru, suor escorrendo, cabeça latejando de dor, pilhas de roupas até onde eu não consigo mais ver e a pressão de tenta fazer tudo o que eu preciso no tempo certo.

O rush será amanhã, e todas as meninas da fraternidade resolveram fazer algum reparo de última hora na roupa. O rush da Omega Ni Psi esse ano vai ter um tema especial, algo misto com circo, show de horrores e show de talentos. De fato uma coisa meio louca, mas que é brilhante e pode dar certo. Vamos utilizar todos os talentos e dons das meninas para chamar a atenção de outras meninas, mas faremos uma coisa com mais suspense e meio macabro, pra assustar mesmo. Foi um método que bolamos pra não pegarmos meninas frescas e que não vão trazer muitos frutos para a fraternidade.

A elaboração do plano foi digna do General Hannibal, de Esquadrão Classe A (The A Team), e vai funcionar mais ou menos assim: as gêmeas Barbossa, que são líderes de torcida, ficarão na entrada junto com outra garota, que faz ginástica rítmica, e elas serão as contorcionistas. A Camille, uma francesa ninfomaníaca, tem a habilidade fantástica de fazer malabarismo com fogo e engoli-lo! Ela ficará na entrada junto com as contorcionistas, o que eu acho que pode chamar muita atenção se combinadas com o que faremos na entrada. Quando as calouras entrarem, a Carol começará a tocar Seven Nation Army, do The White Stripes no baixo, a Francis a acompanhará no violino e a Charlotte, que tem uma voz grave e rouca, vai cantar. Aí as meninas nos bastidores vão colocar o gelo-seco em ação e o chão da sala se encherá de fumaça. Um foco de luz irá para as meninas, que ficarão no topo da escada, e outro para a Rocktavia. Ela estará na porta de entrada recepcionando-as para o Circo Omega Ni Psi. Até lá elas já vão estar num misto de encantadas e apavoradas, vai ser brilhante.

Não vou dar muitos detalhes agora, mas as meninas vão ser guiadas por um caminho de velas para o quintal. Vai ser tipo uma casa do terror, coisas acontecendo fora do caminho em que elas seguem, e elas não podem se aproximar, só seguir em frente. Quando chegarem ao quintal, vão se deparar com algumas atividades as quais vão poder interagir, tipo a Giordana, ela é bem exotérica e vai ser cartomante. Vai ter uma palestrazinha no final, explicando um pouco da irmandade e tudo mais.

E é por isso que essas gralhas não param de falar, está todo mundo absurdamente nervoso com isso, pois é uma das poucas coisas as quais levamos realmente á sério. Porque vamos combinar né, o pessoal aqui é meio vagabundo mesmo. Mas cara, beleza, elas estão nervosas. Okay, sem problemas. Mas e eu? Caralho, to morrendo aqui. E se as roupas não aguentarem e a costura romper? E se o tecido rasgar? E se perderem alguma coisa? Porra! É uma parada em grupo cara, apesar de todas as atividades que elas vão ter que fazer individualmente, o rush é uma coisa para todas nós. Não dá pra ficarem bagunçando desse jeito como elas estão fazendo.

A máquina de costura tremia em minhas mãos, e eu esperava de todo coração que ela continuasse funcionando, pois estava começando a quebrar. Havia pilhas de roupas de lycra, linhas, tecidos e montinhos de lantejoula ao meu redor. Peguei a toalhinha pra secar o suor que escorria da testa e uma das meninas chamou a minha atenção pra um conserto que ela queria que eu fizesse.

– Dá pra apertar aqui? Coloca mais justo, por favor! – Implorou. Porra, quem ta implorando aqui sou eu pra você calar a boca. Se colocar mais justo vai elastecer o tecido. Eu só murmurei alguma coisa pra ela, que entendeu algo como um sim e parou de encher a paciência. Ótimo, menos uma no meu pé.

Minha visão começava a ficar turva, eu tinha que piscar várias vezes pra ela voltar ao normal, e dava grandes goles no squeeze com água, que estava começando a esvaziar. Estava morrendo de vontade de fazer xixi, e tive que dar uma pausa rápida pra ir ao banheiro e encher a garrafinha.

“Meu Zeus, vou enlouquecer, me dá uma iluminação aí!” Pensei enquanto olhava através da janela da cozinha, esperando algum raio descer dos céus. Palhaçada.

A garrafinha estava apoiada no suporte do filtro, se enchia aos poucos, e fechei a torneirinha quando achei suficiente. A sala estava silenciosa e a única pessoa que estava lá, alheia á tudo, era a Giordana. Ela me dá medo ás vezes, sabe? Ela é uma pessoa meio extraordinária, no sentido de surrealismo mesmo. É difícil de acreditar que uma pessoa como ela exista. Sabe muita coisa de tudo, mas de forma diferente da de Derek. É esperta, corajosa, mas só se envolve com algo quando sabe que pode ter alguma vantagem nisso. Só faz favores se você negociar, ou se for para o bem de algo que ela realmente goste. Tipo a Omega Ni. Passei por ela para voltar ao atelier, e ela suspendeu a sobrancelha direita para mim com uma expressão indefinível. Eu não entendi muito bem o que ela quis dizer, então só retribuí com um sorriso amarelo.

Quando cheguei ao atelier, quase tive um infarto. A minha pilha de roupas havia desabado, as lantejoulas misturadas com paetês e tecidos amassados. Respirei fundo, passei pela “multidão”, e sentei á mesa novamente. Catei os materiais pequenos, tipo botões, lantejoulas e paetês e os separei em uma caixinha. Dobrei novamente os tecidos, um por um e os coloquei em uma á minha esquerda. Pequei as roupas, separei-as por sessões do que era necessário ajeitar e recomecei a trabalhar. Tentei me concentrar no barulho da máquina e fugi para o meu “paraíso mental”. Mas tudo foi por água abaixo quando esbarrou desajeitadamente na mesa e as roupas quase prendem na agulha da máquina. Tirei as roupas dali, coloquei-as na pilha de novo e desliguei a tomada do aparelho.

Eu levantei, esquentei as mãos e as bati na mesa com toda força que pude. Dei um berro ensurdecedor, gritei até sentir a voz ficar rouca e falhar. O atelier ficou em silêncio absoluto, todas estavam petrificadas.

– CALEM O CARALHO DA BOCA, PUTA QUE PARIU. EU ESTOU TRABALHANDO, SAIAM DAQUI. A PORRA DA ROUPA VAI ENGANCHAR NA AGULHA E NÃO VAI TER TEMPO DE FAZER OUTRA, ME DEÊM UM TEMPO. PORRA! – Gritei, sentindo todo meu sangue ir para a cabeça e a dor de cabeça explodir.

– Dêem um tempo, meninas, por favor. Saiam do quarto. – Kara pediu com toda gentileza possível, saindo do quarto junto com as outras. Nenhuma se atreveu a fazer cara feia, somente o silêncio e caras assustadas. Lancei um olhar macabro á Kara, que fez questão de ignorar e virar a cara.

Só pude ficar aliviada quando já estava sozinha no recinto. Abri e fechei as mãos, elas estavam muito vermelhas. Fiz alguns exercícios para ver se paravam de doer. Dei um gole no squeeze de água, gargarejei e limpei o suor novamente. Apoiei a testa nos punhos fechados sobre a mesa, e respirei fundo algumas vezes.

– Essas meninas fazem um barulho infernal. – Rocktavia surgiu da porta com um sorriso pequeno, trazendo consigo a Carol e a… Giordana?

– Creia nisso. – Murmurei baixinho, massageando as têmporas.

– Nós tivemos uma ideia pra tirar você daqui, talvez possa funcionar. – Carol disse.

– Continue, quero sair daqui pra trabalhar em paz e longe delas. – Respondi olhando no relógio e constatando que já eram por volta das oito da noite.

– Elas vão ficar aqui para remediar a situação com as meninas e com a Kara. Se depender dessa vadia maluca, algumas merdas vão acontecer. Enquanto isso, eu e a Ramona vamos com você para um lugar especial, onde você poderá trabalhar em paz e silêncio. – A voz grave da Giordana ressoou no ambiente, e a ideia me pareceu bem assertiva.

A Giordana era presidente na época em que a Kara entrou na Omega Ni, os votos a favor da sua entrada foram maioria. Desde sempre Giordana lê cartas de tarot, búzios e coisas assim, tem uma intuição fantástica e é meio profetiza. Pelo que eu soube, ela viu algo não muito bom sobre a Kara, investigou as coisas tão fundo quanto pode, e acabou descobrindo várias coisas sobre ela. Depois disso nunca mais chegou perto da Kara. A Rocktavia já foi melhor amiga da Giordana junto com a Ramona, elas entraram quase juntas aqui, mas hoje a Giordana só fala mais com a Ramona mesmo. Foi assim que a Rocktavia soube do verdadeiro caráter da Kara.

Eu só acenei afirmativamente pro que ela disse e juntei tudo o que eu achei necessário para o remendo das roupas, arrumando tudo em duas maletinhas. Graças á Deus, faz um tempo que eu consegui uma máquina de costura portátil e ela é tiro e queda, mas é velha. Seria bom se conseguisse mais uma dessa, só que nova né. Coloquei-a de volta na maletinha e as meninas me ajudaram a carregar as duas malas e a máquina até o carro. Ignorei completamente todas as outras meninas, estava sem paciência e sem cara pra falar com elas. Não gosto de brigar e de me estressar, mas foi necessário. Enfiamos as coisas no porta-malas e deitei no banco de trás do carro da Rocktavia, já que a Giordana tem moto e o resto de nós não tem coisa alguma. Infelizmente. A Giordana foi dirigindo e a Ramona foi no carona. Deitada, via o caminho passando através da janela, mas não consegui me orientar muito ao ponto de saber onde estávamos indo. Quem sabe se a dor de cabeça não estivesse me infernizando, eu conseguisse me orientar.

O carro balançou poucas vezes, as tralhas lá atrás estavam bem presas, pois não balançaram muito, e eu não sei se fui eu quem apagou no caminho ou se o lugar era realmente perto. Quando fechei os olhos tudo escureceu, e quando os abri novamente, estávamos paradas em um lugar meio abandonado. Um poste de luz iluminava o lugar e ia bem nos meus olhos, levantei devagar e saltei do carro ainda meio grogue.

– Onde estamos? – Questionei.

Era um lugar meio rua-deserta-do-Brooklyn, mas pelas placas ainda estávamos no campus. Em frente a nós havia um prédio abandonado, e no chão estava largada uma faixa de isolamento amarela e preta. Presumi que esse prédio havia sido fechado por motivos indeterminados. Uma urtiga crescia pelas paredes laterais, ouvia vários grilos no mato ao lado, pichações por todos os lugares cobriam uma parte das paredes brancas do prédio e dos muros.

Tiramos as coisas do carro e adentramos no lugar, o qual já não havia uma porta da frente. Estava tudo escuro, úmido e muito frio. Passamos pelo saguão, que estava exatamente do jeito que um saguão abandonado estaria: empoeirado e cheio de coisinhas esquisitas. As luzes da Lua e do poste iluminavam o saguão, e todas as poeirinhas que estavam suspensas pareciam estar cristalizadas, reluziam de forma furta-cor. Era lindo. Sinistro, mas lindo.

Paramos em frente á uma grande e enferrujada porta dupla de metal, parecia uma antiga saída de emergência. Ramona ficou de frente para a porta comigo, e a Giordana sumiu para algum lugar. Ela parecia bem tranquila, não apavorada por estarmos em um prédio absolutamente abandonado. Porque elas me trouxeram pra esse lugar? Achei que a gente ia para um lugar tranquilo e confortável. Não… Isso.

– Porque estamos em um prédio abandonado? Tipo, sério Ramona. – Perguntei quase espirrando por conta da poeira. Ela só sorriu misteriosa e apontou pra Giordana, que estava voltando.

– Certo, me ajuda. – Ordenou Giordana para a Ramona, que a ajudou a abrir a porta, deixando-a entreaberta para nossa passagem. Apesar da porta ter velha, as dobradiças não fizeram ruído. O que quer dizer que ela está com um nível de óleo bom… O que significa que ela tem sido usada. Não que eu já não soubesse né, tipo, porra. Elas me levarem na casa do caralho de um prédio abandonado se não o conhecessem ia ser foda.

Elas abriram a porta e a Giordana se virou para mim com um sorriso irônico.

– Seja bem-vinda, garota Sandford.

Engoli em seco e segui adiante. Fiquei surpresa quando vi o corredor que se estendia diante de mim. Estava tudo limpo, os azulejos brancos do chão refletiam as luzes fluorescentes e a parede. Todas as paredes estavam pichadas. Absolutamente tudo, inclusive as portas. Caminhei lentamente pelo corredor á minha frente e senti a pressão do ar vindo em minha direção, a porta foi fechada. Nós estávamos, ou não, sozinhas em um prédio abandonado no meio do nada. Fui olhando pelas paredes do corredor, todas pichadas com vários símbolos esquisitos, de fraternidades e frases desconexas. Cores em neon, preto e vermelho tomavam todo o lugar. Minha mente não conseguiu filtrar muita coisa por conta da dor de cabeça, mas apesar de toda essa poluição visual, uma frase gigante que tomava boa parte do corredor chamou minha atenção. Meu sangue gelou imediatamente. Eu sabia onde estava, e não acreditava muito no que via.

– “A pior omissão do homem é usar as reticências para esconder suas mentiras.” – Giordana leu a frase e a sua voz ecoou por todo o corredor.

– Eu não sabia que esse lugar existia de fato. – Gaguejei, com a mente trabalhando á mil.

– E não existe. – Ramona completou, suspendendo as sobrancelhas.

– Caminho das Reticências. Quem diria, Cindy. – Murmurei comigo mesma baixinho, enquanto seguia as meninas.

Isso aqui costumava ser um prédio de química, mas algo aconteceu e tudo teve que ser interditado. Não se sabe o motivo, acho que por isso poucas pessoas sabem da existência dele e da história verdadeira. O “acidente” ou sei lá como podemos chamar, aconteceu nos anos 80, então o conhecimento deve ter passado de pai para filho. Muitas lendas rondam o lugar, como já deve ser previsível, e muitas delas eram fantásticas e/ou assustadoras. Mas ao invés de me sentir aterrorizada, eu me sentia animada pra caralho. Eu era uma das poucas pessoas desse campus que sabe a localização, e as meninas confiaram em mim pra não contar a localização. CARALHO QUE FODA!

O Caminho das Reticências é uma lenda urbana do campus, não se sabe onde ele fica verdadeiramente (eu pelo menos não sabia até agora), é como se fosse a civilização perdida de Atlântida, ninguém sabe exatamente onde fica, mas todo mundo chuta um lugar diferente. Dizem que é um túnel subterrâneo, um lugar construído no fundo do mar, um buraco gigante na areia da praia perto do East Great e a criatividade popular segue bem mais do que a minha. No fim das contas é só um prédio abandonado. Mas várias coisas bem fodas aconteceram no Caminho das Reticências, a principal delas é por ser o lugar onde a Sociedade Secreta da universidade se reúne. E algo me diz que esse seria o lugar perfeito para certo ilustre desconhecido, o ambiente perfeito pra fugir depois de uma peça pregada e esperar até a poeira baixar. Essa também deve ser a toca do Piadista.

Nesse momento eu me senti tão foda, tão pica das galáxias, que quase derrubei a maleta. A conversa das meninas me acordou para o que estava acontecendo ao meu redor, e eu voltei para o mundo real. A sala estava completamente escura, mas o que estava escrito em tinta spray rosa neon denunciava algumas coisas, “sex room”.

– Achou o interruptor? – Ramona perguntou, e a Giordana negou com a cabeça. De repente, todas as luzes se acenderam e eu tomei um susto do caralho. Nenhuma das meninas havia se movido, mais alguém estava na casa. Passos se aproximavam lentamente do lugar e o suor escorria frio pelas costas. As outras duas estavam com uma leve feição preocupada, e eu corri para ficar de junto delas.

De repente os passos pararam, meu coração criou asas, saiu voando pela minha boca e foi ficar bem longe de mim.

– Oi gente. – Derek apareceu na porta com um saco de pipoca na mão e um sorriso divertido.

– SEU PUTO. EU QUASE MORRO DO CORAÇÃO, SEU DESGRAÇADO. ISSO LÁ É COISA QUE SE FAÇA! – Eu quase voei em cima dele, admito.

– Porra Derek! Caralho, não faz mais isso. – Ramona estava com a mão no peito, tentando regularizar a respiração, e a Giordana se contentou em olhar feio pra ele.

– Vocês são engraçadas. – Riu pelo nariz e se sentou em uma das banquetas.

Estávamos em um laboratório todo branco, bem conservado até, e alguns quadros com a análise de rochas conseguiram se manter na parede. Havia uma bancada de vidro que rodeava a sala quase toda, parando nos armários perto da única porta do lugar, mas o vidro já havia sido arrombado faz tempo. Ali deveriam ficar as amostras de rochas. Fora isso, tinham aquelas mesas de laboratório e as banquetinhas. Todo material mais caro havia sido retirado na hora de interditarem o prédio, mas outros ainda ficaram no local sei lá por que. Sex room nada, aqui só tem experimentos antigos e as putarias, eles nem devem ter entrado aqui quando picharam isso.

– Então, mãos á obra. – Disse, abrindo a maleta em uma das mesas e montando a máquina de costura. As garotas arrumaram o material que eu trouxe em pilhas organizadas ao meu lado, e eu achei super fofo da parte delas.

Comecei primeiramente com as peças que deviam ser remendadas, tive que gastar uma quantidade considerável de tecido com isso. Ainda bem que meu estoque é maior do que a necessidade que elas têm de me dar mais trabalho. Tenho que me lembrar depois de ir à cidade pra comprar mais material e dar uma fuçada no que as lojas estão empurrando pra os pobres fregueses. A moda dita coisas estranhas, e muitas vezes eram julgadas como brega anos antes.

Minha mente se concentrou de uma forma absurda no que eu estava fazendo, eu corria contra o tempo e meu suor já havia secado. A janela estava aberta, havia uma quantidade enorme de vaga-lumes lá fora e ás vezes eles entravam aqui. Eu me sentia tão bem e importante aqui, elas confiaram em mim para vir aqui e não contar pra ninguém. É tão empolgante, a Rocktavia já devia saber, mas eu duvido muito que a Caroline saiba que o lugar a qual elas me levaram era… Bom, aqui né. A Carol é um amor, mas tem uma boca absurdamente grande e contaria para todo mundo mesmo sem querer.

Os três conversavam futilidades e ás vezes eu fazia um comentário solto, mas tive que reformular algumas roupas por que não coube na função que elas exerciam, e eu sou absurdamente perfeccionista. Sou mesmo, tenho mania de limpeza algumas vezes, admito. Lantejoulas, lápis de cor, papéis com diversos modelos, peças de roupas e mais um monte de tralha foram se proliferando pela bancada com o passar do tempo. Quando menos notei, já era meia noite. Fiquei morrendo de medo de ficar aqui até tarde por causa do horário, então me apressei mais e consegui terminar tudo dentro do deadline. Menos a roupa daquela menina que pediu pra eu diminuir, vou deixar do jeito que está.

– Caralho, depois dessa eu me demito. – Me espreguicei e todo mundo deu risada. Minhas costas estralaram feito as de uma velha. Tá bem, hein fia?

– Demite porra nenhuma, você é boa pra caralho nisso. – Giordana retrucou, rodando pela sala e analisando pela vigésima vez um esqueleto no canto da sala. Não fazia idéia do que ele estava fazendo aqui, já que não tem nada a ver com o tema da sala né. Gentil ela, não?

– Bom, de uma coisa eu tenho certeza: a pipoca da tia é a melhor de todas. – Ramona falou, roubando um pouco da pipoca do Derek.

– Hey! – Reclamou com um muxoxo, puxando a pipoca pra ele.

– Não é nada, a sua é muito melhor. – Afirmei, juntando as coisas e tentando arrumá-las de forma ordenada. O que não deu muito certo, porque a essa altura eu já estava me mijando de frio.

– Enquanto vocês debatem de quem é a melhor pipoca, eu vou procurar algum lugar pra jogar isso. – Derek afirmou, pulando da banqueta em que estava.

– Porque você não joga pela janela? Ou larga aqui no chão mesmo? – Ramona questionou, me ajudando a fechar a maleta, cuja fechadura havia emperrado. Preciso comprar uma nova com urgência.

– Ele é ecológico demais pra sujar a natureza! – Debochei, finalmente conseguindo, com mãos suadas, fechar aquela bosta.

– Também. – Ele afirmou, apontando pra a minha direção. – E se largarmos o papel por aqui mesmo vai dar bandeira de que alguém veio aqui recentemente.

– Credo, ele pensa em tudo. – Eu e a Ramona rimos, nos largando de novo nas banquetas.

– Aff. Fiquem aí, eu já volto. Quero uma carona de vocês. – Gritou, já no corredor, de forma que sua voz ressoasse pelo lugar.

– Ele é engraçado. E bem idiota. Não dá pra levar esse cara á sério ás vezes. – Eu falei, esquentando meus braços.

– Ele está certo. É muito esperto e realmente pensa em tudo. – Giordana se pronunciou, rompendo o silêncio em que a mesma havia ficado.

– É o aluno estrela do campus. – Ramona deu de ombros.

De repente, tudo ficou escuro novamente. Eu e as meninas nos entreolhamos e rolamos os olhos, da segunda vez já não tinha mais graça.

– Beleza Derek, já pode ligar a luz de novo. – Gritei na porta da sala, para que minha voz ecoasse e ele ouvisse. A luz não ligou, e o Derek não chegava.

– Porra! – Giordana soltou um palavrão e saiu pelo corredor com uma das lanternas em mãos.

– O que está acontecendo nessa merda? – Questionei.

– Não faço ideia, também gostaria de saber. – Respondeu, investigando a sala com a outra lanterna restante.

Ouvimos passos no corredor, barulho de gotas caindo em uma poça, e a chuva vindo pela janela. E então tudo aconteceu muito rápido, o vento vinha e fazia as janelas baterem, corremos para fecha-lá, o que conseguimos com certo esforço. Depois corremos para ver os passos que estava vindo de novo. Giordana apareceu no corredor com uma cara de brava, e fez um gesto de negativo com a cabeça.

– Será que é realmente o Derek? – Refleti. – A mesma piada duas vezes não tem graça.

Ninguém soube responder, o silêncio permaneceu e todas nós continuamos ali esperando ele voltar, não sabíamos o caminho para o disjuntor e a chance de nos perder era grande. O garoto apareceu na porta 5 minutos depois, arfando como se tivesse corrido léguas.

– Acho melhor vocês voltarem pra a casa nesse exato momento. Alguém está tentando sabotar vocês. – Ele disse, em meio a tosses secas de um fumante exausto.

– Porque você diz isso? – Giordana exigiu, autoritária.

– Fudeu. – Derek disse, entregando a ela um papel com símbolos impressos. – Eu achei isso colado no disjuntor.

Giordana pegou o papel e fez uma cara entre puta da vida e preocupada pra caralho. O papel passou de mão em mão até chegar em mim, e quando isso ocorreu, eu soube que a porra era séria.

“ Ω + Π + rush = BOOM!

Cuidado,

O Piadista.”

Não entendi de primeira, mas depois de um tempo a ficha caiu. Omega Ni + Iota Pi + dia do rush = bomba. A Iota Pi ia aprontar para a gente no nosso rush, sempre há uma rivalidade entre nós, mas a Omega Ni foi quem mais tirou sarro delas pelo trote do Piadista. Elas iam arruinar todo o nosso trabalho, e o Piadista nos avisou.

Nessa hora eu me assustei, porque pela primeira vez, o Piadista havia tomado partido de alguém.

xXx

“ (...)

Hey, kid!

No light at the trucks at night (no play no play?)

I hope that you do

No light on the map tonight on the map tonight

No light, no light

No rest at the rest tonight at the rest tonight

No rest, no rest

(...)”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Greek Madness" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.