Greek Madness escrita por AnandaArmstrong


Capítulo 2
I.2 - “It’s a makeout party in another dimension”


Notas iniciais do capítulo

Parte dois do primeiro capítulo postada!



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Saí correndo para tentar acompanhá-la, e quando alcancei, não conseguiu pronunciar uma palavra. Ela ficou nervosa subitamente, estalava os dedos com freqüência e estava bem inquieta. Dei-lhe tempo para se preparar psicologicamente pra ela me contar alguma notícia desagradável, pois eu a conheço muito bem e ela só ficava assim nessas circunstâncias. Minha mente vagou para mil lugares, tentando imaginar o que seria. Será que ela queria me contar que estava saindo da banda? Ouvi dizer que eles estavam sem um vocalista. Quando já estávamos acomodadas na sala, em um canto remoto do fundo, eu ainda não me sentia psicologicamente preparada pra receber a notícia, mas meu senso de curiosidade falou mais alto. DAMN IT!

– O Cocker… – Balbuciou agoniada, sem conseguir terminar a frase. Merda, quando ela fica nervosa trava de vez.

– Fala! O que tem o Cocker? – Pressionei, ficando nervosa também. Será que ela sabia por que o Cocker está estranho desse jeito? Ela respirou fundo, tomou coragem e disse:

– OCockerestácomaKara. - Ouvi atentamente as palavras que saíram da sua boca, tentando decifrar o que ela havia dito. Minha mente demorou alguns segundos para processar a informação e, quando o havia feito, demorei uns bons minutos para aceitar.

– Ficar tipo, ficar? – Perguntei receosa, sentindo o sangue se esvair do meu rosto e os calafrios tomarem conta. A minha doce ilusão estava sendo desfeita.

– Ficar tipo trepar Cindy. – Respondeu silenciosamente, não sabendo como lidar com a situação.

Engoli em seco, fechei os olhos e tentei controlar as minhas mãos, que tremiam muito.

– Como você sabe disso? – Perguntei, sentindo meu corpo gelado.

– Ontem eu os vi juntos na festa. Ele parecia apressado, saiu do corredor de quartos, atravessou toda a multidão, esbarrou nela e ela o seguiu. Achei que seria bom ir atrás deles, quando cheguei lá… Eles estavam na dispensa, acho você sabe o resto. Creio que ninguém tenha visto. – Não suportei e desabei em lágrimas silenciosas, só senti os braços dela me envolvendo em um abraço confortável, como o de Cocker.Rapidamente pensei em Cocker de manhã me tratando daquele jeito “especial” e me senti totalmente uma idiota. Por que eu não notei isso antes? Ele estava me tratando bem demais.

– O que você vai fazer em relação a isso? – Questionou com um olhar preocupado. Era a pergunta que eu também estava fazendo a mim mesma no momento. Sem saber muito que falar ou o que pensar, eu só dei de ombros esperando saber se eu teria a resposta para aquilo.

O dia passou rápido, andei pensativa e no automático o tempo todo. Quando chegou a hora do almoço, eu sabia exatamente com quem conversar para esclarecer a minha mente. A voz da razão, também conhecido como Derek.
– Você está atrasada. – Pontuou ele. Certo, esse garoto é anormal.
No momento, eu estou no jardim central da universidade, com meu almoço em mãos, e fitando a dois metros de distância um garoto de pele morena, cabelos e olhos castanhos claros, somente de bermuda jeans e boné de aba reta e com um livro na mão (definitivamente, uma visão contrastante). Detalhe que ele estava descalço e sem camisa. Ele vive assim pelo campus, as pessoas acabaram se acostumando. E nem tirou os olhos do livro, como ele sabia que eu estava aqui?

– Como você sabia que eu viria? – Questionei com a sobrancelha erguida, ainda petrificada no lugar.

– Você nunca vai cansar de me perguntar isso. Não, eu não vou lhe falar como eu sei disso. – Droga, custa tentar não é?

– Certo, Edward Cullen. Sem ofensas, é claro. – Bufei enquanto me jogava ao seu lado na grama. Abri o plástico que continha o meu sanduíche de atum (belo almoço, nham, nham!) e dei uma olhada de soslaio para o Derek.

– Obrigado por me comparar com um vampiro branquelo que vive no meio do mato e brilha como purpurina. Sem ofensas, é claro. – Falou, fazendo uma cara de ofensa e ironizando no fim. Quem vê até pensa! Eu só retribuí com um olhar de desprezo digno de House.

– Certo, vamos ao que interessa. – Eu disse de boca cheia. Certo, esse sanduíche está realmente uma delícia, e essa Coca Cola nem se fala. Ah, todo mundo sabe que faz mal pra saúde, mas tanto faz. A gente vai morrer algum dia mesmo.

– Então, vou ser cruel contigo porque acho que você precisa cair na real. – Perguntou, olhando pra mim. Eu acenei afirmativamente, apesar de estar meio contrariada. – Ponto um: você foi muito burra. (Ouch, essa doeu amigo). Ponto dois: o Cocker é um canalha e você sabe disso. Ponto três: você não deveria ficar assim porque, além de vocês dois ficarem com outras pessoas diferentes, o que vocês têm não é sério pra ele, e você sabe disso também. Ele pode ser seu amigo, sim, mas você não deveria ter se deixado envolver tanto. Você é mais uma da lista dele. – Obrigada pela sinceridade. Eu absorvia, chocada, as suas palavras. Ele tinha toda razão. Eu e o Cocker nunca tivemos nada sério, mas eu ainda teimava em criar em minha cabeça uma relação que eu sabia que não existia. E ainda por cima eu continuava criando aquelas estúpidas esperanças de que ele iria mudar e ficar só comigo. Ri com esse pensamento e me senti ainda mais ridícula.

Ficamos em silêncio por um minuto. Ele estava muito concentrado em um livro qualquer e eu nos meus pensamentos. Quando eu menos esperava, ele quebrou o silêncio com uma frase inédita.

– E você está de ressaca, quando a gente está de ressaca tudo fica dez vezes pior do que realmente é. - Não pude conter uma risada e gargalhei no meio do jardim, meio que engasgando com a Coca. Foi, definitivamente, estranho.

– Essa foi ótima. – Disse assim que consegui arranjar fôlego. - Sabe, você é um mestre. Oh, sábio Dedeko. Eles deviam fazer uma estátua em sua homenagem. – Ainda rindo, dei uma reverência. Como se ele realmente fosse um sábio antigo. Ele riu baixinho e os seus olhos castanho-claros reluziram. Ele é muito fechado, mas é um ótimo amigo comigo. Acho que eu não teria esse conselho se perguntasse pra outra pessoa. Eu sabia que ele era a pessoa certa com quem falar, mas preciso digerir melhor o que estou sentindo. Por mais que as minhas amigas me amem e sejam sinceras, nessa fase, elas me diriam algo pra me consolar.

– Ah, eu conversei com o reitor sobre isso ontem. Ele disse que está contatando o melhor escultor para o trabalho. – Ele falou sem alterar sua fisionomia. Ele… Estava brincando, certo? Quer dizer, o Derek é o melhor aluno da faculdade durante os últimos quarenta anos. Atingiu todas as pontuações que um aluno pode alcançar, não duvidaria se construíssem uma estátua para ele.

– Certo. Você é estranho e eu tenho que ir. – Comentei, rindo. O silêncio prosperou e eu aproveitei para analisar melhor o cara ao meu lado.

Sua pele moreno-californiana, seus olhos e cabelos claros e seu corpo definido o faziam parecer um surfista ou playboy (o que vier primeiro). Mas, apesar de ter um corpo definido, ele também era magro e possuía um rosto fino. O que quebrava completamente a teoria de ele ser um surfista ou afins. Eram os detalhes que, apesar de ter o cabelo claro, era natural e não havia vestígios de areia ou de parafina (tem uma praia muito boa a somente dois quilômetros e os surfistas daqui vivem lá a maior parte do tempo). Suas mãos não eram ásperas ou calejadas, como deveriam ser a de um surfista, e sim macias e suaves. E, cara, ele anda descalço pelo campus. Tipo, sério. Ele geralmente está de regata ou uma coisa do gênero, porque aqui faz muito calor, mas às vezes ele anda sem camisa por aí. E descalço. Quer dizer, quem anda descalço pelos lugares assim? Fora que os professores já passaram da fase “cair matando em cima do por andar como se estivesse em uma praia”, e já estão na fase “puxar o saco do Derek porque ele é o melhor aluno que já tivemos e com certeza vai ser um milionário no futuro”.

Ele é o nerd menos nerd que eu já vi na vida. Isso soou meio estranho, certo?
– Se você quiser ir logo pra a fraternidade e não ser vista pela Kara, eu sugiro que você saia daqui imediatamente. – Comentou ainda lendo o livro, que eu descobri ser “A Arte da Guerra”. Esse cara lê quase um livro por dia, fala sério.

– Merda, estou indo agora. Tchau, a gente se esbarra mais tarde. – Juntei meus livros rapidamente e corri contra o tempo e contra a visão da vadia que eu achava ser a minha “big sister”. Big uma porra. Quer dizer, ela não é a minha irmã de verdade. Somos da mesma fraternidade e, além dela ser a presidente, é a minha “big sis.”. Isso é uma coisa que criaram entre as irmãs, as veteranas recebem as novatas e cuidam delas como irmãs mais velhas. Irmãs mais velhas que pegam os homens dos outros. Aff. Esse ano eu vou ser veterana, e juro que não vou agir desse jeito com a minhalittle sis.

Olhei para trás para verificar onde a estava, dei graças a Deus ao constatar que ela estava distraída, conversando com uma menina de enfermagem. Uma putinha essa aí, deve estar pegando dicas com a de como aprimorar a arte de pegar o homem alheio. Dá um tempo, to puta ainda.

Antes que ela virasse de costas, eu coloquei o capuz do casaco e abaixei a cabeça, tentando a todo custo não ser vista. Espero que tenha conseguido. Respirei fundo e continuei a andar, tranquilamente, observando o corredor de gente do parque da universidade. Várias pessoas de todos os tipos caminhavam tranquilamente seguindo as suas vidas, provavelmente eram cheios de problemas como eu e qualquer outra pessoa. Algumas faces pareciam distraídas à sua volta, mas tão centrados em seu próprio mundinho caótico. Jovens, como eu, cansados de alguma festa, ou mesmo de receber alguma porrada da vida desde cedo.

Cansados das aulas que ainda vão se prosseguir todo o ano. Cansados de ver as mesmas caras sorrindo vacilantes a todo o tempo. Adultos exaustos, já recebem essas coisas há mais tempo. Posso ver que muitos deles não gostariam de ser professores, de ensinar pra alunos que não prestam a mínima atenção no que eles falam algumas vezes. Alunos que falam deles por trás, como eu. Ri com a minha própria hipocrisia.

Desviei meu olhar para cima e observei o corredor de árvores que seguia a calçada, eram altas e curvadas para o centro, tapando assim a visão do céu. Graças aos troncos afastados e algumas brechas entre os arbustos das árvores, a luz entrava. Outros feixes de luz desconexos e mais luminosos que a luz natural penetravam entre espaços dos galhos e iluminavam algumas partes da pista, junto com as folhas caídas do outono. Era uma visão linda de se ver. Meu instinto e a minha paixão louca por tirar fotos falaram mais alto.
Eu fico muito melhor quando fotografo, é como se os meus sentimentos passassem pra dentro da imagem. Eu sabia que precisava dessa foto agora. Mas se eu pegasse meu IPhone para tirar a foto, a Kara me reconheceria pela minha capa de celular nada discreta, e com certeza viria falar comigo. Droga, ela está andando na minha direção. Se eu não pegasse, ia perder uma foto linda e iria evitar a conversa mais uma vez. E agora?

Parei de andar por um momento e me perguntei por que eu estava fugindo desse jeito da Kara, eu deveria quebrar a cara dela, isso sim. Me perguntei o que eu faria se ela viesse falar comigo. Me perguntei por que, por mais que eu tentasse, não conseguia ficar realmente chateada com ela. Mas acima de tudo, me perguntei por que eu não me senti surpresa ao ouvir a notícia desses dois pela Carol, e não por eles. Comecei a responder mentalmente as perguntas cujas respostas tinha conhecimento: Eu sabia no meu íntimo que não estava pronta pra encarar esse assunto com a agora. Eu, provavelmente, tremeria, gaguejaria e não diria nada do que realmente estava se passando dentro de mim. Eu responderia simpaticamente às perguntas dela e nós conversaríamos como se nada estivesse acontecendo.

Ela sempre me apoiou nas minhas decisões, quando eu perdi a minha mãe, quando eu estava perdida e sozinha no meio de uma universidade enorme. Uma garota que ainda estava no High School perdida no meio de um mundo de possibilidades. Ia me sentir uma ingrata total.

Mas, por outro lado, ela ficou com o cara que eu gosto. E gosto MUITO! E não é recente pelo visto. Ela me escondeu isso, traiu a minha confiança e me magoou.
Mas apesar de tudo, eu não sabia como responder a última pergunta. Por que eles não me falaram? Por que, depois de tudo que nós passamos juntos, os dois não me falaram? Por um segundo, me lembrei do abraço e do selinho dele hoje de manhã. Como se nada tivesse acontecido. Pra ele, aquilo era comum. Eu era comum. Só mais uma vadia, nada demais. Me senti enjoada com a sensação do seu abraço ainda grudada em mim e como eu senti que era querida por ele. Meu estômago começou a embrulhar e corri para o lixo mais próximo. Coloquei pra fora tudo que eu ingeri desde ontem à noite.
– Meu Deus, você está bem? Amiga? – Engraçado, eu não precisei fazer muito esforço pra ela me reconhecer. Kara segurava meus cabelos enquanto eu terminava de vomitar, e, quando já não tinha nada para colocar pra fora, limpei minha boca com a barra da camisa. FODA-SE HIGIENE!
– Cindy, você precisa de ajuda? – Ela me olhava parecendo genuinamente preocupada. Seus cabelos muito curtos e muito loiros combinavam tão bem com seu rosto pálido, inocente e bondoso. Suas sardas davam um charme, e eram perfeitamente sincronizadas com seu nariz reto e bem feito. Sua boca era definida, e seus dentes brancos, retos e com bochechas salientes. Qualquer um que olhasse pra esses olhos verdes se encantaria, e acreditaria que é um anjo que desceu a Terra. Essa perfeição me enjoou mais ainda.

Eu não poderia ficar ali e ter que lidar com tudo aquilo tão rápido. O rosto dela me lembrava Cocker e tudo ficava pior, eu estava totalmente chateada com ela. A pior parte é que ela sabia de tudo entre mim e ele, mas fez mesmo assim. Eu era apenas mais uma carta descartada para ele, e ela era a nova jogada. A constatação disso junto com a ressaca deixou tudo ainda mais dramático.

Fui me afastando lentamente enquanto encarava seus olhos cheios de preocupação, mas eles escondiam algo… Não suportei aquela situação e saí correndo, deixando para trás uma magoada, confusa e mais um monte de problemas que eu não queria encarar.

xXx
“(…)

Please understand
This isn’t just goodbye
This is I can’t stand you


(…)”


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Notas finais do capítulo

Comentem se gostarem :3



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