Híbrido escrita por Musa, Moon and Stars


Capítulo 67
Truth behind the past


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, dessa vez a culpa é minha. A Musa me passou o capítulo assim que postei o 66, mas demorei a editar por causa da escola. De qualquer forma, aí está. Esse capítulo é o mais fofo que eu já fiz. Mas acreditem, é só esse. Fofura nunca mais (:



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Jared caminhou até nós em uma velocidade cheia de urgência, deu um tapa na minha mão fazendo-a cair e assim sair do alcance dos lábios de Owen. Colocou o antebraço no pescoço do irmão e o empurrou violentamente até a parede, prendendo-o ali.

"Como me encontrou?" perguntou entre os dentes.

Com um sorriso debochado no rosto Owen deslizou uma das mãos cuidadosamente até o bolso da frente de sua calça. Ao perceber o movimento suspeito, Jared rosnou para ele e o pressionou ainda mais contra a parede. Owen o encarou com uma carranca ameaçadora. Eu não conseguia parar de olhar para aquele rosto. Era impressionante. Por mais que fosse como o de Jared, ele tinha algo tão diferente. Era como se seu rosto tivesse sido feito para ser suave de forma que a carranca pareceu estranha em suas feições. Os dois se encararam firmemente criando uma tensão entre eles, mas que até eu consegui sentir. Perguntei-me se eu devia interferir, mas resolvi deixar rolar. Aquilo era entre eles. Se a coisa ficasse séria, talvez eu começasse a pensar em fazer algo.

De repente aquele calor estranho começou a me sufocar outra vez. Merda, Jared! De novo? Jared deu um breve grito e se afastou balançando o braço que havia usado para prender Owen contra a parede. Ele encarou seu braço queimado enquanto sua pele se regenerava lentamente. Ok. Isso me assustou. Recuei alguns passos encarando Owen que ainda encarava o irmão com um sorriso zombeteiro no rosto. Uma gota de sangue começou a escorrer pelo seu nariz e depois se tornou um fluxo que logo em seguida ele se concentrou em tentar controlar. Owen jogou o que tinha em seu bolso na direção de Jared, que pegou o objeto incrivelmente leve no ar. Parecia um pedaço dobrado de papel.

Jared desdobrou o papel e seus olhos dançavam de um lado para o outro enquanto ele lia freneticamente. Ele grunhiu, amaçou o papel em uma mão e o jogou no chão perto dos meus pés. Abaixei-me para pegar. Se Jared percebeu que eu estava pegando o papel, não se importou. Desdobrei o que parecia ser uma página de jornal e olhei. Era uma coluna social. Franzi o cenho. Havia fotos de pessoas bem vestidas em um evento importante e incrivelmente familiar. Comecei a ler um dos parágrafos quando meus olhos encontraram uma foto que me deixou extremamente espantada. Era uma foto minha e de Jared. Ele usava um terno e eu estava com meu vestido roxo.

Eu me lembrava de quando essa foto foi tirada. Na hora, ele havia franzido o cenho para mim e eu havia virado o rosto para desviar do flash, mas na foto estávamos simplesmente encarando um ao outro como um casal normal. Aquilo me causou sensações estranhas que eu logo reprimi. Mas guardei a foto mesmo assim.

Quando olhei de novo para os gêmeos eles conversavam mantendo certa distância um do outro, ambos trocando olhares desconfiados e com as posturas prontas para um possível ataque.

"Quem te ensinou persuasão?" perguntou Jared, interrogando Owen com uma rude impaciência.

"Eu morei no inferno durante minha vida inteira." Disse Owen mantendo o tom de voz tão tranquilo quando a expressão em seu rosto. A única coisa que denunciava seu receio era o olhar atento e vigilante. "Acho que eu tive uma boa quantidade de professores. Vai ser difícil lembrar um nome em especial."

"E o que veio fazer aqui?" Jared perguntou friamente dando continuidade ao interrogatório. Ele estava muito puto e eu me segurei para não rir.

"Eu vim conhecer meu irmão." Owen disse como se fosse uma coisa óbvia. "Além disso, eu estava cansado de ficar em casa. Aquele lugar é um verdadeiro inferno."

Eu ri de seu trocadilho, sem saber se era pra achar graça. Mas o clima estava tão intenso ali que eu não resisti. Meu riso chamou a atenção de Owen que olhou para mim e sorriu.

"Vendo esse sorriso consigo perceber finalmente o que eu estava perdendo." Ele disse para mim. A sinceridade em sua voz me pegou desprevenida e eu corei, mais pela surpresa do que por embaraço. "Acho que agora eu tenho um bom motivo para não voltar para o inferno nunca mais."

"Argh." Jared murmurou fazendo uma careta de nojo. "Escuta aqui, seu filho da puta. Por sua causa todo mundo está caçando a minha cabeça e meu criador está no inferno!"

Owen olhou novamente para Jared e arqueou as sobrancelhas.

"Você acha que a culpa é minha? Você não foi cuidadoso. Se estão atrás da sua cabeça ou não, não é problema meu."

"É claro que é, caralho!" berrou Jared fazendo um gesto nervoso com as mãos. "Está todo mundo alarmado porque O EQUILÍBRIO estava sobre o mesmo plano. Acham que vamos nos aliar e antecipar a porra da profecia!"

"Há! Que bando de idiotas? Quem pensa assim? Você?" Owen riu.

Meu status: boiando. Comecei a me sentir uma completa imbecil parada ali, só observando a conversa esquisita dos dois. Mas eu confesso que fiquei extremamente tentada a fazer pipoca só pra continuar assistindo. Alguma coisa me dizia que aquilo ia ficar... Interessante.

"Bom, não estou a fim de continuar falando sobre isso." Owen disse com desdém e olhou para mim. "Agora eu quero desfrutar da companhia dessa aqui..."

Ele começou a caminhar na minha direção e quando passou pelo irmão, Jared o impediu de continuar pondo um braço na frente dele, criando uma barreira.

"Fica longe." Disse ele com um toque de aviso em sua voz. "Longe dela e também de mim. É melhor sair daqui antes que eu perca a paciência."

"Por que? Ainda acha que eu vou tentar matar você ou ela enquanto estiverem na cama, dormindo?" perguntou Owen irritadiço.

"Era exatamente na cama onde eu queria estar com a Kate agora, mas não dormindo, se é que você quer saber. Infelizmente, você apareceu e fodeu com meus planos. Agora saia da minha casa! Não confio em você."

"Se eu quisesse machucar qualquer um de vocês, eu teria feito isso direito e não dado as caras por aqui." Protestou. "Eu te segui de carro por dois dias e ainda fui visitar a princesa aqui na escola. Oportunidade não me faltou."

Jared fez uma carranca de desprezo para ele e avançou cerca de dois passos até estar cara a cara com o irmão.

"Saia da linha um pouquinho assim" juntou os dedos polegar e indicador "e eu acabo com você."

Os dois se encararam durante alguns segundos e então Jared bufou e se afastou puxando-me pelo braço e me levando escada acima, em direção ao quarto. Olhei para trás a tempo de ver Owen enfiar as mãos nos bolsos, relaxado, e dar uma piscadela para mim.

Joguei-me na cama exausta e tentei processar tudo o que aconteceu ali. Jared andava de um lado para o outro, inquieto enquanto se livrava dos trapos que um dia foi uma camisa. Tirou os sapatos e se recostou à porta deslizando para baixo até estar sentado no chão. Deu um suspiro e me encarou.

"Por que você nunca me contou?" perguntei a ele.

"Não tinha por que você saber." Respondeu ele. "E ainda não tem."

"É claro que tem!" rebati e levantei o corpo, apoiada em meu cotovelo. "Jared, eu já disse a você. Estou do seu lado, você precisa me contar essas coisas."

Ele me avaliou por um momento com o cenho franzido e imaginei que ele estivesse pensando sobre o assunto. Preparei-me para o que estava prestes a ouvir.

"Não." Ele disse e desviou os olhos de mim com a expressão séria.

"Ótimo!" bufei irritada e me joguei na cama novamente.

Virei-me na cama, dando as costas para ele e suspirei. Senti o colchão se mover com o peso de Jared atrás de mim e a mão dele foi parar no meu quadril. Remexi-me para tirar a mão dele dali, mas com um puxão ele virou meu corpo para olhar para ele. Ele estava sentado, me encarando de cima, então me sentei também para ficarmos no mesmo nível.

"Por que ainda está aqui?" ele perguntou.

"O quê?!" perguntei ofendida. Ele queria que eu fosse embora? "Você está me expulsando, Jared?" ergui as sobrancelhas para ele em desafio.

O idiota riu e aproximou o rosto do meu, olhando-me nos olhos. Apesar da impassibilidade em seu rosto, havia confusão em seus olhos.

"Por que você ainda está comigo?" ele perguntou outra vez, acrescentando algumas palavras que me surpreenderam. "Tipo, eu sei que sou gostoso. Gostoso pra caralho. Mas Kate," ele fez uma pausa e arqueou as sobrancelhas. "Eu sou um cafajeste."

Meu corpo se arrepiou. Sério? Sério mesmo? Estávamos tendo aquela conversa? Eu corei de vergonha. Por que eu estava enrubescendo? Eu nunca fiquei tímida com Jared. Cacete, por que logo agora? Jared me encarava reprimindo um sorriso que lutava para tocar seus lábios. Engoli em seco tentando encontrar minha voz.

"Às vezes eu me pergunto a mesma coisa." Sorri sem jeito. "Eu acho que já aturei tanta merda sua que já fiquei vacinada."

Ele deixou o sorriso aparecer e chegou mais perto. Me senti estranhamente desconfortável com a presença dele, embora eu quisesse ele ali. Daquele jeito.

"Ainda assim..." prossegui. "Você não quer me contar quem você é."

"Você não respondeu minha pergunta." Ele disse.

"Não tente desviar da minha, Jared." Eu o repreendi e rocei meu nariz ao seu. Ele ficou sério de repente e afastou um pouco o rosto, mas continuou ali.

"Não estou desviando." Ele disse olhando para baixo e franziu levemente o cenho. "Eu dependo da sua resposta para te dar outra."

Fiquei em silêncio. Ele subiu os olhos novamente e me lançou um olhar desafiador e cheio de expectativas. Eu mal conseguia acreditar que aquele momento estava mesmo rolando. Eu estava conversando sobre sentimentos com Jared. Estávamos tão próximos, tão íntimos. Nós já éramos íntimos àquela altura do campeonato, mas não desse jeito.

"Ok." Suspirei. Endireitei-me no colchão e segurei o rosto dele com as duas mãos, apertando as bochechas dele até que sua boca se tornasse um biquinho de peixe. Ele franziu o nariz, mas não tentou se soltar. Talvez ainda estivesse esperando minha resposta. "Cadê o Jared? Isso aqui está muito errado. O que está acontecendo aqui?"

Ele mexeu o rosto tentando morder uma de minhas mãos. Ele abocanhou meu dedão e eu dei um gritinho. Agora eu me assustei. Ele estava brincando comigo? Na boa?

"Responde logo, sua bruxa." Insistiu ele em tom brincalhão.

"Eu tenho esperança, Jared." Eu disse e então nós dois ficamos sérios. Principalmente ele. "Eu olho pra você e ainda me lembro de quando éramos pequenos. Eu sei e já me conformei que você se tornou um homem frio e cafajeste, mas..." balancei a cabeça. "Eu sei que aquele menino ainda está aqui. Eu ainda consigo vê-lo em você. Mesmo que só um pouco."

O silêncio cresceu até se tornar muito desconfortável. Ele estava ainda mais confuso que antes. Minhas palavras pareciam estar surtindo um efeito diferente nele. Arrisquei continuar falando.

"Um dia você foi meu amigo. Confiou em mim. Acho que eu ainda espero que isso aconteça outra vez."

A respiração dele estava lenta e vi suas mãos trêmulas. Olhei para ele por sob os cílios, mas ele não se atreveu a me olhar de volta.

"Agora me conta..." pedi suavemente.

Ele olhou para mim de repente, com o cenho franzido.

"Eu vou ficar bem mais perigoso." Ele começou a dizer com a voz rouca e profunda. "Você vai ter medo de mim. E eu sinto que quero isso. Eu sinto que eu quero te matar. É como se nada que eu toco fosse escuro o bastante." Ele fez uma careta que ressaltou os músculos de sua mandíbula e o sangue começou a escorrer pelo seu nariz.

Levantei a barra da minha blusa para ajuda-lo a conter o fluxo de sangue de seu nariz. Ele me encarou, esboçou um sorriso provocante e olhou para os meus seios expostos.

"Assim eu não vou conseguir falar."

Ignorei-o e consegui a limpar seu nariz que não parava de sangrar. Suas palavras anteriores não saíram da minha cabeça e me provocaram sensações ruins. Ele disse que queria me matar. Eu não queria acreditar nisso, mesmo depois do que ele me fez. Ele já tinha me dito que foi um acidente. Eu estava completamente perdida, mas não queria que ele parasse de falar, eu tinha que saber.

"Continua." Pedi cuidadosamente.

"Tinha uma mulher que... deu pra um demônio. Ela tinha um anjo da guarda que a alertou desde o princípio, mas ela não ouviu. Quando ela engravidou, implorou ao anjo pra que tirasse a criatura que crescia dentro dela." Ele parou de falar e arquejou de dor enquanto o sangue jorrava.

Ele tentou afastar meu toque cobrindo o nariz com as mãos, mas insisti em ajuda-lo. Fiz um gesto para acalmá-lo e ele me lançou um olhar perigoso, tentando me afastar a todo custo. Seus olhos ficaram completamente negros e eu recuei sentindo meus batimentos cardíacos em minha garganta. Eu o encarei enquanto seus olhos em breu me encaravam e o sangue escorria e pingava em gotejo por seu queixo. Ele mostrou os dentes para mim com um rosnado animal que me arrepiou de medo. Então ele fechou os olhos com força e grunhiu de dor novamente. Quando reabriu os olhos, estavam normais, mas confusos e amedrontados. Jared estava arfando e eu vi que ele tentava se controlar. Podia ser impressão minha, mas eu acho que seu olhar me pedia perdão.

Ele se levantou da cama e caminhou até a porta. Pôs a mão na maçaneta, mas hesitou ao girá-la. A porta se abriu, mas ele a fechou novamente. Ele não quis sair. Levantei da cama e caminhei até ele em passos silenciosos. Jared ficou ali, com as costas arqueadas em uma postura derrotada até que se sentisse contido o suficiente.

"Jared?" eu o chamei sussurrando seu nome. "Você está bem?"

Não houve resposta e eu não sei por quanto tempo o silêncio se estendeu, mas parecia pior porque ele se recusava a olhar para mim.

"O anjo não quis tirar a criatura de dentro dela," ele prosseguiu, sem se virar para mim, mantendo sua mão fechada firmemente sobre a maçaneta. "Se ele fizesse isso, ela morreria." Seu corpo deu alguns espasmos e demorei um pouco para perceber que ele estava rindo. "Antes tivesse morrido. Ao invés disso, o Arcanjo apaixonado deu a ela um filho seu, interferindo na gravidez, dividindo a criatura em duas. De qualquer forma, a mulher morreu quando pariu as crianças. Eu sou filho de um demônio. E Owen é filho de Harahel."

Oh, Luna. Eu não sabia o que dizer, aquilo era de mais pra mim. Sentei-me na beira da cama encarei as costas nuas de Jared, sua pele pálida iluminada somente pela luz prateada que entrava pela janela. Tive vontade de tocá-lo, sentir sua pele quente e confortá-lo, mas eu sabia que se eu fizesse isso, só pioraria as coisas, ele ficaria violento.

"Você é um Baalihan?" perguntei. O fato de ele ser um Baalihan não era o que mais me chocava naquela história. Eu simplesmente não consegui colocar em palavras todas as dúvidas que enchiam minha cabeça.

"Eu sou um Híbrido." Ele respondeu e se virou novamente para mim. "70% de mim é demoníaco. 20% é angelical e apenas 10%humano." Explicou. "Owen é o oposto. Somos filhos de seres importantes, um Arcanjo e um Duque infernal."

Ele começou a vir em minha direção e sentou ao meu lado à beira da cama. Aparentava estar mais controlado, embora as palavras parecessem arder em sua boca. O sangue já não mais escorria como antes, mas ele ainda sentia dor pelo modo como seus músculos se retesavam de vez em vez.

"Somos extremamente poderosos, Kate. Nephilins e Baalihans tem seus dons, mas muitos não se desenvolvem como nós fizemos. Mesmo quando aprendem a explorar suas capacidades, não são como nós. Alguns deles se tornam tão perigosos que precisam ser exterminados. Foi o caso de Alastor. Se ele, que é apenas um Baalihan qualquer fez o que fez, imagine agora o que eu posso fazer." Ele estava sem fôlego e falava sem parar. "Eu não posso ser bom, Kate. É a minha natureza."

"Você é bom." Eu disse num sussurro e ele riu sem humor balançando a cabeça.

"Aquele menino que você conheceu não existe, Katherine. Harahel tentou me fazer bom."

"Ele conseguiu, Jared. Eu sei disso." Persisti.

"Eu não quero ser bom, caralho!" ele gritou de repente e me deu um susto. Seus olhos ficaram negros novamente durante dois segundos e ele balançou a cabeça afastando o breu. Ele rosnou outra vez e segurou a cabeça com as duas mãos para conter a dor. "Pessoas boas só se fodem. Como você." Ele riu uma risada gutural, como um maníaco e ficou sério logo em seguida. Ele estava se esforçando para se controlar.

"Me fodo porque gosto de um cara que quer brincar de ser malvado. Jared isso é..."

"Não fala isso!" ele gritou com raiva me silenciando.

"Isso o que?" gritei de volta.

"Não diga que gosta de mim, merda!" vociferou e soltou outro rosnado que lutou para reprimir. Ele parecia um cão preso na coleira e eu sabia que estava cutucando a fera. Eu estava brincando com fogo.

"Por que não?" perguntei.

Ele ficou quieto com o olhar perdido e controlou a respiração pesada e lenta. Olhou para mim com os olhos suplicantes.

"Porque machuca." Disse suavemente.

Aquilo me desarmou. Chega. O clima ficou pesado demais. Eu não podia mais pressioná-lo assim.

"Prefiro assim," ele continuou.

"Shhh." sibilei. "Jared, chega. Não precisa mais falar."

"Desse jeito ninguém me fode." Prosseguiu ele, ignorando-me.

"Não vou foder você." Retruquei sorrindo para apaziguá-lo.

"Pensando bem, eu deixo você foder comigo." Sorriu cansado. Ele pôs as mãos no meu ombro provocando-me arrepios que eu não soube interpretar como desejo ou receio.

Empurrou-me para baixo e me prendeu sob seu corpo no colchão. Ele aproximou a boca do meu pescoço e mordiscou ali, com força. Gritei.

"Jared, pare com isso!" tentei afastá-lo. "Estou com medo."

Ele ergueu o rosto para me encarar, estava sério e perturbado.

"Ficar com medo não me afasta, só me aproxima." Sorriu. O entorno de sua boca estava sujo de sangue seco e aquilo dava a ele uma aparência sombria e horripilante. "Eu sou um demônio, Katherine. Me alimento de sentimentos ruins."

"Eu sou uma bruxa." Encarei-o com a expressão séria. "E posso te dar um pé na bunda." Ele riu.

"Divirta-se tentando." Me beijou na boca com voracidade. Puxei sua cabeça para trás pelo cabelo.

"Não vou transar com você." Eu disse firmemente.

"Se você calar a boca eu faço você mudar de ideia." Disse ele e aprofundou o beijo.

***

Quando despertei eu estava deitada sobre o peito nu de Jared. Não lembrava de tê-lo visto dormir porque em algum momento Owen bateu à porta e os dois discutiram até a coisa ficar terrivelmente irritante, então preferi simplesmente dormir a ficar ouvindo aquilo. Levantei-me e vesti um short. Escovei meus dentes e fui até a cozinha preparar algo para o café da manhã. Prendi o cabelo em um coque e bocejei.

"Bom dia" disse Owen com seu forte sotaque britânico. Ele vestia apenas jeans claros como os da noite anterior. Seu cabelo escuro estava bem emaranhado e seu rosto tinha marcas de travesseiro.

Eu devia parecer uma idiota, porque o fiquei encarando tentando avaliar as diferenças que ele tinha com Jared. Quase nada. Além do cabelo escuro, seu rosto era mais anguloso, o nariz não era tão arrebitado, os lábios eram mais carnudos, rosados e ele não tinha a pintinha... Owen arqueou uma sobrancelha para mim enquanto eu o observava e sorriu quando eu enrubesci.

"Ah... O que você gosta de comer no café da manhã?" perguntei para disfarçar minha vergonha.

"Não sei." Ele deu de ombros. "Meus costumes alimentícios são bem diferentes dos desse plano."

"Tudo bem então." Estreitei os olhos para ele. "Eu vou comer alguma coisa aqui e depois vou para a escola. Sirva-se como quiser na cozinha." Falei e peguei meu copo de suco e minhas torradas sobre a mesa.

Comi rapidamente passando pelo constrangimento ainda maior de ver Owen me observando enquanto eu comia. Foi esquisito. Corri para o banheiro para tomar banho e só então, quando senti meu corpo refrescado, senti as dores dos meus ferimentos do dia anterior. Havia as marcas de dentes daquele demônio desgraçado, uma queimadura no meu pulso, minhas costas ardiam. Agora que Alastor estava morto, será que eu teria um pouco de paz? E quanto a Jared? Depois da conversa de ontem, talvez as coisas começassem a ficar diferentes.

Eu ainda tinha esperança de que fôssemos um casal normal, ou algo perto da normalidade pelo menos. Não me restavam dúvidas. Eu estava apaixonada pelo filho de um demônio. Eu não quero ser bom, caralho! Ele me disse ontem. Passei as mãos pelo meu cabelo molhado, lembrando de suas palavras. Me alimento de sentimentos ruins. Porra, como eu gostava dele! Eu devia mesmo insistir nisso? Talvez não fosse vão, afinal. Eu só tinha que ajuda-lo a lidar com seus conflitos.

Tudo com ele era sempre tão complicado. Qualquer um sabe que o mais inteligente seria me afastar dele porque ele nunca me fazia bem. Eu sempre corria perigo ao lado dele, sem nenhum momento de descanso. Diversas vezes ele me tratou feito um lixo, mas por que eu sempre voltava pra ele? Por trás de tudo aquilo eu era seu ponto fraco, ele fazia essas coisas pra me manter longe, mas no fundo ele precisava de mim. Argh. Jared ainda vai me deixar louca.

Aprontei-me para a escola e fui até a sala caçando algumas coisas. Owen comia Fruit Loops direto da caixa. Eita. Se Jared visse aquilo ia dar um ataque. No instante em que pensei no filho do capeta, ele apareceu. Parou logo abaixo do portal da sala com o cabelo desgrenhado e as marcas das minhas unhas carimbadas em seu peito. Assim que seus olhos sonolentos encontraram Owen com sua caixa de Fruit Loops Jared ficou terrivelmente puto. Caminhou apressadamente parando a poucos centímetros do irmão pegando de volta sua caixa de cereais.

"Você pode ficar na minha casa, pode comer a Kate, mas meu Fruit Loops não, porra!" gritou.

Eu o encarei boquiaberta mal acreditando em meus ouvidos. Filho da puta! Catei minhas coisas rapidamente e ao passar por ele dei um empurrão que o fez cambalear para trás e cair sobre o sofá.

"Vai me dizer por que caralho me empurrou?" ele exigiu saber.

"Porque eu quis." Respondi secamente. "Anda. Vamos logo. Preciso ir para a escola."

Owen soltou um assovio prolongado ao me ver irritada. Olhei para ele com a expressão séria.

"Cale a boca você também!" eu disse apontando para ele meu indicador. Ele ergueu as mãos em forma de rendição e olhou para Jared fazendo mímica com a boca, dizendo você está muito ferrado.

Jared mostrou a ele o dedo do meio e correu até o quarto no segundo andar. Não demorou muito a descer vestindo uma camisa branca e com as chaves do carro na mão.

"Não vai sair?" perguntou ele quando chegamos à escola. Saí de meu devaneio e olhei para ele. Eu havia me distraído.

"O que?" perguntei confusa.

"Você vai pra escola ou vai ficar aqui no carro comigo?" ele ergueu as sobrancelhas e apontou para o movimento de alunos que entravam no prédio da escola. "Se quiser ficar aqui eu não ligo, mas saiba que vai ficar sem suas roupas."

Revirei meus olhos para ele e saí do carro. Parei antes de fechar a porta e voltei lembrando-me de algo que eu queria perguntar.

"Ah. Escolheu ficar." Disse ele exibindo um sorriso lascivo. "Vai, tira a calça. Estou louco pra meter."

"Jared!" eu o repreendi.

"O que foi?" perguntou ele fazendo cara de inocente. Idiota.

"Eu quero fazer uma pergunta." Eu disse. Ele ficou em silêncio esperando que eu fizesse a tal pergunta. "O que significa Tomás?"

Ele me encarou como se estivesse surpreso por ouvir aquela pergunta, mas não demorou a responder.

"Significa gêmeo em Aramaico." Ele respondeu. "Não é meu nome, é um adjetivo, um apelido. Tanto pra mim quanto pro Owen." Revirou os olhos com desdém ao pronunciar o nome do irmão. "Entendeu?"

Suspirei e assenti. Virei-me novamente para sair do carro, mas ele me segurou pelo pulso puxando-me de volta de forma que caí sentada no assento. Olhei para ele para protestar, mas ele calou minha boca com um beijo surpreendentemente suave. Foi um beijo quente e lento, como se ele estivesse tentando memorizar o gosto da minha boca. Nos afastamos aos poucos e ele terminou o beijo com um selinho. Oh, Luna. Isso é novidade.

Quando abri os olhos, ele ainda mantinha os seus fechados, abrindo-os aos poucos. O verde de sua íris estava bem aceso e ele franziu o cenho, provavelmente confuso com o que havia feito. Soltou meu braço e recompôs a postura atrás do volante girando a chave na ignição.

"Tchau, Kate." Ele disse friamente sem olhar para mim.

Encarei-o por alguns segundos, vendo seus músculos rígidos. Esbocei um sorriso de canto que ele não viu e saí do carro. Assim que fechei a porta, ele arrancou.

"Tchau, Jared." Sussurrei.


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Notas finais do capítulo

O que acharam de Katered nesse capítulo? Fofos né? Não. Nunca. Jamais. (O Capítulo original tinha cenas mais fofas ainda, mas eu tive que tirar. Simplesmente não rola. Jared não é fofo e vocês sabem. Não vou deixá-lo amolecer. Se querem amar o Jared, vão amá-lo assim: bruto e mau.) E quanto às revelações, galera? Parece que nosso Boy Magia, Jaredemônio, finalmente abriu o jogo. Comentem, opinem, façam o que quiser, mas mandem reviews. E não se esqueçam das plaquinhas!! Tirem fotos suas com plaquinhas dizendo "Eu leio/amo Híbrido", ou inventem coisas, sejam criativos, e mandem pra gente no tt (@beijared) ou no tumblr (shipkatered.tumblr.com) ~Monique
PS: Ana Clara, não demore a comentar, ou terei que tomar providências muito muito ruins.