Híbrido escrita por Musa, Moon and Stars


Capítulo 65
Mine


Notas iniciais do capítulo

DEMOROU, mas saiu! Eu quase não ia postar, galera. Fiquei mais de duas semanas sem internet, a Musa se enrolou com a escola, o site entrou em reparos... Mas estamos aqui e não esquecemos de vocês! Aproveitem ;)



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"Eles gritavam e seguravam a cabeça como se estivessem com uma dor terrível e depois caíam do nada. Eu juro!" falei para tia Jenna enquanto prendia meu cabelo em um rabo de cavalo.

Olhei pela janela do carro, o sol brilhava intensamente por trás de uma cadeia de montanhas. Respirei fundo e tentei ao máximo afastar de mim uma sensação incômoda que persistia em meu peito desde o último domingo.

"Não, não." Disse Jenna com convicção. "Malae Memoriae serve para acender as piores lembranças da vítima. Eu não gosto de usá-la, porque esse feitiço sempre deixa vestígios e eu acabo tendo que enfrentar os medos dos outros durante o sono. É horrível."

Virei o rosto para encará-la e vi que ela apertava o volante com firmeza. Ela suspirou e fez uma careta, se remexendo, inquieta.

"O que foi, Jen?" perguntei.

"Estou tendo uma sensação ruim..." comentou ela.

"Você também está sentindo?" perguntei e ela assentiu, olhando para mim rapidamente e depois de volta para a rua.

Estávamos quase chegando à escola. Jen escolheu um lugar para estacionar o carro e quando o motor morreu ela se virou para mim e me encarou atentamente.

"Tome cuidado, querida. Quero que você se mantenha alerta. Eu já tive essa sensação antes e acredito que você também. E quando essa sensação aparece, é porque tem algo ruim para acontecer." Ela disse seriamente e eu concordei com a cabeça.

Então ela deu outro suspiro cansado e mexeu nervosamente em sua bolsa de bordados floridos tirando de lá um par de adagas. Estendeu as duas para mim e eu as peguei.

"As adagas estão enfeitiçadas com o feitiço Omnia, como eu prometi. Por favor, Kate, tome cuidado."

"Não se preocupe, tia. Eu vou ter cuidado." Assegurei. Ela esboçou um meio sorriso, mas a preocupação estava nítida em seus olhos. Despedindo-se de mim, me deu um beijinho na testa.

Eu estava na entrada da escola quando senti uma brisa fria passar por mim causando-me arrepios. Respirei fundo para relaxar e senti um cheiro não familiar, seguido pela conhecida sensação de estar sendo observada. Olhei em volta, mas tudo o que vi foi o cenário comum da minha escola. Olhei outra vez e avistei um par de olhos que miravam diretamente para mim. Por um segundo, achei que tivesse visto Jared, mas não era ele. Eu tinha certeza. Mas ainda assim eu não pude deixar de notar que alguma coisa nele me lembrava Jared. Talvez a postura, o jeito de me encarar, a pele pálida... Esforcei-me para tentar reparar em alguns detalhes além da pele clara e o cabelo escuro à mercê do vento, mas alguém passou por mim, me esbarrando bruscamente e eu tive que reprimir um palavrão. Quando olhei novamente para a árvore, o rapaz não estava mais lá. Praguejei e vi que seria inútil esperar ter algum vislumbre do rapaz de novo, além de que não seria seguro. Por isso, simplesmente entrei na escola.

Juro que tentei prestar atenção nas aulas, mas todas elas simplesmente passaram pela minha cabeça como um borrão. Me vi rabiscando a letra J na cadeira distraidamente enquanto minha mente vagava sem sentido, sempre me levando às imagens do mesmo rosto de um certo desgraçado de cabelos brancos. Percebi que eu estava assistindo a uma aula de química quando o professor começou a falar sobre fórmulas, misturas e explosões. Não pude deixar de pensar em Jared. A forma como nos unimos naquela noite no carro, quando me entreguei a ele e me senti entrar em combustão. Fechei os olhos lutando contra a lembrança de seus lábios em minha pele, o gosto de sua boca.

O calor dentro de mim começou a se acender até chegar à memória de quando Jared me queimou. Lutei contra o sentimento de dor crescente em mim e as palavras dele logo me vieram à mente. Ele havia me feito uma confissão. Ele disse que eu era seu ponto fraco. Como eu posso ser a fraqueza dele a tal ponto em que ele precisasse me matar, mesmo que seja em sua própria mente? O que isso significa afinal? Que ele me ama? É simplesmente difícil de acreditar. Tratando-se de Jared, a palavra amor não se encaixa. Eu não sabia o que esperar. Aquela confissão deveria me trazer algum esclarecimento, mas só fez me confundir ainda mais. Seus sorrisos tinham mil significados e nenhum deles me trazia qualquer resposta. Com ele nunca se sabe o que é bom e o que é ruim.

O professor chamou meu nome e eu nunca me senti tão agradecida por ter levado um esporro. Pelo menos assim eu não me deprimia pensando em como Jared é um otário confuso. Eu já estava guardando meus materiais quando aquela sensação ruim retornou provocando um frio no estômago. Eu havia enviado uma mensagem a Emma mais cedo pedindo para que ela fosse me buscar na escola por causa daquele indivíduo estranho que eu flagrei me observando. Pus a mochila nas costas e decidi ir esperar por Emma. Estava andando pelo corredor quando bati de frente com alguma coisa.

"Stuart?" perguntei estupidamente surpresa ao vê-lo ali. Eu não o via por ali desde a morte de Ray. "O que faz aqui?"

"Eu estudo aqui." Respondeu ele, fazendo uma careta como se me achasse uma idiota.

"Ah. Desculpe." Corei pelo meu embaraço e resolvi sair dali antes que as coisas ficassem mais constrangedoras, mas Stuart me segurou pelo braço, pondo-me em alarme.

"Na verdade, Katherine, eu estava procurando por você." Ele disse com um sorriso que me deixou estranhamente nervosa.

"Por quê?" indaguei realmente curiosa.

"Por que a gente não conversa a caminho de casa?" perguntou ele apontando a saída.

Ok. Essa pergunta me pegou muito de surpresa.

"Na sua casa ou na minha?" perguntei sem saber ao certo como interpretar aquela situação.

"Bem que o Ray dizia que você era bem ousadinha." Ele riu.

"Escuta, pra mim já chega. Isso está muito estranho, Stuart." Suspirei. "A gente não se fala. Por que diabos você está aqui falando comigo e me oferecendo carona?"

"Eu não posso ser gentil?" Ele arqueou uma sobrancelha. Olhei-o de cima a baixo analisando seu corpo musculoso, a pose típica de um membro da equipe de luta.

"Difícil de acreditar." Confessei. "Além disso, eu já tenho carona pra casa. Obrigada mesmo assim."

Mais uma vez tentei me afastar, mas ele me impediu. Olhei para ele frustrada, mas ele ignorou minha expressão e continuou a me segurar firmemente pelo braço.

"Pode falar pra Emma que ela não tem feito seu trabalho direito e o Sero não está mais confiando nela." O sorriso havia sumido e agora ele me encarava com uma expressão firme, os dentes trincados.

"O que? Por que está dizendo...?"

"Você matou dois protetores, Katherine. E a Emma não fez nada. Fora que ela deixa você zanzar por aí com seu namoradinho, o Tomás, mesmo sabendo o perigo que ele representa."

"Você não sabe de nada!" vociferei entre os dentes.

"Eu sei de tudo." Respondeu ele apertando ainda mais o meu braço. Fiz um esforço e consegui me soltar. "Eu tenho ordens para te levar pra casa hoje."

"Por quê? O que está acontecendo?" perguntei.

"Você não está sozinha, Kate. E também não está segura."

Olhei nos olhos dele tentando encontrar algum tipo de ameaça, mas ele parecia estar falando a verdade. Pensei por um momento. Ele fazia parte do Sero. A função dele era me proteger, certo? Por outro lado, Lara também fazia parte do Sero e ainda assim tentou me matar. Ela tinha motivos pra isso, mas o que garante que ele não quer vingança por Raymond também?

"Tudo bem. Eu vou com você." Declarei por fim e ele assentiu satisfeito. "Mas nós vamos com Emma."

Ele revirou os olhos, mas concordou. Saímos do prédio da escola e logo avistei Emma parada ao lado de um carro preto que eu logo reconheci. Parei a meio caminho quando meus olhos encontraram os de Jared. Ele ainda estava dentro do carro e me encarava inexpressivamente. Jared olhou para frente desviando os olhos de mim, depois para o espelho retrovisor. Seus lábios se moveram silenciosamente, mas pela expressão em seu rosto e pelo soco que ele deu no volante, imaginei que estivesse praguejando. Então de repente ele arrancou com o carro deixando Emma totalmente confusa.

Logo atrás dele, outro carro passou correndo e por um segundo imaginei ter visto aquele rapaz que eu havia visto mais cedo atrás da árvore. Será que ele estava sendo seguido? Emma caminhou até mim.

"Kate, você está bem?" perguntou ela me puxando para um abraço.

"Você veio com Jared?" indaguei.

"A caminhonete de Jenna enguiçou no meio do caminho e eu acabei encontrando Jared. Eu não tive escolha." Ela encolheu os ombros e em seus olhos eu vi um claro pedido de desculpas.

disso que eu estava falando. Ela deixa aquele babaca ficar perto de você. Não está segura com ela." Disse Stuart atrás de nós. Emma olhou para ele como se o estivesse vendo pela primeira vez e depois olhou para mim outra vez.

"O que ele faz aqui?" perguntou ela.

"Pelo visto estou fazendo o seu trabalho!" rebateu ele.

"Isso é ridículo!" protestou ela. "Eu não fiz nada de errado!"

"Tem razão. Você não fez nada de errado." Concordou ele, mas notei um tom de ironia em sua voz. "Na verdade, você não fez porra nenhuma."

"Escute aqui seu..." ela começou a caminhar na direção dele e eu a segurei pelo braço.

"Em, não." Eu disse para ela. Olhamos para Stuart que nos encarava com um sorriso zombeteiro nos lábios.

"Nós vamos no meu carro." Ele disse e passou por nós para buscar seu carro.

Fizemos boa parte do caminho em um incômodo silêncio. Nem mesmo eu consegui pensar em nada para dizer a Emma. Pensei em contar a ela sobre o cara que eu avistei hoje pela manhã, mas eu não sabia se era uma boa ideia dizer isso na frente de Stuart. Eu ainda não confiava nele. Toda vez que olhei para ele, tive a impressão de que alguma coisa o inquietava. Seus dedos tamborilavam nervosamente no volante e ele checava os retrovisores a cada trinta segundos.

"Eai, Kate?" ele disse em tom de conversa. "Ansiosa para o baile?" perguntou sem desviar os olhos da estrada.

"Baile?" eu não sabia mesmo do que ele estava falando.

"Sim. Ouvi dizer que vai rolar no início de Dezembro e..."

A voz dele se calou quando alguma coisa colidiu contra nosso carro e fomos lançados para o lado. Abafei um grito enquanto capotávamos. Estávamos de cabeça para baixo, presos pelo cinto. Comecei a tossir, meu peito doía e minha cabeça também. Devo ter batido em algum lugar. Abri os olhos lentamente, minha visão estava confusa e tudo parecia rodopiar, embora o carro tivesse parado de girar. Aquela sensação ruim que eu e tia Jenna sentimos naquela manhã estava mais forte que nunca e de repente me vi dentro da mente de Jared. Ele encarava o espelho retrovisor, estava arfante e quando seus olhos fitaram seu reflexo, era como se ele estivesse me vendo.

Uma voz gritou no fundo da minha cabeça e aos poucos a visão de Jared foi sumindo, dando lugar a uma confusa realidade. Stuart gritava meu nome e tentava me tirar do carro. Emma já estava do lado de fora, mas não parecia bem. Havia um enorme corte em sua cabeça que não parava de sangrar e ela parecia estar a ponto de apagar. Lentamente fui recuperando o controle do meu corpo e tentei me soltar. Com a ajuda de Stuart, logo eu estava fora do carro, ainda mais confusa.

"Está tudo bem?" ele perguntou em tom de alarme.

"O que você acha?" perguntei. O esforço de falar fez minha cabeça doer mais e meu rosto se contraiu em uma careta. Se eu tentava me mover, meu corpo fraquejava. O que estava acontecendo?

Olhei em volta com minha visão arrastada, e vi um homem se aproximar. Ouvi Stuart dizer alguma coisa pra mim, mas não entendi. Eu não conseguia desviar os olhos do homem enquanto aos poucos ele tomava forma. Tinha a pele morena e o cabelo escuro e comprido até pouco acima dos ombros. A sensação ruim estava cada vez mais forte e agora havia se misturado com meu instinto avisando que eu estava em perigo. A primeira coisa em que pensei foi em Emma. Eu precisava ajuda-la. Olhei em volta e a vi caída ao lado da lataria amassada do carro de Stuart. Corri até ela, torcendo para não tropeçar em meus próprios pés.

Tentei fazê-la acordar, mas o corte em sua cabeça foi muito profundo. O pavor de repente começou a se alastrar dentro de mim. Gritei o nome dela e tentei analisar a gravidade de seus ferimentos por baixo de tanto sangue. Ela ainda estava viva, eu sentia sua pulsação fraca, mas ela estava perdendo muito sangue. Eu tinha que tirá-la dali, mas não tinha para onde fugir. Estávamos numa parte da estrada que é praticamente deserta. Um caminho rápido para a casa de tia Jenna. Não havia uma alma viva que pudesse nos ajudar.

"KATHERINE, CORRE!" ouvi Stuart gritar. Quando olhei para ele, estava envolvido em uma luta injusta com o homem que havia provocado nosso acidente. O homem, agora incrivelmente familiar, parecia implacável. Stuart, por outro lado, parecia cansado e bastante ferido.

Eu não tinha pra onde correr. Merda! Se eu não podia fugir, então eu devia fazer alguma coisa pra acabar com aquela situação. Corri de volta para o carro procurando minha mochila. Peguei as duas adagas enfeitiçadas. Guardei uma no cós da minha calça enquanto a outra estava bem confortável em minha mão.

Nenhum dos dois pareceu perceber que eu havia me aproximado e enquanto Stuart mantinha o homem ocupado, eu cravei uma das adagas em suas costas. Ele soltou um rugido de dor, um som nada natural, e se virou para mim. Ao encontrar seus olhos, senti um fervor dentro de mim. Eu conhecia aqueles olhos. Mas de onde? Quem era aquele homem? Ele me deu um sorriso maligno e tirou a adaga de suas costas sem qualquer efeito letal. Senti-me impotente e comecei a recuar.

"Kate, vai logo!" Stuart gritou mais uma vez e avançou no homem enquanto eu o distraía com minha presença inútil.

Eu esperei ver uma luta recomeçar, mas não. Quando Stuart avançou, o homem simplesmente girou o corpo e enfiou a adaga em cheio no peito de Stuart e com um gesto simples, fez um rasgo ao longo do tronco de Stuart. Senti toda a cor do meu rosto desaparecer. Tentei ao máximo controlar o tremor de minhas mãos, mas o medo parecia estar superando a adrenalina.

O homem se virou para mim novamente, empunhando a adaga enfeitiçada. Pensei em pegar a minha também, para igualar o jogo, mas resolvi não fazer isso ainda. Ele não sabia que eu tinha outra adaga ali comigo e eu também não fazia ideia se surtiria qualquer efeito. Decidi esperar pelo melhor momento de agir. Se é que eu tinha alguma chance.

"O que foi, gracinha? Morrer pelas mãos de Alastor é uma honra." Ele disse. Aquela voz... "Infelizmente você não vai poder ter essa honra. Preciso de você viva, bruxinha. Mas eu ainda posso te machucar."

"Quem é você?" perguntei, controlando minha voz ao máximo para não gritar.

"Eu sou Alastor. Não ouviu?" seu sorriso me provocava de uma forma terrivelmente irritante e familiar. "Vou levar você e vou atrair o Tomás. Quando eu finalmente conseguir levar os dois até o inferno, serei muito bem recompensado. Terei minha própria legião."

Suas palavras só serviram para confundir ainda mais minha cabeça. O que ele queria dizer com aquilo? Ele queria mesmo me levar para o inferno? Ele também estava atrás de Jared?

"Vejo que está mais ativa do que da última vez que nos vimos." Ele disse, seu sorriso ainda mais amplo e ganancioso. Ele avançou uns dois passos e eu recuei três.

"Se tivéssemos nos visto antes, tenho certeza de que você já estaria morto!" eu disse com mais coragem do que eu realmente tinha.

"Se aquele Tomás não tivesse chegado da última vez, você estaria morta, gracinha." Ele riu. "Agora, a única coisa que te impede de morrer é o preço pelo seu coraçãozinho batendo."

"Seu desgraçado!" gritei. Alastor era aquele maldito que me torturou e me queimou da primeira vez, quando fui sequestrada.

"Poupe sua energia, bonitinha. Eu preciso te levar, mas eu gosto de uma boa briga. E cá entre nós... As agitadas me excitam."

Minha raiva apenas se inflamou ainda mais e parti para cima dele. Fui com as mãos nuas esperando conseguir desarmá-lo, mas ele apenas revidou os golpes sem se dar o trabalho de usar a adaga contra mim. No fim das contas, ele me queria viva. Já era alguma coisa.

"Isso vai ser interessante..." ele disse me provocando. Estávamos andando em círculos, cada um esperando pelo ataque do outro. "Onde está seu Tomás? Ouvi dizer que os dois estão por perto."

O que? Do que Alastor estava falando? Não ousei perguntar em voz alta, mas ele pareceu perceber que eu não fazia ideia do que ele estava falando.

"Você não sabe de nada, não é?" ele gargalhou. "A conversão vai ser mais fácil do que eu pensava."

Desta vez, ele me atacou. A adaga chegou perto de me fazer um corte, mas eu consegui desviar e acertar-lhe um soco no maxilar. Ele passou a mão no rosto, no lugar onde eu o acertei, e sorriu minimamente afetado.

"Continue, bruxinha. Eu estou cada vez mais... Argh!"

Fiquei surpresa quando ele grunhiu. Seus olhos estavam saltados e ele me encarou com um olhar débil antes de franzir um cenho. Ambos olhamos para a ponta da faca que atravessava seu peito. Atrás dele estava Emma. Alastor soltou uma risada rouca e abafada, depois deu uma cotovelada às cegas, mas que acertou Emma em cheio. Ouvi minha amiga gritar e cambalear para trás. Ele retirou a faca de suas costas, grunhindo mais de raiva do que de dor e jogou a arma longe. Emma foi falha e não girou a adaga. Poderia tê-lo matado. Acho que ela não sabe o que ele é.

Ele a cercou, mas Em ficou parada calculando os movimentos dele. O medo começou a tomar conta de mim outra vez. Estava com medo por ela. Ele não podia me fazer nenhum mal, mas ele não tinha nenhum motivo para deixa-la viva. Se Alastor a atacasse, Emma iria morrer! Eu não podia deixar isso acontecer. Eu me posicionei também e ele correu os olhos de mim para ela e para mim de novo.

"Uma mortal e uma bruxinha inexperiente." Ele riu. "Vou tentar ser cuidadoso." Ele disse e deu uma piscadinha pra mim.

Um calor começou a irradiar de seu corpo. Aquele calor que me apavora, o calor que Jared usou para me ferir. Calor demoníaco. Cada célula do meu corpo gritava, me dizendo para correr, para fugir. As mãos de Alastor se inflamaram, assim como Jared fazia. Tentei respirar, mas não consegui. No mesmo instante Alastor se abaixou tocando o chão com sua mão em chamas e uma parede de fogo cresceu atrás de mim. Gritei com todas as minhas forças, desesperada. O ar estava sendo drenado de mim. Meu corpo estava cedendo. Eu não estava em contato direto com o fogo, mas eu o sentia me queimando por dentro. As lágrimas começaram a vir. Era a pior sensação do mundo. Caí em meus joelhos e num borrão, vi Emma correr para ataca-lo. Ela não parecia tão afetada quanto eu.

Em avançou e Alastor se preparou para contra-atacar. Ela acerta alguns golpes, mas logo está no chão. Alastor caminha até ela em passos lentos e posso ver em seus olhos que ele está indo para matar. Num ataque de raiva, junto todas as minhas forças e corro até ele. Não deixaria aquele desgraçado levar minha amiga! Joguei-me sobre ele, fazendo-o tropeçar para trás e para longe de Emma enquanto ela toma tempo para se recuperar. Ele me segurou pelo braço para me afastar e suas mãos ainda estavam em chamas. Dei um grito agonizante e Alastor riu em meu ouvido antes de me jogar contra o chão.

Eu estava fraca demais, sufocada. O fogo estava em toda parte e não posso evitar, não posso repelir o efeito que aquele fogo tem sobre mim. Sinto que vou morrer. Alastor se abaixa ao meu lado, puxa meu cabelo fazendo-me olhar para ele, para seu sorriso fatal. Suas mãos não estavam mais em chamas quando ele me toca, mais ainda sinto o calor em seu corpo. Ele segurou minha cintura e puxou minha adaga escondida no cós de minha calça. Tentei lutar inutilmente e agora eu estava desarmada. Ele se livrou da adaga com um gesto displicente e em algum lugar por ali, ouvi Emma gritar. NÃO!

"EMMA!" gritei por ela. Tentei me soltar das mãos de Alastor, mas ele não permite que eu me mova.

Alastor me puxa pelos cabelos, arrastando-me pela grama seca. Sinto as pedras arranhando minha pele, mas esse era o menor de meus problemas. Não sei por quanto tempo fui arrastada. A pressão em minha cabeça era insuportável, mas não sentia mais o calor demoníaco. Ele me forçou a ficar de pé e a dar passos trôpegos, mas tudo o que consigo é rastejar e tropeçar em minhas próprias pernas.

Ele me ergueu pelos braços e me jogou contra a lataria de um carro, onde bati fortemente com a cabeça. Minha mente gira e luto para me manter acordada. Aos poucos a imagem de um Land Rover preto começa a surgir e comecei a me perguntar se fui parar na mente de Jared. Ouvi Alastor murmurar alguma coisa que não compreendi e então ele me jogou para dentro do carro, trancando-me lá dentro. Tentei me mover, mas não consegui.

Quando me dei conta, o carro estava arrancando. Senti uma pressão me lançar para frente e quase caí do banco. Havíamos batido em alguma coisa. Ouvi o som arranhado de metal contra metal, depois pneus cantaram. O carro começou a seguir novamente e por incrível que pareça, isso me deixou preocupada. Continuei tentando me recuperar, colocar as ideias em ordem, mas foi difícil demais. Minhas forças haviam me deixado e minha cabeça doía muito.

Ainda assim lutei. Lutei por Emma, pois eu não sabia que fim ela havia tido. E lutei por mim. Eu não podia permitir aquele infeliz fazer o que queria de mim. Levantei-me o suficiente para ver que estávamos correndo em alta velocidade por uma avenida. O carro se lançava de um lado para o outro, ziguezagueando por entre todos os outros carros. Houve um coro de buzinas de motoristas indignados. Atrás de nós um carro se aproximava tão veloz quanto nós estávamos. Meu peito se encheu de alívio quando reconheci o Land Rover preto e avistei Jared atrás do volante. Seus olhos estão cheios de um sentimento que eu conheço bem. Raiva.

Senti meu sangue ferver de repente. Meu corpo se aquecia com essa mesma raiva. Minha mente clareou subitamente e comecei a olhar em volta, procurando por qualquer coisa que eu pudesse usar contra aquele maldito demônio que estava me levando e que matou minha melhor amiga. Eu não tinha nada. Continuei procurando incansavelmente e comecei a tatear meu corpo na esperança de encontrar alguma coisa. Qualquer coisa. Minha mão tocou um pequeno objeto de metal. Era o cinto de segurança do carro. Eu não podia arrancá-lo dali. Vi que Alastor não estava usando o cinto de segurança e aquilo me deu uma ideia.

Enquanto ele se ocupava em escapar de Jared que estava em nossa cola, aproximei-me com cautela e alcancei o cinto de segurança do banco do motorista. Com impressionante rapidez passei a correia do cinto em volta do corpo de Alastor e puxei do outro lado com muita força, prendendo o pescoço dele. O carro fez algumas voltas enquanto ele engasgava e tentava se soltar. Então a merda da sensação de calor retorna.

Filho da puta!

Um cheiro de couro queimado preencheu o lugar e eu vi que Alastor estava esquentando. Sua mão ardente alcança meu pulso e eu urro e choro de dor, jogando-me para trás em uma rendição instintiva. A dor me consumia novamente, onde ele havia me tocado. Percebi que ele havia me queimado exatamente onde Jared havia feito. Mas dessa vez doeu mais. Muito mais.

O carro começou a balançar e percebi que estávamos em outro terreno, um bem irregular. O carro me sacudiu de um lado para o outro e desta vez caí no chão. O carro parou de repente e comecei a me encolher. Novamente Alastor me pegou pelos cabelos, tirando-me de dentro do carro aos berros e protestos. Então ele simplesmente me jogou sobre o gramado alto e úmido. Uma luz surgiu à minha frente, cegando-me. Eram os faróis de um carro. Tentei me levantar, mas fui chutada nas costelas e não pude fazer mais nada além de ficar lá, jogada, sofrendo de uma dor azucrinante.

"Deixe-a ir." Ouvi a voz de Jared. "Ela não vai te servir pra nada."

"Você acha que consegue me enganar, seu bastardo? Eu sei que ela é uma bruxa valiosa!" berrou Alastor.

Jared riu com a voz rouca e estranhamente tranquila.

"Olhe pra ela, Alastor. Você acha mesmo que ela vale alguma coisa? Tudo que ela me fez foi causar problemas. Eu mesmo a teria matado se não fosse pela diversão que eu arranco dela na cama." Ele riu novamente, mas não ouvi a voz de Alastor.

O silêncio se estendeu por um momento. O que Jared estava dizendo? Isso por acaso fazia parte do plano dele pra me resgatar?

"Ela não vale nem o prazer da morte e muito menos o sentido da própria vida." Jared prosseguiu.

Meu coração se apertou. Pelo canto dos olhos, me esforcei para olhar para ele. Estava sério e inexpressivo, encarando Alastor. Sua voz soou tão sincera em meus ouvidos que eu tive que me controlar para não avançar nele eu mesma. Eu não tinha como saber se o que ele dizia era verdade ou blefe. Mas eu não tinha muita opção. Eu detestava admitir, mas naquele momento Jared era minha única solução. E pensar que ele costumava ser o próprio problema.

"Alguns bruxos querem a garota. Me prometeram almas em troca!" Alastor finalmente se pronunciou.

isso o que está querendo? Uma legião?" Jared riu. "Isso você pode conseguir sozinho, Alastor. Fodam-se os bruxos. Essa bruxa pertence a mim e de mim você não vai tirar."


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Notas finais do capítulo

Eai, gente? O que acharam? Lembram do Alastor? Pra quem não lembra, ele é visto pela primeira vez no Capítulo 12 (Torture). Queremos Reviews, não se esqueçam. Estamos com saudades de vocês. Então por favor, comentem, xinguem, opinem. Até o próximo Capítulo, Híbridos lindos s2 Sigam-nos no Twitter @beijared ~Monique